sexta-feira, 25 de setembro de 2020

VOLKSWAGEN ASSINA ACORDO MILIONÁRIO POR COLABORAÇÃO COM A DITADURA

 E AGORA, COMO FICAM AS OUTRAS 53 EMPRESAS DENUNCIADAS PELA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE EM 2014? ENTRE ELAS, ESTÃO ALGUMAS OUTRAS GRANDES, COMO A JOHNSON & JOHNSON, ESSO, PIRELLI, TEXACO, PFIZER E SOUZA CRUZ. RECONHECERÃO TEREM COLABORADO COM AS VIOLÊNCIAS DA DITADURA, FARÃO ACORDOS OU ENFRENTARÃO PROCESSOS JUDICIAIS?

UMA DÚVIDA A MAIS: QUANTAS DESSAS EMPRESAS, EM VEZ DE RECONHECER SEUS ERROS, ESTÃO SUSTENTANDO A LOUCURA POLÍTICA TOTAL DO BOLSONARISMO? 

SUSTENTO QUE A CONCENTRAÇÃO DA RIQUEZA É TÃO ABSURDA E CRIMINOSA QUE SÓ CONSEGUE SE MANTER COM A AJUDA DE "ESTADOS MÍNIMOS PARA AS PESSOAS", MAS ESTADOS AUTORITÁRIOS E REPRESSIVOS MÁXIMOS, MESMO TENDO FORMALIDADE DEMOCRÁTICA. SÓ ASSIM É POSSÍVEL ENTENDER GOVERNOS COMO O DE TRUMP E BOLSONARO.

POR ISSO, É PRECISO DIVULGAR AO MÁXIMO ESTA NOTÍCIA. E APOIAR OS TRABALHADORES DAS EMPRESAS QUE ACIONAREM OS PATRÕES EXIGINDO INDENIZAÇÕES PELOS SOFRIMENTOS QUE ENFRENTARAM NA DITADURA POR CAUSA DA COLABORAÇÃO NADA INOCENTE DELES. ESSA VERDADE, SIM, SERÁ PARTE DA VERDADE QUE NOS LIBERTARÁ. NÃO AS MENTIRAS DE TRUMP, BOLSONARO, EMPRESÁRIOS ETC., QUE NUNCA SERÃO VERDADE. 

DITADURA MILITAR BRASILEIRAO

Volkswagen assina acordo milionário de reparação por colaborar com ditadura e abre precedente histórico

Em termo de ajuste com procuradores, empresa reconhece cumplicidade com os órgãos de repressão brasileira e destina 36,3 milhões de reais a ex-trabalhadores e iniciativas pró-memória

Stephanie Vendruscolo

Palotina (PR) - 24 sep 2020 - 00:42 BRT

A Volkswagen do Brasil assinou nesta quarta-feira um acordo extrajudicial que abre um precedente histórico no campo da reparação às violações de direitos humanos cometidos durante a ditadura brasileira (1964-1985). A montadora de origem alemã, cuja cumplicidade com a repressão nos anos de chumbo já havia sido apontada no relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) de 2014, assumiu o compromisso de destinar 36,3 milhões de reais tanto a ex-empregados presos, perseguidos ou torturados como a iniciativas de promoção de direitos humanos. Em troca, serão encerrados três inquéritos civis que cobram a empresa pela aliança com os militares assim como ficam vetadas novas proposições de ações.

É a primeira vez que uma companhia ―uma pessoa jurídica, e não física― admite reparar crimes durante a ditadura, o que abre um precedente jurídico para que outras empresas envolvidas com a repressão sejam investigadas. Ainda em 2014, o relatório final da CNV enumerou 53 empresas, tanto estrangeiras quanto nacionais e de portes variados, que contribuíram de alguma forma com a concretização do golpe de 1964. Entre elas estão Johnson & Johnson, Esso, Pirelli, Texaco, Pfizer e Souza Cruz.

Tecnicamente, a montadora assinou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), que foi negociado com representantes dos ministérios públicos Federal, Estadual e do Trabalho e está pendente de homologação pela Procuradoria Geral da República. “O ajuste de condutas estabelecido nesta data é inédito na história brasileira”, comemoram os procuradores em nota, frisando que, no mundo, ainda são raros os casos de empresas que aceitam analisar a sua colaboração com regimes autoritários. Pelo acordo, a Volks também deverá publicar em jornais de grande circulação uma declaração pública sobre sua cumplicidade com os órgãos de repressão. Todo o arranjo é um revés para o Governo Bolsonaro, que nega as violações cometidas no período e tem agido ativamente para desmontar estruturas oficiais ligadas à memória e à reparação.

O acordo da Volks é paradigmático num momento em que a Justiça brasileira segue dando passos lentos na direção da punição dos repressores e da compensação das vítimas da ditadura. O Brasil segue ignorando decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que há uma década decidiu que a Lei da Anistia, que impede a investigação e a sanção a graves violações de direitos humanos, deve ser invalidada. Nesta segunda-feira, o mecanismo voltou a ser evocado, desta vez pela 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, que decidiu interromper a tramitação da ação penal contra cinco militares pela morte do ex-deputado Rubens Paiva em 1971. Ou seja, por ora, o crime contra o parlamentar, cujo corpo até hoje não foi localizado, continuará sem julgamento.

Da CNV às ações de reparação

A elucidação do papel da Volks durante a ditadura militar vinha caminhando desde a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, em 2014. Na época, a empresa encomendou um parecer próprio, produzido pelo historiador Christopher Kopper, professor da Universidade de Bielefeld (na Alemanha) sobre o tema. O documento divulgado pela própria companhia em 2017 reconhece a colaboração entre a segurança industrial da fábrica brasileira e a polícia política do governo militar, que começou em 1969 e se estendeu até 1979.

Diversos ex-empregados afirmam que durante a ditadura militar a empresa forneceu aos órgãos policiais informações sobre os funcionários e permitiu, dentro de sua própria fábrica, prisões sem ordem judicial e tortura policial. Lúcio Bellentani foi uma das vítimas desta parceria que foi mantida em segredo por décadas. Em entrevista concedida ao EL PAÍS em 2017, o ferramenteiro, que trabalhou na montadora entre 1964 e 1972, disse que foi preso sem qualquer mandado judicial enquanto trabalhava. “Ali mesmo começaram as torturas. Comecei a ser espancado dentro da empresa, dentro do departamento pessoal da Volkswagen. Por policiais do DOPS [Departamento de Ordem Política e Social] e na frente do chefe da segurança e dos outros seguranças da fábrica”, contou ele. Militante do Partido Comunista brasileiro, Bellentani foi detido porque os policiais queriam que ele indicasse quem eram seus companheiros que exerciam atividades sindicais ou políticas. Como ele, outros empregados passaram por situações parecidas, todas com o conhecimento e aval da montadora.

Ao longo das investigações apurou-se que houve cooperação dos funcionários da segurança interna da Volkswagen com os militares e que a empresa se beneficiou economicamente de medidas do período como o enfraquecimento dos benefícios trabalhistas. O reconhecimento de sua responsabilidade e conivência com violações de direitos humanos pela montadora é um primeiro passo para o direito à reparação histórica que as vítimas do período fazem jus.

Do montante total fixado no acordo assinado nesta quarta-feira, R$ 16,8 milhões serão doados à Associação Henrich Plagge, que congrega os trabalhadores da Volkswagen, e repartido entre os ex-funcionários que foram alvo de perseguições por suas orientações políticas. Outros R$10,5 milhões serão destinados ao reforço de políticas de Justiça de Transição, com projetos de preservação da memória das vítimas das violações de direitos humanos na época. A Volkswagen também pagará 9 milhões de reais aos Fundos Federal e Estadual de Defesa e Reparação de Direitos Difusos. Na nota divulgada, os procuradores cobram a Justiça que dê seguimento aos julgamentos de repressores e lamentam que o Brasil siga “como um caso notável de resistência à promoção ampla dessa agenda” de reparação. “Não por acaso ecoam manifestações de desapreço às suas instituições democráticas.”

https://brasil.elpais.com/brasil/2020-09-24/volkswagen-assina-acordo-milionario-de-reparacao-por-colaborar-com-ditadura-e-abre-precedente-historico.html?ssm=whatsapp

 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

ATENÇÃO: MAIS DA METADE DO ORÇAMENTO DA UNIÃO DE 2021 VAI PARA CREDORES DA DÍVIDA PÚBLICA

 JÁ CHIAVAM QUANDO DENUNCIÁVAMOS QUE MAIS DE 40% IA PARA OS "SERVIÇOS DA DÍVIDA", E O QUE DIRÃO AGORA POR TORNARMOS PÚBLICO QUE MAIS DA METADE DO ORÇAMENTO SUMIRÁ E IRÁ PARAR NO AUMENTO DA RIQUEZA DOS INSACIÁVEIS BANQUEIROS DO NOSSO AMADO BRASIL - AMADO POR NÓS, EXPLORADO POR ELES!

NÃO ADIANTA RECLAMAREM, CONTUDO, PORQUE É PROPOSTA DO GOVERNO. NÃO ESTAMOS INVENTANDO NADA, APENAS REPASSANDO INFORMAÇÃO.

 Mais da metade do orçamento de 2021 será para amortizar dívida pública

Por Maria Lucia Fattorelli / Publicado em 15 de setembro de 2020
Mais da metade dos recursos previstos no orçamento federal de 2021, para os gastos com juros e amortizações da dívida pública

Mais da metade dos recursos previstos no orçamento federal de 2021 são para os gastos com juros e amortizações da dívida pública

Foto: Isac Nóbrega/PR

No último dia 31 de agosto, o Governo Federal publicou e encaminhou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2021 no valor total de R$ 4,148 trilhões.

O referido projeto destina R$ 2,236 trilhões, ou seja, mais da metade dos recursos previstos no orçamento federal de 2021, para os gastos com juros e amortizações da dívida pública, aumentando em R$ 634 bilhões o valor nominal previsto no PLOA 2020.

Nesse aspecto, cabe ressaltar o grave fato de que grande parte dos juros da dívida têm sido contabilizados como se fosse amortização, razão pela qual devem ser somadas as rubricas referentes aos gastos com juros e amortizações da dívida.

Enquanto os gastos com a dívida pública representam 53,92% do PLOA 2021, áreas sociais fundamentais receberão, no ano que vem, volume de recursos inferior à média do valor efetivamente recebido no período de 2015 a 2019 (valores atualizados pelo IPCA até agosto/2020, data do PLOA 2021), destacando-se as seguintes áreas:

  • Saúde (perda de 0,78%);
  • Trabalho (perda de 2,59%);
  • Direitos da Cidadania (perda de 22,24%);
  • Urbanismo (perda de 9,70%);
  • Saneamento (perda de 32,63%);
  • Ciência e Tecnologia (perda de 13,27%);
  • Organização Agrária (perda de 33,15%);
  • Indústria (perda de 23,02%);
  • Energia (perda de 34,20%);
  • Desporto e Lazer (perda de 34,96%);
  • Encargos Especiais/Outros GND, principalmente Transferências a Estados e Municípios (perda de 0,40%).

Todos sabemos que o desenvolvimento socioeconômico do país depende principalmente de investimentos governamentais em Ciência e Tecnologia, Energia e Indústria, áreas que estão perdendo grandes volumes de recursos no PLOA 2021, comparativamente ao que vinham recebendo durante os últimos 5 anos encerrados em 2019 (em valores atualizados pelo IPCA).

A realização da reforma agrária também é iniciativa fundamental para o desenvolvimento socioeconômico, como comprovado em diversos países que a realizaram, porém, ela está praticamente inviabilizada diante da perda brutal de 33,15%, pois essa rubrica orçamentária já vinha recebendo recursos bem reduzidos.

Perdas

As perdas sociais no PLOA 2021 são imensas, tendo em vista que a área de Habitação, aparece com recursos praticamente zerados, e até a área da Saúde perde 0,78%, cabendo ressaltar também as relevantes perdas do Saneamento, de 32,63%, área correlata à saúde. Relevantes perdas também nas rubricas Trabalho, Direitos da Cidadania e Desporto e Lazer mostram que estas áreas não fazem parte das prioridades do governo.

A Educação e a Gestão Ambiental, que são áreas relevantes ao desenvolvimento socioeconômico do país, aparecem, no PLOA2021, com praticamente o mesmo volume de recursos que vinham recebendo durante os últimos 5 anos encerrados em 2019 (em valores atualizados pelo IPCA), apresentando uma variação positiva de apenas 1,96% e 1,75%, respectivamente.

Por outro lado, algumas áreas estão tendo, no Ploa 2021, aumento superior a 20% do volume de recursos que vinham recebendo durante os últimos 5 anos encerrados em 2019 (em valores atualizados pelo IPCA), como por exemplo as áreas da Defesa Nacional (acréscimo de 20,67%) e Segurança Pública (acréscimo de 22,81%).

Aumento de gastos

O projeto aumenta os gastos com Agricultura (acréscimo de 23,43%, que destina a maior parte dos recursos ao agronegócio); Comércio e Serviços (acréscimo de 49,38%, sendo a maior parte dos recursos destinados a empresas brasileiras no exterior); Transporte (acréscimo de 32,39%, sendo a maior parte destinada a rodovias que estão sendo privatizadas), e Comunicações (acréscimo de 111,93%, setor em grande parte já privatizado).

Os gastos com juros e amortizações da chamada dívida pública previstos para 2021 são 87% superiores à média dos últimos 5 anos encerrados em 2019 (em valores atualizados pelo IPCA), aumento este que em números absolutos significa o relevante valor R$ 1,041 trilhão. Aí está o grande problema do orçamento.

No ano de 2020 já está havendo também um aumento nos gastos com a “Dívida Bruta do Governo Geral” que refletiram no aumento de seu estoque, que subiu R$ 709 bilhões nos primeiros 7 meses de 2020. Apesar da alegação de representantes do governo e alguns setores da grande imprensa conservadora de que esse aumento em 2020 seria decorrente dos gastos com as ações relacionadas à pandemia, a análise dos dados revela que esse crescimento decorreu principalmente devido ao aumento das chamadas “Operações Compromissadas” (que na prática correspondem à remuneração da sobra de caixa dos bancos, cujo estoque cresceu R$ 546 bilhões no período); do aumento da dívida externa medida em reais (devido à alta do dólar), e dos gastos com juros incidentes sobre a dívida pública federal, cuja taxa média se encontra em cerca de 9% ao ano, apesar da taxa básica Selic estar em 2% ao ano.

Projeto de país

A análise global do comportamento dos gastos evidencia o projeto de país que tem sido implementado nos últimos anos, refletido no Orçamento Federal.

A tabela anexa contém dados de 2015 a 2021, sendo que os valores de 2015 a 2019 são os efetivamente pagos nos respectivos anos, seguidos dos valores previstos em 2020 e 2021 nos respectivos Ploa.

O gráfico a seguir revela o perverso efeito da Emenda Constitucional nº 95/2016 sobre todas as áreas sociais e gastos com a manutenção do Estado, cujo total permaneceu rigorosamente congelado, enquanto os gastos com a dívida pública oscilam livremente e em 2021 aumentam de forma ainda mais relevante no Ploa 2021:

 VALORES PAGOS  (2015 a 2019) e VALORES PREVISTOS (PLOA 2020 e 2021)
Gastos selecionados – R$ bilhões (em valores atualizados pelo IPCA para agosto/2020)

Reprodução

 

Fonte: Elaboração própria com dados do Painel do Orçamento Federal, Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento, Ministério da Economia. (Acesso em 9 de setembro de  2020)

Nota 1: Os juros e amortizações da dívida pública correspondem aos GND 2 e 6.

Nota 2: “Outros Encargos Especiais” correspondem principalmente às transferências a estados e municípios (que não estão sujeitas ao chamado “teto de gastos” da EC 95/2016). O valor foi obtido subtraindo-se da Função “Encargos Especiais” os gastos com juros e amortizações da dívida pública.

Nota 3: Os “Gastos Sociais e com a manutenção do Estado” englobam quase todas as demais rubricas orçamentárias (exceto “Encargos Especiais” que compreendem os gastos com a dívida pública, transferências a Estados e Municípios etc.), e quase a sua totalidade corresponde às “despesas primárias”, que estão submetidos ao teto de gastos estabelecido pela EC 95/2016.

Breve Análise

Esta breve análise revela o modelo de Estado rentista, tendo em vista que a maior parte dos recursos destina-se ao pagamento de juros e encargos da chamada dívida pública, com indicativo de agravamento desse modelo devido à destinação de 53,92% do Ploa 2021 para os gastos com a dívida pública, enquanto as áreas mais fundamentais para a sociedade e para o país perdem grandes volumes de recursos ou ficam praticamente no mesmo escasso patamar anterior.

É urgente inverter essa lógica e garantir que as imensas riquezas e potencialidades existentes no Brasil sejam empregadas em áreas que garantam vida digna para todas as pessoas, respeito à Natureza e o desenvolvimento socioeconômico do país.  

#ÉHORAdeVIRARoJOGO

*Maria Lucia Fatorelli é auditora fiscal e coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida Pública. Escreve quinzenalmente para o Extra Classe. Este artigo contou com dados levantados por Rodrigo Ávila e Rafael Muller.

 https://www.extraclasse.org.br/opiniao/2020/09/mais-da-metade-do-orcamento-de-2021-sera-para-amortizar-divida-publica/

sábado, 19 de setembro de 2020

ATENÇÃO: MINISTÉRIO DA AGRICULTURA QUEM MUDAR GUIA DE ALEMENTAÇÃO

 MAIS UMA PARTE DA "BIOADA" QUE O GOVERNO DE PLANTÃO QUER PASSAR, DESSA VEZ CORRIGINDO O GUIA DE ALIMENTAÇÃO ATENDENDO AOS INTERESSES DA AGROINDÚSTRIA. 

VAMOS PERMITIR?


The Intercept Brasil newsletter.brasil@emails.theintercept.com

Sábado, 19 de setembro de 2020

Eles querem que você coma porcaria

 

O Ministério da Agricultura soltou essa semana a maior investida do governo contra o elogiado Guia Alimentar para a População Brasileira: uma nota técnica, direcionada ao Ministério da Saúde, que classifica a recomendação de se evitar comida ultraprocessada como "confusa", "incoerente" e até "cômica". São os mesmos argumentos repetidos há anos pela indústria alimentícia, que tenta engavetar o guia desde que ele surgiu.

Desde 2014, o Brasil adota as recomendações alimentares de acordo com o nível de processamento dos alimentos. O guia, lançado no fim daquele ano (você pode fazer o download aqui), lançou as diretrizes para a população passar a priorizar "comida de verdade": alimentos frescos ou minimamente processados, de preferência feitos em casa, sem conservantes ou aditivos químicos. Ele serve de embasamento para personalidades como Rita Lobo e Paola Carosella, que costumam defender o uso de ingredientes frescos, de pequenos produtores, e consumo preferencialmente caseiro.

Diferente de outros guias alimentares, voltados a profissionais de saúde, que costumam listar trocentos nutrientes e vitaminas e são complicados de entender, o manual brasileiro é muito mais simples: leu o rótulo e não entendeu o que está escrito? Evite. Voltado à população em geral, o guia também tem recomendações de se priorizar pequenos produtores e aborda até preparações culinárias. É embasado em dezenas de estudos que associam o consumo de comida ultraprocessada, cheia de aditivos químicos (refrigerantes, salgadinhos, bolachas industrializadas etc.) à obesidade, problemas cardíacos e câncer.

O guia foi elogiado internacionalmente por figurões como Marion Nestle, professora emérita da Universidade de Nova York e referência na pesquisa em nutrição. Foi chamado de "revolucionário" por Michael Pollan, autor do livro "O dilema do onívoro" e estrela da série “Cooked”, da Netflix. Mas a indústria alimentícia, é claro, não gostou. 

O Intercept mostrou no ano passado como associações bancadas por gigantes da alimentação como Nestlé, Danone e Coca-cola tentam fazer a cabeça do Ministério da Saúde contra as recomendações, que atingiram em cheio seus negócios. A Abia, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, já havia tentado impedir que o guia saísse em 2014 – e voltou a tentar engavetá-lo no ano passado, aproveitando a boiada do governo de Jair Bolsonaro. 

Em agosto do ano passado, Luis Madi, diretor de Assuntos Institucionais do Ital, o Instituto Tecnológico de Alimentos, também afirmou que aquela era a hora de trabalhar pela revogação do guia, o que classificou como “o grande desafio” para os próximos três anos – ou seja, o mandato de Bolsonaro. “Esse guia criou uma confusão muito, mas muito forte no consumidor”, criticou Madi. 

O Ital é uma estatal paulista criada nos anos 1960 a pedido da indústria. É mantida pelas contribuições das próprias corporações para desenvolver produtos e embalagens. 

Agora, foi justamente um estudo do Ital que serviu de embasamento técnico para a nota técnica do Ministério da Agricultura que pediu o fim do guia."A classificação definida pelo critério de processamento não apresenta nenhuma contribuição para um guia alimentar público", defende a nota, citando um estudo do engenheiro de alimentos Raul Amaral Rego, do Ital, também diretor de uma empresa de marketing e responsável por palestras com títulos como "A importância dos alimentos processados para a sociedade brasileira". O outro estudo mencionado, revelou o site Outra Saúde, também foi feito por pesquisadores que declararam já ter recebido verbas de organizações bancadas pela indústria. 

O Outra Saúde também notou que, há dois meses, João Dornellas, presidente da Abia se reuniu com a ministra Tereza Cristina justamente para discutir a revisão do guia. A Abia também é financiada por gigantes como Unilever, Bauducco e Danone (se você quiser entender como essa associação opera, pode ler no Intercept como ela tenta esconder o excesso de sal e açúcar do rótulo dos alimentos). O Joio e o Trigo, site especialista em cobrir a indústria alimentícia, também mostrou que o discurso contra o guia foi ensaiado muitas vezes em eventos do setor. 

Não surpreende que o Ministério da Agricultura tenha usado, no documento, a mesmíssima narrativa que os executivos da indústria de alimentos usam há anos para tentar desqualificar o guia. A gente avisou. Agora, resta saber se o Ministério da Saúde vai engolir o argumento.

 

Tatiana Dias
Editora Sênior

 

 

 

terça-feira, 8 de setembro de 2020

A MUDANÇA DE PODER NOS ESTADOS UNIDOS

 COMO SE CHEGOU A ESSE ABSURDO NA ECONOMIA MAIOR DO MUNDO: AS TRÊS PESSOAS MAIS RICAS TÊM TANTA RIQUEZA QUANTO A METADE INFERIOR DE TODOS OS NORTE-AMERICANOS? E QUE, NESSA METADE, 30 MILHÕES NÃO TÊM COMIDA SUFICIENTE?

MAS NÃO SE ADMIREM DEMAIS: O BRASIL VAI NA MESMA DIREÇÃO. E O QUE AJUDA A ENTENDER O GOVERNO TRAMP, AJUDA A ENTENDER BOLSONARO. 

LEIAM, REFLITAM E JUNTEM-SE PARA DECIDIR O QUE NOS CABE COMO SUJEITOS DA NOSSA HISTÓRIA.

Dia do Trabalho 2020: a mudança de poder

Por Robert Reich

CARTA MAIOR - 08/09/2020 12:49
 

 

 
No Dia do Trabalho [comemorado este ano em 7 de setembro nos EUA], apenas oito semanas antes de uma das eleições mais importantes da história norte-americana, é útil considerar a realidade econômica que alimentou a vitória de Donald Trump quatro anos atrás.

Nenhuma outra nação desenvolvida tem, nem de longe, as desigualdades de renda e riqueza encontradas nos Estados Unidos, embora todas essas nações tenham sido expostas às mesmas forças da globalização e da mudança tecnológica. As três pessoas mais ricas dos EUA têm tanta riqueza quanto a metade inferior de todos os norte-americanos juntos, mesmo com 30 milhões de norte-americanos relatando que suas famílias não tinham comida suficiente.

O capitalismo americano está fora dos trilhos.

A principal razão é que grandes corporações, bancos de Wall Street e um punhado de indivíduos extremamente ricos ganharam poder político suficiente para burlar o sistema.

Os executivos-chefes têm feito todo o possível para evitar que os salários da maioria dos trabalhadores aumentem juntamente com os ganhos de produtividade, de modo que a maioria dos ganhos vai para os bolsos dos principais executivos e grandes investidores.

Eles terceirizaram no exterior, instalaram tecnologias de substituição de mão de obra e passaram a trabalhar em regime de meio período ou por contrato. Eles destruíram os sindicatos, cujos membros representavam 35% da força de trabalho do setor privado há 40 anos e hoje diminuíram para 6,2%. Eles neutralizaram a aplicação da lei antitruste, permitindo que seus monopólios tivessem rédeas soltas.

O chamado mercado livre foi dominado pelo capitalismo de compadrio, resgates às corporações e bem-estar corporativo.

Essa enorme mudança de poder lançou as bases para Trump. Em 1964, quase dois terços dos norte-americanos acreditavam que o governo era dirigido para o benefício de todas as pessoas. Em 2013, quase 80% acreditavam que o governo era dirigido por alguns poucos grandes interesses.

Grande parte do establishment político deseja atribuir a ascensão de Trump apenas ao racismo. O racismo desempenhou um papel, com certeza, mas a história sórdida do racismo na política norte-americana é muito anterior a Trump.

O que deu ao racismo de Trump - assim como sua odiosa xenofobia e misoginia - virulência particular foi sua capacidade de canalizar a raiva cada vez maior da classe trabalhadora branca. Não é a primeira vez que um demagogo usa bodes expiatórios para desviar a atenção do público das verdadeiras causas de seu sofrimento.

Trump fala a linguagem do populismo autoritário, mas age no interesse da oligarquia emergente da América. Seu trato com os interesses dos endinheirados foi simples: ele alimentaria a divisão para que os norte-americanos não vissem como a oligarquia assumiu as rédeas, distorceu o governo em seu benefício e desviou as recompensas econômicas.

Ele deixaria os norte-americanos com tanta raiva uns dos outros que não prestariam atenção aos CEOs recebendo salários exorbitantes, enquanto cortavam o salário dos trabalhadores médios; não notariam o corte gigantesco de impostos que foi para as grandes corporações e para os ricos; e não ficariam indignados com a cultura dos conselhos de administração que tolera conflitos de interesses financeiros, informações privilegiadas e o suborno total de funcionários públicos por meio de doações ilimitadas para campanha.

Dessa forma, os interesses pecuniários podem manipular o sistema enquanto Trump reclama que o sistema é manipulado por um "estado profundo".

Apesar de tudo isso, a falha indesculpável de Trump em conter o coronavírus está tendo um impacto maior sobre os eleitores indecisos do que a divisão que ele fomenta. A morte tem um jeito de fazer a mente se concentrar.

Mas se Joe Biden for eleito, seria bom se lembrar das forças que Trump explorou para ganhar o poder e começar a tarefa de remediá-las. A solução não está na mera redistribuição de renda. É encontrada na redistribuição de poder.

Se a riqueza continuar a se concentrar no topo, ninguém será capaz de conter a influência corruptora do dinheiro grosso no sistema norte-americano e a raiva que ele desencadeia. Como o juiz Louis D Brandeis disse uma vez: “Podemos ter democracia neste país ou podemos ter uma grande riqueza concentrada nas mãos de poucos, mas não podemos ter os dois”.

*Publicado originalmente no site do autor | Tradução de César Locatelli

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/Dia-do-Trabalho-2020-a-mudanca-de-poder/6/48670 

 

sábado, 5 de setembro de 2020

O PAPA FRANCISCO CONTA SUA CONVERSÃO ECOLÓGICA

 TENHO ESCUTADO MUITAS VEZES: "ESTE PAPA NÃO EXISTE"! DE FATO, ELE NOS SURPREENDE. DESSA VEZ, ENTREGOU A MENSAGEM PREPARADA AO GRUPO DE FRANCESES QUE O VISITOU PARA CONSOLIDAR SUA DECISÃO DE TRABALHAR EM SEU PAÍS A GERAÇÃO DE CONSCIÊNCIA E A CONVERSÃO ECOLÓGICA ATRAVÉS DA "LAUDATO SI", E FEZ A BELA FALA ESPONTÂNEA QUE DISPONIBILIZO.

 IHU - 04 de setembro de 2020

“Minha conversão ecológica”. Depoimento do Papa Francisco

No dia de ontem, 03-09-2020, ao receber em audiência um grupo de personalidades francesas comprometidas com a luta contra a emergência climática e que colaboram com a Conferência Episcopal Francesa sobre o estudo e a implementação da Laudato Si’, depois de entregar o discurso, previamente preparado, aos participantes do encontro, falou espontaneamente, narrando a sua conversão ecológica

Segundo Francisco, “a ternura é como a esperança. Como diz Péguy, são virtudes humildes. São virtudes que acariciam, que não afirmam ... E creio – gostaria de ressaltar – que, na nossa conversão ecológica, devemos trabalhar sobre essa ecologia humana; trabalhar sobre a nossa ternura e a capacidade de acariciar. A capacidade de acariciar, que é algo do viver bem em harmonia”. 

A tradução do original italiano, publicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, 03-09-2020, é de Luisa Rabolini

Eis o discurso de improviso.

Agradeço a todos vocês pela visita e agradeço ao Presidente do Episcopado.

Vejo que cada um de vocês tem a tradução do que vou dizer. E parte da conversão ecológica é não perder tempo. E por isso texto oficial vocês já têm. Agora prefiro falar espontaneamente. O original o entrego.

Eu gostaria de começar com um pedaço de minha história. Em 2007 aconteceu a Conferência dos Bispos da América Latina no Brasil, em Aparecida. Eu estava no grupo de redatores do documento final, e chegaram propostas sobre a Amazônia. Eu dizia: “Mas esses brasileiros, como enchem a paciência com essa Amazônia! O que a Amazônia tem a ver com evangelização?”. Este era eu em 2007. Depois, em 2015, saiu a Laudato Si'. Tive um percurso de conversão, de compreensão do problema ecológico. Antes eu não entendia nada!

Quando fui a Estrasburgo, na União Europeia, o Presidente Hollande enviou a Ministra do Ambiente, Ségolène Royale, para me receber. Conversamos no aeroporto... No começo um pouco, porque havia o programa a cumprir, mas depois, no final, antes de partir, tivemos que esperar um pouco e conversamos mais. E a senhora Ségolène Royale me disse o seguinte: “É verdade que o senhor está escrevendo algo sobre ecologia? – C'était vrai! – Por favor, publique antes do encontro de Paris!”.

Chamei a equipe que estava fazendo a encíclica – para que vocês saibam que eu não escrevi ela pessoalmente, foi uma equipe de cientistas, uma equipe de teólogos e todos juntos fizemos essa reflexão –, eu chamei essa equipe e disse: "Deve sair antes da reunião de Paris" – "Mas por quê?" – “Para fazer pressão”. De Aparecida a Laudato Si' para mim foi um caminho interior.

Quando comecei a pensar nessa Encíclica, chamei os cientistas – um belo grupo – e disse a eles: "Digam-me as coisas que são claras e comprovadas e não hipóteses, as realidades". E eles trouxeram essas coisas que vocês leem ali hoje. Depois, chamei um grupo de filósofos e teólogos [e disse a eles]: “Eu gostaria de fazer uma reflexão sobre isso. Trabalhem vocês e dialoguem comigo”. E eles fizeram o primeiro trabalho, depois eu fiz a minha intervenção. E, no final, a redação final foi feita por mim. Essa é a origem.

Mas quero ressaltar isso: do não entender nada, em Aparecida, em 2007, à Encíclica. Eu gosto de dar testemunho disso. Devemos trabalhar para que todos tenham esse caminho de conversão ecológica.

Depois veio o Sínodo da Amazônia. Quando fui para a Amazônia, encontrei muita gente lá. Fui a Puerto Maldonado, na Amazônia peruana. Conversei com as pessoas, com muitas culturas indígenas diferentes. Depois almocei com 14 de seus chefes, todos com as penas, vestidos como manda a tradição. Eles falavam com uma linguagem de sabedoria e inteligência muito alta! Não apenas de inteligência, mas de sabedoria. E então perguntei: "O que você faz?" – “Sou professor universitário”.

Um indígena que ali usava as penas, mas para a universidade ia com roupas como as nossas. "E você senhora?" – “Eu sou a responsável pelo ministério da educação de toda esta região”. E assim, um após o outro.

E depois uma jovem: "Sou estudante de ciências políticas". E aqui vi que era necessário eliminar a imagem dos indígenas que vemos apenas com as flechas.

Descobri, lado a lado, a sabedoria dos povos indígenas, também a sabedoria do "bem viver", como eles chamam.

O "bem viver" não é a doce vida, não, o não fazer nada, não. O bem viver é viver em harmonia com a criação. E nós perdemos essa sabedoria do bem viver.

Os povos originários nos trazem essa porta aberta. E alguns idosos dos povos originários do oeste do Canadá reclamam que seus netos vão para a cidade e pegam coisas modernas e esquecem as raízes. E esse esquecimento das raízes é um drama não só dos aborígenes, mas da cultura contemporânea.

E assim, encontrar essa sabedoria que talvez tenhamos perdido com muita inteligência. Nós – é um pecado – somos “macrocéfalos”: muitas das nossas universidades nos ensinam ideias, conceitos ... Somos herdeiros do liberalismo, do Iluminismo ... E perdemos a harmonia das três línguas. A linguagem da cabeça: pensar; a linguagem do coração: sentir; a linguagem das mãos: fazer. Que traz essa harmonia, que cada um pensa, o que sente e o que faz; que cada um sinta o que pensa e faz; que cada um faça o que sente e pensa. Esta é a harmonia da sabedoria. Não é nem um pouco da desarmonia – mas não digo isso em sentido pejorativo - das especializações. São necessários os especialistas, são necessários, desde que estejam enraizados na sabedoria humana. Os especialistas, desenraizados dessa sabedoria, são robôs.

Outro dia uma pessoa me perguntou, falando em inteligência artificial – temos um grupo de estudos de altíssimo nível sobre inteligência artificial no Dicastério da Cultura: "Mas a inteligência artificial poderá fazer tudo?" – “Os robôs do futuro poderão fazer tudo, tudo que uma pessoa faz. Mas exceto o quê? – eu disse – o que eles não poderão fazer? ”. E ele pensou um pouco e me disse: "Só há uma coisa que eles não poderão ter: ternura". E ternura é como a esperança. Como diz Péguy, são virtudes humildes. São virtudes que acariciam, que não afirmam ... E creio – gostaria de ressaltar – que, na nossa conversão ecológica, devemos trabalhar sobre essa ecologia humana; trabalhar sobre a nossa ternura e a capacidade de acariciar ... Tu, com os teus filhos ... A capacidade de acariciar, que é algo do viver bem em harmonia.

Além disso, há outra coisa que gostaria de dizer sobre a ecologia humana. A conversão ecológica nos mostra a harmonia geral, a correlação de tudo: tudo está correlacionado, tudo está em relação. Em nossas sociedades humanas, perdemos esse senso da correlação humana. Sim, existem associações, existem grupos – como o vosso – que se reúnem para fazer uma coisa ... Mas estou me referindo àquela relação fundamental que cria a harmonia humana. E muitas vezes perdemos o senso das raízes, de pertencimento. O sentimento de pertença. Quando um povo perde o sentido de suas raízes, perde sua identidade. – Mas não! Somos modernos! Vamos pensar nos nossos avós, em nossos bisavós ... Coisas antigas! – Mas há outra realidade que é a história; há a pertença a uma tradição, a uma humanidade, a um modo de viver ... Por isso é muito importante hoje cuidar disso, cuidar das raízes da nossa pertença, para que os frutos sejam bons.

Por isso, hoje mais do que nunca, o diálogo entre avós e netos se faz necessário. Pode parecer um pouco estranho, mas se um jovem – vocês são todos jovens aqui – não tem o sentido de uma relação com os avós, o sentido das raízes, não terá a capacidade de levar adiante a própria história, a humanidade, e terá que acabar chegando a um acordo, a compromissos, com as circunstâncias. A harmonia humana não tolera os pactos de compromisso.

Sim, a política humana – que é outra arte e necessária – a política humana é feita dessa forma, com compromissos para que possa levar todos adiante. Mas a harmonia não. Se você não tiver raízes, a árvore não continuará. Há um poeta argentino, Francisco Luis Bernárdez – já morreu, é um dos nossos grandes poetas – que diz: “Todo lo que el árbol tiene de florido vive de lo que ten sepultado". Se a harmonia humana dá frutos é porque tem raízes.

E por que dialogar com os avós? Posso falar com os pais, isso é muito importante! Falar com os pais é muito importante. Mas os avós têm algo mais, como um bom vinho. O bom vinho quanto mais envelhece, melhor fica. Vocês franceses entendem dessas coisas, não é? Os avós têm essa sabedoria. Sempre fiquei impressionado com aquela passagem do Livro de Joel: “Os avós sonharão. Os velhos sonharão e os jovens profetizarão”. Os jovens são profetas. Os velhos são sonhadores. Parece o contrário, mas é assim! Desde que se falem. E esta é a ecologia humana.

Sinto muito, mas temos que terminar, porque o Papa também é um escravo do relógio! Mas quis contar esse testemunho da minha história, essas coisas, para seguir em frente. E a palavra-chave é harmonia. E a palavra-chave humana é ternura, a capacidade de acariciar. A estrutura humana é uma das muitas estruturas políticas que são necessárias. A estrutura humana é o diálogo entre os idosos e os jovens.

Agradeço o que vocês estão fazendo. Gostei de enviar este [discurso escrito] para o vosso arquivo – vocês o lerão mais tarde – e dizer, do fundo do coração, o que sinto. Pareceu-me mais humano. Eu vos desejo o melhor. Et priez pour moi. J'en ai besoin. Ce travail n'est pas facile. Et que le Seigneur benisse vous tous.

http://www.ihu.unisinos.br/602572-minha-conversao-ecologica-depoimento-do-papa-francisco