quarta-feira, 30 de novembro de 2016

MARIANA: VÍDEO "NÃO FOI ACIDENTE"

Vídeo alerta sobre os perigos da mineração no Brasil

Moradores de diversos territórios ameaçados pela exploração mineral em larga escala foram entrevistados durante visita a Mariana (MG)

Gilka Resende¹
Município de Bento Rodrigues um mês após o crime ambiental. (Foto: Rosilene Miliotti / FASE)
Município de Bento Rodrigues um mês após o crime ambiental. (Foto: Rosilene Miliotti / FASE)
Quantas Marianas (MG) serão necessárias para que o Brasil reveja seu modelo de desenvolvimento? A partir dessa questão, a FASE, a Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA) e o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração produziriam o vídeo “Não foi acidente”. Além de relembrar as irresponsabilidades da empresa, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, a produção destaca que o crime ambiental está relacionado a uma lógica que se repete pelo país, ameaçando a biodiversidade, a economia local e os modos de vida de populações em diversos territórios.
Com o preço dos minérios em baixa no mercado mundial, a lucratividade é garantida pelo aumento da extração dos bens naturais e pela redução dos custos empresariais nessa exploração. Segundo dados do Plano Nacional de Mineração, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, o Brasil pretende triplicar a extração mineral até 2030. “Hoje, cerca de 60% da produção mineral no país é destinada à exportação e é realizada em larga escala por empresas que controlam terras e águas. Frente aos interesses dessas corporações, o Estado altera regras de licenciamento ambiental e media acordos que mantém impunes crimes como o de Mariana”, critica Julianna Malerba, que dirige o filme junto a Maiana Maia, ambas do Grupo Nacional de Assessoria (GNA) da FASE.
Atualmente, os atingidos pelo desastre em Mariana ainda lutam para reconstruir suas vidas. A tragédia deixou 19 mortos, 1200 desabrigados e mais de 3 milhões de pessoas afetadas.  A contaminação do Rio Doce impactou os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e alcançou o litoral da Bahia. “Um licenciamento ambiental precário, a sobrecarga da capacidade da barragem, a ausência de fiscalização e de um plano de emergência, além da total falta de informações aos atingidos, antes e depois do desastre, revelam que não foi acidente”, destaca o vídeo.
Territórios X Mineração
“Não foi acidente”² reúne vozes do Assentamento Agroextrativista Lago Grande, no Pará, que se encontra ameaçado pela exploração de bauxita; do assentamento de Reforma Agrária Roseli Nunes, em Mato Grosso, onde a produção de alimentos saudáveis pode ser prejudicada pela extração de minério de ferro e fosfato; de uma região do semiárido cearense, em que a mineração a céu aberto de urânio e fosfato pretende consumir, por hora, o equivalente a 115 carros pipa de água; e de pescadores e pescadoras artesanais do Espírito Santo que serão impactados por três minerodutos.
Os depoimentos do vídeo foram gravados um mês após o rompimento da barragem da Samarco, quando lideranças de diversas regiões do país ameaçadas pela expansão da mineração visitaram Bento Rodrigues. De acordo com o IBGE, quase 85% da população do distrito é não-branca. “Alguns grupos estão mais expostos aos riscos ambientais e se encontram em situação particularmente vulnerável quando desastres como este ocorrem”, pontua Julianna.
[1] Jornalista da FASE.
[2] O vídeo contou com o apoio da da Fundação Ford e da Fundação Heinrich Böll.


http://fase.org.br/pt/informe-se/noticias/video-alerta-sobre-os-perigos-da-mineracao-no-brasil/

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

MÉDICO CUBANO, OS MISSIONÁRIOS E AS ERVAS

NÃO DÁ SAUDADES DE UM MÉDICO DESSE TIPO?

O médico cubano, os missionários e as ervas

doctorexaminesbaby
Na aldeia Kumenê, extremo Norte do país, o paciente trabalho de reduzir o uso de antibióticos e reintroduzir plantas fitoterápicas — vistas durante décadas como “bruxaria”
No site ONU Br
Ao chegar à aldeia Kumenê, localizada no Oiapoque, extremo norte do Amapá, o cubano Javier Isbell Lopez Salazar tornou-se o primeiro médico fixo da comunidade. Ele começou a atender a população local, formada por indígenas Palikur, em maio de 2014 e logo descobriu que os habitantes da região enfrentavam uma das maiores ameaças globais de saúde: o uso excessivo e inadequado de antibióticos.
O consumo inadequado dos medicamentos estava associado à chegada de dois missionários à região, na década de 1960. Os religiosos lá ficaram por mais de dez anos, durante os quais se dedicaram à evangelização da etnia. Os indígenas foram convencidos de que a utilização de plantas medicinais e chás era um tipo de “feitiçaria” e, por isso, tal hábito deveria ser banido.
javier3
As tradições acabaram sendo substituídas por dosagens abusivas de antibióticos. Para reverter o cenário, Salazar decidiu criar uma horta com plantas medicinais citadas na literatura científica que poderiam tratar grande parte dos problemas de saúde existentes na aldeia, como gripes e doenças diarreicas.
Em palestras e encontros com as lideranças e com os moradores do local, o profissional de saúde foi pouco a pouco desmistificando a crença de que as plantas seriam um tipo de “magia”. Elas, na verdade, poderiam ser utilizadas para salvar vidas.
“No começo, quando eu receitava alguma delas, eles jogavam fora e ficavam bravos comigo porque queriam antibióticos. Antes de ter médico aqui, eles faziam um uso excessivo de antibióticos e, hoje, as bactérias que circulam na comunidade têm resistência aos medicamentos disponíveis. Aos poucos, eles voltaram a acreditar no poder das plantas”, conta Salazar, que é um dos cooperados do Programa Mais Médicos.
Na horta do clínico, há plantas conhecidas popularmente como boldo, sabugueiro, “amor crescido”, babosa, manjericão, entre outras. O sabugueiro, segundo o médico, é extremamente eficaz para o alívio dos sintomas da gripe, uma das doenças mais frequentes na comunidade. Tem efeito expectorante.
“No estudo epidemiológico que fiz, percebi que existem duas épocas do ano em que ocorrem vários casos. Em um desses períodos, no qual a gripe é bastante forte, começam a chegar os asmáticos. Faço um chá da planta com limão. Para as crianças, adiciono açúcar e faço um lambedor (espécie de xarope). Com uma xícara pequena de 12 em 12 horas, em dois dias os sintomas vão embora. Diferente do antibiótico, não há nenhum dano à saúde e está tudo demonstrado na literatura médica”, explica.
Educação em saúde supera preconceitos
Outra mudança trazida por Salazar e sua equipe de saúde foi a conscientização sobre os riscos de contaminação da água pelo despejo de resíduos domésticos nos rios. Segundo o médico, os indígenas costumavam construir seus banheiros próximos às margens do curso d’água que cerca a aldeia, localizada na confluência do Uaçá e do Curipi.
Isso fez com que a água — onde os moradores costumavam tomar banho — ficasse contaminada. Os poços também eram construídos ao lado dos sanitários.
“Explicando, conseguimos uma melhor qualidade de vida aqui. Um médico não pode se cansar. Eu me sinto bem porque já estou percebendo a mudança. Estou vendo que as medidas que estou tomando dão certo, pois as doenças estão desaparecendo. Estou ‘ganhando’ menos pacientes’”, comenta satisfeito.
O profissional já aprendeu algumas expressões na língua nativa da etnia Palikur e garante que a diferença de idiomas não é um impedimento à comunicação eficiente e a diagnósticos e tratamentos adequados.
Salazar e seus colegas do sistema de saúde também têm desenvolvido iniciativas de educação para o bem-estar. “Com isso, podemos conseguir uma mudança no estilo de vida de qualquer pessoa, seja indígena, branco ou extraterrestre. É possível prevenir várias doenças”, afirma o cubano.
“Eu realmente não tenho palavras para expressar o que eu sinto ao trabalhar aqui e digo isso de coração. Quando comecei eles eram anti-médico, tentavam evitar as consultas. Quando vinham ao posto de saúde, não olhavam de frente para mim, ficavam sentados olhando para o chão ou qualquer outro lugar”, lembra o médico sobre sua chegada a Kumenê.
“Hoje, eles chegam aqui e explicam direitinho o que estão sentindo. Com o tempo, com tantas palestras e tanta conversa, eles mudaram”, conclui.
http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=382595 

"NA MORTE DE FIDEL" - UM POEMA

FAÇO MINHA ESTA HOMENAGEM POÉTICA À MEMÓRIA E PASSAGEM DE FIDEL CASTRO: O POEMA DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS.

“Na morte de Fidel” – um poema

161128-poema
“É urgente um verso vermelho | que ponha de novo em movimento os comboios da imaginação | azeite puro em manivelas de razão quente”
Por Boaventura de Sousa Santos
É urgente um verso vermelho
que suspenda a animação deste desastre
pensado para durar depois do inverno
É urgente um verso vermelho
com todas as cores do arco iris
e o vento natural do universo
É urgente um verso vermelho
que ponha de novo em movimento os comboios da imaginação
azeite puro em manivelas de razão quente
o peso da história de novo levíssimo
a rodar sobre perguntas livres e ruínas vivas
a paisagem mudar primeiro lentamente
enquanto vão entrando vozes ainda submersas
e corpos mal refeitos da desfiguração da guerra e do comércio
das crateras e promoções
É urgente um verso vermelho
que desate os nós da memória e do medo
e resgate os rios da rebeldia
a palavra cristalina inabalável
inconfundível com as mordaças sonoras
à venda nos supermercados da ordem
É urgente um verso vermelho
para anunciar barco polifónico da dignidade
pronto a navegar
os rios libertos das barragens calcinadas
dos sistemas de irrigação industrial da alma
É urgente um verso vermelho
uma luz manual portátil que vá connosco
sem esperar a que virá no fundo do túnel se vier
porque a cegueira da viagem é sempre mais perigosa
que a da chegada
talvez só entrega
talvez só paragem
É urgente um verso vermelho
que trace um território inacessível
aos vendedores de mobílias espirituais
e turismo de acomodação
É urgente um verso vermelho
vinho de bom ano para acompanhar
sonhos sãos e saborosos
preparados em brasas de raiva e a brisa da alegria
É urgente um verso vermelho
sem solenidades nem códigos especiais
para devolver as cores ao mundo
e as deixar combinar com a criatividade própria dos vendavais
http://outraspalavras.net/destaques/na-morte-de-fidel-um-poema/ 

PROJETOS-PILOTO DE ENERGIA RENOVÁVEL

QUEM DESEJAR ACOMPANHAR O DESENVOLVIMENTO DESTE CONJUNTO DE PROJETOS-PILOTO COM DIFERENTES FONTES DE ENERGIA REALMENTE RENOVÁVEIS, A COMEÇAR DO SOL, TÃO BRILHANTE E POSITIVO PARA GERAR ENERGIA ELÉTRICA, QUE ESTÃO SENDO IMPLANTADOS, COM PARTICIPAÇÃO POPULAR NO SERTÃO PARAIBANO, ACESSE E CURTA NO SÍTIO ELETRÔNICO:
www.semiaridosolar.eco.br

domingo, 27 de novembro de 2016

SOBRE ESPERANÇA

ESTA MENSAGEM DO ANTROPÓLOGO E EDUCADOR CARLOS BRANDÃO É INSPIRADORA, SUGERINDO QUE TODAS E TODOS NÓS ENCERREMOS 2016 LEMBRANDO DE ONDE A GENTE VEM, POR ONDE ANDAMOS, COM QUEM NOS ENRIQUECEMOS, EM QUE PROCESSOS CONSTRUTIVOS PARTICIPAMOS. ESTE É O MÉTODO PARA EVITAR DEIXAR-NOS DOMINAR POR GOLPISTAS E ASSASSINOS DE DIREITOS SOCIAIS. E PARA QUE OLHEMOS PARA 2017 COMO UM ANO "QUE SERÁ NOVO".

Sobre a Esperança
Mensagem para encerrar 2016 e esperar um “Ano Novo”

Há quem dentre nós talvez diga neste fim-de-ano: “este foi um ano para esquecer”. 
Nenhum ano é para ser esquecido. Nenhum mês, nenhuma semana, dia ou minuto. 
Recebi - como imagino que toda a gente recebeu - um sem número de mensagens sobre os “tristes acontecimentos de 2016”. Vários deles foram, crítica e corajosamente, bastante justos e necessários. Eu mesmo, em um outro tom escrevi um deles. O longo escrito a que dei este nome: Viver sem temer.
Não quero fazer desta mensagem de final de ano (uma velha prática de longos tempos) mais um dos documentos de “análise da atual conjuntura”. Não quero trazer  a tanta gente amiga e querida uma mensagem mais de olhar crítico sobre  a política e a economia “deles”, junto com o peso de seus efeitos sobre todas e todos nós e, sobretudo, sobre mulheres e homens do povo. Dos muitos povos com quem convivemos de perto ou e mais longe. Lembro sempre nessas horas o que um dia Jean-Paul Sartre escreveu: “Uma coisa é o que fizeram de nós. Outra coisa é o que nós fazemos do que fizeram de nós”. Esta não é, portanto, uma mensagem de crítica a respeito “deles”. É uma mensagem de realista esperança em e sobre “nós mesmos”.  Venho de lugares, venho de rostos, venho de gestos e de pessoas ao longo de 2016. E  é a lembrança deles e delas o que me leva a escrever esta mensagem.  
Venho de uma Escola Popular em um Assentamento do MST no Sul da Bahia. Venho de professoras de escolas dos “sem-terrinha”, e venho de famílias que no assentamento vizinho haviam acabado de receber os seus “lotes de terra”, e entre o temor e a esperança  transportavam para eles os seus poucos trastes. Todos eles juntos, e mais os lotes de muitas terras conquistadas pelos camponeses do Brasil afora, são bem menores do que um único latifúndio das empresas do agronegócio. As mesmas que sobre as terras férteis do Sul da Bahia semeiam desertos de eucaliptos. 
Venho do Norte de Minas. Venho de Montes Claros e de encontros que aproximaram gentes de universidades, como eu, e pessoas de práticas populares. Pessoas de pele escura, entre indígenas e quilombolas, ao lado de homens e mulheres camponesas, povos do cerrado, da floresta e das águas. 
Pessoas que, começam os seus encontros e congressos entre preces e “místicas” com as mãos abertas; e os encerram agitando para o alto punhos erguidos, e gritando as palavras que deveriam calar os que fizeram do Brasil o que ele tem sido nestes tempos.
Venho de uma gente que em Passo Fundo reúne-se  há anos para pensar e praticar coletivamente alternativas de uma “educação para a paz”, quando poderia estar encerrada em seus escritórios, escrevendo um outro  artigo destinado mais a  aumentar um currículo vitae do que a dialogar com quem educa crianças, jovens e adultos no “chãoda escola”. 
Venho de pequenas comunidades tradicionais do Espírito Santo. Ali,  onde indígenas Tupiniquins e outros povos resistem como podem a nada menos do que à Aracruz, e a  outras poderosas empresas do agronegócio.  Um lugar onde professoras da Universidade Federal e de Centros e Institutos Tecnológicos (mas profundamente humanos) tentam criar com jovens estudantes vindas “da roça”, uma pedagogia da terra a serviço de uma transgressiva educação do campo.
Venho de “fábricas ocupadas” por operários da Argentina, e venho de “Bachileratos Populares” entre Lujan e Neuquén. Lugares de pobres  onde às vezes entre caixotes de madeira e toscas mesas improvisadas jovens e adultos se reúnem para reaprenderem a ler e a pensarem juntos uma “outra história” do País e do Continente.
Venho de presos políticos. Em Medellín, depois de atravessar três portões trancados a cadeado cheguei na “Penitenciária del Estado” a um local coletivo onde uma pequena equipe de presos políticos do Exército Popular de Libertação sonha inaugurar uma “Universidade Popular”. 
Venho de povos andinos que em suas línguas arcaicas nos desafiam a deixar de lado o mercado e viver a vida. E nos sussurram:  Sumak Kansay e os outros nomes que querem todos dizer uma mesma ideia: viver a “vida boa”, um “viver bem”  solidário, oposto em tudo à “boa vida” com que o capital e a sua mídia nos mentem entre as mesmas falsas promessas de sempre. 
Venho de tanto em um só ano. E  bem sei que venho de apenas uma ínfima fração das vivências coletivas, dos momentos populares de insurgência, da persistente reconstrução de  grupos de base, e de ações das quantas  comunidades tradicionais e também dos movimentos populares. E venho também da presença ativista e solidária de instituições de apoio a alternativas e iniciativas de uma pluri-transgressão emancipadora.  Venho de pessoas com quem  aprendo a cada dia a calar  o que sou, penso e possuo,  para descobrir com elas a viver bem mais da esperança do que do medo. 
Lembro que no dia 31 de agosto deste ano encerramos o Colóquio Internacional de Povos e Comunidade, em Montes Claros, com uma Passeata dos Mártires. Foi quando escrevi o texto Viver sem temer. Caminhamos ao redor de uma grande praça levando pequenos estandartes de mulheres e homens que nos últimos anos, apenas naqueles “sertões do Norte” haviam sido mortos lutando por terra, território, justiça e liberdade.  
Quase ninguém veio presenciar a nossa “caminhada”, e ouvir os nossos cantos e os gritos de nossas memórias. Televisão alguma estava presente  e “canal” algum noticiou o que se vivia ali.  Mas enquanto pelas janelas abertas das casas víamos de passagem nos aparelho de TV os acontecimentos do “Congresso Nacional”, entre mãos abertas e punhos erguidos completamos a nossa volta pela praça.
Lembro-me de haver vivido algo semelhante há exatos 50 anos, em plena “ditadura militar”. Estar vivendo algo assim tantos anos depois, de forma alguma me trás um sentimento de “tempo perdido”. 
Ao contrário, apenas renova a certeza de que “eles passam”. E  nós estamos e persistimos em “estar aí”,  “de mãos abertas e de punho erguido”, ano após ano, década após década, geração após geração.! Estamos aqui! Estamos por toda a parte. E estamos juntas e juntos uma vez mais. 
E mais do que as “sementes crioulas” que eu vi semana passada sendo jogadas nas terras de assentamentos do Sul da Bahia, creio que estamos unidos para semearmos também a coragem da insurgência de uma justa luta e, mais do que tudo, de uma inapagável esperança.
Saibamos crer em nós. 
Saibamos acreditar em nossa inabalável vocação de revisitar nossas vidas, de clarear nossas mentes, de não nos deixarmos  colonizar, de aproximar os nossos corpos, de unir nossos braços, solidarizar nossas vidas, criar nossos destinos... e seguir adiante. 
Confiemos em nós. Saibamos varrer de nossas vidas o temor que o sistema tenta colocar em nossos corações, e saibamos viver do que é nosso: a coragem da esperança.
Baruch de Spinoza foi um pensador do século XVII. Judeu de uma família de  origem espanhola expulsa para Portugal e, depois, para a Holanda, viveu lá a sua vida como um humilde “polidor de lentes”, e também a de um filósofo livre. Por causa de suas ideias, inclusive a respeito de deus, ele foi excomungado de sua comunidade judaica. É dele a passagem que, por falar sobre a esperança, eu desejo que encerre esta mensagem.

Um povo livre se guia pela esperança mais do que pelo medo; o que está submetido se guia mais pelo medo do que pela esperança. Um almeja cultivar a sua vida. O outro, suportar o opressor. Ao primeiro eu chamo livre. Ao segundo, chamo servo. (Baruch de Spinoza, Tratado teológico político)

Rosa dos Ventos – no Sul de Minas
Carlos Rodrigues Brandão
Quase no fim do ano. Na quadra da Lua Nova



Vai, come o teu pão com alegria
e bebe o teu vinho com o coração contente.
Pois  há muito Deus se agrada das tuas obras.
Eclesiastes 

FINALMENTE, FAO RECONHECE A AGROECOLOGIA

É UMA ÓTIMA NOTÍCIA. A BRIGA, AGORA, É PRA CONSEGUIR QUE ISSO SEJA LEVADO A SÉRIO. E QUE A FAO EXIJA QUE OS GOVERNOS RECONHEÇAM ISSO, E DEIXEM DE ESTAR AO LADO DO AGRONEGÓCIO. E QUE HAJA RECURSOS DE APOIO PARA QUE A AGROECOLOGIA SEJA A TECNOLOGIA PARA PRODUZIR TODOS OS ALIMENTOS.


Compas

Medo???? De quê? 
Da apropriação já efetiva do discurso da agroecologia pelas corporações? Isso já foi apropriado (a exemplo do discurso do desenvolvimento sustentável, no início dos anos 90).

Quando se defende que é a agroecologia é "apenas" uma ciência aplicada, dá nisso. É apropriada por qualquer um, neste caso o governo francês - que financiou com o Brasil o "Simpósio Internacional sobre Agroecologia" na FAO em 2014 - e uns outros poucos, acreditam que a "aqroecolgoia" vai salvar a indústria agrícola deles.

Mas quando o debate é profundo, COM e NA base social, a coisa é diferente. É sobre os "modos de vida" que se está falando. É RESISTÊNCIA.

E agora, ainda temos que cunhar um termo "agricultura camponesa" ou outro termo, ao menos para diferenciar nos debates políticos e acadêmicos, pra explicitar sobre o que estamos falando. São as pessoas, e em seus movimentos e organizações sociais que fazem agricultura. O resto são técnicas, é "pacote".

Ao menos, por enquanto, na atual gestão do Graziano na FAO, é gente nossa que está lá, fazendo e enfrentando internamente e no nível governamental internacional, esse debate. E resistindo às investidas das corporações e de governos cooptados (como o financiamento do "Simpósio sobre Biotecnologias para a Alimentação e Nutrição" realizado na FAO em fevereiro deste ano, realizado pelo Canadá, Holanda, Austrália, Nova Zelândia, pra não falar nos EUA). Ou seja: "mais do mesmo": transgenia, biologia sintética: é possível, mas segundo um acadêmico ligado à indústria, "é caro" - é pra quem pode pagar, o que não é o caso de mais de 70% dos países.

Ademais, por enquanto, ainda tmos o Mecanismo da Sociedade Civil-MSC no Comitê mundial de Segurança Alimentar e Nutricinal da ONU-CSA, a qual temos feito forte incidência política (onde movimentos e organizações sociais a nível global pressionam a FAO, a ONU e os governos). 

Boa vinda à "Plataforma", que apresenta ao mundo, o que os movimentos e organizações sociais estão fazendo, provando não somente que se pode fazer, mas que dá certo. Mostrando à muitos governos, a agricultura indígena e camponesa.


Abcs., Marciano. -[do MPA]

VEJAM A PLATAFORMA:



ANTÔNIO CECHIN: UM DISCÍPULO EXEMPLAR

FAÇO MINHAS AS PALAVRAS DE FREI BETTO SOBRE ANTÔNIO CECHIN. NA VERDADE, ELE FOI UM DE MEUS MESTRES DE VIDA E DE METODOLOGIA DE TRABALHO EDUCATIVO POPULAR. SENTI SUA PARTIDA PARA O MUNDO DOS ENCANTADOS COMO ALGUÉM DE MINHA FAMÍLIA. E CONTO COM ELE PARA ILUMINAR-NOS NA BUSCA DO QUE FAZER PARA ENFRENTAR OS TEMPOS DIFÍCEIS EM QUE AS ELITES BRASILEIRAS E MUNDIAIS JOGARAM O BRASIL E TODA A HUMANIDADE.  

ANTONIO CECHIN:UM DISCÍPULO EXEMPLAR
Frei Betto
      A fé nasce do testemunho. Ninguém adere a uma religião ou Igreja por ter lido um texto doutrinário. Foi o testemunho de Jesus, de Pedro e Paulo, e dos mártires, que fizeram o Cristianismo sobrepujar o Império Romano.
      Foi o testemunho de Antônio Cechin que fez de mim um militante cristão. No primeiro fim de semana deste mês de novembro, estivemos juntos, em Corrêas (RJ), na companhia de uma comunidade vinculada à Teologia da Libertação.
      Mais de 50 anos de amizade me ligaram àquele gaúcho alto, esguio, de fala estridente, formado em Letras Clássicas e Direito, e que se fez irmão marista. Conheci-o em 1962, quando ele retornou da Europa após cursar Catequese, e Economia e Humanismo como aluno do padre Lebret, na França.
      No Vaticano, secretariou a Sagrada Congregação dos Ritos, responsável pela canonização dos santos. Contava que, ali, perdeu duas ilusões: a primeira, de que católicos eram elevados aos altares como santos apenas por suas virtudes heróicas. Também o dinheiro pesa muito, pois os processos de canonização são muito caros.
      A segunda, de que o papa nomeia diretamente cada bispo. Certa manhã acompanhou um cardeal ao café da manhã com João XXIII. Ao chegarem, o papa tirou os olhos das páginas deL’Osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, e comentou: “Que boa notícia. O padre fulano, que conheci em Bolonha, ontem foi nomeado bispo no Piemonte.”
      Ao retornar ao Brasil, tornou-se assessor da Juventude Estudantil Católica, cuja direção nacional eu integrava, e implantou o método Paulo Freire na periferia de Porto Alegre. Suas Fichas Catequéticas apresentavam o Cristianismo destituído de moralismo e centrado no compromisso com a justiça social, o que o levou à primeira prisão sob a ditadura, em 1968. A segunda foi em 1976, ao fundar, no Rio Grande do Sul, a Comissão Pastoral da Terra, que na década seguinte daria origem ao MST.
      Cechin era das raras pessoas a ousarem enfrentar o cardeal Vicente Scherer, de tendência conservadora. O prelado o respeitava por sua coerência e exemplo de vida despojada de qualquer ambição ou apego material.
      Ao me transferir de São Paulo para o Sul, em 1969, tentando escapar do cerco da ditadura, Cechin foi o meu esteio em Porto Alegre. Era por ele que eu recebia e enviava cartas. Com frequência, dormia no apartamento no qual ele morava com sua irmã Matilde.
      Fui preso em novembro daquele ano. Cechin se mobilizou em meu favor e hospedou meus pais na capital gaúcha. Era, por excelência, um homem solidário.
      Com quase 60 anos de idade, decidiu se dedicar aos moradores pobres das ilhas e das margens do Rio Guaíba, que banha Porto Alegre. Nos últimos trinta anos arrancou aquela gente da invisibilidade, criou cooperativas de papeleiros e coletores de material reciclável, ensinou como impedir que o lixo agravasse ainda mais a degradação ambiental. Seu espírito evangélico fez brotar ali a devoção a Nossa Senhora das Águas; a Romaria das Águas, com as barcas deslizando pelo Delta do Jacuí; e a Pastoral da Ecologia.
      Sua devoção mais profunda, entretanto, era a São Sepé Tiaraju, indígena canonizado pela fé do povo gaúcho. Foi ele quem criou o Caminho de São Sepé, de Rio Pardo a São Gabriel.
      Cechin viveu entregue intensamente ao trabalho de base, de formiguinha que favorece a consciência cidadã dos mais pobres, conforme relata em seu livro Empoderamento popular – uma pedagogia de libertação (Porto Alegre, Estef 2010).
      Num país de tanta corrupção, nepotismo, marajás do serviço público e ambição de riqueza e poder, um homem como Antônio Cechin fez diferença por sua fidelidade à proposta de Jesus. Aos 89 anos de idade, ele transvivenciou no último dia 16. Como legado, deixou-nos seu testemunho evangélico embebido de utopia.
Frei Betto é escritor, autor de “Um Deus muito humano” (Fontanar), entre outros livros.

sábado, 26 de novembro de 2016

PAPA FRANCISCO: NOVO COMBATE AOS DEUSES DO CAPITALISMO

Francisco: novo combate aos deuses do capitalismo em meio à “guerra civil” na Igreja

missa-hoje
O Papa Francisco na missa da manhã desta quinta na Casa Santa Marta, no Vaticano.
O papa Francisco continuou a aprofundar sua visão da inserção da Igreja e do cristianismo no mundo, nesta quinta (24), em sua homilia na missa matinal na Casa Santa Marta. Os cristãos católicos rezam desde o início da última semana o Livro do Apocalipse, na etapa final de seu Ano Litúrgico, uma grande reflexão sobre a promessa de Cristo da chegada do Reino de Deus que abolirá todas as formas de exploração e dos homens e decretará o fim dos impérios . [Veja aqui a cobertura da Rádio Vaticano e aqui a do site católico espanhol Religion Digital]

A reflexão de Francisco alarga a questão colocada por Jesus sobre a escolha entre Deus e o dinheiro (Lc 16,13) e alinha como antagônicas à escolha por Deus: “o deus dinheiro, o deus bem-estar, o deus exploração…”. Francisco anunciou: o modelo civilizacional do capitalismo cairá por terra, como o autor do Apocalipse profetizou a queda da Babilônia (figura do império romano).

A homilia do Papa insere-se no contexto da agudização da luta interna na Igreja entre os que defendem a restauração às origens do cristianismo e aos princípios do Vaticano II e os que advogam a restauração do Concílio de Trento -a conflito foi qualificado como verdadeira “guerra civil” em reportagem do vaticanista  Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano (leia aqui no original ou em português na tradução do Instituto Humanitas Unisinos clicando aqui).

No artigo, Politi escreve que há um “movimento sistemático de contestação, ao qual a frente reformadora opôs apenas timidez” e que a oposição ao Papa é muito mais ampla que apenas os quatro cardeais que o contestaram recentemente, aos quais Francisco respondeu assertivamente (leia aqui). Para o vaticanista, há “uma guerra civil em curso na Igreja” cujo objetivo final seria garantir uma sucessão conservadora de Francisco. O que Politi não escreveu é que o Papa tem realizado movimentos exatamente para mudar a relação de forças no colégio eleitoral dos cardeais que, pela primeira vez, deixou de ser majoritariamente europeu (leia aqui).
[por Mauro Lopes]

http://outraspalavras.net/maurolopes/2016/11/24/francisco-novo-combate-aos-deuses-do-capitalismo-em-meio-a-guerra-civil-na-igreja/ 

A BATALHA DO STF CONTRA OS DIREITOS TRABALHISTAS

TERRÍVEL NOTÍCIA: O JUDICIÁRIO, EM SEU MAIS ALTO GRAU, ESTÁ CAMINHANDO NA DIREÇÃO DE DECLARAR-SE INSTRUMENTO DO GRANDE CAPITAL CONTRA TODOS OS TRABALHADORES E TRABALHADORAS. O PODER TOTAL ESTARÁ NAS MÃOS DOS EMPRESÁRIOS, SEU ETERNO DESEJO PARA AUMENTAR A EXPLORAÇÃO E AMEALHAR QUASE TODA A MAIS VALIA NA FORMA DE LUCROS.

PRECISAMOS DE UMA DEMOCRACIA POPULAR MAIS CONSCIENTE E FORTE PARA FAZER FRENTE AOS QUE A USAM CONTRA OS DIREITOS DAS PESSOAS E DA TERRA.

A batalha do STF contra os direitos trabalhistas

Suprema Corte pode anular norma que rege terceirização. Vejo como isso permitirá a empresas arrasar salários e direitos — inclusive dos trabalhadores mais mobilizados
Por Amanda Pretzel Claro e Mariana Salinas Serrano, no Justificando
O STF adiou o julgamento que poderia declarar a inconstitucionalidade da Súmula 331: única fonte normativa sobre a terceirização no país. Sem a Súmula 331, passaríamos a não ter nenhuma regra específica para a terceirização. O julgamento não tem nova data marcada, mas pode ocorrer a qualquer momento, pois tem importância estratégica para o governo de Michel Temer.
A declaração de inconstitucionalidade da Súmula 331 teria enormes impactos sobre a classe trabalhadora e, por isso, é essencial a partir de agora que entendamos exatamente o que significa.
O que é a terceirização?
É quando uma empresa contrata outra para executar um serviço ou uma etapa de sua produção, com objetivo de especializar a execução do trabalho e/ou para diminuir custos.
O que é (ou era) a Súmula 331?
Apesar de a terceirização existir para o direito do trabalho há cerca de 30 anos, nenhuma lei foi aprovada para atribuir regras para essa prática. Mesmo sem leis, o Judiciário precisou se adaptar. Os tribunais superiores brasileiros têm permissão legal de editar Súmulas – textos que estabelecem parâmetros com base em tendências de julgamento já praticadas no dia a dia dos tribunais.
A Súmula 331 é um enunciado do Tribunal Superior do Trabalho – TST, editada em 1993 para regular a terceirização, fenômeno que, na época, estava apenas começando por aqui. Antes dela, um outro instrumento parecido, o Enunciado 256, proibia totalmente a terceirização. A Súmula 331 substituiu esse enunciado e passou a autorizar a terceirização em casos que envolvessem serviços chamados de “atividade-meio”, ou seja, serviços de apoio que não têm a ver com o objetivo econômico central da empresa que terceiriza. Serviços de limpeza e segurança eram mais comuns e a Súmula 331 foi pensada com base nesses casos.
De lá pra cá, no entanto, o empresariado tem inovado bastante naquilo que considera “atividade-meio”, criando situações intermediárias e nebulosas que dificultam o trabalho do judiciário em separar as terceirizações legais das ilegais.
O acontecerá se a Súmula 331 for declarada inconstitucional?
As empresas poderão terceirizar tudo, desde os serviços de apoio até os serviços essenciais ao objetivo empresarial.
E isso é bom ou ruim?
É bom para as grandes empresas e ruim para os trabalhadores. É uma forma de fugir das conquistas pelas quais as categorias organizadas tanto lutaram ao longo de anos de greves e campanhas salariais.
Quando uma empresa terceiriza uma atividade essencial, o trabalhador terceirizado é privado das garantias e vantagens asseguradas aos efetivos.
Vejamos, por exemplo, um funcionário de uma central de atendimento bancária terceirizada. Ele pode realizar empréstimos, fazer transferências, vender produtos bancários e negociar taxas e descontos, mas como ele faz isso por telefone, as empresas o consideram atendente de telemarketing – e não bancário. O atendente de telemarketing ganha menos da metade do que um bancário que tem o mesmo treinamento e faz o mesmo trabalho.
Ou seja, isso é precarização. É criar uma situação contratual com o objetivo de burlar a lei trabalhista e enxugar custos ao pagar menos para os trabalhadores. As empresas lucram mais às custas deles.
Situações como essa existem mesmo com Súmula 331 ainda valendo, por conta das confusões criadas pelas empresas ao classificarem serviços como atividade meio. As empresas aprenderam a criar esquemas contratuais para mascarar subordinação e para fragmentar cada vez mais o trabalho, evitando que uma única pessoa faça um processo de trabalho inteiro, de forma a fugir da ideia de atividade-fim. A fraude vai ficando sofisticada para sair à tangente do Direito.
Mas eles sabem disso.
Por “eles” podemos entender a articulação empresarial que apoiou o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, instaurou o governo ilegítimo de Michel Temer e agora vem promovendo seus ataques à democracia e aos trabalhadores através de micro golpes embrulhados em papel com estampa de legalidade. Golpear usando o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal é a forma perfeita de entregar este presente de grego.
Declarar a inconstitucionalidade da Súmula 331 abre espaço para que seja necessário preencher a lacuna e regulamentar a terceirização por meio de lei. É a deixa para que o Senado aprove definitivamente o PLC 30/2015, antigo PL 4330 – um projeto de lei proposto em 2004 e que permite a terceirização irrestrita e impede que terceirizados e efetivos tenham os mesmos direitos.
Esse cenário satisfaz às grandes empresas, como os bancos e as montadoras, justamente porque são elas que empregam os trabalhadores mais organizados com as maiores conquistas trabalhistas. Para quem tem pequenos e médios negócios e emprega funcionários ganhando salário mínimo, a terceirização não faz nenhuma diferença. É por isso que é preciso desvelar de quem são os interesses envolvidos: dos grandes conglomerados empresariais, das indústrias e do capital financeiro.
O resultado da precarização é a redução do poder de compra e da qualidade de vida dos trabalhadores no geral, não só dos terceirizados. Arrocho salarial e perda de direitos significa mercado menos aquecido, economia mais monopolizada e mais desigualdade social.
Entenda mais do processo que terminou por declarar a inconstitucionalidade da Súmula 331
O STF pode declarar a inconstitucionalidade da Súmula 331 ao julgar o ARE 713211. Esse recurso foi proposto em uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho da 3ª Região, contra a empresa Celulose Nipo Brasileira S/A (Cenibra), com base em denúncias realizadas pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Madeira e Lenha de Capelinha – MG, no sentido de que a Cenibra estaria realizando intermediação de mão de obra para desempenho de sua atividade-fim.
Após a denúncia, o MPT iniciou procedimento de investigação, em 2001, do modelo de exploração e a da cadeia produtiva da Cenibra, com a finalidade de investigar se a formatação das relações jurídicas de trabalho nessas atividades estava sendo carreada de maneira correta.
Em 2007 foi determinada em liminar a suspensão das atividades das empreiteiras que prestem serviços em atividade-fim, abstenção dessa forma de contratação, garantia de livre acesso dos dirigentes sindicais aos locais de trabalho, abstenção de atos antissindicais e melhoria nas condições de trabalho. Essa decisão foi mantida em sentença, através do entendimento de que a mera existência de empregados contratados diretamente pela Cenibra exercendo atividades de florestamento e reflorestamento é indício material da fraude. As decisões seguintes confirmaram esse entendimento e então a Cenibra apresentou Recurso Especial ao Supremo Tribunal Federal, alegando que a própria lei não define o que é atividade-fim, sendo que não pode, portanto, proibir a empresa de terceirizar essa atividade se não diz o que ela é. Aduziu, ainda, que não pode o Poder Judiciário legislar sobre a restrição de direitos da iniciativa privada, por meio da Súmula 331 do TST, que seria, portanto, inconstitucional.
O ministro Luiz Fux, quando relatou a decisão do Agravo de Instrumento, rejeitou os argumentos da Cenibra e negou seguimento ao Recurso. No entanto, ao julgar novo recurso da Cenibra, os embargos de declaração, o ministro mudou de ideia e encaminhou o processo ao Plenário Virtual para discutir a repercussão geral, que permanece aguardando julgamento.
Amanda Pretzel Claro é advogada trabalhista, graduada pela Faculdade de Direito da USP e membra da Rede Feminista de Juristas.
Mariana Salinas Serrano é advogada trabalhista e sindical, mestre em Direito do Trabalho pela PUC, e membra da Rede Feminista de Juristas.

http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=382599