domingo, 31 de maio de 2020

FAMÍLIAS AGRICULTORAS CONTINUAM PLANTANDO O SEU ALIMENTO


👩🏽‍🌾👨🏽‍🌾| Sim, milhares de agricultoras e agricultores estão neste momento cuidando dos plantios que continuam gerando alimentos de qualidade para sua mesa. Nunca é demais lembrar: 70% da alimentação das brasileiras e dos brasileiros é fornecida pela agricultura familiar!

Zilma, Fabiana, Cintia e Joelson colhem esses alimentos nos municípios baianos de Campo Alegre de Lourdes e Pilão Arcado. Diante da crise provocada pela pandemia, eles deixam um recado para você. Assista ao vídeo!

No YouTube: https://youtu.be/enY2Yn-pApI
No Instagram: https://bit.ly/3ciZ1ox
No Facebook: https://bit.ly/2WIxyWG
Ou no Twitter: https://bit.ly/2xQE8Ck

Enquanto a Articulação Nacional de Agroecologia - ANA e centenas de movimentos, redes e organizações da sociedade civil exigem que o governo federal garanta 1 bilhão de reais para compra direta desses alimentos que podem ser oferecidos a hospitais, asilos e restaurantes populares -

https://bit.ly/PropostaPAA, continue apoiando a agricultura familiar comprando alimentos de quem está perto de você!


terça-feira, 26 de maio de 2020

QUILOMBOLAS E CAIÇARAS DISTRIBUEM ALIMENTOS E AFETO

E QUEM CONTINUA ACHANDO QUE NÃO EXISTEM MILAGRES E ANJOS? ESTOU FELIZ COM A NOTÍCIA DESTA BELA PRÁTICA, E MAIS: SINTO ORGULHO DE ME SENTIR PARTE, DE ALGUMA FORMA, DESSE MILAGRE DE SOLIDARIEDADE E DE AFETO. NA VERDADE, ESTES POVOS JÁ ME DERAM A HONRA DE ESTAR COM ELES, PARTICIPANDO DE SEU PROCESSO DE FORMAÇÃO PERMANENTE. APRENDI MUITO!


Ivo,
A solidariedade é uma forma poderosa de trabalho, especialmente enquanto enfrentamos a pandemia de Covid-19. E as comunidades quilombola e caiçara do Vale do Ribeira já sabem disso. Hoje conto para vocês uma história de solidariedade que vem do sul do estado de São Paulo, quando quilombolas e caiçaras se mobilizaram para distribuir alimentos para populações em vulnerabilidade. Comida de verdade para ajudar a alimentar e levar afeto a quem precisa.
Produtos da Cooperquivale fazem parte do Sistema Agrícola Tradicional Quilombola
A Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira (Cooperquivale) e a Comunidade Caiçara da Enseada da Baleia organizaram a produção e entrega emergencial de 503 cestas de produtos da pesca caiçara e da roça dos quilombos. Ao todo, 15 toneladas de alimentos com 26 tipos de alimentos orgânicos que fazem parte do Sistema Agrícola Tradicional Quilombola, registrado como patrimônio imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
As cestas contribuíram para suprir as necessidades básicas de 716 famílias do Vale do Ribeira e da capital paulista, beneficiando 18 aldeias Guarani, dois quilombos, moradores dos municípios de Eldorado e Iporanga (SP) e moradores da zona sul da capital paulista. Todos estão sofrendo com a crise, mas eles escolheram partilhar um pouco da sua riqueza, que não é só material.
A Andrea Arruda, dos coletivos Periferia Segue Sangrando e 8M na Quebrada, contou que “Teve gente que até chorou e lembrou dos pais e avós ao ver produtos como cará, inhame, palmito e peixe seco. É uma alimentação que preencheu as pessoas de afeto”.
Raquel Pasinato
Instituto Socioambiental - ISA

Mais informações sobre o ISA.
Dúvidas ou comentários, ligue (11) 93500 1149 e fale com Mariana Barros ou escreva para relacionamento@socioambiental.org

LAUDATO SÍ: EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE TOTAL

Em busca da “sustentabilidade total”: Francisco propõe mais sete anos de Laudato Si’.

Roberto Malvezzi (Gogó)

A Laudato Si’, documento do Papa Francisco para as questões socioambientais, está celebrando cinco anos. Ao redor do mundo inteiro há celebrações, debates, comemorações por esse documento único da Igreja Católica. Ele trouxe a Igreja para dentro do século XXI, para dentro das grandes questões que afligem a humanidade e a Terra na qual habitamos.

Diante da pandemia do Coronavírus, o Vaticano já lançou um documento dizendo que haverá mais sete anos de Laudato Si’. Quem conhece o significado do número sete na bíblia, sabe que ele significa perfeição, isto é, Francisco quer que a Laudato Si’ seja a luz que ilumina a Igreja e a humanidade de boa vontade por muito tempo, até que alcancemos a “sustentabilidade total”. Então, nosso caminho será longo até reencontrarmos o equilíbrio entre ecologia e economia, ente a humanidade e o ambiente no qual estamos inseridos e do qual somos parte.

Entretanto, aqui pelo Semiárido Brasileiro, particularmente em nossa diocese de Juazeiro da Bahia, irmanados a tantos e tantas por esse vasto sertão, estamos em busca desse equilíbrio socioambiental há muitas décadas. Esse luta vem desde a década de 70 pelo menos, quando a diocese se colocou ao lado da população relocada pela barragem de Sobradinho, quando enfrentou junto ao povo as grilagens de suas terras, quando contribuiu de forma decisiva pelos direitos políticos e sindicais do nosso povo, quando organizou o povo em comunidades eclesiais de base, quando fez estudos bíblicos, quando lutou pela preservação da caatinga em pé, quando participou da luta pela água, particularmente na captação da água de chuva para beber e produzir.

Mas, não foi só. Sempre esteve na luta pelas adutoras para levar água do São Francisco para as comunidades do interior, na luta pela agroecologia junto com seus parceiros da sociedade civil, na defesa do rio São Francisco, na luta pelo saneamento básico nos meios urbanos e rurais. Enfim, nenhuma necessidade básica do nosso povo foi esquecida nessas longas décadas, sofridas é verdade, mas também que produziram muitos frutos. Não foram apenas sementes plantadas, são também frutos colhidos.

Sendo assim, podemos dizer que somos Laudato Si’ muito antes dela existir. Por isso, a Laudato Si’ foi bem acolhida em nosso meio, porque ela de alguma forma recolhe todas essas iniciativas, nossas e de tantos espalhados por esse imenso Semiárido Brasileiro, mas também de gente do mundo inteiro. São aqueles que amam a paz, a justiça, que respeitam as pessoas em situação de injustiça e pobreza, são aqueles que se orientam pelo princípio bíblico de “cultivar e guardar a Criação” (Gênesis 2,15).

Por isso, não resta dúvida que estaremos nesse poderoso gesto de amor por mais sete anos, na busca da sustentabilidade total, porque assim somos há muito tempo e assim continuaremos a ser, ouvindo os apelos Daquele que tudo criou. 

"LEITURA DE CEGO" DA LAUDATO SÍ DO PAPA FRANCISCO


MAIS DO QUE FAZER MINHA A LEITURA DE CEGO FEITA POR LEONARDO BOFF, QUERO INSISTIR: VALE A PENA LER, REFLETIR COM ATENÇÃO, MEDITAR MENSAGEM "LAUDATO SÍ", DO AMIGO DA TERRA E DA HUMANIDADE, PAPA FRANCISCO.


Amigos/as
Por ocasião dos 5 anos da Laudato Si estou enviando esta reflexão
Abraço
lboff 

Uma leitura de cego da encíclica ecológica Laudato Si
                                                   Leonardo Boff

Um cego capta com as mãos ou com seu bastão as coisas mais relevantes que encontra pela frente. Pois assim tentaremos fazer uma leitura de cego acerca da encíclica ecológica do Papa Francisco, Laudato Si: sobre o cuidado da Casa Comum, cujos 5 anos (24/05/2015) acabamos de celebrar. Quais são seus pontos relevantes?

Antes de tudo, não se trata de uma encíclica verde que se restringe ao ambiente, predominante nos debates atuais. Propõe uma ecologia integral que abarca o ambiental, o social, o político, o cultural, o cotidiano e o espiritual.

Quer ser uma resposta à generalizada crise ecológica mundial porque “nunca maltratamos e ferimos a nossa Casa Comum, como nos últimos dois séculos”(n.53); fizemos da Casa Comum “um imenso depósito de lixo (n.21). Mais ainda:”As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia… nosso estilo de vida insustentável só pode desembocar em catástrofes”(n.161). A exigência é de “uma conversão ecológica global”(n.5;216)) que implica “novos estilos de vida”(repete 35 vezes) e “converter o modelo de desenvolvimento global”(n.194).

Chegamos a esta emergência crítica por causa de nosso exacerbado antropocentrismo, pelo qual o ser humano”se constitui um dominador absoluto”(n.117) sobre a natureza, desgarrado dela, esquecendo que “tudo está interligado e por isso ele “não pode se declarar autônomo da realidade”(n.117;120). Utilizou a tecnociência como instrumento para forjar “um crescimento infinito…o que supõe a mentira da disponibilidade infinita dos bens do planeta que leva a espremê-lo até ao limite para além dele”(n.106).

Na parte teórica, a encíclica incorpora um dado da nova cosmologia e da física quântica: que tudo no universo é relação. Como num ritornello insiste que “todos somos interdependentes, tudo está interligado e tudo está relacionado com tudo “(cf. nn.16, 86,117,120) o que confere grande coerência ao texto.

Outra categoria que constitui um verdadeiro paradigma é o do cuidado. Este, na verdade, é o verdadeiro título da encíclica. O cuidado, por ser da essência da vida e do ser humano, segundo a fábula romana de Higino, tão bem explorada por Martin Heidegger em Ser e Tempo é recorrente em todo o texto da encíclica. Vê em São Francisco “o exemplo por excelência do cuidado”(n.10).“Coração universal…para ele qualquer criatura era uma irmã unida a ele por laços de carinho, sentindo-se chamado a cuidar de tudo o que existe”(n.11).

É interessante observar que o Papa Francisco une a inteligência intelectual, apoiado nos dados da ciência, à inteligência sensível ou cordial. Devemos ler com emoção os números e relacionarmo-nos com a natureza “com admiração e encanto (n.11)…prestar atenção à beleza e amá-la pois nos ajuda a sair do pragmatismo utilitarista”(n.215). Importa “ouvir tanto o grito da Terra quanto o grito dos pobres”(n.49).

Consideremos este texto, carregado de inteligência. emocional: ”Tudo está relacionado e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos, como irmãos e irmãs, numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma de suas criaturas e que nos une também com terna afeição ao irmão Sol, à irmã Lua, ao irmão rio, e à Mãe Terra”(n.92). Importa “incentivar uma cultura do cuidado que permeie toda a sociedade”(n.231), pois assim “podemos falar de uma fraternidade universal”(228).

Por fim, é essencial à ecologia integral a espiritualidade. Não se trata de derivá-la de ideias, mas “das motivações que dão origem "a uma espiritualidade para alimentar a paixão pelo cuidado do mundo…Não é possível empenhar-se em coisas grandes, apenas com doutrinas sem uma mística que nos anima, sem uma moção interior que impele, motiva, encoraja e dá sentido à ação pessoal e comunitária”(n.216). Novamente evoca aqui a espiritualidade cósmica de São Francisco (n.218).

Concluindo, releva enfatizar que com esta encíclica, ampla e detalhada, o Papa Francisco se coloca, como notáveis ecologistas o reconheceram, na vanguarda da discussão ecológica mundial. Em muitas entrevistas, referiu-se aos riscos que corre nossa Casa Comum. Mas sua mensagem é de esperança:”caminhemos cantando, que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta, não nos tirem a alegria da esperança”(n.244).

Leonardo Boff é ecoteólogo e escreveu:Francisco de Assis e Francisco de Roma, Mar de Ideias, Rio 2014.
        







segunda-feira, 25 de maio de 2020

LAUDATO SÍ É CAMINHO DE CURA QUE A HUMANIDADE PRECISA HOJE


QUE A LAUDATO SÍ ILUMINE NOSSAS MENTES E NOSSOS PASSOS!

“Laudato Si” apresenta o caminho de cura que a humanidade precisa hoje

DAJ DZIECKU PATYK
Jodie Witmer | Shutterstock

O cardeal Michael Czerny S.J., subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados – organização criada pelo Papa Francisco no Vaticano – analisa os cinco anos de publicação da encíclica sobre a criação

Atualmente, milhões de pessoas no planeta comemoram a semana “Laudato sì”, uma iniciativa que busca aplicar ativamente as propostas que o Papa Francisco apresentou à humanidade há cinco anos, quando publicou sua encíclica de mesmo nome dedicada ao cuidado da criação através de uma ecologia integral.
Nesta entrevista, o cardeal Michael Czerny SJ, subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados, uma instituição criada pelo Papa Francisco no Vaticano e que ele dirige pessoalmente, explica como este documento pode constituir uma bússola para a reconstrução da sociedade, após o flagelo da pandemia causada pelo coronavírus.

– Estamos comemorando o quinto aniversário da publicação da encíclica “Laudato sì”. Que lições este documento traz para a atual situação?

– Cardeal Michael Czerny: Cinco anos atrás, “Laudato sì” revelou as falhas tectônicas da injustiça humana e da degradação ambiental. Agora, o novo coronavírus (Covid-19) as está amplificando e ampliando, de forma trágica e aguda. É a “aceleração” que o Papa Francisco identificou no número 18 da encíclica. Não apenas pela maneira e velocidade com que o vírus se espalha, mas também pela alta aceleração da digitalização, os milhões de empregos perdidos, a comunicação online que substituiu reuniões e eventos.

É interessante observar os paralelos entre a crise ecológica e a crise do coronavírus: a Covid-19 começa prejudicando a saúde, mas também tem outras consequências terríveis, especialmente entre os mais vulneráveis. Algo semelhante acontece com a crise ecológica: começa danificando o meio ambiente, mas depois tem consequências devastadoras para o trabalho, alimentação, saúde e outras questões sociais, principalmente para os mais pobres. Ambas as crises exigem novas soluções em todos os lugares e em todos os níveis, não apenas no topo.

– A “Laudato sì” tem cinco anos. Não foi a primeira vez que a Igreja falou sobre ecologia, mas graças a este documento, um novo paradigma de ecologia integral foi estabelecido, com impacto na linguagem eclesial e comum. Que “processos” essa encíclica desencadeou nos últimos anos, usando um termo típico do Papa Francisco?

– Cardeal Michael Czerny: Assim que foi publicada, a “Laudato sì” preparou o terreno, incentivou e guiou a Conferência COP21 em Paris (dezembro de 2015), que deu origem ao Acordo de Paris. Embora esse acordo tenha sido frágil, foi um primeiro passo necessário. Mas, acima de tudo, estimulou inúmeras formas de mobilização nas paróquias, em outras religiões, em grupos e movimentos leigos. Foi algo realmente inédito, no caso de uma encíclica.

– Como podemos reler o “Laudato sì” à luz dos eventos que estamos enfrentando hoje? Como podemos fazer esta semana dar frutos?

– Cardeal Michael Czerny: É legítimo interpretar a “Laudato sì” à luz da Covid-19. Os abusos e a degradação ambiental provavelmente contribuíram para o surgimento e a disseminação do vírus;
Agora, nossa análise deve ir muito mais a fundo, aos valores fundamentais que levaram à competitividade e ao consumismo próprios da civilização de ontem. O novo mundo, depois da Covid-19, tem de ser um mundo muito melhor.

– E ainda hoje, alguns católicos acham difícil considerar as questões socioambientais como um elemento fundamental de sua fé. O que o senhor diria a eles.

– Cardeal Michael Czerny: Em vez de ser uma “questão socioambiental”, a criação constitui um artigo fundamental de fé: “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do céu e da terra”.

A vida humana é baseada em três relacionamentos fundamentais e interconectados: com Deus, com o próximo e com a terra, que faz parte da criação amorosa de Deus. Distorcer qualquer um desses relacionamentos constitui um pecado. O perdão consiste em buscar a participação na redenção que Cristo nos traz, a cura das relações rompidas e a restauração da harmonia nessas três dimensões.

São João Paulo II lembra a cada um, especialmente aos cristãos, “que seu papel na criação, bem como seus deveres com a natureza e o Criador, fazem parte de sua fé” (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1990). Portanto, caminhemos juntos com os católicos que você mencionou e, juntos, enfrentemos nossa falta de fé, nosso medo.

– “Querida Amazônia” e todo o processo do Sínodo dedicado a essa região do mundo são frutos do “Laudato sì”. Como “Querida Amazônia” segue o caminho da “Laudato sì” e desafia todos nós, não apenas as pessoas que vivem na Amazônia?

– Cardeal Michael Czerny: O Sínodo mostrou o que significa levar a “Laudato sì” a sério, para enfrentar todos os pecados sociais e ecológicos de uma determinada região. Essa é a lição a ser aplicada em qualquer lugar da Terra.

Por outro lado, “Querida Amazônia” reconhece claramente os povos da Amazônia, particularmente os indígenas, como os primeiros e indispensáveis ​​protagonistas da preservação do papel planetário desempenhado pela Amazônia. É um desafio para todos aqueles que continuam a promover, ainda que inconscientemente, atitudes colonialistas em relação a outras culturas ou consideram que podem fazer o que quiserem com todos os recursos naturais.

– Como a “Laudato sì” nos ajuda na reconstrução após a pandemia?

– Cardeal Michael Czerny: Antes de tudo, devemos deixar claro que nosso objetivo não pode ser retornar à mesma situação de antes: devemos converter comportamentos autodestrutivos, desumanos, injustos e insustentáveis ​​que foram considerados “normais” até o início do ano 2020.
O Papa nos convida a criar novas relações, uma nova economia, uma nova sociedade. A “Laudato sì” constitui um desafio contra os vetores de crescimento prejudicial e destrutivo, propondo um desenvolvimento inclusivo e sustentável, ao qual podemos atribuir o nome de “integral”.

No que diz respeito à maneira pela qual podemos conseguir isso, a “Laudato sì” prestou enorme atenção ao diálogo como uma base totalmente necessária para uma ação positiva. A única atitude possível para promover a regeneração após a pandemia é o diálogo, o que significa honestamente envolver todos os afetados. Este é o caminho sinodal.

– Os jovens são talvez os mais afetados pela crise ambiental. O senhor acha que a ecologia integral pode se tornar uma ponte para se comunicar com eles, que acham mais difícil integrar-se à vida paroquial tradicional e às estruturas eclesiais?

– Cardeal Michael Czerny: Os jovens estão absolutamente certos quando se sentem profundamente indignados com a flagrante irresponsabilidade de todos os “responsáveis”. Não se trata apenas de líderes com capacidade de tomar decisões em questões como comércio e política, mas também de consumidores e cidadãos que vivem um estilo de vida baseado no abuso insustentável de pessoas e do planeta.

Os jovens de hoje veem o planeta como seu local essencial de respeito e preocupação. Quando os movimentos cristãos os acompanham em sua busca, os jovens participam e desempenham papéis de liderança. Foi isso que aprendemos no Sínodo sobre os jovens de 2018.

– A crise ambiental continua piorando a cada dia. Pelo menos, podemos dizer que é mais grave do que há cinco anos. Quais são os compromissos que os cristãos devem assumir na ocasião desta semana [de celebrações do aniversário da “Laudato sì”]?

– Cardeal Michael Czerny: Antes de tudo, cada um, tanto cristãos como outros, poderia tentar melhorar seu relacionamento com a natureza através do caminho da contemplação. Não podemos amar o que nem sequer vemos. A contemplação pode evocar o caminho da conversão ecológica.

Durante essa pandemia de coronavírus, muitos estão descobrindo que podemos viver com menos. Podemos consumir menos, escolher produtos menos poluentes e evitar embalagens que não possam ser recicladas. Em vez de comprar sem levar em conta as consequências morais e ambientais, nossas paróquias, escolas e centros católicos podem assumir que “a compra é sempre um ato moral, e não apenas econômico” (“Laudato sì”, n. 206, citando a “Caritas in Veritate”). Eles podem usar garrafas de vidro e pratos laváveis, como muitos centros e movimentos populares fazem hoje.

Finalmente, em nossa liturgia, comprometemo-nos a celebrar o dom da criação de Deus de uma maneira mais inspiradora. Nossas liturgias tradicionais incluem elementos da natureza: água e óleo no batismo, pão e vinho na Eucaristia, fogo na Vigília Pascal… Precisamos experimentar a natureza de maneira espiritual e a criação de maneira integral. Caso contrário, continuaremos a explorar, consumir e abusar da natureza, em vez de aceitar nossa responsabilidade como criadores com Deus de nosso lar comum. As dimensões sóbrias, litúrgicas e contemplativas da espiritualidade cristã ajudarão a motivar as mudanças necessárias em nível pessoal e social: todas elas radicais.

– Você poderia mencionar iniciativas que surgiram inspiradas de uma maneira particular pela encíclica “Laudato sì”?

– Cardeal Michael Czerny: O Movimento Mundial Católico pelo Clima
(Catholicclimatemovement.global), que também está comemorando seu quinto aniversário, possui mais de 900 organizações como membros, que vão desde redes internacionais a paróquias locais, congregações religiosas, líderes comunitários e milhares de homens e mulheres católicos e jovens. Este movimento ajudou a organizar esta maravilhosa semana especial da “Laudato sì” (Laudatosiweek.org), que estamos vivendo agora.

Outros exemplos incluem agricultores orgânicos na América Latina, prédios ecologicamente restaurados na Europa, energia solar instalada na África. Um bom número de escolas católicas adotou o “Laudato sì” como seu ensinamento interdisciplinar fundamental para promover a responsabilidade ecológica e mobilizar os estudantes e suas famílias nos cuidados de nosso lar comum.

(Publicado originalmente por Avvenire)

 


domingo, 24 de maio de 2020

MARIA DA PANDEMIA

Roberto Malvezzi (Gogó)

Maria da Pandemia,
Rogai pelos que estão entubados nos hospitais,
Buscando um pouco de ar para sobreviver,
Agonizando e morrendo na solidão.

Rogai por seus familiares e amigos,
Nessa hora de angústia,
Quando a dor é maior.
E a esperança menor.

Rogai pelos médicos, enfermeiras,
Profissionais da limpeza, religiosos,
Todos os que cuidam dos contaminados.

Livrai-nos da indiferença e dos indiferentes,
Dos adoradores da morte,
Dos que celebram as desgraças alheias,
Dos que deveriam ser os primeiros em responsabilidade
E se colocam de forma fria e sórdida diante desses tormentos.

Rogai para que Deus ilumine os cientistas,
Que seja encontrado rapidamente um caminho
Para neutralizar a ação do vírus.

Quando tudo passar,
Que o ar permaneça limpo,
Que as águas permaneçam puras,
Que as florestas permaneçam em pé,
Que nossas ruas tenham o silêncio da paz,
Que nosso céu permaneça azul
Que todas as formas de vida continuem celebrando sua liberdade
Que a humanidade aprenda que a Terra não é lugar só da humanidade.
Que todos vivemos em uma Casa Comum
Amém!

terça-feira, 19 de maio de 2020

ÁGORA: DA PREDAÇÃO À SALVAGUARDA DE VIDA

VALE TOMAR CONHECIMENTO E ADERIR AO CHAMADO PRESENTE NO MANIFESTO 2020 DA "ÁGORA - LUGAR PÚBLICO DE REUNIÃO - DOS HABITANTES DA TERRA". AS ENTIDADES QUE DESEJAREM SUBSCREVER O MANIFESTO ENVIEM MENSAGEM PELO EMAIL coletivoagorabrasil@gmail.com



Ágora das e dos habitantes da Terra

M A N I F E S T O    2 0 2 0

DA PREDAÇÃO À SALVAGUARDA DA VIDA DE TODAS E TODOS OS HABITANTES DA TERRA

Três flagelos devastadores se abatem sobre a humanidade:

 - A pandemia de Covid-19 (pelo menos 233.000 mortes em quatro meses).
A explosão e a disseminação do novo coronavírus estão, de acordo com quase todos os cientistas, intimamente ligadas, entre outras coisas, à devastação ambiental das últimas décadas e à deterioração das condições de higiene e saúde na maioria dos países do mundo;

- O desastre climático e ambiental, devido, entre outras coisas, ao desmatamento e degradação da terra, perda de biodiversidade, poluição do ar e da água (a pegada ecológica nos diz que, em agosto de 2019, já "consumimos" a reserva de vida renovável do planeta para todo o ano);

- A fome e a sede: 7,9 milhões de crianças menores de 5 anos morreram em 2018 por doenças devidas, entre outras coisas, à falta de acesso à água potável. Em um mundo que em 2019 se proclamava "rico", com seu PIB mundial estimado em cerca de 80 trilhões de dólares, quase um bilhão de pessoas tem fome, 2,1 bilhões de pessoas não conhecem água potável e 4,2 bilhões não sabem o que é um banheiro.

O mundo inaceitável
As dramáticas condições em que 1 bilhão de pessoas (1 em cada 8 pessoas no mundo) vive em favelas insalubres, inseguras e socialmente violentas. Assim como os 175 milhões de adultos desempregados (a maioria jovens) e os 850 milhões de trabalhadores pobres (que ganham menos de US$ 2 por dia) indicam que a desigualdade e a negação de direitos humanos para bilhões de pessoas são produtos concretos de nossas sociedades, nossas economias. Eles demonstram o fracasso do sistema que prevalece, do seu "crescimento econômico", do seu "desenvolvimento humano", da sua lógica de guerra.

Nem a guerra nem a pobreza são inevitáveis

Segundo o SIPRI, em 2019 os governos do mundo gastaram mais de US$ 1,91 trilhão em armas (60% dos quais foram gastos apenas pelos Estados Unidos), ou seja, mais de US$ 5 bilhões por dia. Para atacar, matar, ficar mais forte, não salvar vidas, não proteger o meio ambiente, não proteger a Terra ...

Ninguém nasce pobre por destino ou por acaso. Hoje, mais de 90% da humanidade têm que se contentar com menos de 10% dos bens do mundo, porque a economia dominante, governada pelos princípios da sociedade capitalista, mercantilizou, privatizou, desregulou, liberou, financeirizou todas as formas de vida material e imaterial em benefício dos mais fortes, conquistadores, forças dominantes; enquanto a vida e viver com dignidade, liberdade e justiça pertencem a todos.

O mundo deve mudar

Temos que mudar o sistema agora, atacando suas raízes.

Não podemos obedecer ao imperativo do crescimento econômico, que é forçar os habitantes da Terra a emergir rapidamente de seu confinamento e entrar na segunda fase de "administrar a pandemia", "viver com o vírus". Não podemos assumir o risco de saúde e morte - embora com certas precauções - para retornar ao trabalho e colocar em operação a máquina econômica de produção e consumo, sem modificar nenhum dos princípios básicos e mecanismos essenciais do sistema que falhou.

Não acreditamos que seja prudente e justo retornar ao trabalho escravo, que humilha e exclui, voltar a ser um comprador e consumidor irresponsável, passivo e massivo; ganhar dinheiro desumanizador que reduz tudo, inclusive os seres humanos, a mercadoria para ser rentável.

PRIMEIRA PROPOSTA DE AÇÃO

Atuar contra a desigualdade e a exclusão que geram a fome e a sede.

Por uma nova regulamentação do trabalho e sua economia

DECLAREMOS A POBREZA ILEGAL, UM PRODUTO DE TRABALHO ESCRAVO PARA OS IMPERATIVOS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO DESIGUAL E PREDADOR DA VIDA A SERVIÇO DOS INTERESSES E DA VIDA LUXUOSA DOS PODEROSOS.

Propomos que nos recusemos a ficar presos nas "cadeias de valor" de nossas fábricas, fazendas, lojas, escritórios, escolas, universidades, hospitais, esportes etc. Não devemos voltar aos locais de predação e roubo da vida do passado, operando em nome do PIB (mesmo que seja verde, azul, circular, digital ...) e do retorno do investimento (rentismo).

Precisamos de novas normas trabalhistas como condição para "voltarmos ao trabalho". Entre elas, deve-se priorizar atividades econômicas focadas na salvaguarda e promoção de bens e serviços comuns públicos de interesse fundamental para a vida, começando com um grande programa global sobre a água e os serviços públicos de fornecimento de água como força motriz da mudança da estrutura econômica e social, da saúde, agricultura, alimentação, habitação, renovação urbana, economia ambiental, terra, transporte público e outros bens comuns naturais e culturais.

Os protocolos de retorno ao trabalho não devem se limitar a medidas de precaução em saúde. O trabalho deve ser libertado de formas excludentes de propriedade e gestão, de atividades poluidoras, perigosas e prejudiciais à saúde e à segurança dos cidadãos e ao meio ambiente, como determinadas produções químicas, atividades de mineração, produção de armas etc. O fluxo irracional de produtos através do comércio internacional deve ser reduzido. Há uma pressão crescente pela reterritorialização da produção, do consumo e da autogestão comunitários. Simplicidade e sobriedade no ato de consumir estão ganhando visibilidade. A globalização das últimas décadas deve ser abandonada. A economia global das próximas décadas não precisa do exército de habilidades e profissões dedicadas a fazer com que finanças especulativas, sonegação e refúgios fiscais funcionem e prosperem. Muitas das funções bancárias e de seguros terão que desaparecer.

Por outro lado, é necessário enriquecer o trabalho e estimular sua difusão nos campos da criatividade artística e cultural (não mercantilizada), da sociabilidade e da paz, valorizando o tempo compartilhado em comum. Finalmente, o trabalho deve ser sinônimo de igualdade de direitos, dignidade e liberdade.

SEGUNDA PROPOSTA DE AÇÃO

Agir em favor da ciência e da tecnologia a serviço da vida de todas e todos os habitantes da comunidade global de vida na Terra.

CAMPANHA GLOBAL SOBRE O PROJETO, FABRICAÇÃO E USO DE UMA VACINA GLOBAL, COMUM, PÚBLICA E LIVRE CONTRA O COVID-19

A manipulação de organismos vivos para fins privados e lucrativos é imoral e inaceitável. Chegou a hora de construir uma sociedade (e uma economia) capaz de valorizar e promover o conhecimento (ciência) e sua aplicação (tecnologia) como um bem e serviço comum - res publica - sob a responsabilidade primária das comunidades humanas.

A vacina deve resultar da cooperação e solidariedade entre cientistas e os povos, e não de uma guerra competitiva entre rivais em busca do lucro e do poder. A humanidade não precisa de uma guerra de vacinas. Nada justifica que as futuras vacinas sejam de propriedade privada de empresas farmacêuticas por pelo menos 17 a 20 anos. Como é sabido, essas organizações estão claramente atuando no interesse dos proprietários de seu capital, produzindo e comercializando (por meio de subsídios e regulamentos públicos) medicamentos destinados principalmente a tratar pacientes que podem pagar o preço fixado pelas próprias empresas. O dinheiro continua a escravizar a saúde. Não é verdade que a ciência e a economia estejam a serviço do povo. 
Existem outros interesses que desconsideram a cidadania.

Por essas razões, a Rede Ágora das e dos Habitantes da Terra, ativa em diferentes países do mundo (da Argentina à Bélgica, Chile à França, Brasil aos Camarões, Quebec à Itália, Portugal, Alemanha, Índia ...) propõe o lançamento de uma campanha transnacional destinada a adotar um protocolo global sobre uma patente pública comum para a vacina Covid-19.

"Ciência (e economia) para a saúde das e dos habitantes da Terra".

Por uma vacina Covid-19 comum, pública e gratuita.

Por uma aliança de cidadãos transnacionais (planetários)

Propomos que a campanha seja concebida, planejada e liderada por uma rede global de associações, movimentos e instituições da sociedade civil. A rede será estabelecida durante o mês de maio para que o lançamento ocorra em junho de 2020. A multiplicidade e diversidade de iniciativas nesta área são fundamentais e desejáveis.

O objetivo indireto da campanha é impedir que a vacina Covid-19 seja outro ato de expropriação econômica, social e política da vida por poderes privados, com o apoio de autoridades públicas nacionais e internacionais. 
A ciência deve deixar de ser um instrumento usado principalmente a serviço da guerra, do poder e da desigualdade. O conhecimento é uma "res publica" (um bem público).

Este Manifesto é um convite a todas e todos que compartilham essas propostas para expressar seu apoio e adesão à campanha.

"Uma vacina comum, pública e gratuita contra o Covid-19 em todo o mundo".

Agradecemos em solidariedade

Membros da Ágora das e dos Habitantes da Terra (secretariat.audace@gmail.com )

First Signatories
Premiers signataires
Alain Adriaens (Belgium), Jean Paul Amadou Zigaou (Camerun), Marcos P. Arruda (Brazil), Guido Barbera (Italy), Marcelo Barros (Brazil), Fabián Bicciré (Argentina), Alberto Botto (Argentina), Jacques Brodeur (Québec), Bernard Cassen (France), Roberto Colombo (Italy), Alejandro Huala Canuman (Chile), Francesco Comina (Italy), Alain Dangoisse ((Belgium),Ina Darmstaedter (Germany),  Armando Di Negri ((Brazil), Amadou Emanuel (Camerun), Anibal Faccendini (Argentina), Jorge Fandermole (Argentina), Alfio Foti and Emanuele Villa (Italy), Pierre Galand (Belgium), Philippe Giroul (Québec), Fatoumata Kane Ki-Zerbo (Sénégal - Burkina Faso). Felicien Illunga (DR Congo), Luis Infanti de la Mora (Chile), Miguel Lacabana (UK- Argentina)), Mady Ledant (Belgium ), Jorge Llonc (Argentina) , Gustavo Marini (Argentina), Eliane Mandine (France), Monastero del  Bene Comune (Luca Cecchi, Paola Libanti, Silvano Nicoletto) (Italy), Maria Palatine (Germany) Alfonso Pecoraro Scanio (Italy), Riccardo Petrella (Italy), Jean-Yves Proulx (Québec), Roberto Savio (Italy), Roberto Musacchio (Italy), Anne Rondelet (Belgium), Bernard Tirtiaux (Belgium), Pietro Pizzuti (Belgium), Domenico Rizzuti (Italy), María Eugenia Schmuck (Argentina), Université du Bien Commun (Cristina Bertelli, Claire Dehove, Corinne Ducrey, Jean-Pascal Derumier, Annie Flexer, Gilles Yovan (France), Luiz Carlos Rena (Brazil), Philippe Veniel (France), José Vermandere (Belgium), Alejandro Vila (Argentina), 

Alemanha: Ulrich Duchrow,

Brasil: André Lima; Claudio Vereza; Darlan Oliveira; Jonathan Félix; Júlia Rena; Roberto Malvezzi; Sarah Suzan; Terezinha Cravo; Wemerson Santos, Leonardo Boff, Débora Nunes,

França: Susan George,

EUA: John Cavanagh

Urutuai -Diego Pereira

Vietnam: Lanh Thi Tran

Redes, organizações ou pessoas do Brasil que queiram assinar esse manifesto devem expressar sua adesão pelo e-mail: coletivoagorabrasil@gmail.com