segunda-feira, 30 de julho de 2012

MAIS UMA CONFIRMAÇÃO DO AQUECIMENTO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Muito boa a notícia que publico hoje. Não apenas por confirmar as pesquisas que sustentam cientificamente o processo de aquecimento provocado por atividades humanas. O mais importante é que um dos mais convictos e citados "céticos" mudou de posição a partir das conclusões de seus estudos científicos. Em outras palavras, a melhor maneira de contribuir com a humanidade é construir conhecimento através de procedimentos científicos, confirmando, modificando ou corrigindo conhecimentos anteriores de forma objetiva, com dados e procedimentos que outros podem confirmar, modificar ou corrigir.


Durante a Rio+20 os grandes meios de comunicação, e de modo especial a Rede Bandeirantes de TV, mas também a Globo, deram oportunidade exclusiva a "céticos" brasileiros, divulgando suas teorias de que não haveria aquecimento nenhum, de que os seres humanos seriam incapazes de mudar o clima e outras tantas afirmações apresentadas como "científicas". Serão realmente seriamente científicas? Terão como base pesquisas como as comandadas pelo físico Richard Muller? E agiriam como ele, no caso de constatarem, com estudos realmente científicos, que a realidade é diferente e contrária às sua convicções anteriores? Seriam capazes de mudar de posição, por fidelidade ao que os dados das pesquisas revelam?


Quero chamar atenção aos interesses ideológicos e de mercado presentes no uso dos que teimam em apresentar-se como "céticos", de modo especial transformando-os em "formadores de opinião". Busca-se evitar que as grandes empresas, responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, sejam obrigadas a mudar suas tecnologias e suas fontes de energia, sua produção e imposição de consumo por meio da criação de "necessidades". Há fundos que pagam regiamente "cientistas", "formadores de opinião" e empresas de comunicação que se dispõem a propagar dúvidas sobre a realidade do aquecimento global e das mudanças climáticas provocadas por ele. 


Por isso tudo, é sempre importante perguntar-se, ao ouvir quem teima em ser "cético" e tem oportunidade de palavra em meios de comunicação, como aconteceu há pouco tempo no Programa do Jo, da Rede Globo, e  nas reportagens e debates da Rede Bandeirantes durante a Rio+20, e que escrevem carta aberta à presidente Dilma: quem os está patrocinando? Quanto estarão recebendo para isso?


Se alguém achar que estou indo longe demais, vá até uma locadora, leve para casa e assista ao filme-documentário Trabalho Interno, que apresenta depoimentos que ajudam a compreender por que economistas de renome, promovidos a formadores de opinião, afirmavam, com a maior segurança "científica", que os bancos e financeiras estadunidenses estavam com saúde ótima e mereciam total confiança dos consumidores exatamente um dia antes da quebra que aconteceu em 2008. Terão, entre outras tantas reflexões e denúncias, a notícia de quanto cresceu a conta bancária desses "economistas" exatamente neste mesmo dia.


30/07/2012 16:14:32

Maior cético climático se converte depois de estudo

Fabiano Ávila, do Instituto CarbonoBrasil

O físico norte-americano Richard Muller, fundador do projeto Temperatura da Superfície da Terra da Universidade de Berkeley (BEST), era um dos maiores críticos da teoria das mudanças climáticas, sendo sempre citado por outros cientistas céticos ou procurado por veículos de comunicação que precisavam de uma fonte para questionar o aquecimento global.

Pois este mesmo Richard Muller acaba de publicar um artigo no New York Times intitulado “A conversão de um cético das mudanças climáticas”, no qual diz ter mudado de ideia devido aos resultados de um estudo conduzido por ele próprio que comprovaria que não apenas o planeta está aquecendo, como também é possível responsabilizar as atividades humanas pelo fenômeno.

“Nossos resultados mostram que a temperatura média na superfície sólida da Terra subiu 1,5ºC em 250 anos, sendo que 0,9ºC se deu apenas nos últimos 50 anos. Mais do que isso, é muito provável que essencialmente todo esse aumento foi resultado das emissões humanas de gases do efeito estufa”, escreveu Muller.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade de Berkeley analisaram mais de 14 milhões de medições de temperatura de 44,455 locais do globo iniciadas em 1753.

Bem mais abrangentes e rigorosos que os métodos adotados por entidades como a NASA e o Met Office, os procedimentos dos cientistas de Berkeley foram inteiramente automatizados, justamente para evitar erros humanos ou manipulações. Apesar disso, o BEST chegou às mesmas conclusões de estudos anteriores realizados por estas instituições que já confirmavam o aquecimento global.

“Não estávamos esperando por isso, mas como cientistas é nosso dever aceitar os resultados e mudar nossa postura”, afirmou Muller.

O estudo do BEST ainda não foi publicado em um periódico cientifico, ou seja, não foi avaliado por outros pesquisadores. Porém, pode ser acessado gratuitamente no portal do projeto.
Michael Mann, um dos principais nomes por trás da teoria do aquecimento global, formulador do gráfico ‘taco de hockey’, que demonstra o aumento acelerado das temperaturas nas últimas décadas, recebeu bem a ‘conversão’ de Muller.

“Congratulo Muller e seus colegas por agirem conforme bons cientistas e aceitarem seguir o que suas próprias análises demonstraram, sem se preocupar com as possíveis repercussões políticas das conclusões”, escreveu Mann em uma rede social.

“É com certa satisfação e ironia que recebemos um estudo financiado pelos irmãos Koch – os maiores apoiadores da negação das mudanças climáticas e da desinformação do planeta – demonstrando o que cientistas já vêm afirmando com confiança por quase duas décadas: que o globo está aquecendo e que esse aumento das temperaturas só pode ser explicado pela maior concentração de gases do efeito estufa na atmosfera devido às ações humanas”, completou o pesquisador.

Mann está se referindo a Fundação de Caridade Charles G Koch, fundada pelo magnata da indústria do carvão, que investiu US$ 150 mil no estudo do BEST e que, com certeza, esperava um resultado bem diferente.
De acordo com Muller, o futuro das temperaturas é continuar a subir. “A taxa de aquecimento deve seguir constante, com o planeta aquecendo 1,5ºC nos próximos 50 anos, ou um pouco menos que isso se considerarmos os oceanos. Mas se a China continuar a crescer rapidamente (na média de 10% ao ano pelos próximos 20 anos) e continuar a usar vastas quantidades de carvão (somando um novo gigawatt ao ano), então esse mesmo aquecimento se dará em menos de 20 anos”, escreveu Muller.

“Espero que a análise de Berkeley ajude no debate científico do aquecimento global e de suas causas humanas. 

Então virá a parte difícil: concordar no espectro político e diplomático sobre o que pode e deve ser feito”, concluiu.

(Instituto CarbonoBrasil)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

ADIRA E REFORCE A CAMPANHA DO CACIQUE RAONI

Trata-se, mais uma vez, de uma campanha contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Os povos do Xingu não a aceitam porque coloca em risco seu rio, sua vida, suas culturas.

Além do mais, quem não sabe que existem alternativas para produzir a energia que o Brasil precisa? Basta lembrar do sol, dos ventos, do movimento natural constante das ondas do mar... E vale a pena perguntar-se: por que não se faz revisão técnica das hidrelétricas existentes, ganhando produtividade? De toda forma, é bom refletir criticamente: para que tanta energia? Para favorecer mineradoras, que exploram riquezas naturais sem deixar nada em nosso país? Para produzir tantas coisas que não são necessárias para nossa vida e que contaminam a Terra?

Se você deseja um Brasil diferente, com outro tipo de economia e outras relações com a Terra, subscreva a campanha do cacique Raoni clicando no seguinte link:
[url=http://www.raoni.com/firma-peticion-contra-belo-monte.php]Por favor firma la petición de Raoni contra el proyecto de la represa Belo Monte[/url]

quarta-feira, 4 de julho de 2012

PRÉDIOS E CASAS: USINAS DE ENERGIA

Ao ler a entrevista com Jeremy Rifkin, você verá o motivo para criarmos uma pressão sobre os responsáveis pela politica energética brasileira: se nosso país assumir as potencialidades de fontes de energia de cada região, e se a produção for descentralizada e, a partir daí, interconectada - ao contrário do sistema atual, centralizado e interconectado -, terá energia de sobra para as necessidades. E, por outro lado, é preciso sempre insistir que é urgente rever o uso da energia produzida, priorizando o que é, de fato, necessidade.


Boa leitura!


IHU - Quarta, 27 de junho de 2012

A Terceira Revolução Industrial.

Entrevista com Jeremy Rifkin

O economista americano Jeremy Rifkin é um dos pensadores mais influentes da atualidade. Professor da escola de negócios Wharton, da Universidade da Pensilvânia, Rifkin é conselheiro da União Europeia e interlocutor frequente da chanceler alemã Angela Merkel.

Há alguns anos, Rifkin se propôs a demonstrar que era viável colocar as diversas fontes de energia renovável no centro da matriz energética mundial. O assunto evoluiu e foi transformado em livro, A Terceira Revolução Industrial [Makron Books], que chegou às livrarias brasileiras neste mês.

No livro, Rifkin prega que todos os prédios - residenciais ou comerciais - podem ser transformados em pequenas usinas de energia. “Se o Brasil adotar esse modelo, pode ser a Arábia Saudita das energias renováveis e um dos líderes do século XXI”, diz Rifkin.

A entrevista é de Roberta Paduan e Daniel Barros e está publicada na Revista Exame, 26-06-2012.

Eis a entrevista.

O que o senhor chama de Terceira Revolução Industrial?

Quando estudamos história, vemos que as grandes revoluções econômicas acontecem quando há convergência de transformações nas áreas de comunicações e de geração de energia. No século XIX, saímos da prensa manual para a máquina a vapor e pudemos fazer impressões em massa a preços baixos.

Isso possibilitou a criação de escolas na Europa e nas Américas e a educação da força de trabalho, o que conduziu à Primeira Revolução Industrial. O telefone, o rádio, a TV e o petróleo abriram caminho para uma sociedade de consumo de massa, a Segunda Revolução Industrial.

Movida pelos veículos automotores, essa fase agora está chegando ao fim. Teremos de encontrar outras fontes de energia, porque alcançamos o pico mundial da produção de petróleo.

Toda vez que o preço do barril chegar a níveis como o de julho de 2008, quando atingiu 147 dólares, todos os preços vão subir, as pessoas vão deixar de consumir e o sistema vai parar.

Isso acontece porque quase tudo é feito de petróleo: celulares, fertilizantes, pesticidas, medicamentos, materiais de construção, energia elétrica e combustíveis. A produção de petróleo cresce, é verdade, mas a população também aumenta, principalmente com a expansão do número de consumidores de países emergentes, como é o caso do Brasil.

E o que está substituindo o modelo da Segunda Revolução Industrial?

As últimas décadas foram marcadas por uma profunda mudança na área de comunicações, fruto do computador pessoal e da internet. Hoje, há 2,3 bilhões de pessoas mandando os próprios vídeos, fotos e textos para a rede. E o mais incrível é que fizemos isso em 20 anos.

A internet é colaborativa e nela o poder não é mais hierárquico. Ao mesmo tempo, estamos evoluindo no sentido de ter uma geração de energia disseminada, feita no nível do indivíduo. Essa é a grande transformação no campo da energia.
Como é possível que as pessoas produzam energia individualmente?

Primeiro, é importante lembrar que há energias renováveis espalhadas por todo o mundo: solar, eólica, geotérmica, de biomassa e das ondas. Se as fontes renováveis estão em todo lugar, por que somente colhê-las em alguns poucos pontos?

Por que não converter os 191 milhões de prédios espalhados pelos países da União Europeia em miniusinas verdes, com painéis fotovoltaicos no teto, aerogeradores na lateral e conversores de lixo em biomassa? Os prédios são os principais consumidores de energia elétrica e em emissões de gás carbônico.

Isso já acontece em algum lugar?

Alguns prédios novos na Europa geram mais eletricidade do que usam, como é o caso de um complexo de escritórios em Paris. Quando esse modelo se disseminar, movimentará a economia francesa gerando milhões de empregos. A Alemanha, que é o motor econômico da Europa, já converteu 1 milhão de prédios em usinas parciais.

Esse processo criou 370 000 empregos diretos. Hoje cerca de 20% de sua matriz energética é de fontes renováveis. O objetivo é chegar a 35% em 2020. O encaixe perfeito ocorrerá quando for criada uma rede de distribuição que permita o compartilhamento dessas energias por todos os usuários. Mas não resta dúvida: a Europa já começou a Terceira Revolução Industrial.

Como funciona essa rede?

É aí que a revolução nas comunicações converge com a revolução na geração de energia. Já é possível digitalizar a rede de energia - que é unidirecional - e transformá-la em uma rede bidirecional, para que leve energia ao usuário final, mas também receba a energia produzida por ele.

Quando milhões e milhões de prédios estiverem gerando energia elétrica e estocando eletricidade - e já há meios para isso -, poderão usar um software para vender o excesso entre cidades ou países. A Alemanha já está testando uma rede elétrica inteligente em seis regiões.

Pense que todas as grandes montadoras terão veículos elétricos até 2015. No futuro, quando os prédios funcionarem como miniusinas de energia, os carros elétricos poderão ser abastecidos num desses edifícios que geram e armazenam energia, ou seja, em qualquer rua de qualquer cidade.

O senhor diz que devemos perseguir uma sociedade de baixo carbono. Isso significa que devemos parar de buscar petróleo?

Não. Precisaremos de petróleo para o que não temos substitutos, como lubrificantes, alguns processos químicos, produtos farmacêuticos, materiais de construção, fibras sintéticas e uma série de outros produtos. Não devemos é usar combustíveis fósseis para transporte e geração de energia elétrica.

Como o Brasil deveria lidar com o petróleo do pré-sal?


O Brasil tem a chance de usar parte dos recursos do petróleo para criar um modelo energético baseado em eletricidade verde. Caso contrário, o país estará voltado para o século passado. O Brasil pode ser a Arábia Saudita das energias renováveis. Tem mais potencial de geração de energia renovável que qualquer país do mundo.

Todo prédio brasileiro deveria ter painéis solares no teto e nas paredes externas. Deveria haver geradores de energia eólica por toda a costa. O Brasil pode liderar a Terceira Revolução Industrial na América Latina, como a Alemanha está fazendo na Europa. Apostar apenas no petróleo levaria o país a ser uma nação de segundo escalão. Gostaria de conversar sobre isso com a presidente Dilma Rousseff.

O que o senhor espera da Rio+20?

Creio que haverá boas discussões, mas a conclusão será que é preciso haver um plano econômico. Metas de redução de emissão de CO2 parecem uma punição. O que será visto com cada vez mais força, inclusive no Rio de Janeiro, é a discussão de um novo paradigma econômico.

Algo que trate de mudanças climáticas, das energias renováveis, mas que amplie nossa visão sobre o problema. Vale sempre ressaltar: a busca da eficiência energética cria empregos e negócios em larga escala.

Como o senhor responde a quem considera seu plano utópico?

As empresas e os governos com os quais trabalho não estão interessados em utopia. Estamos tentando criar um novo modelo econômico que seja viável, que nos liberte do carbono, que movimente a economia, que gere empregos.

Sabemos que funciona porque estamos testando. Daimler, GM, Toyota, Bosch, Siemens, Cisco, Philips e IBM são empresas utópicas? Elas estão fazendo exatamente o que estou falando. Em breve teremos carros movidos a hidrogênio. Isso é utopia?