Durante a Rio+20 os grandes meios de comunicação, e de modo especial a Rede Bandeirantes de TV, mas também a Globo, deram oportunidade exclusiva a "céticos" brasileiros, divulgando suas teorias de que não haveria aquecimento nenhum, de que os seres humanos seriam incapazes de mudar o clima e outras tantas afirmações apresentadas como "científicas". Serão realmente seriamente científicas? Terão como base pesquisas como as comandadas pelo físico Richard Muller? E agiriam como ele, no caso de constatarem, com estudos realmente científicos, que a realidade é diferente e contrária às sua convicções anteriores? Seriam capazes de mudar de posição, por fidelidade ao que os dados das pesquisas revelam?
Quero chamar atenção aos interesses ideológicos e de mercado presentes no uso dos que teimam em apresentar-se como "céticos", de modo especial transformando-os em "formadores de opinião". Busca-se evitar que as grandes empresas, responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, sejam obrigadas a mudar suas tecnologias e suas fontes de energia, sua produção e imposição de consumo por meio da criação de "necessidades". Há fundos que pagam regiamente "cientistas", "formadores de opinião" e empresas de comunicação que se dispõem a propagar dúvidas sobre a realidade do aquecimento global e das mudanças climáticas provocadas por ele.
Por isso tudo, é sempre importante perguntar-se, ao ouvir quem teima em ser "cético" e tem oportunidade de palavra em meios de comunicação, como aconteceu há pouco tempo no Programa do Jo, da Rede Globo, e nas reportagens e debates da Rede Bandeirantes durante a Rio+20, e que escrevem carta aberta à presidente Dilma: quem os está patrocinando? Quanto estarão recebendo para isso?
Se alguém achar que estou indo longe demais, vá até uma locadora, leve para casa e assista ao filme-documentário Trabalho Interno, que apresenta depoimentos que ajudam a compreender por que economistas de renome, promovidos a formadores de opinião, afirmavam, com a maior segurança "científica", que os bancos e financeiras estadunidenses estavam com saúde ótima e mereciam total confiança dos consumidores exatamente um dia antes da quebra que aconteceu em 2008. Terão, entre outras tantas reflexões e denúncias, a notícia de quanto cresceu a conta bancária desses "economistas" exatamente neste mesmo dia.
30/07/2012 16:14:32
Maior
cético climático se converte depois de estudo
Fabiano Ávila, do Instituto CarbonoBrasil
O físico
norte-americano Richard Muller, fundador do projeto Temperatura da Superfície
da Terra da Universidade de Berkeley (BEST), era um dos maiores críticos da
teoria das mudanças climáticas, sendo sempre citado por outros cientistas
céticos ou procurado por veículos de comunicação que precisavam de uma fonte
para questionar o aquecimento global.
Pois este mesmo
Richard Muller acaba de publicar um artigo no New York Times intitulado “A
conversão de um cético das mudanças climáticas”, no qual diz ter mudado de
ideia devido aos resultados de um estudo conduzido por ele próprio que
comprovaria que não apenas o planeta está aquecendo, como também é possível
responsabilizar as atividades humanas pelo fenômeno.
“Nossos resultados
mostram que a temperatura média na superfície sólida da Terra subiu 1,5ºC em
250 anos, sendo que 0,9ºC se deu apenas nos últimos 50 anos. Mais do que isso,
é muito provável que essencialmente todo esse aumento foi resultado das
emissões humanas de gases do efeito estufa”, escreveu Muller.
Para chegar a essa
conclusão, pesquisadores da Universidade de Berkeley analisaram mais de 14
milhões de medições de temperatura de 44,455 locais do globo iniciadas em 1753.
Bem mais
abrangentes e rigorosos que os métodos adotados por entidades como a NASA e o
Met Office, os procedimentos dos cientistas de Berkeley foram inteiramente
automatizados, justamente para evitar erros humanos ou manipulações. Apesar
disso, o BEST chegou às mesmas conclusões de estudos anteriores realizados por
estas instituições que já confirmavam o aquecimento global.
“Não estávamos
esperando por isso, mas como cientistas é nosso dever aceitar os resultados e
mudar nossa postura”, afirmou Muller.
O estudo do BEST
ainda não foi publicado em um periódico cientifico, ou seja, não foi avaliado
por outros pesquisadores. Porém, pode ser acessado gratuitamente no portal do
projeto.
Michael Mann, um
dos principais nomes por trás da teoria do aquecimento global, formulador do
gráfico ‘taco de hockey’, que demonstra o aumento acelerado das temperaturas
nas últimas décadas, recebeu bem a ‘conversão’ de Muller.
“Congratulo Muller
e seus colegas por agirem conforme bons cientistas e aceitarem seguir o que
suas próprias análises demonstraram, sem se preocupar com as possíveis
repercussões políticas das conclusões”, escreveu Mann em uma rede social.
“É com certa
satisfação e ironia que recebemos um estudo financiado pelos irmãos Koch – os
maiores apoiadores da negação das mudanças climáticas e da desinformação do
planeta – demonstrando o que cientistas já vêm afirmando com confiança por
quase duas décadas: que o globo está aquecendo e que esse aumento das
temperaturas só pode ser explicado pela maior concentração de gases do efeito
estufa na atmosfera devido às ações humanas”, completou o pesquisador.
Mann está se
referindo a Fundação de Caridade Charles G Koch, fundada pelo magnata da
indústria do carvão, que investiu US$ 150 mil no estudo do BEST e que, com
certeza, esperava um resultado bem diferente.
De acordo com
Muller, o futuro das temperaturas é continuar a subir. “A taxa de aquecimento
deve seguir constante, com o planeta aquecendo 1,5ºC nos próximos 50 anos, ou
um pouco menos que isso se considerarmos os oceanos. Mas se a China continuar a
crescer rapidamente (na média de 10% ao ano pelos próximos 20 anos) e continuar
a usar vastas quantidades de carvão (somando um novo gigawatt ao ano), então
esse mesmo aquecimento se dará em menos de 20 anos”, escreveu Muller.
“Espero que a
análise de Berkeley ajude no debate científico do aquecimento global e de suas
causas humanas.
Então virá a parte difícil: concordar no espectro político e
diplomático sobre o que pode e deve ser feito”, concluiu.
(Instituto CarbonoBrasil)