quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

JUDICIÁRIO, O MAIS REACIONÁRIO DOS PODERES BRASILEIROS

CONCORDO EM GÊNERO, NÚMERO E GRAU. E LEMBRO QUE AGIRAM CORRETAMENTE, COM SENSO PROFÉTICO, OS MOVIMENTOS E PASTORAIS SOCIAIS DO MARANHÃO AO PROMOVEREM O "TRIBUNAL DO JUDICIÁRIO". CREIO QUE CHEGOU A HORA DE RETOMAR ESSA PRÁTICA E TORNÁ-LA ESTRATÉGIA NACIONAL.

Judiciário, o mais reacionário dos poderes brasileiros
Roberto Malvezzi (Gogó)
Desde a década de 80, pelo trabalho na Comissão Pastoral da Terra, temos nos defrontado com o poder Judiciário Brasileiro. E praticamente só temos más recordações. De 1985 a 2016 foram registrados 1834 assassinatos no campo, somente 112 foram levados a julgamento e, desses, somente 31 mandantes foram condenados e oito já foram soltos (Banco de Dados da CPT).
O Barão de Jeremoabo, escravista, tão autoritário quanto sagaz, adaptando Maquiavel à realidade sertaneja de seu tempo, já dizia: “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”.
O Judiciário Brasileiro é o mais classista e reacionário dos poderes brasileiros. Aqui pelo Nordeste, além de prefeitos, deputados, senadores, governadores, as famílias tradicionais sempre controlaram o judiciário com seus advogados, juízes, desembargadores e ministros. Portanto, um instrumento de preservação do poder das classes dominantes.
Hoje, com concurso para ingressar na carreira, temos alguns juízes que vieram de outros extratos sociais, mas continuam exceções. A única instância do Judiciário mais próxima dos trabalhadores era a Justiça do Trabalho, exatamente por isso está sendo extinta.
Aprendemos rapidamente que quem faz as leis é o poder econômico, embora sob a máscara do Legislativo. Mas, também, “quem aplica a lei é o juiz”. Numa cidade, a maior autoridade é o juiz. Se ele decidir lhe prender arbitrariamente, você não tem a quem recorrer, a não ser a instâncias superiores, espaço de seus amigos e colegas. Por isso, nosso povo morre de medo dos juízes. Somos capazes até de questionar Deus, mas não o juiz.
Esse poder de aplicar a lei ficou evidente agora no julgamento de Lula no TRF4. O caso de Lula passou à frente de 257 outros casos que estavam pendentes. O desembargador quis, funcionou.
Além do mais, o Judiciário é uma casta de privilegiados. Não são eleitos, são inalcançáveis para o cidadão comum e ganham nababescamente. O salário de cada um dos juízes que condenou Lula ultrapassa 30 mil reais líquidos (bruto chega a 40 ou até 50 mil reais), muitas vezes ultrapassando esse teto. Portanto, com essa remuneração, em dez meses qualquer um deles pode comprar um tríplex que a OAS teria dado a Lula.
Enfim, precisamos saber que atravessamos um golpe de estado, não um passeio na praia no final de semana. Porém, está claro que já passou da hora de montarmos uma estratégia de desmascaramento do judiciário, assim como fazemos com os outros poderes. Caso contrário, sempre estaremos a mercê de suas arbitrariedades.
 
OBS: Rosângela Morro celebrou o impedimento de Lula ir à Etiópia para um evento da FAO de combate à fome com a seguinte frase: “A liberdade tem limites que a Justiça impõe”.
Acontece que o programa brasileiro de combate à fome é referência no mundo, assim como o do combate à sede construído aqui no Nordeste pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). Aqui reside o abismo que nos separa, isto é, enquanto algumas pessoas estão preocupadas em resolver a fome e a sede no mundo, outras celebram o boicote em nome da lei e da justiça.

EM DAVOS, TEMER TENTA ENTRGAR A ÁGUA DO BRASIL

OUTRAS PALAVRAS, 30 de janeiro de 2018

Nestlé, Coca Cola, Imbev. Agenda do presidente no Fórum Econômico Mundial revela articulações com transnacionais mais interessadas em privatizar fontes hídricas do mundo

Por Franklin Frederick, da Suíca, para Brasil de Fato

A pequena aldeia de Davos na Suíça, muito antes de tornar-se célebre por hospedar o Fórum Econômico Mundial, já era internacionalmente conhecida através do romance A Montanha Mágica de Thomas Mann, publicado em 1924 e imediatamente saudado como uma das grandes obras literárias do século XX.

É em Davos, A Montanha Mágica, que Thomas Mann situa o sanatório Berghof onde, no romance, a elite da burguesia européia do início do século XX busca a cura para suas doenças pulmonares, principalmente a tuberculose. Nesta obra complexa, Thomas Mann retrata uma burguesia adoentada que, em Davos, progressivamente perde o contato com a realidade da “vida na planície”, a vida real. O “encanto” da vida na Montanha Mágica é quebrado, ao final do romance, pela irrupção da Primeira Guerra Mundial. Thomas Mann mostra que foram a irresponsabilidade e a alienação da burguesia da época, isolada, distante e protegida na Montanha Mágica, que causaram a guerra.

No Fórum Econômico Mundial uma nova elite burguesa, não mais apenas europeia, mas agora mundial, reúne-se em Davos para celebrar a si mesma, suas realizações e sua visão de mundo. O Fórum é um outro sanatório Berghof a abrigar a elite do capitalismo internacional acometida desta doença mental chamada neoliberalismo. Exatamente como as personagens de Thomas Mann na Montanha Mágica, os participantes do Fórum Econômico Mundial também perderam todo o contato com a “vida na planície”, com a realidade da crescente desigualdade econômica mundial e sua conseqüente devastação social e ambiental. Em Davos defende-se – claro sintoma de doença mental – que cabe fundamentalmente ao mercado não somente encontrar as soluções para os diversos problemas atuais, mas organizar as bases mesmas da sociedade no século XXI, reduzindo o Estado a um papel meramente administrativo.

O Presidente Temer não poderia deixar de participar deste evento, afinal foi com o apoio de grande parte da elite internacional que se encontra anualmente em Davos que foi possível realizar no Brasil o golpe que o levou ao poder. A participação de Temer no evento oficial foi tímida, resumiu-se a uma única conferência de menos de 20 minutos em um auditório onde, devido a pouca audiência, biombos procuravam esconder as cadeiras vazias. A frase fundamental e reveladora do discurso de Temer foi:
Hoje, os principais atores no Brasil, políticos e econômicos, convergem em que não há alternativa à agenda de reformas que estamos promovendo. (grifo meu)
“Não há alternativa” é a famosa frase dita por Margaret Thatcher ao promover a privatização de grande parte do setor público do Reino Unido, incluindo as empresas públicas de água e saneamento. Hoje, a maioria da população do Reino Unido quer a nacionalização dos serviços privatizados na era Thatcher, principalmente os de água. As parcerias público-privadas introduzidas pelo governo Thatcher se revelaram um desastre.

O que Temer chama de “reformas” são o seu programa de privatizações, complementado por medidas que procuram retirar quaisquer barreiras à expansão do capital, sejam elas leis de proteção ambiental ou de direitos de trabalhadores. Como programa político estas “reformas” não têm – nem poderiam ter – nenhum apoio da população e por isso devem ser apresentadas como uma inevitabilidade histórica – “não há alternativas”.

Com algumas décadas de atraso, a frase de Temer revela não apenas sua filiação ao neoliberalismo da era Thatcher, mas também algo ainda mais perturbador. Por ironia, o discurso de Temer foi dito no mesmo dia em que o ex-presidente Lula foi condenado por 3 votos a 0 no TRF-4. Ao afirmar que ‘os principais atores políticos e econômicos’ no Brasil convergem em que “não há alternativa”, parece que Temer já sabia que o tribunal em Porto Alegre se encarregaria de acabar com a única alternativa viável para as próximas eleições. Em seu discurso Temer foi bem claro quanto a este ponto. A frase seguinte do discurso foi:
O espaço para uma volta atrás é virtualmente inexistente. (Grifos meus).
É preciso ler este discurso à luz desta condenação do ex-presidente Lula para compreender a amplitude do golpe e o poder REAL por trás dele. Por ser fundamentalmente antidemocrático, o neoliberalismo só pode se manter por meio de mentiras ou de violência. O Fórum Econômico Mundial faz parte de toda uma estratégia global de construção de uma realidade virtual – uma mentira – onde o neoliberalismo é apresentado como o único modelo “racional” e “eficiente” de organização econômica.

Mas como em todo o mundo aumentam as contradições entre as promessas neoliberais e sua realidade, a mentira neoliberal se sustenta com cada vez mais dificuldade. É neste ponto que entra a violência, física ou simbólica, como contraparte da mentira necessária à manutenção da ideologia neoliberal. O discurso de Temer em Davos exprimiu sua completa adesão aos objetivos do neoliberalismo – o que já sabemos – porém mais ainda o discurso revelou, para alívio da elite econômica em Davos, que há no Brasil poderes organizados capazes de utilizar diversas formas de violência para sustentar o seu governo e as suas propostas, eliminando a possibilidade de qualquer alternativa.

Estranhamente, o segundo evento oficial anunciado pelo Fórum em que o presidente Temer participaria – um debate público com a participação do Prefeito de São Paulo João Dória, do Presidente do Bradesco, do CEO do Itaú-Unibanco e do CEO da Nestlé Paul Bulcke – desapareceu da agenda do Fórum.

Mas em um evento fora do programa oficial, um jantar fechado para convidados onde Temer fez a abertura do painel ‘Dando Forma à Nova Narrativa Brasileira’, o CEO da Nestlé estava entre os convidados, como informou a Folha de São Paulo.

Ao que tudo indica decidiram que o presidente Temer e o CEO da Nestlé não deveriam aparecer juntos em público. Afinal, a Nestlé é bem conhecida pelo seu apoio à privatização da água e que negociações sobre este tema já existem entre a empresa e o presidente Temer é de conhecimento público. A rejeição da maioria da população brasileira à privatização da água parece ter influído em tornar mais discreto o encontro entre Temer e o CEO da Nestlé em Davos.

A agenda de Temer em Davos, porém, revela a importância do tema água: Temer teve encontros privados com o Presidente Global da Ambev, Carlos Brito e com o CEO da Coca-Cola, James Quincey. Temer também encontrou o CEO da Dow Chemical, Andrew Liveris. A água é a principal matéria prima utilizada pela Coca-Cola e pela Ambev. E “por coincidência”, Andrew Liveris faz parte do Governing Council do Water Resources Group –WRG – a iniciativa da Nestlé, Coca-Cola e Pepsi para privatizar a água através de parcerias público-privadas. No site oficial do WRG, Andrew Liveris aparece ao lado do ex-CEO da Coca-Cola Muhtar Kent – outro membro do conselho de governança do WRG.

Já a Diretora de Comércio e Política de Investimentos da Dow Chemical, Lisa Schroeter, aparece como membro do Conselho Diretor do WRG, junto com Dominic Waughray, que é membro também do Comitê Executivo do próprio Fórum Econômico Mundial.

A Ambev é parte da AB InBev, grupo que comprou a sua grande rival SABMiller por 107 bilhões de dólares numa mega fusão que concentrou ainda mais o mercado das grandes empresas engarrafadoras de água, cerveja e refrigerantes. A SABMiller é uma das empresas fundadoras do WRG…O maior acionista individual do grupo AB InBev é o brasileiro radicado na Suíça, Jorge Paulo Lemann.

O tema água parece ter sido parte da agenda do Prefeito de São Paulo João Dória em Davos. Ele não só também teve um encontro com Carlos Brito, Presidente da Ambev, mas também com a CEO da Pepsi , Indra Nooyi, que aliás também é membro do Conselho do WRG.

Nestlé, Coca-Cola, Pepsi, Ambev, Dow Chemical, WRG, toda esta rede de relações em torno do Fórum Econômico Mundial, revela como o big business se organiza para promover e executar sua agenda de apropriação das riquezas do planeta.

Temer e grande parte dos que vieram com ele, como a Senadora Marta Suplicy e o Deputado Beto Mansur, ficaram hospedados do hotel Park Hyatt em Zurique. Segundo informação do hotel, a diária da suíte presidencial – que seria a escolha lógica para a hospedagem de Temer – neste período é de 5.220,00 francos suíços, cerca de R$ 17.640,00. Ou seja, o que foi provavelmente gasto em UM DIA de hotel equivale ao que um trabalhador recebendo um salário mínimo no Brasil levaria quase um ano e meio para ganhar.

Através deste simples dado entramos no mundo da Montanha Mágica. Como podemos imaginar, este tipo de viagem comporta muitos outros gastos, como segurança, diárias com pessoal militar e diplomático, aviões, aluguel de transporte terrestre local, de salas, tradução, etc. Não creio que o Palácio do Planalto tornará público o total de pessoas e de gastos envolvidos neste passeio de Temer pela Suíça.

A concentração de riqueza e de poder político nas mãos de menos de 1% da população, o grupo representado pelo Fórum Econômico Mundial na sua busca patológica de mais e mais lucro, só pode causar mais conflitos, destruição do tecido social e do meio ambiente. Thomas Mann já havia alertado: a Montanha Mágica termina com a Primeira Guerra Mundial. Cabe a nós mudar este final.

https://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/em-davos-temer-tenta-entregar-a-agua-do-brasil/ 

CORRUPÇÃO: QUEM O JUDICIÁRIO PROTEGE


Temer, Serra, Aécio, Rodrigo Maia… Um ano depois da Lista da Odebrecht, nenhuma investigação contra políticos conservadores avançou. Casos começam a prescrever e revelam poder partidarizado

Outras Palavras, 3O/01/2018

Por Antonio Martins | Vídeo: Gabriela Leite

Em 22 de setembro de 2016, o ex-ministro Guido Mantega viveu um pesadelo. Às 7 da manhã, ele acompanhava sua esposa, Eliane Berger, em internamento para cirurgia contra um câncer (ela faleceu 14 meses depois). Foi surpreendido por uma ordem de prisão preventiva, decretada pelo juiz Sérgio Moro. Voltou às pressas para casa, onde a Polícia Federal o aguardava desde às seis, acompanhada de uma multidão de repórteres. “Faz as malas, reúne as coisas”, disse o delegado que chefiava a operação. Horas depois, diante da repercussão negativa provocada pela brutalidade do ato, Moro revogou a prisão. Um único fato havia servido de pretexto para decretá-la. Preso alguns dias antes, o empresário Eike Batista dissera vagamente – sem jamais oficializar a declaração ou oferecer circunstâncias – que havia pago R$ 5 milhões a Mantega, para obter vantagens do governo federal.

O caso do ex-ministro é um entre dezenas. Entre 2015 e 2017, as chamadas “delações premiadas”, oficializadas ou não, dominaram o notíciário pobre do velho jornalismo brasileiro. Os vazamentos de informação eram permanentes. Interessados em notoriedade, procuradores e policiais antecipavam para jornalistas o suposto conteúdo das denúncias. Repórteres e editores aéticos divulgavam as informações com estardalhaço, sem a menor preocupação em apurar sua veracidade. O país acreditou estar vivendo uma “cruzada contra a corrupção”. Os alvos principais eram políticos da esquerda. Mas de repente, tudo mudou – exatamente no momento em que vieram à tona as delações da Odebrecht.

Faz exatamente um ano – foi em 30/1/2017 – que a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, homologou as delações, tomadas e negociadas durante meses, de 77 executivos da maior empreiteira do Brasil. Eles revelaram o pagamento de propinas a centenas de políticos. Destes, 108, contra os quais há evidências mais graves, foram incluídos na chamada lista de Fachinem referência ao ministro do STF encarregado, à época, de relatar a Operação Lava Jato. Retrato da promiscuidade das instituições brasileiras com o grande poder econômico, ela inclui personalidades do PT. Mas traz também outras figuras. Por exemplo, Michel Temer, que teria recebido 10 milhões de reais. José Serra, o “Vampiro” ou “Vizinho”, com R$ 36 milhões, em quatro campanhas distintas. Aécio Neves, o “Mineirinho” – um recordista, enquadrado em cinco inquéritos. Eliseu Padilha, o “Fodão”, principal articulador político do governo, hoje empenhado em liquidar a Previdência pública. Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, o Inca, envolvido em corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Ao contrário das afirmações feitas por Eike Batista contra Mantega, aqui não há falas vagas, mas acusações circunstanciadas. Os 77 executivos detalharam o motivo da propina, as condições em que foi paga e em alguns casos as datas dos pagamentos e números das contas receptoras. Mas há exatamente um ano, paira silêncio quase completo na mídia. Sumiram as manchetes bombásticas. Desapareceram os trechos de documentos, destacados pelo Jornal Nacional para causar impacto.

Numa rara matéria a respeito, publicada sem destaque ontem, a Folha reconhece o pior. Não foi apenas a mída que esqueceu a delação da Odebrecht. O STF, o Ministério Público e a Polícia Federal também parecem ter perdido a memória. Dos inquéritos abertos, 94% estão parados. Ninguém foi preso. Ninguém virou réu. Apenas um político foi denunciado pela Procuradoria Geral da República – o líder do governo no Senado, Romero Jucá. Mesmo assim, Jucá, o Caju da Odebrecht, não tem motivos para perder o sono. A investigação está travada, porque o STF não a libera. Indagado pelos autores da matéria a respeito, o Supremo sequer dignou-se a responder.

Há uma suspeita fundada sobre a razão de todo este corpo mole. Os crimes prescrevem. Veja o que ocorreu na quarta-feira passada, por exemplo. Lula foi condenado em Porto Alegre, pela TRF-4. No mesmo dia, em Brasília, a Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, pediu ao STF para arquivar um dos inquéritos em que o senador José Serra é acusado de receber R$ 20 milhões da JBF. O pretexto: Serra tem mais de 70 anos e por isso, a prescrição, que já é curta, ocorre na metade do tempo… Em São Paulo, estão igualmente prestes a prescrever as acusações contra Geraldo Alckmin e o próprio Serra, por recebimento de propina para favorecer a Odebrecht em obras como o Metrô e o Rodoanel.

Ou seja, se o STF, o Ministério Público Federal e a PF continuarem agindo como fazem há um ano, teremos em breve o seguinte cenário: Lula e alguns outros ficarão inelegíveis e poderão ser presos. Mas a Justiça brasileira permitirá que Temer, Serra, Aécio, Alckmin, Rodrigo Maia e centenas de outros políticos, denunciados pela Odebrecht, JBS e outras megaempresas fiquem livres, disputem as eleições e talvez ocupem o Palácio do Planalto.

A posição claramente partidária da Justiça brasileira é uma ameaça à democracia – mas também implica riscos aos próprios privilégios do Judiciário. Setores cada vez mais amplos da opinião pública estão se dando conta da farsa. No sábado, o filósofo Vladimir Safatle, um crítico notório do lulismo, escrevia: “a sanha anticorrupção vai até Lula e termina nele (…). Um país onde Lula é condenado e Temer é presidente e Aécio Neves senador é algo da ordem do escárnio”.

Ou seja, os farsantes podem estar dando um tiro no pé, porque as duas consequências políticas à vista são muito desfavoráveis a ele. A primeira, o próprio Safatle enuncia: se a conciliação, tão tentada por Lula, mostrou-se incapaz de sensibilizar as elites, talvez seja necessário um novo tipo de governos de esquerda – ao estilo jararaca, não mais paz e amor. Segunda consequência, mais específica. O Judiciário está se desmoralizando rapidamente. Muito em breve, precisará entrar na pauta nacional uma vasta reforma deste poder profundamente elitista, perdulário e conservador. Tanto partidarismo de Moro e do TRF-4 quanto o corpo mole na apuração das delações da Odebrecht podem se voltar contra aqueles que os praticam.

https://outraspalavras.net/blog/2018/01/31/corrupcao-quem-o-judiciario-protege/ 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

14º INTERECLESIAL DAS CEBS: REALIDADE E PERGUNTAS QUE INCOMODAM

IHU - 24/01/2018

   "A história das CEBs demonstra que o DNA das CEBs está na Opção pelos Pobres, na profecia, no compromisso com a luta dos explorados pelos seus direitos e em uma espiritualidade libertadora e ecumênica. CEBs é igreja na base. Se não for na base da sociedade e das igrejas, não é CEBs", escreve frei Gilvander Moreira, padre da Ordem dos carmelitas, professor de “Direitos Humanos e Movimentos Populares” em curso de pós-graduação do IDH, em Belo Horizonte (MG), e assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI, do Serviço de Animação Bíblica – SAB e da Via Campesina em Minas Gerais.

Eis o artigo.

Com o Tema “CEBs e os desafios do mundo urbano” e o Lema: “Eu vi ..., eu ouvi o clamor do meu povo (os oprimidos) e desci para libertá-los” (Ex 3,7), de 23 a 27 de janeiro de 2018, acontece em Londrina, no Paraná, o 14º Intereclesial das CEBs(Comunidades Eclesiais de Base). “Lá vem o trem das CEBs...” Há 43 anos percorrendo o Brasil, desde 1975, em Vitória, no Espírito Santo, quando aconteceu o 1º Intereclesial das CEBs. 1975 é também o ano de nascimento da CPT (Comissão Pastoral da Terra). Com 43 anos de caminhada, de marcha e história libertadora, o Trem das CEBs chega pela 1ª vez ao Paraná, em Londrina, no 14º Intereclesial das CEBs. Desde já agradecemos a todas/os que se empenharam na preparação durante os últimos 4 anos e a calorosa acolhida em Londrina.
O tema do 14º intereclesial é “CEBs e os desafios do mundo urbano”. A principal característica das cidades não é a pluralidade, mas a desigualdade: poucos com muito e a maior parte do povo com quase nada. As cidades capitalistas são constituídas por oásis de muito luxo, rodeados por povos empurrados para as periferias ocupadas, onde está a força de trabalho que constrói a cidade – a força de trabalho dos pobres é querida e necessária -, mas, discriminados e criminalizados, têm a dignidade humana violentada. Salvo raras exceções, não temos cidades justas e ecológicas, mas cidades com desigualdades socioterritoriais, onde 46% do povo constroem suas casas em regime de autoconstrução de forma improvisada e como joão-de-barro, um pouco a cada semana. “Cidades profundamente desiguais. O contraste entre os bairros nobres ou condomínios de luxo, e as favelas ou zonas deterioradas das periferias das metrópoles é o melhor exemplo disso: moradores de bairros nobres deslocam-se em ônibus exclusivos, automóveis blindados ou até helicópteros; já os moradores da periferia, por vezes, têm que andar a pé no barro para chegar à estação de trem ou ao ponto de ônibus que os levará ao local de trabalho” (Cf. Texto-Base do 14º Intereclesial da CEBs).
O arcebispo da arquidiocese de LondrinaDom Geremias Steinmetz, em entrevista para o 14º Intereclesial das CEBs, dia 21/01/2018, afirmou que os desafios urbanos em Londrina também são graves. Disse Dom Geremias: “Em Londrina, cidade com quase 600 mil habitantes, há um déficit habitacional para além de 60 mil moradias, enquanto há muitos imóveis ociosos na cidade. Mais de 15 mil pessoas estão passando fome diariamente em Londrina, onde a violência também está muito alta”. Em Londrina, um empreendimento do Programa Minha Casa Minha Vida foi paralisado pela construtora e pelo Governo Federal. As casas e sobrados inacabados foram ocupados por famílias que não suportam mais a pesadíssima cruz do aluguel ou a humilhação que é sobreviver de favor. Próximo a Londrina, no município de Tamarana, (r)existe o povo indígena Kaingang em seu território conquistado com muita luta. Entretanto, desterrados, muitos indígenas Kaingang estão nas ruas de Londrina, principalmente na Via Expressa (Av. 10 de dezembro), pedindo ajuda para a sobrevivência.
Nas cidades brasileiras há mais de 30 tipos de famílias. Não dá mais para falar em “famílias estruturadas” e “famílias desestruturadas”. Essa classificação discrimina a imensa pluralidade de famílias existentes na atualidade. Segundo Dom Geremias, o papa Francisco “está jogando a bola lá na frente”, à esquerda, no meio dos oprimidos e injustiçados, acrescentamos. Feliz quem ouvir os clamores dos injustiçados no campo e na cidade e com eles se comprometer na luta por justiça socialagráriaurbana e socioambiental.
Muitas perguntas precisam incomodar a nossa consciência no 14º Intereclesial das CEBs e no pós-encontro. Em espírito de diálogo e para provocar a reflexão, ciente de que há uma imensa pluralidade entre as CEBs no Brasil, ousamos levantar 10 perguntas. Ei-las:
1) Nas décadas de 1970 e 1980, as CEBs foram sementeiras de movimentos populares. E agora, na segunda década do século XXI?
2) No Trem das CEBs, as CEBs deixaram de ser locomotiva para ser vagão?
3) Os movimentos populares e as Ocupações urbanas e do campo, atualmente, são na prática quem fazem o que as CEBs faziam no passado?
4) Quais os desafios espinhosos que não podem ser esquecidos, mas precisam ser encarados no - e a partir do - 14º Intereclesial das CEBs, tanto internamente naigreja quanto na sociedade?
5) Cadê o povo das CEBs participando das Ocupações urbanas e do campo?
6) As Ocupações, tanto na cidade quanto no campo, são na prática CEBs sem rótulo?
7) Será que se a maioria dos membros das CEBs e dos/as participantes das igrejas estivessem sendo fieis ao evangelho de Jesus Cristo, os capitalistas e golpistas estariam amputando tantos direitos sociais?
8) Quantos por cento do povo das igrejas votaram em parlamentares que compõem o atual congresso nacional golpista?
9) Qual a responsabilidade das igrejas e das CEBs diante do 7º golpe contra o povo brasileiro consumado em 31 de agosto de 2016 e dos golpes nos direitos sociais?
10) O/a bom pastor/a conduz seu rebanho do redil (curral) para campo aberto – reino de vida e liberdade - ou retira o povo das ruas e conduz para dentro das igrejas? Que a narrativa do bom pastor (Jo 10) nos inspire. Quais outras perguntas e apelos precisam ser respondidos?
A história das CEBs demonstra que o DNA das CEBs está na Opção pelos Pobres, na profecia, no compromisso com a luta dos explorados pelos seus direitos e em uma espiritualidade libertadora e ecumênica. CEBs é igreja na base. Se não for na base da sociedade e das igrejas, não é CEBs. Não basta construir e participar de Comunidades. É preciso que as Comunidades sejam Eclesiais de Base.
Não se pode esquecer o Eclesial e nem a Base, sob pena de traição ao evangelho de Jesus Cristo e das primeiras comunidades cristãs que eram inculturadas, proféticas, ecumênicas, com protagonismo das mulheres e dos leigos, com opção pelos pobres, eram de fato luz no mundo e fermento na massa. A luz incomoda as trevas e o fermento incomoda a massa.
Só solidariedade não incomoda os opressores. A luta por justiça, sim, incomoda os podres poderes, mas é o que de fato supera corrupções e superexplorações. Os Bispos do Brasil reconhecem que “as CEBs são uma forma de vivência comunitária, de inserção na sociedade, de exercícios do profetismo e de compromisso com a transformação da realida¬de, sob a luz do Evangelho” (cf. Doc. 105, nº 146).
A realidade de Londrina e do Brasil e as perguntas acima decorrem da certeza de que sem luta por justiça, só com solidariedade não se supera os gravíssimos desafios do mundo urbano. Paróquias hierarquizadas são um grande obstáculos à vida das CEBs.
Atualmente muitas lideranças de CEBs estão exiladas, excluídas de paróquias onde padres, como sumo-sacerdotes, em tom arrogante e antievangélico, dizem: “aqui quem manda sou eu. Quem não gostar, pode sair”.
Entretanto, mesmo no meio de tantas trevas – corrupção (10% da violência), opressão e superexploração/mais valia (90% da violência) – as CEBs e todas as outras forças vivas da sociedade estão construindo uma nova aurora de justiça e paz. O Espírito do Deus da vida, sempre profético, está soprando e sempre soprará.
14º Intereclesial das CEBs entrará para a história como mais um pentecostes na vida da igreja e na sociedade brasileira. Felizes os que tiverem com corações acolhedores e ouvidos atentos, pois o Deus solidário e libertador vai falar no 14º Intereclesial.
Que o 14º Intereclesial das CEBs seja uma beleza espiritual e profética! Participe e acompanhe o 14º Intereclesial das CEBs pelo site www.cebsdobrasil.com.br. E divulgue!
http://www.ihu.unisinos.br/575498-14-intereclesial-das-cebs-realidade-e-perguntas-que-incomodam 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

EM MALDONADO, PERU, O ENCONTRO DOS POVOS INDÍGENAS COM O PAPA



Você pode ler esta notícia no site cimi.org.br 

Em Puerto Maldonado, indígenas do Brasil preparam-se para encontro com Papa Francisco


Texto e fotos: Tiago Miotto, Ascom/Cimi
De Puerto Maldonado
Serem ouvidos, unir forças com outros povos latino-americanos, ouvir palavras de apoio, ver suas denúncias ecoarem nos quatro cantos do planeta: são essas algumas das expectativas e dos anseios da delegação de indígenas do Brasil que, desde a noite de ontem (17), está em Puerto Maldonado, no Peru, para encontrar o Papa Francisco.
O encontro com o pontífice está marcado para manhã desta sexta-feira, 19 (às 13h30, no horário de Brasília), e faz parte de sua agenda pela América Latina. Antes, ele esteve durante dois dias no Chile, onde se reuniu também com indígenas do povo Mapuche. No Peru, depois de Puerto Maldonado, seguirá para Trujillo e para a capital, Lima.
Partindo de Rondônia e do Acre, a delegação brasileira é formada por cerca de 90 indígenas, de 32 diferentes povos e de nove estados do país. Apesar da predominância de povos da Amazônia brasileira – representada por indígenas do Acre, de Rondônia, do Pará, do Amazonas e do Mato Grosso – a delegação é composta também por representantes de regiões brasileiras tão diversas como Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
Em Puerto Maldonado, nesta quinta, os indígenas do Brasil participam de uma assembleia da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), onde se encontraram com representantes indígenas de outros países da América Latina, junto dos quais devem discutir a organização para o dia seguinte e a elaboração de documentos que serão entregues ao Papa.
“É um grande encontro, não só para os povos indígenas do Brasil, mas de toda a América Latina. Sabemos que os nossos problemas, os nossos anseios e os nossos desafios são os mesmos, e é importante conhecer, se juntar e unificar ainda mais as nossas forças junto com o Papa, o grande representante da Igreja Católica”, avalia Iap Oro Mon, liderança indígena da região de Guajará Mirim (RO) e professora na Terra Indígena (TI) Sagarana.
“Sabemos que a Igreja Católica teve um processo histórico não muito bom com os povos indígenas, mas atualmente ela tem feito o contrário. Tem ajudado bastante as lideranças, os órgãos não governamentais, as organizações indígenas, então para a gente é um prazer muito grande unificar a nossa força”, prossegue a professora. Seu povo, Oro Mon, é um dos 16 povos de Rondônia que participam da delegação indígena brasileira.
Os indígenas pretendem aproveitar a solidariedade e a abertura que o Papa Francisco tem manifestado às suas lutas para apresentar suas reivindicações e falar sobre a realidade de violações de direitos e violência que têm enfrentado no Brasil.
“Não é novidade para nós e para o mundo a violação dos direitos dos povos indígenas, principalmente no Brasil, onde esse governo atualmente vem nos dizimando e massacrando de uma forma violenta. Quem sabe, com a ajuda de outros povos, possamos unificar nossas forças e fazer com que alguma coisa mude”, pondera Iap Oro Mon.
 

Para Kum’Tum Akroá Gamella, liderança indígena do Maranhão, a situação brasileira é de “violência institucionalizada” contra os povos indígenas e o momento é de grave retrocesso. O grito de denúncia ao Papa pode ajudar a ecoar esta situação para além do Brasil.
“O enfrentamento à violência começa pela quebra da invisibilidade”, avalia, comparando a situação dos povos indígenas no Brasil com a de refugiados – só que em suas próprias terras.
“O Papa Francisco sempre foi muito preocupado com a situação dos migrantes, dos refugiados, e penso que a situação dos povos indígenas no Brasil é de migrantes e refugiados no próprio país. O que está no pano de fundo da violência é a negação do direito à existência do outro: os povos não existiriam e, portanto, não teriam direitos. Queremos colocar de novo no coração do Papa essa situação grave que a gente vive”.
Direito a existir, direito à terra
No contexto brasileiro, a forte presença da bancada ruralista no poder Legislativo e sua duradoura aliança com o Executivo, reforçada e ampliada com o governo Temer, tem agravado a situação dos povos indígenas, passando da violação ao desmonte de direitos constituídos.
Parecer 001/2017 da Advocacia-Geral da União (AGU), conhecido como Parecer Anti-demarcação, arevogação da Portaria Declaratória da Terra Indígena do Jaraguá e o corte de orçamento da Fundação Nacional do Índio (Funai) são exemplos recentes de medidas anti-indígenas tomadas pelo governo de Michel Temer.

Enquanto isso, muitos povos indígenas ainda lutam pela demarcação de suas terras, pelo reconhecimento étnico e contra a ameaça de grandes projetos de infraestrutura e das invasões promovidas pelo agronegócio mesmo em terras já demarcadas.
“Em Rondônia, estamos vivendo um momento em que, além das violações territoriais, temos o resgate da identidade de alguns povos que estão tentando revitalizar e recuperar não só os seus territórios, como as memórias e suas práticas linguísticas e culturais”, explica Iap Oro Mon.
É o caso dos povos Kujubim, Cassupá, Purobora, Guarasugwe, Wajuru e Migueleno, todos representados na delegação rondoniense.
“A reivindicação do povo Migueleno é a mesma que a de todos os povos indígenas do Brasil: demarcação da sua terra, direitos sociais como educação, saúde, dignidade para poder viver e sobreviver tanto na cidade como nas ideias, sem perseguição de governantes nem de grileiros de nossas terras e latifundiários”, afirma Elias Migueleno, liderança indígena de São Francisco do Guaporé (RO).
Exemplar de muitos casos de resgate identitário e territorial, os Migueleno reivindicam a demarcação de uma área da qual foram expulsos pelo governo ditatorial de Figueiredo, na década de 1980, para a criação de uma reserva biológica.
“A Constituição de 1988 nos adquire esses direitos e querem tirar isso da gente, então vamos falar isso ao Papa para que ele possa ver e levar adiante nossa situação”, conclui Elias.
“No Maranhão e no resto do Brasil, a luta pelo território vai junto com o direito à existência. Queremos o direito a existir, mas o indígena como um ser vivente tem direito ao território, tem direito à saúde diferenciada e respeito às práticas tradicionais”, afirma Kum’tum Akroá Gamella, relembrando o recente massacre de que seu povo foi vítima, em abril de 2017.
“Quando o indígena vai reivindicar o território sofre todo tipo de violência, mas se não faz a luta pelo território também sofre violência”.
Grito contra o genocídio
Em 1980, o discurso do Guarani Nhandeva Marçal de Souza Tupã’i ao Papa João Paulo II chamou atenção do mundo todo para a grave situação dos povos indígenas e, especificamente, para uma realidade que décadas depois explodiria em conflitos e violência: a dos Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul.
Mais de trinta anos depois, Francisco volta a ouvir os povos originários. Do tekoha Kurusu Ambá, no Mato Grosso do Sul, Elizeu Lopes Guarani Kaiowá parte para seu segundo encontro com o pontífice. Pretende reforçar a mensagem já entregue em 2014, na Bolívia, durante encontro do Papa com movimentos sociais da América Latina.
“Pela segunda vez, a gente vai levar a denúncia da questão dos Guarani e Kaiowá ao Papa Francisco, e também do Brasil. Os povos indígenas se encontram hoje massacrados por causa da luta pelos seus territórios. Nós Guarani Kaiowá não temos mais esperança que o Brasil vai resolver isso”, lamenta Elizeu.
“Esperamos que o Papa nos escute, receba, e também responsabilize o Brasil pelo massacre que estão fazendo com os povos indígenas, por toda a violência, a discriminação, a criminalização, a falta de terra, a perseguição e a morte das lideranças, os ataques paramilitares, tudo isso”, continua o Kaiowá.
A reivindicação de Elizeu também é reforçada pela liderança Guarani Nhandeva Leila Rocha, também do Mato Grosso do Sul. “A gente já não tem mais para onde ir. Sem terra não somos nada, sem terra a criança não pode viver”.
Mais de 30 anos depois da primeira denúncia feita diretamente a um Papa, os índices de violência contra indígenas e de suicídios entre estes povos aumentam quase ano a ano no Brasil. Apesar do reconhecimento constitucional à demarcação de suas terras tradicionais, grande parte dos povos indígenas segue vivendo fora de seus territórios.
Olhar amazônico
A escolha pelo encontro em Puerto Maldonado, na Amazônia peruana, não foi um acaso. Ao falar sobre o cuidado com nossa Casa Comum na encíclica Laudato Sí, publicada em 2015, o Papa fala que não vivemos uma crise social e outra ambiental, mas “uma única e complexa crise socioambiental”.
São questões que envolvem diretamente os povos indígenas e a Amazônia, e temas para os quais Francisco vêm chamando atenção com recorrência, como explica Dom Roque Paloschi, presidente do Cimi e Arcebispo de Porto Velho (RO), também presente em Puerto Maldonado.
“Ele vem para nos ajudar a ter consciência, como diz na Laudato Sí, que o desaparecimento de uma espécie animal, vegetal, é uma perda irreparável, e muito mais quando povos estão sendo dizimados e desaparecendo dessa grande e bela região amazônica”, avalia.
Já na encíclica o Papa dedica especial atenção aos povos indígenas, afirmando que apesar da pressão de grandes projetos e do agronegócio, quando permanecem em seus territórios, os povos indígenas são “quem melhor os cuida”, pois para eles suas terras não têm valor econômico, mas espiritual.
“O Papa vem não como dono da verdade, mas como irmão para ouvir os primeiros habitantes dessas terras ameríndias, animar a esperança para que esses povos possam viver a partir de suas histórias, suas culturas, línguas, de sua espiritualidade e suas tradições. Ele vem sobretudo para animar a nós, à Igreja, para que não vire as costas diante da realidade destes primeiros habitantes, mas que seja uma Igreja solidária, comprometida com a defesa da vida, da esperança, dos sonhos destes povos”, afirma Dom Roque.
Em meio aos diversos conflitos e pressões sobre os povos indígenas da Pan-Amazônia e seus territórios, a resistência contra grandes projetos mineiros, o agronegócio, a retirada de madeira e a construção de grandes hidrelétricas fomentam a luta e a resistência de diversos povos da região. É o caso da bacia do rio Tapajós, também representada por indígenas em Puerto Maldonado.
“Nosso rio Tapajós está ameaçado, assim como outros rios de outros estados e outros territórios de nossos povos. Estamos sendo desrespeitados e vamos colocar para o Papa todas essas situações. Os grandes empreendimentos estão entrando nas terras indígenas sem que a gente seja consultado, sem que nosso direito de consulta seja respeitado”, explica Antonio Pereira Curupini, Munduruku Cara Preta e liderança do baixo Tapajós.

O anúncio, em outubro de 2017, da realização de um Sínodo para a Amazônia em outubro de 2019 também gera grande expectativa. É a primeira vez, explica Dom Roque, que uma região é objeto de um Sínodo, concílio que resulta em uma orientação da Igreja acerca de um tema específico.
“A Igreja vem, na figura do Papa, reconhecendo o grande contributo dos povos indígenas. Tudo isso vai dar para nós, em vista do Sínodo da Amazônia, um grande alento e uma grande perspectiva, na medida em que nós nos colocarmos em sintonia com os gritos de Deus através dos gritos dos povos desta terra”, conclui o presidente do Cimi.
“Esperamos que a denúncia surta efeito sobre o governo brasileiro”, afirma Kum’Tum Akroá Gamella. “Por outro lado, cada vez que a gente fala essa situação, a gente também se fortalece, porque nós temos um projeto de vida que pode salvar o planeta duma catástrofe. Então, a denúncia tem um aspecto que é profético, anunciar um mundo novo, um jeito de viver que se dá numa harmonia com a natureza, com a criação toda de Deus”.

domingo, 7 de janeiro de 2018

RETIREM O LIXO TÓXICO DA CAVA SUBAQUÁTICA!

ENTRE NO LINK
 http://chn.ge/2CrKBUj
E ASSINE ESTA PETIÇÃO. É FUNDAMENTAL PARA EVITARMOS MAIS UM CRIME SOCIOAMBIENTAL GRAVÍSSIMO.


Pressionando Ministro de Estado Ministério do Meio Ambiente (MMA)- Dr. José Sarney Filho e 15 outros

Retirem o Lixo Tóxico da Cava Subaquática!



POR UM FUTURO LIVRE DE SUBSTÂNCIAS
E COMPOSTOS QUÍMICOS TÓXICOS!!!
 __________________________________________
RESUMO:
A presente petição exige a destinação correta e o tratamento definitivo de resíduos tóxicos, sendo contra a implantação de cavas subaquáticas (Confined Aquatic Disposal – CAD) no estuário de Santos-SP, Brasil, que são, de fato, lixões químicos submarinos, cemitérios de compostos químicos tóxicos: verdadeiras bombas-relógios preparadas para as futuras gerações.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

AJUDE A DERROTAR A MINERADORA "BELO SUN" NO XINGU

FAÇA COMO EU: ASSINE ESTA PETIÇÃO E PEÇA A SEUS AMIGOS E AMIGAS QUE FAÇAM O MESMO. 

https://secure.avaaz.org/campaign/po/belo_sun_10/?cEmpdab

Salvem o Xingu, Salvem a Amazônia

Ao Governo brasileiro, Norte Energia e Belo Sun:

Pedimos o abandono total e definitivo da instalação da Belo Sun no Xingu. Exigimos que o Governo primeiro garanta o cumprimento de todas as contrapartidas ao povo do Xingu pela Norte Energia. A chegada de um novo mega-empreedimento na região irá duplicar os desastres socioambientais que a região vêm sofrendo.

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Um desastre sem precedentes está sendo negociado no coração da Amazônia: a Belo Sun, uma mineradora canadense, está prestes a abrir a maior mina de ouro à céu aberto do país.

Este será o segundo desastre na região do Xingu: primeiro foi a chegada de um monstro chamado Belo Monte, o qual o povo ainda luta pelas promessas do "progresso". Agora, ao invés de solucionar esses problemas, o governo que autorizar a chegada de mais um desastre: a mineradora Belo Sun.

Podemos e devemos fazer o governo recuar a autorização à Belo Sun. Vamos repetir o sucesso da RENCA. Assine agora.