sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

BELO MONTE: OBRA EMBLEMÁTICA DOS ERROS DA POLÍTICA ECONÔMICA E ENERGÉTICA BRASILEIRA

O TEXTO QUE SEGUE É A PARTE FINAL DA “CONJUNTURA DA SEMANA ESPECIAL: BELO MONTE: UMA OBRA EMBLEMÁTICA”, PUBLICADA PELO IHU, DIA 18 DE FEVEREIRO DE 2014, E QUE PODE SER ACESSADA PELA INTERNET EM http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/29930-conjuntura-da-semana-especial-belo-monte-uma-obra-emblematica

SUGIRO PRESTAR ATENÇÃO ÀS REFERÊNCIAS QUE INDICAM AS ALTERNATIVAS ENERGÉTICAS EXISTENTES NO BRASIL E EM TODO O PLANETA, QUE TORNAM BELO MONTE UM ERRO. MAIS DO QUE UM ERRO: ELA É SINAL DE QUE CONTINUAMOS SEM PRESTAR ATENÇÃO AOS DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO TEMPO PRESENTE, QUE EXIGEM CAMINHAR NA DIREÇÃO DE UMA NOVA CIVILIZAÇÃO. TEMOS AQUI UMA RICA FUNDAMENTAÇÃO PARA AS OPÇÕES E PARA AS PRÁTICAS DO FÓRUM MUDANÇAS CLIMÁTICAS E JUSTIÇA SOCIAL E PARA TODOS QUE LUTAM POR UM MUNDO HUMANO EM PAZ COM A TERRA.

Belo Monte e o princípio da ecologia da ação

“Tudo está interligado, entrelaçado, e há uma interdependência entre as crises” – Edgar Morin.
Particularmente a nossa leitura sobre Belo Monte acerca de sua real necessidade é de que a mesma precisa ser interpretada a partir do princípio da ecologia da ação e no contexto da crise ecológica e energética.
Considerando-se o caráter das profundas e substanciais mudanças em curso na sociedade mundial, Belo Monte exige uma abordagem a partir do paradigma da complexidade, como propõe Edgar Morin. Trata-se de perceber que “não só a parte está no todo, mas também que o todo está na parte”. Tudo está interligado, entrelaçado, e há uma interdependência entre as crises. Segundo o sociólogo francês, “nossos problemas não podem mais ser concebidos como separados uns dos outros”.

De todas as crises, a mais grave é a ecológica, exatamente porque ela pode dar cabo da civilização humana. A Terra já mostrou que tem condições de regeneração, coisa que nós humanos ainda não demonstramos. Iniciamos, portanto, o século XXI colocando as questões relacionadas ao meio ambiente no centro do debate. A ecologia, de oikos, tornou-se um tema que nos faz saltar das particularidades destacadas a uma abordagem unitária, global, planetária.
Nessa perspectiva, o princípio da “ecologia da ação” de Edgar Morin deveria tornar-se um princípio orientador para o agir na sociedade. Segundo Morin, “desde o momento em que um indivíduo empreende uma ação, qualquer que seja ela, esta começa a escapar de suas intenções. Ela entra num universo de interações e finalmente o meio ambiente apossa-se dela num sentido que pode se tornar contrário ao da intenção inicial. Com frequência a ação retorna em bumerangue sobre nossa cabeça”(1) . O que Morin quer dizer é que toda ação implica em efeitos nem sempre controláveis e que mesmo uma ação realizada com o melhor dos propósitos, pode fugir ao controle e se voltar contra o objetivo inicial.
O que fica evidente é que o futuro da vida – e especialmente, da vida humana – na Terra dependerá do rumo que se der hoje à economia. Por essa razão, a discussão sobre os modos de produção e de consumo torna-se crucial no contexto de uma sociedade ecologicamente sustentável. Logo, a tese do crescimento linear e progressivo precisa ser complexificada. Afirma-se que o crescimento econômico é necessário e desejável em função de que ele permite a geração de empregos. Porém, quando visto a partir do princípio da “ecologia da ação”, a obsessão pelo crescimento precisa ser relativizada.
A ideia e o pensamento do que importa é o crescimento econômico e o restante é secundário não se sustenta mais. Por trás dessa ideia está a lógica de que os recursos naturais são sempre abundantes, infinitos. Não há porque se preocupar com a possibilidade de que algum dia teremos falta de petróleo, de carvão, de aço, de água, de energia... para alimentar a “máquina” do progresso humano. Construiu-se uma crença no crescimento econômico – o capitalismo vive da promessa de que o futuro é sempre promissor e de que o desenvolvimento econômico é inesgotável. Essa lógica econômica vigente nos últimos 200 ou 250 anos é redutora ao extremo.
Chegamos ao momento em que não se pode mais separar a economia da ecologia. A religação entre economia e ecologia é um tema urgente. “Sem recuperar o meio ambiente, não se salva a economia; sem recuperar a economia, não se salva o meio ambiente”, defende o ecologista Berry Commoner. É preciso a consciência de que a crise ecológica antes de tudo é expressão de determinado modo produtivo da sociedade industrial em vias de esgotamento. Por isso, persistir em insistir no produtivismo econômico é a ameaçar a vida de toda a Terra e a vida das gerações futuras.
Precisamos de um novo paradigma civilizacional porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Necessitamos agora de uma outra economia, um outro estilo de vida, uma outra civilização, outras relações sociais.
É nesse contexto que Belo Monte precisa ser interpretada. Será que realmente trata-se de uma obra desejável? É preciso ainda destacar que matrizes energéticas centralizadoras – tributárias da sociedade industrial – entre elas as megahidreléticas e centrais nucleares – apresentam enorme ameaças a biodiversidade e perigos à civilização humana.
Na realidade, em termos energéticos, a humanidade está passando da era do petróleo para uma era em que a produção de energia se dará em escala descentralizada e com impactos menores sobre o ambiente. A nova economia, tendo como paradigma a Revolução Informacional, está deixando para trás a Revolução Industrial e potencializando a gestação de um novo tipo de organização produtiva menos poluidora e com potencial descarbonizador. Essa nova economia potencializa novas matrizes energéticas que podem oportunizar inclusive a criação de outro tipo de empregos.
O pesquisador Jeremy Rifkin nos dá uma ideia do que está por vir: “Estamos no início da terceira revolução industrial: no período dos próximos trinta anos tudo mudará como mudou quando o vapor foi substituído pela eletricidade. Desta vez, quem vencerá será a intergrid, a Internet da energia: uma rede elétrica interativa e descentralizada, que transformará milhões de consumidores em pequenos produtores de energia criando um sistema mais confiável, mais seguro e mais democrático. Os edifícios serão envoltos em fotovoltaicos e, em vez de sugar a energia, produzirão. Os motores dos automóveis poderão, por sua vez, transformarem-se em mini-centrais, os tetos dos pavilhões beberão a energia solar com seus painéis e a restituirão. Uma parte da eletricidade será consumida diretamente no local de produção, reduzindo a dispersão. É uma revolução radical que mudará toda a arquitetura do nosso sistema produtivo. E quem compreender isso primeiro guiará o novo salto industrial”.
Segundo ele, “o século que apenas se iniciou é o século da terceira revolução industrial. O século da Internet e a energia soft que é produzida a partir de baixo, nos bairros, nas casas, se articulando em rede, com entrada e saída, os fluxos de informação e da energia. É um modelo descentrado, democrático, mais confiável tanto do ponto de vista dos custos quanto daquele da independência da produção”.
A nossa civilização centrada no petróleo, e podem-se acrescentar aqui as megas hidrelétricas e usinas nucleares, não se justificam mais, são tributárias de uma sociedade que está ficando para trás.
Neste aspecto, o Brasil em vez de assumir a vanguarda no processo de descarbonização da economia, investe em matrizes superadas – grandes hidrelétricas como as do Rio Madeira e de Belo Monte. Essas grandes obras implicam em grandes inundações de terras, em significativos deslocamentos de pessoas e em devastação ambiental gigantesca e sucessivos apagões. Essa é também a lógica subjacente aos agrocombustíveis que utilizam grandes extensões de terra, produção em larga escala, avançando sobre terras agricultáveis e voltadas para suprir preferencialmente o mercado externo. É nesse mesmo sentido que se deve olhar criticamente o pré-sal.
O futuro das novas matrizes energéticas está na descentralização, em que a energia consumida será diretamente produzida no local de produção, reduzindo a concentração em mega centrais energéticas.
Belo Monte é um erro!
Considerando-se o conjunto da análise anterior, pode afirmar que Belo Monte é um erro. O Brasil parece não perceber que frente à crise epocal, manifestada sobretudo na crise ecológica, joga um papel estratégico. No contexto da crise ambiental, o país abre mão de utilizar racionalmente os recursos naturais limitados e opta por iniciativas ainda presas à sociedade industrial.
O que se percebe, por um lado, é o ganho de uma consciência ecológica maior em relação às gerações anteriores que se traduz na crítica a mega-projetos que agridem o meio ambiente. Itaipu, Balbina, Tucuruí, Transamazônica, são exemplos. Por outro lado, apesar da consciência dos erros cometidos, o país caminha para outros erros – a metáfora do farol de um automóvel virado para trás: ilumina o trajeto percorrido, mas não aclara o futuro. Assim como a nossa geração lamenta os erros cometidos pelas gerações anteriores, tudo indica que as gerações futuras lamentarão as decisões de hoje.
A grande questão posta hoje é que tipo de crescimento econômico queremos? Por muito tempo, inclusive na esquerda, acreditou-se que o crescimento econômico seria a varinha de condão para a resolução de todos os problemas. Particularmente da pobreza. Porém, o axioma de que apenas o crescimento econômico torna possível a justiça social não é verdadeiro. Será que o grande projeto brasileiro é transformar todos os cidadãos em consumidores?
É preciso complexificar o debate. O debate sugerido a partir do princípio da ‘ecologia da ação’ recomenda que devemos construir uma sociedade que seja sustentável com a natureza, às necessidades humanas presentes e futuras, com uma ética solidária, definidas desde os setores populares, tendo como fim a construção de uma sociedade baseada nos valores da solidariedade, liberdade, democracia, justiça e equidade.
Nota:
(1) - Introdução ao pensamento complexo (Porto Alegre: Sulina, 2005, p. 80-81).


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

VEJA COMO SE PODE PRODUZIR 11 MIL MW SEM CONSTRUIR NADA

LEMBRO DO DIA EM QUE UM TÉCNICO DO MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, PROVOCADO PELA PERGUNTA: "POR QUE O GOVERNO NÃO EXIGE E PROMOVE A REPOTENCIAÇÃO DAS USINAS HIDRELÉTRICAS EXISTENTES?", RESPONDEU: "PORQUE OS ESTUDOS QUE FIZEMOS DEMONSTRARAM QUE A REPOTENCIAÇÃO GERARIA GANHOS DE PRODUTIVIDADE INSIGNIFICANTES, E POR ISSO AS EMPRESAS NÃO ESTÃO INTERESSADAS NELA."

AGORA, DIANTE DA PESQUISA DA Dra. ELISA PODESTÁ GOMES, O QUE DIRÃO OS TÉCNICOS, O MINISTRO E A PRÓPRIA PRESIDENTE DILMA, QUE FOI DA ÁREA E TEM A RESPONSABILIDADE DE TER DESESTRUTURADO, EM 2004, O PROJETO DE POLÍTICA ENERGÉTICA ELABORADO EM 2002 PARA O GOVERNO LULA? CERTAMENTE DIRÃO QUE OS DADOS E A CONCLUSÃO DA TESE NÃO SÃO SEGUROS, POIS SÃO CONTESTADOS PELOS ESTUDOS DAS EMPRESAS E DOS TÉCNICOS DO MME, LIGADOS ÀS EMPRESAS! E PODERÃO ATÉ ENCOMENDAR E PAGAR POR NOVAS PESQUISAS QUE "DEMONSTREM" QUE NÃO VALE A PENA REPOTENCIAR AS USINAS.

CONTUDO, A CONCLUSÃO DA TESE, BASEADA EM DETALHADA ANÁLISE DA REALIDADE DAS USINAS HIDRELÉTRICAS, É DESAFIADORA: SE HOUVESSE VONTADE POLÍTICA, EM POUCO TEMPO E COM CUSTOS BAIXOS, SERIA POSSÍVEL AUMENTAR A ENERGIA ELÉTRICA DISPONÍVEL EM 11.000 MW! SEM NENHUMA GRANDE OBRA, SEM ESTRAGAR RIOS, SEM CAUSAR CONFLITOS SOCIAIS, SEM AGREDIR O AMBIENTE VITAL, O GANHO EM ENERGIA SERIA IGUAL AO ANUNCIADO COMO PRODUÇÃO DA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE. MAS COMO SE SABE QUE, POR CAUSA DA VARIAÇÃO DO RIO XINGU, A PRODUÇÃO MÉDIA DE BELO MONTE SERÁ MUITO MAIS BAIXA, ENTRE 3 E 4 MW, A REPOTENCIAÇÃO PODE GERAR TRÊS VEZES MAIS ENERGIA DO QUE ESTA HIDRELÉTRICA!

É ISSO QUE APAVORA AS EMPRESAS CONSTRUTORAS E AS QUE GANHAM COM VENDA DE ENERGIA: QUE O POVO SAIBA QUE HÁ OUTRAS FORMAS MAIS BARATAS E RACIONAIS DE PRODUZIR ENERGIA. POR ISSO, O GOVERNO, PARA SER DEMOCRÁTICO E FAZER BOA GESTÃO DOS RECURSOS PÚBLICOS, NÃO PODE CONSULTAR AS EMPRESAS PARA DECIDIR O QUE FAZER COMO POLÍTICA ENERGÉTICA, POIS ISSO É IGUAL A CONSULTAR AS RAPOSAS SOBRE COMO ELAS QUEREM "CUIDAR" DAS GALINHAS!

JUNTO COM A REPOTENCIAÇÃO, É URGENTE UMA DECISÃO POLÍTICA DE PROMOVER A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM TODAS AS FORMAS DE USO DE ENERGIA, DESDE A PRODUÇÃO ATÉ CONSUMO, PASSANDO PELAS LINHAS DE TRANSMISSÃO, EM QUE SE PERDE ENTRE 20 E 30%, UM ÍNDICE INACEITÁVEL NO MUNDO E NO TEMPO DE HOJE. QUANTAS BELO MONTE PODERÍAMOS DEIXAR DE CONSTRUIR SE CUIDÁSSEMOS DE GASTAR O MÍNIMO DE ENERGIA EM TODAS AS ATIVIDADES DE PRODUÇÃO E DE USO PÚBLICO E DOMÉSTICO?

FINALMENTE, MAS SENDO O MAIS IMPORTANTE, POR QUE NÃO PRODUZIR A ENERGIA QUE REALMENTE PRECISAMOS, DEPOIS DE CUIDAR DA REPOTENCIAÇÃO, DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E DA REDEFINIÇÃO DA POLÍTICA MINERÁRIA E DE OUTRAS PRIORIDADES INDUSTRIAIS, UTILIZANDO O SOL QUE SE OFERECE RISONHO E GRATUITO EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL DE FORMA DESCENTRALIZADA? NÃO VALE CONSULTAR E DECIDIR COM AS EMPRESAS QUE LUCRAM COM VENDA DE ENERGIA, POIS PARA ELAS ISSO SERIA UM DESASTRE! 



IHU - Quarta, 26 de fevereiro de 2014
Reforma reduz necessidade de novas hidrelétricas, diz estudo
O Brasil poderia ganhar a capacidade de produzir mais 11.000 MW de potência elétrica sem construir uma única nova usina, apenas reformando e aproveitando espaços já existentes em hidrelétricas já instaladas, mostra a dissertação de mestrado “Potencial de repotenciação de usinas hidrelétricas no Brasil e sua viabilização”, defendida pela engenheira Elisa de Podestá Gomes na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. Esse número se aproxima da potência instalada total prevista para a Usina de Belo Monte, no Rio Xingu, de 11.233 MW.

A reportagem é de Carlos Orsi, publicada pelo Jornal da Unicamp, 24-02-2014.
“Na realidade brasileira ainda há espaço para a instalação de novas usinas hidrelétricas, sujeitas, evidentemente, a pressões e exigências socioambientais crescentes. Por outro lado, a repotenciação de usinas hidrelétricas existentes tem sido muito pouco explorada até o momento. Tratam-se de duas abordagens alternativas, porém complementares, no atual contexto brasileiro. É claro que, quanto mais obras de repotenciação forem realizadas, mais se posterga a necessidade de construção de algumas novas usinas”, escreve a autora na conclusão de seu trabalho.
“Repotenciação” é uma reforma da estrutura de geração energética de uma usina hidrelétrica, com a substituição de tecnologias ultrapassadas por alternativas modernas. “Quando uma usina opera há muitos anos, mais de 20, 30, 40 anos em funcionamento, seus componentes se desgastam”, explicou Elisa ao Jornal da Unicamp. Depois de algum tempo, é preciso trocar os principais componentes da usina, e pelo fato de a tecnologia atual ser mais desenvolvida do que quando a usina foi construída, em vez de apenas fazer uma manutenção, é possível aprimorar seu desempenho. “O objetivo é sempre conseguir condições melhores. Tornar a usina melhor do que era, em questões técnicas e na produção de potência e/ou energia para o Sistema Interligado Nacional”.
O processo, nota a autora, é mais barato que a construção de mais usinas, já que não envolve novas obras de construção civil. Além disso, tem menos impacto ambiental e social, uma vez que toda a fase traumática de instalação da estrutura – a formação do lago, o deslocamento de populações – já ocorreu no passado. “A repotenciação é, sem dúvida, uma das melhores e mais econômicas formas de aumentar a capacidade de geração em um curto espaço de tempo sem impactos ambientais significativos”, diz a dissertação.
Para realizar sua análise, Elisa seleciona 43 usinas hidrelétricas brasileiras com mais de 30 anos e com unidades de geração de energia de 15 MW ou superior. Essas usinas representam quase 20% de toda a potência instalada no país. Ela simula três tipos de repotenciação: mínima, leve e pesada. A primeira apenas recupera a capacidade original da usina, enquanto que a última envolve a troca de componentes essenciais da unidade. A dissertação afirma que, se todas as 43 usinas passassem por processos de repotenciação pesada, o aumento da capacidade instalada no Brasil seria de mais de 6.000 MW.

Poços

Outros 5.000 MW poderiam ser ganhos, afirma o trabalho, com o aproveitamento dos “poços” de usinas existentes – “poço”, no caso, é o nome dado ao espaço deixado na estrutura da usina para a instalação de equipamentos geradores de energia que, por vários motivos, nunca chegaram. “Eram obras de concessionárias estatais, que depois de alguns anos não tinham dinheiro para completar a obra, por exemplo”, disse Elisa. A dissertação identificou 12 usinas como “poços” por todo o Brasil, do Paraná ao Pará.

Para fazerem sentido econômico para as concessionárias que assumiram a tarefa de produzir energia no Brasil, após a reorganização do setor elétrico e as privatizações realizadas no governo Fernando Henrique Cardoso, as estratégias defendidas na dissertação requerem mudanças no sistema regulatório atual, diz Elisa.

“Após este período de privatizações, o governo brasileiro esperava que a iniciativa privada investisse no setor elétrico. Contudo, por diferentes motivos, como a falta de um marco regulatório bem definido, planejamento energético e regras para o setor, e um cenário institucional incerto, o investimento ocorrido não foi o esperado e nem suficiente”, diz o texto, que recorda a crise do “apagão” de 2001.
“Com o racionamento que ocorreu em 2001, as paradas de máquinas para manutenção ou a suspensão de obras teriam que ser muito bem planejadas, pois causam queda na produção de energia”, lembra a dissertação. “O custo de indisponibilidade das máquinas geradoras foi encarecido, aumentando os valores de uma obra de repotenciação, a ponto, até, de inviabilizar este tipo de projeto”.
No governo Lula, uma segunda reforma do setor elétrico entrou em curso. “No novo modelo institucional do setor elétrico brasileiro, a geração compete pelo mercado através dos leilões de energia. As empresas concessionárias distribuidoras devem contratar seu suprimento com cinco anos de antecipação, para sinalizar aos geradores seu aumento de demanda com a devida antecedência para que os geradores possam executar a tempo suas eventuais obras de expansão”, descreve o trabalho.

“O problema que existe é com a regulação da energia”, explicou a autora, sobre os obstáculos atuais à repotenciação e ao aproveitamento dos “poços”. “Todo o sistema elétrico é interligado, e para fazer parte dele, é preciso participar de leilões de energia . O preço que vence o leilão – o mais baixo – é a remuneração daquela usina pelo período de concessão. Você sempre vai ganhar aquele valor, para gerar o tanto que for solicitado pelo ONS. Não há incentivo para gerar mais. Eu fiquei muito inconformada quando descobri isso”, disse ela à reportagem. “Não há incentivo para produzir além do contratado. Hoje não há nenhuma lei que diga que a concessionária será reembolsada se investir para aumentar sua potência.”

Elisa argumenta, ainda, que tanto a repotenciação quanto o uso dos “poços” reduziriam as dificuldades de logística, como a construção de novas linhas de transmissão, e também os riscos do sistema, já que longas linhas, como as que deverão ligar as futuras usinas da região amazônica ao Centro-Sul do país, ficam expostas a intempéries.

“O governo divulgou que quer antecipar o leilão da usina de Tapajós, uma usina nova, também na região norte, e de algumas linhas de transmissão no norte, depois de mais um blackout ocorrido em fevereiro“, disse Elisa. “Contudo, novamente, não se pensa em outras possibilidades, como a repotenciação. Como já foi dito, a construção de uma nova usina demora muito mais tempo do que uma obra de repotenciação”.

A pesquisadora lembra ainda que, conforme aumenta a participação de usinas termelétricas, usinas hidrelétricas sem reservatório de acumulação – as chamadas “usinas de fio d’água”, como Belo Monte – e outras geradoras que utilizam fontes de energia com grande variabilidade e baixa previsibilidade, como as eólicas, aumenta também a necessidade de opções para garantir o atendimento dos momentos de demanda máxima do setor elétrico, a chamada ponta de carga. “A supermotorização de usinas hidrelétricas possibilita isto”, disse Elisa. “Mas as atuais regras de funcionamento do setor elétrico brasileiro não provêm estímulos econômicos para tal. Não existem, por exemplo, leilões de capacidade adicional para atendimento de ponta, como ocorre em diversos países. Isto precisa mudar logo, para se evitar blackouts recorrentes no futuro”.
História
Repotenciações são comuns em países que adotaram a energia hidrelétrica antes do Brasil, e que já têm quase todo seu potencial de geração hídrica aproveitado. “Países como a Áustria, Canadá, Estados Unidos da América, Finlândia, Noruega e Rússia, dentre outros, possuem um parque hidrelétrico mais antigo que o brasileiro. Por já terem utilizado quase todo o seu potencial hidráulico e as outras fontes de energia serem mais caras e, muitas vezes, poluentes, a repotenciação de usinas hidrelétricas antigas tem sido comum nestas nações”, afirma a dissertação. “Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 110 usinas hidrelétricas já tinham sido repotenciadas até 2006”.
Embora a maior parte da eletricidade consumida no Brasil seja gerada em usinas hidrelétricas, com uma participação de mais de 83% em 2009, o país ainda conta com um grande potencial inexplorado, mas quase todo ele – quase 90% – concentrado na região Norte, nas bacias dos rios Amazonas e Tocantins.

Por conta disso, “boa parte do potencial hidrelétrico remanescente possui um custo de transmissão elevado, devido às longas distâncias envolvidas e inúmeros problemas socioambientais, associados, muitos deles, à localização da maioria deste potencial remanescente na Amazônia”, lembra o texto.
Algumas usinas brasileiras já foram repotenciadas. O primeiro caso, citado na dissertação, foi o da usina de Rasgão, noRio Tietê, propriedade da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE). Localizada em Pirapora do Bom Jesus, a usina viu suas primeiras unidades entrarem em operação em 1925. Desativada em 1961, foi repotenciada em 1989, com aumento de 50% na capacidade instalada, e opera até hoje.
A dissertação registra 18 usinas brasileiras que já passaram por processos de repotenciação, modernização ou grandes reparos, totalizando 94 unidades geradoras de energia. As unidades afetadas tinham idade média de 35,7 anos e obtiveram um aumento médio de potência de 17,8%.
Depois da usina de Rasgão, a mais antiga unidade repotenciada foi a Pequena Central Hidrelétrica (PHC) de Dourados, da CPFL, no Rio Sapucaí-Mirim. Construída em 1926, ela foi reformada em 2000, com um ganho de 68% no potencial instalado, chegando a 10,8 MW.

As primeiras repotenciações no Brasil, após a de Rasgão, ocorreram em 1996, afetando as usinas de Jupiá (de 1969) e de Ilha Solteira (de 1973). Os ganhos de potência instalada foram de 9,9% e 6,6%, respectivamente. Já a mais recente foi a da usina de Três Marias, no Rio São Francisco. Suas operações tiveram início em 1962, e a instalação passou pelo processo em 2011, com ganho de potência de 1,5%

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

ATIVIDADES DO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO INTERDITADAS NA BAHIA

POR CAUSA DA BAIXA QUALIDADE E DE GRAVES PROBLEMAS TÉCNICOS NO FUNCIONAMENTO NA UNIDADE DAS INDÚSTRIAS NUCLEARES DE CAETITÉ, BAHIA, O BRASIL DEVERÁ IMPORTAR URÂNIO PARA MANTER EM FUNCIONAMENTO AS USINAS NUCLEARES. MAIS GRAVES. CONTUDO, SÃO OS RISCOS PARA A SAÚDE DOS TRABALHADORES E DE TODA A POPULAÇÃO LOCAL, BEM COMO A CONTAMINAÇÃO DA NATUREZA.

UMA VEZ MAIS, A PERGUNTA QUE SE IMPÕE: PARA QUE MEXER COM URÂNIO, PARA QUE TEIMAR EM PRODUZIR ENERGIA ELÉTRICA COM USINAS NUCLEARES, SE TEMOS ATÉ SOL EM EXCESSO PARA PRODUZIR ENERGIA TÉRMICA E ELÉTRICA? IMAGINEM A QUANTIDADE DE ENERGIA QUE DÁ PARA PRODUZIR QUANDO TODOS OS TELHADOS DAS CASAS E DEMAIS PRÉDIOS ESTIVEREM COBERTOS POR PAINÉIS FOTOVOLTAICOS, TRANSFORMANDO OS RAIOS DO SOL EM ENERGIA! E PARA ISSO, NÃO SERIA MAIS DO QUE JUSTO O GOVERNO TER UMA POLÍTICA PRIORITÁRIA E FUNDOS PÚBLICOS PARA PROMOVER ESTA ENERGIA MUITO MAIS LIMPA E GRATUITA? OU DEVEREMOS CONTINUAR SENDO DOMINADOS E EXPLORADOS POR EMPRESAS QUE SE APROPRIAM DA ÁGUA DOS RIOS E DA ENERGIA PRODUZIDA, IMPONDO PREÇOS ABSURDOS, GANHANDO HORRORES E ABUSANDO DO PODER PARA CONTROLAR GOVERNOS?


Atividades do Programa Nuclear Brasileiro interditadas na Bahia


Enquanto isto, a INB anuncia “educação ambiental” no ar

 Imagem inline 1
Mais uma vez, atividades do Programa Nuclear Brasileiro foram interditadas por uma força-tarefa, capitaneada pelo Ministério Público Federal do Trabalho, em inspeção realizada na semana passada, na unidade das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) que, em Caetité (Bahia), dá inicio à cadeia de produção de energia nuclear. A área 140, vital no processo de produção do concentrado de urânio, que gera matéria prima para usinas nucleares, está com atividades suspensas. Ela engloba quatro tanques de decantação e filtragem de licor de urânio, e segundo se comenta, apenas um deles não estaria furado. Uma manta de impermeabilização recentemente adquirida para o tanque 1402, recorrente na apresentação de problemas, apresentou furos, antes mesmo de ser usada.

Ainda não se sabe o resultado completo da ação, que atendeu a reivindicação de movimentos sociais e trabalhadores ao Ministério Público Federal do Trabalho, que nos últimos anos, recebeu inúmeras denúncias de irregularidades na mineração de urânio, como terceirização ilegal, assédio moral, contaminação de trabalhadores e prática antisindical. O fato animou entidades da sociedade civil e o Sindicato dos Mineradores. Há anos, eles denunciam crimes sócio-ambientais e trabalhistas, que apesar de reconhecidos oficialmente, seguem impunes por mais de uma década.

Segundo informação de trabalhadores, a surpresa da chegada da força-tarefa deixou atordoados dirigentes e empregados comissionados da empresa. A fiscalização aconteceu durante dois dias (18 e 19 de fevereiro) e destoou do estardalhaço que a INB fazia, no mesmo período, informando, em out-doors pela cidade, que era a mais nova anunciante da Rádio Educadora Santana de Caetité, emissora da Igreja Católica, onde faz agora um “programa educativo”.

A INB, que fechou 2013 acumulando várias irrgularidades, como vazamentos de licor radioativo, de contaminantes químicos e baixa produção, recebeu 2014 com previsão de interrupção de atividades, devido a inúmeros problemas técnico-operacionais que evidenciam a incompetência e irresponsabilidade do Programa Nuclear Brasileiro. Certamente, devido a esta última interdição determinada pela força-tarefa em 19 passado, o Brasil voltará a importar urânio, para garantir o combustível das usinas Angra 1 e 2. O próprio presidente da  INB, Aquilino Martinez, no final do ano passado, já previa a importação do minério e admitia os dilemas enfrentados pela empresa. Explicando porque a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) não autoriza a realização de obras, afirmou: "Lá, a questão não é de radioatividade. É de mineração. A preocupação é que não despenque uma parte da jazida", explicou.

Diante de tanta insegurança e da falta de transparência, que caracterizam o Programa Nuclear Brasileiro, trabalhadores e as populações do semiárido baiano aguardam ansiosos a divulgação do trabalho completo da força-tarefa, na expectativa que ela tenha vistoriado também a área 110, do depósito do lixo nuclear, e a área 170, de precipitação, filtração, secagem e entamboramento do minério, consideradas das mais perigosas para o meio ambiente no trabalho, bem como prejudicial para a natureza. A expectativa é que esta fiscalização represente o fim de um ciclo de impunidade que só tem prejudicado trabalhadores e populações do sudoeste baiano, especialmente as comunidades rurais, afetadas mais diretamente pela exploração do urânio.

Zoraide Vilasboas
Coordenação de Comunicação

________________________________________________
ASSOCIAÇÃO MOVIMENTO PAULO JACKSON-Ética, Justiça, CidadaniaSede – Sind.dos Trab. em Água, Esgoto e Meio Ambiente no Estaado da Bahia -Sindae 
Rua General Labatut,65, Barris,  CEP 40070-100, Salvador-Ba, 
E-mail: 
assmpj@gmail.com Tel:  71 99984503– Fax: 31111700