PARA NÓS, ENTIDADES E MOVIMENTOS SOCIAIS, QUE OUVIMOS O DESPAUTÉRIO DE UM DOS MINISTROS DO GOVERNO LULA E DILMA QUE "DEVERÍAMOS ENGOLIR A DECISÃO DE GOVERNO DE CONSTRUIR A HIDRELÉTRICA BELO MONTE", PODERÍAMOS DAR-NOS POR SATISFEITOS, VINGADOS, POR NÃO TERMOS SIDO LEVADOS A SÉRIO, JUNTO COM TÉCNICOS QUE EMBASAVAM NOSSOS QUESTIONAMENTOS. MAS NÃO, NÃO PODEMOS ESTAR SATISFEITOS, POIS, AFINAL, QUEM VAI PAGAR - E JÁ ESTÁ PAGANDO - ESSA CONTRA ESTRATOSFÉRICA DE REAIS E OS CRIMES E DESASTRES SOCIOAMBIENTAIS SOMOS TODOS NÓS.
POR QUE NÃO SE COBRA ESSA CONTA DOS QUE IMPUSERAM GOELA ABAIXO ESSA OBRA COM QUEBRA ANUNCIADA, COM INVIABILIDADE PREVIAMENTE COMPROVADA?
TOMARA QUE, PELO MENOS, ESSA QUEBRA SIGNIFIQUE O FIM DEFINITIVO DAS LOUCURAS DOS QUE AINDA PROPÕEM CONSTRUIR HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA, DE MODO ESPECIAL AGORA QUE SE SABE QUE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS DIMINUIRÃO AINDA MAIS A GARANTIA DE ÁGUA NOS RIOS...
UMA SUGESTÃO: EM LUGAR DE TERMELÉTRICAS, SERIA MAIS SENSATO PRODUZIR ENERGIA SOLAR COM PAINÉIS SOBRE O LAGO. E PROMOVER A ENERGIA SOLAR DESCENTRALIZADA EM TODO O PAÍS, DEIXANDO OS GRANDES, MÉDIOS E PEQUENOS RIOS CUIDAREM DA TERRA E DE TODOS OS SERES VIVOS.
IHU -17 Janeiro 2020
"A
maior hidrelétrica a fio d’água do mundo vai
falir, além de desmoralizar o discurso sobre a contingência imperiosa de
tirar energia dos rios amazônicos, caso as térmicas sejam construídas
ao lado da quarta maior hidrelétrica do planeta", escreve
Lúcio Flávio Pinto,
jornalista desde 1966, sociólogo formado pela Escola de Sociologia e
Política de São Paulo, em 1973, e editor do Jornal Pessoal, em artigo
publicado por
Amazônia Real, 14-01-2020.
Eis o artigo.
A imprecisão, de mãos dadas com a manipulação e o despreparo, transformou a
hidrelétrica de Belo Monte, no
rio Xingu, no
Pará,
numa esfinge monumental, sem igual. Milhares – ou mesmo milhões – de
páginas já foram dedicadas a ela por milhares de autores, sem realmente
decifrá-la.
Como na mitologia, a enorme
usina de concreto acabou
por devorá-los, num sentido: prosseguiu seu curso irracional até a
conclusão da obra, no final do ano passado, ignorando dezenas de ações
judiciais e incontáveis críticas.
O ponto de partida da sua história foi outubro de 2010, ano de eleição, na qual o
PT elegeu
Dilma Rousseff sucessora de
Lula, na chegada à avenida da corrupção estruturada promovida pela
Odebrecht & empreiteiras associadas, que tornariam
Belo Monte a obra mais cara do programa petista de aceleração do crescimento do Brasil, o
PAC (cuja mãe simbólica foi a própria Dilma).
O contexto deve ter alguma influência na primeira indefinição: o
custo da obra.
De fontes oficiais ou oficiosas podem-se extrair vários números: 12
bilhões de reais, 19 bilhões, 30 bilhões. Evidentemente, não é pouca
diferença. O ponto de chegada é mais homogêneo. Até a
Eletrobras, a maior acionista da
Norte Energia, responsável por
Belo Monte, admite: foram gastos R$ 42 bilhões – na menos ruinosa das avaliações, 40% a mais do que o valor orçado.
Enquanto se desdobravam questões sem fim sobre a agressão à natureza, o remanejamento impiedoso dos atingidos, as
ameaças aos índios e
outras mais, todas elas efetivamente relevantes, uma preliminar só
tangencialmente foi considerada: a viabilidade econômica da usina.
Para os mais íntimos do projeto desde a sua concepção, a resposta era
não – e sempre foi. Mas, diante da disposição do governo federal
(petista, tucano ou o que fosse) era construir de qualquer maneira a
hidrelétrica, seria preciso concentrar forças na demonstração técnica da inviabilidade do empreendimento.
Não para a engenharia, que acabou encontrando um jeito – totalmente heterodoxo, até pecaminoso – para colocar no chão o
sistema de aproveitamento energético. Mas para a fonte do dinheiro que seria usado aos borbotões. Em última palavra, o consumidor.
Com sua origem mais remota em 1975, quando o inventário do
rio Xingu foi realizado, em plena
ditadura militar, a última versão da razão de ser de
Belo Monte foi dada pelo presidente
Lula.
Ele garantiu que, desta vez, ao contrário do que fora a regra até ele,
conforme o seu cantochão político, o dinheiro sairia de empresas
privadas e não do governo, como acontecera com todas as
hidrelétricas durante o regime militar.
Era o perfil traçado para o consórcio que venceu a licitação. Mas hoje a
Eletrobras, suas subsidiárias, outras empresas estaduais de energia e os fundos federais respondem por 70% do capital da
Norte Energia. Como o
BNDES
aportou quase 30 bilhões de financiamento, dos R$ 12 bilhões
aproximadamente de recursos próprios, R$ 7 bilhões saíram das estatais e
seus fundos. Só R$ 3 bilhões das companhias particulares.
Assim, se a concessionária não tiver rentabilidade ou mesmo quebrar, o
prejuízo vai ser apresentado ao governo, que, evidentemente, o
repassará ao contribuinte. Esse desempenho deficitário estava definido
no interior do grande projeto quando da sua metamorfose de criação de
uma autocracia para produto de uma democracia.
Na
ditadura, a equação era simples e fora adotada sem variação nas
pequenas hidrelétricas, como
Balbina e
Samuel, como nas grandes, das quais a maior foi
Tucuruí.
Grandes lagos artificiais formados para estocar bilhões de litros de
água, capazes de movimentar as maiores turbinas existentes e fazê-las
gerar o máximo de energia, o volume de água combinado com a altura da
sua queda por dentro das
barragens.
Como esse modelo foi rejeitado pela sociedade, com o abono do poder
judiciário, os engenheiros foram remendando os elementos do desenho
inicial para diminuir o tamanho do reservatório (que ficou com a metade
do tamanho inicial, mas 40% dele sendo o leito original do rio).
Mas precisaram encontrar uma forma de estocar água fora do curso regular do
Xingu,
num reservatório auxiliar, o que exigiu construir o maior canal em
concreto e terra do mundo para desviar a água e fazê-la cair na casa de
máquinas com vazão de 14 milhões de litros por segundo, sem o que as 18
turbinas não funcionarão.
Com esses “puxadões”, que espalharam os componentes da estrutura do
complexo por dezenas de quilômetros, como nunca se havia feito até
então,
Belo Monte acabou sendo a
maior usina a fio d’água do mundo, um verdadeiro monstro realizado pela engenharia, a assombrar os economistas.
Seu desafio era provar que a
hidrelétrica poderia
dar lucro ou se manter mesmo se suas máquinas ficassem paradas por
quatro ou cinco meses por falta de água suficiente para acionar as
turbinas, já que o volume de água do
Xingu cai até 30 vezes entre o pico do inverno e a estiagem.
Por isso, apenas 40% da potência máxima da usina poderiam ser garantidos aos compradores de energia, enquanto em
Itaipu o fator é de 61% e em
Tucuruí, 55%. Além disso, a média de área alagada por
MW produzido é 80 vezes menor em
Belo Monte do que na média nacional brasileira.
Assim, não causou surpresa quando o jornal
O Estado de S. Paulo anunciou que a
Norte Energia,
está buscando autorização para construir usinas térmicas – mais caras e
poluentes – para complementar sua geração de energia hidráulica. A
empresa quer mudar a sua razão social para poder construir usinas
térmicas e “investir diretamente ou por meio da participação em outras
sociedades, como subsidiária integral”.
A consequência da baixa geração atinge as duas linhas de transmissão de
Belo Monte para
o sul do país, das mais extensas do mundo, com mais de dois mil
quilômetros cada uma, que custaram mais de R$ 15 bilhões à sua
proprietária, a chinesa
State Grid. As linhas ficam
subutilizadas boa parte do ano devido à “enorme variação sazonal das
vazões e da ausência de reservatório para a regularização”, conforme
justificativas enviadas à
Aneel.
O ex-diretor da agência de energia,
Edvaldo Santana,
afirmou ao jornal paulista que se trata de algo inédito no setor. “Não
conheço nenhum caso desse tipo. Muito provavelmente, se esse caso
avançar, terá de envolver o próprio poder concedente, o
Ministério de Minas e Energia”, comentou. “Tecnicamente, pode até ser viável, mas há questões legais nesse caminho que precisam ser avaliadas”.
“Por ser algo inédito, não há uma resposta pronta. Tem de ser
avaliado com cuidado. O mercado regulado de energia (no qual as
distribuidoras compram a geração) exige a realização de leilões”,
afirmou o também diretor da Aneel,
Julião Coelho.
A reportagem do
Estadão questionou a
Norte Energia
sobre seus projetos de geração térmica, onde seriam erguidos e por que a
empresa só apresentou essa proposta depois de concluir a
hidrelétrica.
A concessionária não respondeu a esses questionamentos. Disse apenas
que “recorrentemente desenvolve estudos de projetos para expansão do
setor elétrico, como parte de seu planejamento empresarial” e que a
consulta à
Aneel sobre a possível alteração estatutária “é parte integrante desses estudos”.
Como está, em consequência do que fez a
Norte Energia,
há um desfecho certo para essa história: a maior hidrelétrica a fio
d’água do mundo vai falir, além de desmoralizar o discurso sobre a
contingência imperiosa de tirar energia dos rios amazônicos, caso as
térmicas sejam construídas ao lado da quarta maior hidrelétrica do
planeta.
Porque assim sempre esteve escrito, mas ninguém conseguiu ler a mensagem – ou não quis.
http://www.ihu.unisinos.br/595663-belo-monte-vai-quebrar