sexta-feira, 31 de julho de 2020

MAIS DE 1.500 PADRES APOIAM A CARTA AO POVO DE DEUS DE 152 BISPOS

SE CALAREM, AS PEDRAS GRITARÃO (Luc 19,39-40). HORA DE SE MANIFESTAR, DE GRITAR EM FAVOR DA VIDA, CONTRA QUEM A AMEAÇA E PROMOVE POLÍTICAS DE MORTE.

Carta de padres em apoio e adesão aos bispos signatários da Carta ao Povo de Deus 

“Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Às vezes, sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros” (EG 56 e 270).

Nós, “Padres da Caminhada”, “Padres contra o Fascismo”, diáconos permanentes e tantos outros padres irmãos, empenhados em diversas partes do Brasil a serviço do Evangelho e do Reino de Deus, manifestamos nosso agradecimento e apoio aos bispos pela Carta ao Povo de Deus. Afirmamos que ela representa nossos pensamentos e sentimentos. Consideramos um documento profético de uma parcela significativa dos Bispos da Igreja Católica no Brasil, “em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil”, oferecendo ao Povo de Deus luzes para o discernimento dos sinais nestes tempos tão difíceis da história do nosso País.

O documento é uma leitura lúcida e corajosa da realidade atual à luz da fé. É a confirmação da missão e do desafio permanente para a Igreja: tornar o Reino de Deus presente no mundo, anunciando esperança e denunciando tudo o que está destruindo a esperança de uma vida melhor para o povo. É como uma grande tempestade que se abate sobre o nosso País. Os bispos alertam para o perigo de que “a causa dessa tempestade é a combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República”, principalmente impulsionado pelo Presidente.

Sentimo-nos também interpelados por essa realidade a darmos nossa palavra de presbíteros comprometidos no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Evangelho ilumina nossa caminhada e vamos aprofundando nosso compromisso na Igreja, sinal e instrumento do Reino, a serviço da vida e da esperança. Cada vez mais vemos a vida do povo sendo ameaçada e seus sofrimentos, principalmente dos pobres, vulneráveis e minorias. Tal realidade faz com que nossos corações ardam, nossos braços lutem e nossa voz grite pelas mudanças necessárias. Como recordam os Bispos, nós não somos motivados por “interesses político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer outra natureza. Nosso único interesse é o Reino de Deus”.

Os bispos muito bem expressaram em sua carta, recordando o Santo Padre, o Papa Francisco, que “a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa reposta de amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados […], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o Reino de Deus […] (Lc 4,43 e Mt 6,33) (EG. 180)”.

Sabemos que os que nos governam têm o dever de agir em favor de toda a população, de maneira especial, os mais pobres. Não tem sido esse o projeto do atual Governo, que “não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma “economia que mata” (Alegria do Evangelho, 53), centrada no mercado e no lucro a qualquer preço”. Por isso, também estamos profundamente indignados com ações do Presidente da República em desfavor e com desdém para com a vida de seres humanos e também com a da “nossa irmã, a Mãe Terra”, e tantas ações que vão contra a vida do povo e a soberania do Brasil.

É urgente a reconstrução das relações sociais, pois “este cenário de perigosos impasses, que colocam nosso País à prova, exige de suas instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos ideológicos fechados. […] Essa realidade não comporta indiferença.”. A CNBB tem se pronunciado de forma contundente em momentos recentes; em posicionamento do dia 30 de abril, manifestou perplexidade e indignação com descaso no combate ao novo coronavírus e por eventos atentatórios à ordem constitucional. Em outro momento, os 67 bispos da Amazônia publicaram outro documento, expressando imensa preocupação e exigindo maior atenção e cuidado do poder público em relação à Amazônia e aos povos originários. Na carta aberta ao Congresso Nacional do dia 13 de julho de 2020 a CNBB denunciou os 16 vetos do Presidente da República ao Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nos Territórios Indígenas, comunidades quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais (PL nº PL 1142/2020, agora Lei nº 14.021) dizendo: “Esses vetos são eticamente injustificáveis e desumanos pois negam direitos e garantias fundamentais à vida dos povos tradicionais”. Outras Comissões da CNBB assumiram decididamente o lado dos povos tradicionais do Brasil “duplamente vulneráveis: ao contágio do coronavírus e à constante ameaça de expulsão de seus territórios”.

Nesse tempo de “tempestade perfeita”, a voz do Espírito ressoa em posicionamentos corajosos da Igreja, que renova a cada dia seu compromisso “na construção de uma sociedade estruturalmente justa, fraterna e solidária”, como indicam os bispos em sua carta.

Reafirmamos nosso compromisso na defesa e no cuidado com a vida. Ao convite dos bispos queremos dar nosso sim! “Somos convocados a apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes desafios, em favor da vida, principalmente dos segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta.” Queremos nos empenhar para cuidar deste País enfermo!

Nós nos solidarizamos com todas as famílias que perderam alguém por essa doença que ceifa vidas e aterroriza a todos. Próximos de atingir 100 mil mortos nesta pandemia, é inadmissível que não haja neste governo um Ministro da Saúde, que possa conduzir as políticas de combate ao novo coronavírus.

Conclamamos todos os cristãos e cristãs, as igrejas e comunidades, e todas as pessoas de boa vontade para que renovem, junto com os bispos, a opção pelo Evangelho e pela promoção da vida, espalhando as sementes do Reino de Deus.

Nós, “Padres da Caminhada”, “Padres contra o Fascismo”, diáconos permanentes e tantos outros padres irmãos, reafirmamos com alegria, ânimo e esperança a fidelidade à missão a nós confiada e apoiamos os bispos signatários da Carta ao Povo de Deus e em sintonia com a CNBB em sua missão de testemunhar e fortalecer a colegialidade.

29 de julho de 2020

CARTA DE 152 BISPOS BRASILEIROS AO POVO DE DEUS

"Somos bispos da Igreja Católica, de várias regiões do Brasil, em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que no exercício de sua missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da justiça e da paz. Escrevemos esta Carta ao Povo de Deus, interpelados pela gravidade do momento em que vivemos, sensíveis ao Evangelho e à Doutrina Social da Igreja, como um serviço a todos os que desejam ver superada esta fase de tantas incertezas e tanto sofrimento do povo.

Evangelizar é a missão própria da Igreja, herdada de Jesus. Ela tem consciência de que “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Alegria do Evangelho, 176). Temos clareza de que “a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa reposta de amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados [...], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o Reino de Deus [...] (Lc 4,43 e Mt 6,33)” (Alegria do Evangelho, 180). Nasce daí a compreensão de que o Reino de Deus é dom, compromisso e meta.

É neste horizonte que nos posicionamos frente à realidade atual do Brasil. Não temos interesses político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer outra natureza. Nosso único interesse é o Reino de Deus, presente em nossa história, na medida em que avançamos na construção de uma sociedade estruturalmente justa, fraterna e solidária, como uma civilização do amor.

O Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, comparado a uma “tempestade perfeita” que, dolorosamente, precisa ser atravessada. A causa dessa tempestade é a combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança.

Este cenário de perigosos impasses, que colocam nosso país à prova, exige de suas instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos ideológicos fechados. Somos convocados a apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes desafios, em favor da vida, principalmente dos segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta. Essa realidade não comporta indiferença.

É dever de quem se coloca na defesa da vida posicionar-se, claramente, em relação a esse cenário. As escolhas políticas que nos trouxeram até aqui e a narrativa que propõe a complacência frente aos desmandos do Governo Federal, não justificam a inércia e a omissão no combate às mazelas que se abateram sobre o povo brasileiro.

Mazelas que se abatem também sobre a Casa Comum, ameaçada constantemente pela ação inescrupulosa de madeireiros, garimpeiros, mineradores, latifundiários e outros defensores de um desenvolvimento que despreza os direitos humanos e os da mãe terra. “Não podemos pretender ser saudáveis num mundo que está doente. As feridas causadas à nossa mãe terra sangram também a nós” (Papa Francisco, Carta ao Presidente da Colômbia por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, 05/06/2020).

Todos, pessoas e instituições, seremos julgados pelas ações ou omissões neste momento tão grave e desafiador. Assistimos, sistematicamente, a discursos anticientíficos, que tentam naturalizar ou normalizar o flagelo dos milhares de mortes pela covid-19, tratando-o como fruto do acaso ou do castigo divino, o caos socioeconômico que se avizinha, com o desemprego e a carestia que são projetados para os próximos meses, e os conchavos políticos que visam à manutenção do poder a qualquer preço.

Esse discurso não se baseia nos princípios éticos e morais, tampouco suporta ser confrontado com a Tradição e a Doutrina Social da Igreja, no seguimento Àquele que veio “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Analisando o cenário político, sem paixões, percebemos claramente a incapacidade e inabilidade do Governo Federal em enfrentar essas crises. As reformas trabalhista e previdenciária, tidas como para melhorarem a vida dos mais pobres, mostraram-se como armadilhas que precarizaram ainda mais a vida do povo.

É verdade que o Brasil necessita de medidas e reformas sérias, mas não como as que foram feitas, cujos resultados pioraram a vida dos pobres, desprotegeram vulneráveis, liberaram o uso de agrotóxicos antes proibidos, afrouxaram o controle de desmatamentos e, por isso, não favoreceram o bem comum e a paz social. É insustentável uma economia que insiste no neoliberalismo, que privilegia o monopólio de pequenos grupos poderosos em detrimento da grande maioria da população.

O sistema do atual governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma “economia que mata” (Alegria do Evangelho, 53), centrada no mercado e no lucro a qualquer preço.

Convivemos, assim, com a incapacidade e a incompetência do Governo Federal, para coordenar suas ações, agravadas pelo fato de ele se colocar contra a ciência, contra estados e municípios, contra poderes da República; por se aproximar do totalitarismo e utilizar de expedientes condenáveis, como o apoio e o estímulo a atos contra a democracia, a flexibilização das leis de trânsito e do uso de armas de fogo pela população, e das leis do trânsito e o recurso à prática de suspeitas ações de comunicação, como as notícias falsas, que mobilizam uma massa de seguidores radicais.

O desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia também nos estarrece. Esse desprezo é visível nas demonstrações de raiva pela educação pública; no apelo a ideias obscurantistas; na escolha da educação como inimiga; nos sucessivos e grosseiros erros na escolha dos ministros da educação e do meio ambiente e do secretário da cultura; no desconhecimento e depreciação de processos pedagógicos e de importantes pensadores do Brasil; na repugnância pela consciência crítica e pela liberdade de pensamento e de imprensa; na desqualificação das relações diplomáticas com vários países; na indiferença pelo fato de o Brasil ocupar um dos primeiros lugares em número de infectados e mortos pela pandemia sem, sequer, ter um ministro titular no Ministério da Saúde; na desnecessária tensão com os outros entes da República na coordenação do enfrentamento da pandemia; na falta de sensibilidade para com os familiares dos mortos pelo novo coronavírus e pelos profissionais da saúde, que estão adoecendo nos esforços para salvar vidas.

No plano econômico, o ministro da economia desdenha dos pequenos empresários, responsáveis pela maioria dos empregos no país, privilegiando apenas grandes grupos econômicos, concentradores de renda e os grupos financeiros que nada produzem. A recessão que nos assombra pode fazer o número de desempregados ultrapassar 20 milhões de brasileiros. Há uma brutal descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação, educação, moradia e geração de renda.

Fechando os olhos aos apelos de entidades nacionais e internacionais, o Governo Federal demonstra omissão, apatia e rechaço pelos mais pobres e vulneráveis da sociedade, quais sejam: as comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, as populações das periferias urbanas, dos cortiços e o povo que vive nas ruas, aos milhares, em todo o Brasil.

Estes são os mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus e, lamentavelmente, não vislumbram medida efetiva que os levem a ter esperança de superar as crises sanitária e econômica que lhes são impostas de forma cruel.

O Presidente da República, há poucos dias, no Plano Emergencial para Enfrentamento à covid-19, aprovado no legislativo federal, sob o argumento de não haver previsão orçamentária, dentre outros pontos, vetou o acesso a água potável, material de higiene, oferta de leitos hospitalares e de terapia intensiva, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea, nos territórios indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais (Cf. Presidência da CNBB, Carta Aberta ao Congresso Nacional, 13/07/2020).

Até a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes. Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário.

Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?

O momento é de unidade no respeito à pluralidade! Por isso, propomos um amplo diálogo nacional que envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e mulheres de boa vontade, para que seja restabelecido o respeito à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito, com ética na política, com transparência das informações e dos gastos públicos, com uma economia que vise ao bem comum, com justiça socioambiental, com “terra, teto e trabalho”, com alegria e proteção da família, com educação e saúde integrais e de qualidade para todos.

Estamos comprometidos com o recente “Pacto pela vida e pelo Brasil”, da CNBB e entidades da sociedade civil brasileira, e em sintonia com o Papa Francisco, que convoca a humanidade para pensar um novo “Pacto Educativo Global” e a nova “Economia de Francisco e Clara”, bem como, unimo-nos aos movimentos eclesiais e populares que buscam novas e urgentes alternativas para o Brasil.

Neste tempo da pandemia que nos obriga ao distanciamento social e nos ensina um “novo normal”, estamos redescobrindo nossas casas e famílias como nossa Igreja doméstica, um espaço do encontro com Deus e com os irmãos e irmãs.

É sobretudo nesse ambiente que deve brilhar a luz do Evangelho que nos faz compreender que este tempo não é para a indiferença, para egoísmos, para divisões nem para o esquecimento (cf. Papa Francisco, Mensagem Urbi et Orbi, 12/4/20).

Despertemo-nos, portanto, do sono que nos imobiliza e nos faz meros espectadores da realidade de milhares de mortes e da violência que nos assolam. Com o apóstolo São Paulo, alertamos que “a noite vai avançada e o dia se aproxima; rejeitemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz” (Rm 13,12).

O Senhor vos abençoe e vos guarde. Ele vos mostre a sua face e se compadeça de vós.
O Senhor volte para vós o seu olhar e vos dê a sua paz! (Nm 6,24-26).

https://www.brasildefato.com.br/2020/07/27/em-carta-ao-povo-de-deus-152-bispos-criticam-incapacidade-de-jair-bolsonaro

quinta-feira, 30 de julho de 2020

O FIM DO CONFINAMENTO DE DEUS

REFLEXÃO PROVOCATIVA DO IRREQUIETO BOAVENTURA E, AO MESMO TEMPO, ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIA. O CONFRONTO ENTRE DESCARTES E ESPINOSA TEM A VER COM O CONFINAMENTO E O FIM DO CONFINAMENTO DE DEUS. AO MESMO TEMPO, TEM A VER COM A NATURALIZAÇÃO DOS SERES HUMANOS PRÓXIMOS DA NATURALIZADA NATUREZA, E A DESNATURALIZAÇÃO DA MÃE TERRA E DE SEUS FILHOS E FILHAS. TEM A VER, POIS, COM A POSSIBILIDADE DE UM PROCESSO DE LIBERTAÇÃO HUMANO JUNTO COM A LIBERTAÇÃO DE DEUS, APRISIONADO NA RAZÃO HUMANA DOS SEGUIDORES DE DESCARTES, TEÓLOGOS OU NÃO.

E EU, OU MELHOR, CADA UM DE NÓS, ONDE ESTAMOS NESSA REFLEXÃO QUE SE TORNA "NOVA" AO ASSUMIR TESE DE ESPINOSA?


Boaventura: o fim do confinamento de deus

Teologia cartesiana quis torná-lo “transcendente”. Mas se foi Espinosa quem o compreendeu, ele é tão mundano como a natureza e seus próximos — sacrificados todos no altar do dinheiro e do poder. Eclosão do vírus denuncia este suplício

Por Boaventura de Sousa Santos

Deus parece estar confinado. Pelo menos, desde que no século XVII se impôs a separação absoluta entre a natureza, enquanto res extensa, e os seres humanos, enquanto res cogitans. A prova da existência de deus está na mente humana, porque só ela pode conceber um ser perfeitíssimo, infinito. Sendo imperfeita, a mente humana só é capaz de tal concepção porque alguém a inscreveu nela. Esse alguém é deus. A natureza é incapaz de uma tal concepção, e aí reside a sua incomensurável inferioridade em relação à mente própria dos humanos. Com a demonstração da existência de deus ficou provada a impossibilidade da co-existência com ele no mesmo mundo. Deus é do “outro mundo”, o seu “reino não é deste mundo”. Deus é a transcendência.

Assim começou o confinamento de deus. Se até então já era difícil comunicar directamente com ele, daí em diante tornou-se impossível. Só os místicos o conseguiriam fazer, e sempre com altos custos pessoais. No mesmo processo em que deus foi humanizado, foi também desnaturalizado e, com ele, os seres humanos que o conceberam. E como não conseguem ser mente sem ser corpo natural, ao mesmo tempo que provaram a existência de deus, os seres humanos deixaram de o entender e deixaram de se entender entre si. Assim se desumanizaram. A humanização de deus redundou na desumanização dos seres humanos. O homo economicus (o homem económico) do capitalismo nascente, tal como o quase contemporâneo homo lupus homini (o homem lobo do homem) de Hobbes, são a expressão desta desumanização do humano. O ser competitivo, centrado no seu interesse individual, é um ser anti-social que vê nos semelhantes (nunca iguais) potenciais inimigos, e que só faz filantropia se dela resultar benefício próprio.

A incompreensão abissal do ser divino permitiu aos humanos dizer de deus tudo o que queriam e consoante as conveniências. A teologia sofreu então uma transformação qualitativa. Passou a tentar resolver o mal-entendido cartesiano, multiplicando as mediações que humanizavam falsamente deus. As ficções do “deus feito homem” ou o “corpo de deus” foram levadas ao paroxismo. O nazareno cruxificado do século XVIII barroco é um espetáculo visceral de primeira ordem, o espetáculo de um corpo cuja máxima exaltação é a mortificação e a morte. A economia da morte, em que o colonialismo e a escravatura prosperavam, encontrava nessas imagens um espelho cruel e um consolo desesperado. A exuberância das imagens escondia eficazmente as ficções teológicas. Escondia sobretudo as consequências trágicas dessas ficções, tal como muito antes as tinha vivido o jovem nazareno, ao concluir na cruz que nenhuma ambulância divina o viria salvar e afastar dele aquele “cálice”.

O confinamento do deus cartesiano a partir do século XVII foi fundamental para que em nome dele se pudessem cometer as maiores atrocidades. O jovem nazareno que morrera na cruz para “salvar o mundo” era agora invocado para justificar a imensidão das mortes de escravos e de povos originários para “salvar a economia”. Confinado, deus estava limitado à tele-presença. A presença real passou a ser dos intermediários, missionários, pastores, catedrais. Tal como hoje os entregadores de comida por aplicação ou aplicativo (os motoboys e as motogirls) não escolhem os restaurantes pela qualidade da comida, mas pelo valor da remuneração por entrega, os intermediários passaram a servir a comida espiritual consoante as prebendas que recebiam. Não o faziam por opção, faziam-no por necessidade. Serviam os senhores da terra que se serviam deles para consolidar o seu domínio.

Mas estaria o deus verdadeiramente confinado? Sendo infinito em todos os seus atributos, é impossível imaginar outro confinamento que não seja um acto originário, um auto-confinamento. Por outro lado, é um absurdo pensar que um ser infinito se confine. E é também impossível imaginar um motivo divino para o auto-confinamento. Medo de ser contaminado? Não é imaginável que deus corresse o perigo de ser contaminado por seres tão infinitamente inferiores, até porque, segundo a teologia cartesiana, os humanos não têm sequer o nanotamanho do vírus para poder contaminar deus. Medo de contaminar? É um absurdo pensar que o deus cartesiano temesse contaminar. Sendo infinito, tudo está contaminado e, simultaneamente, purificado por ele. A hipótese mais credível é que os teólogos, eles sim, tivessem medo que deus contaminasse o mundo. Talvez soubessem que a desnaturalização de deus era uma imposição tão forte e tão frágil quanto todas as outras imposições humanas. Para a consolidar tiveram que recorrer a múltiplas artimanhas arquitetónicas, pictóricas, sermónicas, teológicas que enganassem todos aqueles que não beneficiavam com o suposto confinamento de deus. Tais artimanhas foram as máscaras usadas eficazmente para supostamente proteger deus dos humanos, mas que realmente funcionavam para permitir aos humanos realizar livremente os seus negócios sem incorrer no risco que correram os “vendilhões do templo”. Podemos, pois, concluir que deus não esteve confinado durante todos estes séculos. Esteve em toda a parte – como lhe competia. Apenas esteve ausente do discurso humano sobre ele. Ou melhor, o discurso predominante dos humanos sobre ele destinou-se a criar e a justificar a sua ausência. Afinal, onde esteve deus durante estes séculos? Sugerirá esta pergunta, em si, que deus deu algum sinal de que a teologia que nos impuseram chegou ao fim?

As chagas do nazareno do século XXI

No século XVII ocorreu uma grande clivagem nas reflexões sobre deus. À teologia cartesiana, que expus acima, opôs-se radicalmente a teologia espinosista. Enquanto, para Descartes, deus é tão produto da mente humana quanto transcendente, para Espinosa deus é a infinitude de tudo o que existe, a substância, a natureza. “Deus sive Natura”. Deus, ou seja, a natureza, disse Espinosa. Não se trata da natureza desqualificada de Descartes (“natura naturata”) mas da natureza qualificante de tudo, a energia vital infinita que anima o mundo e a vida (“natura naturans”) e de que os seres humanos dependem em toda a sua finitude. Neste sentido, a natureza não nos pertence, nós é que pertencemos à natureza. Deus não é personalizável (como se fosse um humano potenciado ao infinito). Nem transcendente. Deus é deste mundo e de todos os outros mundos possíveis. Para Espinosa, só assim se pode dizer com verdade que deus é infinito e omnipresente. Distinguir entre aqui e além, dentro e fora, é a limitação própria dos humanos. Deus é a imanência do mundo e os seus infinitos atributos são os que explicam as limitações dos humanos. E não o contrário.

Para Espinosa, a humanização dos humanos não está na sua desnaturalização, mas, pelo contrário, na sua naturalização qualificante. Ora o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado foram os motores modernos da desnaturalização. A natureza foi cartesianamente desqualificada para que o capitalismo a transformasse num recurso natural incondicionalmente disponível para os seres humanos. E foi igualmente desqualificada para que o colonialismo e o patriarcado transformassem em recurso humano subjugável e espoliável todos os seres humanos considerados radicalmente inferiores por supostamente estarem mais próximos da natureza, fossem eles negros, indígenas ou mulheres. Em suma, fossem eles corpos racializados e sexualizados. No mundo cartesiano, a desnaturalização de alguns só foi possível à custa da naturalização das grandes maiorias.

Esta naturalização desqualificante de seres humanos foi o produto de uma ignorância fatal em que vivemos desde o século XVII, a ignorância de que se alimentaram o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado. Os dois últimos existiram antes do capitalismo, mas foram reconfigurados por este para se transformarem em fontes de trabalho altamente desvalorizado (da escravatura aos auto-escravos informais ou uberizados) ou não pago (a economia submersa do cuidado quase totalmente a cargo das mulheres). E deus? É impossível imaginar um jovem nazareno espinosista. Mas se fosse possível, o sofrimento humano injusto e inabarcável que a naturalização desqualificante causou e continua a causar em tanto ser humano (escravatura, limpeza étnica, racismo, sexismo, homofobia) seriam chagas infligidas na humanidade. E o desmatamento industrial das florestas, a contaminação dos rios, a mineração a céu aberto, o fracking seriam igualmente chagas desta vez infligidas na mãe terra. Em conjunto, tais chagas constituiriam uma imensa e permanente crucifixão. Um segundo e muito mais doloroso calvário.

A pandemia do coronavírus é primeira notícia teológica do século XXI. Será que o anúncio inaugural do Evangelho de S. João “e o verbo fez-se carne” terá de ser substituído pelo anúncio crepuscular “e o verbo fez-se vírus”? Como quer que seja, uma nova teologia se anuncia. Parte de uma proposição nova, a proposição 37 da Primeira Parte da Ética de Espinosa. Pode formular-se de muitas maneiras nas diferentes línguas e cosmovisões do mundo e, à maneira espinosista, pode ser seguida de demonstrações, explicações, axiomas, escólios ou corolários.

No mundo ainda eurocêntrico a proposição pode formular-se assim. Proposição: a naturalização cartesiana de tanto ser humano, provocada pela dominação capitalista, colonialista e patriarcal, ocorreu de par com a naturalização cartesiana de toda a vida não humana, e redundou num sacrifício imenso no altar global dos ídolos do dinheiro e do poder. Demonstração: tal como a vida humana é uma ínfima parte da vida não humana do planeta, o sacrifício da vida não humana foi imensamente mais vasto, mas foi ocultado com êxito pelo pensamento dominante ao serviço dos ídolos. Explicação: o sacrifício da vida não humana não encontrou outra forma de ser conhecido e denunciado senão contagiando com as suas chagas os altares e os ídolos. Axioma: O vírus é apenas a prova mais convincente neste século da existência de deus. Corolário I: um deus desconfinado é um perigo fatal para os ídolos do dinheiro e do poder. Corolário II: um deus desconfinado é finalmente um consolo eficaz e perene para a mãe terra e para todos aqueles que, por estarem mais próximos dela, foram juntamente condenados com ela, os condenados da terra de Franz Fanon.


https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/boaventura-o-fim-do-confinamento-de-deus/

sexta-feira, 24 de julho de 2020

MENSAGEM DA 1ª ASSEMBLEIA MUNDIAL PELA AMAZÔNIA

Gritos de la Amazonía por la Vida

 Auto convocadas y convocados ante la destrucción de la Amazonía y sus pueblos, que producirá una catástrofe global, por la inter-dependencia profunda  de todo lo que existe.  Con el impulso de 540 agrupaciones amazónicas, y el respaldo inicial de más de 3,098 ciudadanas y ciudadanos, llamamos a la movilización mundial por la Amazonia, por los objetivos siguientes:

Detener el ecocidio que avanza al “punto de no retorno” de sabanización y fractura ecosistémica de la Amazonía y sus conexiones con la Orinoquia, Chiquitanía, Chaco, Mata atlántica, Cerrado y otros.  Alto al infierno de las masivas quemas e incendios, del garimpo, del tráfico de tierras, parcelación, colonización, para los intereses de la ganadería, soja, palma aceitera, monocultivos, minería, hidrocarburos y otros. Alto a la dictadura de la infraestructura (como carreteras y represas hidroeléctricas) y de los “commodities” convencionales o falsamente “verdes”.  Consolidar los derechos de la naturaleza y del ecosistema amazónico como ser viviente sustancial a la pervivencia planetaria.  Antes que sea irreversible, detener la catástrofe de la vida global, por la destrucción de la Amazonía como corazón del mundo, por sus innumerables bondades como mega biodiversidad, oxígeno, agua dulce, regulación y refrigeración climática.

Detener el etnocidio y genocidio de los pueblos indígenas, afro descendientes y amazónicos en general. Agravado por la pandemia del Covid19 y el etnocidio por omisión y abandono estatal en la Pan amazonia. Detener las aberraciones del genocidio, necropolítica y los “cuerpos desechables”, desde los Estados, especialmente en Brasil y otros. Erradicar el racismo estructural, social, tecnocrático, estatal, ontológico y epistemológico; la destrucción y homogeneización de las culturas y el mito de las “razas”, y así avanzar en la descolonialidad del poder, saber y del ser. Dejar de ser lo que no somos, ni podemos ni queremos ser.

Cobertura de emergencia de servicios sociales, con sistemas de salud y autocuidado basados en las estructuras comunitarias y estatales que combinen saberes tradicionales y medicina occidental; inversiones estratégicas y consistentes de los poderes públicos en salud y educación, con participación y control de los pueblos amazónicos; atención integral y transfronteriza de las pandemias (actuales y futuras) y enfermedades tropicales. Sistemas de educación bilingüe intercultural de calidad y no marginales, basados en el diálogo equitativo de saberes y el respeto del patrimonio intelectual colectivo y transgeneracional de los pueblos.

Erradicar toda forma de dominio y violencia de género, sean en el ámbito privado o público, construyendo efectivas relaciones de equidad de género e intergeneracional y superando las opresiones históricas del patriarcado. Las mujeres amazónicas son protagonistas de resistencia, de formas locales y cíclicas de economía, de nuevas aperturas al sagrado de la vida. La juventud amazónica fortalece los procesos, con la renovación dirigencial y la creatividad en múltiples dimensiones, como la comunicacional y artística.

Autogobierno y libre determinación de los pueblos indígenas y la sociedad, en especial de los pueblos en aislamiento y contacto inicial, de quilombolas, caboclos, siringueros, ribereños, maroons, campesinos y pueblos amazónicos en general. Formas de autoridad social colectiva, sobre la base de la comunidad, para el ejercicio colectivo de la autoridad pública y gobierno territorial, para superar las opresiones, del estado-centrismo. Titulación legal territorial de los pueblos y reconstitución de su territorialidad integral, sin la imposición de las áreas protegidas estatales. Detener los asesinatos de líderes, defensa de los defensores de la Vida, sin la criminalización y judicialización de los derechos y luchas sociales. Institucionalidad y organizaciones sociales laicas, con libre espiritualidad y sin sectas del miedo, represión y violencia psico social.

Detener el extractivismo y sus estructuras de depredación, opresión y corrupción empresarial y estatal, y los tratados o acuerdos de “libre comercio” que los refuerzan. Por economías comunitarias, con reciprocidad y solidaridad, con y dentro del bosque, para que se quede en pié. Forjemos transiciones hacia el post-extractivismo y el uso equilibrado  de las bondades de la naturaleza. Autosuficiencia, soberanía y seguridad alimentaria. Energías renovables ecológicas, sin hidroeléctricas ni plantas nucleares, que superen la adicción a la energía fósil y su eterna destrucción de selvas, pueblos y culturas.

Des-mercantilización de la Vida. Detener la dictadura ecocida de los negocios del capitalismo privado y del capitalismo de Estado, en sus diversas expresiones políticas. Justicia climática con reducción neta de emisiones sin falsas soluciones (geo-ingeniería, mercado de carbono y otras).  Acción social y estatal para detener las mafias, sicariato y todas las formas de violencia de las “economías” ilegales en la minería, madera, narcotráfico, plantaciones y tráfico de tierras.

Ciudades inclusivas, igualitarias, acogedoras, ecológica y económicamente sustentables. Políticas urbanas e inversión, con prioridad al derecho a una vivienda digna, el acceso al agua y saneamiento básico, a relaciones justas en el intercambio con el campo y la floresta. Detener el consumo  de productos amazónicos basados en el ecocidio, etnocidio y múltiples formas de opresión. ¡Ni una gota más de sangre indígena y popular en las economías amazónicas!. Frenar el crecimiento sin fin en un planeta limitado y los patrones de consumo incompatibles con la preservación de la vida.

Creemos en los procesos de auto organización de los pueblos en la Pan Amazonía y el Abya Yala, con la movilización de las comunidades, ciudades y movimientos sociales.

Llamamos a los ciudadanas-os del mundo a Amazonizarse: sellar una alianza permanente y solidaria con la Amazonía: ¡Informemos, movilicemos, actuemos en defensa de la vida y de los derechos de las personas y de la naturaleza!

Llamamos a participar de las campañas de acción de unidad en la diversidad, que siguen a continuación, adoptadas en esta Primera Asamblea, y las que se impulsarán en las asambleas siguientes.

¡Ya no hay más tiempo!

¡Basta de antropocentrismo, de soberbia suicida, de tecnolatría del crecimiento ilimitado, hasta la explosión global!

La Amazonía no nos “pertenece”, nosotros convivimos y dependemos de ella. Vida plena es la interdependencia entre todo lo que existe.
 
¡Amazonía Viva, Humanidad Segura, Buen Con-Vivir para todas y todos!

19 de julio del 2020.

https://asambleamundialamazonia.org/2020/07/20/gritos-de-la-amazonia-por-la-vida/ 

terça-feira, 21 de julho de 2020

AMAZONIZA-TE! DECLARAÇÃO DA 1ª ASSEMBLEIA MUNDIAL PELA AMAZÔNIA

ACATEMOS O CONVITE. VALE A PENA UNIR FORÇAS.

DECLARAÇÃO DA 1ª ASSEMBLEIA MUNDIAL PELA AMAZÔNIA

Algo novo está nascendo. Conseguem o escutar?

Dá para ouvi-lo, no meio dos gritos da Amazônia.

Levanta-se a luta dos povos amazônicos, atacados em seus territórios, suas memórias e culturas.

Cresce o grito ensurdecedor da floresta, derrubada, queimada, saqueada pelo extrativismo violador, que só obedece ao poder e à ganância.

Nem mais uma gota de sangue e dor em produtos de consumo nas cidades do mundo!

Há um mutirão de resistência dentro das comunidades da floresta, do campo e da cidade, que estão se organizando frente à devastação e à fome que podem continuar após esta pandemia.

Porque o ecocídio, etnocídio e terricídio avançam pior que o vírus.

Os corpos e territórios das mulheres e da terra são, historicamente, violentados por um sistema patriarcal, colonial e capitalista, que não entende dos cuidados da vida.

No entanto, no meio da dor, como se fosse um parto, algo novo está nascendo: um tecido rebelde de muitos espíritos da floresta e do cimento, que lembram que todas e todos somos Amazônia.
Esse tecido nasce na angustiante certeza de saber que não há mais tempo. É hora de nos unirmos na diversidade dos saberes dos povos de Abya Yala e do mundo, e nas culturas do cuidado, para devolver o espírito da floresta à humanidade.

AMAZONIZA-TE!

Os rios amazônicos nos atravessam, dão-nos o ar, cantam para nós canções de liberdade; somos filhas e filhos da Terra e da Água, dentro delas nossas raízes são nutridas e coexistem com as estrelas da Onça-pintada no Universo.

Amazoniza-te!

É agora ou nunca!

Entre na selva dos nossos sonhos, lutas e resistências!
Faça parte do processo de criação das Assembléias Mundiais para libertar a Amazônia e os povos que a habitam.

Mais forte que todas as vozes de morte, será o grito de vida
que nasce da Amazônia e do mundo!

 https://asambleamundialamazonia.org/2020/07/20/declaracao-da-primeira-assembleia-mundial-pela-amazonia/?fbclid=IwAR3hKKWd4E4xp4FUV0IxxapxoWmLr2sjcmoAjJQu2BmPbAuk5-b_48Itg7k

GRETA THUNGERG: PRÊMIO E COERÊNCIA

QUEM SE CANDIDATA A SEGUIR O EXEMPLO DESTA JOVEM?

Greta Thunberg ganha prêmio de € 1 milhão e doa parte do dinheiro para proteção da Amazônia

IHU, 21 de julho de 2020

A ativista sueca Greta Thunberg foi escolhida para a primeira edição do Prêmio Gulbenkian para a Humanidade, anunciado nesta segunda-feira (20). Mais de 130 nomes de 446 países haviam sido indicados para receber a honraria. A militante de 17 anos avisou que vai doar parte do montante para a campanha SOS Amazônia.
A reportagem é publicada por Radio França Internacional - RFI, 20-07-2020.
O Prêmio Gulbenkian para a Humanidade, é uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, entidade portuguesa criada em 1956 e conhecida por suas ações principalmente no mundo da cultura, da ciência e da educação. Mas, com este prêmio, a entidade optou por celebrar a luta contra as mudanças climáticas, homenageando pessoas ou organizações que contribuam para a avanço da preservação do planeta.
Segundo Isabel Mota, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, a ativista sueca foi escolhida por “seu compromisso com a urgência da ação climática, contribuindo para uma sociedade mais resiliente e preparada para as alterações globais, protegendo em especial os mais vulneráveis”. Já o ex-presidente português Jorge Sampaio, que presidia o júri do prêmio, ressaltou a maneira como Greta “conseguiu mobilizar gerações mais novas para a causa do clima”.

Planeta em “situação de urgência”

A ativista, considerada pela Time Magazine uma das 100 pessoas mais influentes do mundo e duas vezes nomeada para o Nobel da Paz (2019 e 2020), se disse “extremamente honrada” com a escolha de seu nome. “Isso significa muito para mim e espero que me ajude a fazer mais pelo mundo”, declarou a sueca, que aproveitou a ocasião para frisar que o planeta está em “situação de urgência”.
Mesmo se disse que o valor de € 1 milhão dado pela Fundação é “mais dinheiro do que eu possa começar a imaginar”, Greta disse que já sabe o que vai fazer com o montante. Ela informou que pretende, por meio de sua própria fundação, fazer doações que prestigiem “organizações e projetos que lutam por um mundo sustentável e defendem a natureza, apoiando pessoas que enfrentam os piores impactos da crise ecológica e climática”.
A ativista avisou que € 100 mil serão doados para a SOS Amazônia, uma campanha mantida pela Fridays for Future, movimento popular iniciado pela própria Greta em 2018. Outros € 100 serão doados para a Stop Ecocide Foundation, entidade que luta para tornar o ecocídio um crime internacional.

http://www.ihu.unisinos.br/601138-greta-thunberg-ganha-premio-de-1-milhao-e-doa-parte-do-dinheiro-para-protecao-da-amazonia 

terça-feira, 14 de julho de 2020

CARTA DE ENTIDADES MUNDIAIS CRISTÃS AO G20

PELA INSENSIBILIDADE HISTÓRIA DOS GOVERNOS DO G20, PARECERIA PERDA DE TEMPO ENVIAR MAIS UM PEDIDO. MAS, COMO ENSINA JESUS DE NAZARÉ, É IMPORTANTE FAZER COMO AQUELA MULHER QUE, DE TANTO IMPORTUNAR, O JUIZ ATENDEU AOS SEU PEDIDO. 

IMPORTUNEMOS O G20 JUNTO COM ESSAS ORGANIZAÇÕES QUE REPRESENTAM 500 DE CRISTÃOS.

IHU - 14 de julho de 2020

Quatro organizações globais, representando cerca de 500 milhões de cristãos, escreveram uma carta urgente aos líderes do G20, pedindo que eles deixem para trás a atual arquitetura financeira quebrada e promovam uma recuperação verdadeiramente justa e sustentável.

A nota é publicada por Conselho Mundial de Igrejas, 13-07-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A carta, enviada no dia 13 de julho, é do Conselho Mundial de Igrejas, da Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas, da Federação Luterana Mundial e do Conselho para a Missão Mundial.
As organizações expressam “profunda preocupação” sobre como a Covid-19 e a crise econômica relacionada continuaram destruindo vidas e meios de subsistência em todo o mundo. “Até agora, isso resultou em mais de meio milhão de mortes, um desemprego massivo, o aumento das dívidas, pobreza e desigualdade em muitas partes do mundo.”

E a disseminação da Covid-19 continua acelerando.

“Este momento nos oferece uma abertura sem precedentes para examinar coletivamente a ordem atual e para ‘reconstruir melhor’ um sistema diferente que alimente a saúde, o bem-estar e a resiliência das comunidades e do planeta para as próximas gerações”, instam as organizações.

“Aqui, gostaríamos de sublinhar que as medidas e as políticas de recuperação da Covid-19 devem ser compatíveis com ações urgentes e ambiciosas sobre as crises climáticas.”

As pessoas simplesmente não querem voltar ao “velho normal”, aponta a carta. “Para que essas mudanças sejam viáveis e sustentáveis, as discussões também devem ocorrer sob a égide das Nações Unidas, na qual há uma ampla participação de países e da sociedade civil”, diz o texto.

“Destinem recursos financeiros adequados à saúde pública e à proteção social de centenas de milhões de pessoas cujos meios de subsistência têm sido dizimados pela pandemia e a medidas de resposta relacionadas.”

No curto prazo, isso inclui testes generalizados, fornecimento de equipamentos de proteção, cobertura de assistência médica, uma vacina acessível e barata, subsídios de renda básica, assistência ao desemprego e apoio a pequenas empresas.

“Cancelem as dívidas externas dos países de baixa e média renda (que estavam em níveis preocupantes antes mesmo da pandemia) para liberar recursos para que os governos respondam efetivamente à pandemia da Covid-19 e para construir a resiliência e os meios de subsistência das pessoas e comunidades”, pede a carta.

“Implementem a reforma tributária global para financiar a recuperação.”

Leia aqui a íntegra da carta, em inglês.

http://www.ihu.unisinos.br/600942-meio-bilhao-de-cristaos-pedem-que-g20-reforme-a-atual-arquitetura-economica 

segunda-feira, 13 de julho de 2020

ONU: O MUNDO ESTÁ TRATANDO OS SINTOMAS, NÃO AS CAUSAS DA PANDEMIA

É ISSO AÍ. QUEM E POR QUE ESTÃO DEIXANDO DE LADO AS CAUSAS? SÃO SEMPRE OS MESMOS, OS QUE NÃO QUEREM RECONHECER QUE É PRECISO MUDAR PROFUNDAMENTE O ESTILO DE VIDA E AS AGRESSÕES À TERRA...

ONU: o mundo está tratando os sintomas, não as causa da pandemia

Destruição contínua da natureza trará fluxo de doenças transmitidas de animais para o homem, aponta relatório

Carta Maior - 09/07/2020 17:02
 
A criação industrial de animais, especificamente porcos e galinhas, é um dos principais riscos para a propagação futura de doenças zoonóticas, afirmam especialistas (Nikolay Doychinov/AFP/Getty Images)
Créditos da foto: A criação industrial de animais, especificamente porcos e galinhas, é um dos principais riscos para a propagação futura de doenças zoonóticas, afirmam especialistas (Nikolay Doychinov/AFP/Getty Images)
O mundo está tratando os sintomas sanitários e econômicos da pandemia de coronavírus, mas não sua causa ambiental, apontam os autores de relatório da ONU. Dessa forma, nos próximos anos, podemos esperar um fluxo constante de doenças transmitidas de animais para humanos, dizem.

Do Ebola ao Sars, passando pelo vírus do Nilo Ocidental e pela febre do Vale do Rift, vem aumentando o número de epidemias "zoonóticas" que têm como causa principal a destruição da natureza pelos seres humanos e a crescente demanda por carne, diz o relatório.

Mesmo antes da Covid-19, 2 milhões de pessoas morriam de doenças zoonóticas todos os anos, principalmente nos países mais pobres. O surto de coronavírus era altamente previsível, disseram os especialistas. "A [Covid-19] pode ser a pior, mas não foi a primeira", disse a diretora do programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma), Inger Andersen.

Os maiores custos econômicos recairão sobre os países ricos – no caso da Covid-19, o custo será de 9 trilhões de dólares em dois anos, de acordo com a economista-chefe do FMI. Isso é um ótimo argumento para que se invista nos países onde surgem doenças, dizem os autores do relatório.

O relatório aponta ser vital uma abordagem de “saúde única”, que englobe a saúde humana, animal e ambiental e inclua muito mais vigilância e pesquisa sobre as doenças e os sistemas alimentares que possibilitam as transmissões para o homem.

"Houve muitas respostas à Covid-19, mas grande parte delas tratou a pandemia como um desafio médico ou um choque econômico", disse a professora Delia Grace, principal autora do relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária.

“Mas suas origens estão no meio ambiente, nos sistemas alimentares e na saúde animal. É como ver alguém doente e tratar apenas os sintomas e não a causa subjacente, e há muitas outras doenças zoonóticas com potencial pandêmico.”

"O aumento e a intensificação da atividade humana estão afetando o meio ambiente em todo o planeta, desde os crescentes assentamentos humanos à [produção de alimentos], passando pela expansão do setor de mineração", explica Doreen Robinson, chefe para a vida selvagem do Pnuma. “Essa atividade humana está rompendo o amortecedor natural que protegia os seres humanos de vários patógenos. É extremamente importante chegar às causas do fenômeno, caso contrário, ficaremos apenas reagindo aos seus efeitos”.

"A ciência é clara: se continuarmos explorando a vida selvagem e destruindo os ecossistemas, podemos esperar, nos próximos anos, um fluxo constante dessas doenças que “saltam” de animais para seres humanos", disse Andersen.

A vida selvagem e os rebanhos são a fonte da maioria dos vírus que infectam os seres humanos, e o relatório cita uma série de fatores que causam surtos de doenças, como a crescente demanda por proteína animal, uma agricultura mais intensiva e insustentável, maior exploração da vida selvagem, crescentes viagens globais e a crise climática. Também destaca que muitos agricultores, regiões e nações relutam em declarar surtos por medo de prejudicar o comércio.

"Os principais riscos para a disseminação futura de doenças zoonóticas são o desmatamento de regiões tropicais e a criação industrial de animais em larga escala, mais especificamente de porcos e galinhas criados em alta densidade", diz o ecologista Thomas Gillespie, da Universidade Emory, nos EUA, do grupo de revisores do relatório. “Estamos em um momento de crise. Se não mudarmos radicalmente nossas atitudes em relação ao mundo natural, as coisas vão piorar muito – muito mesmo. O que estamos vivendo hoje vai parecer leve.”

O relatório destaca alguns exemplos de onde os riscos zoonóticos estão sendo controlados. Em Uganda, as mortes por febre do Rift Valley foram reduzidas através do uso de dados de satélite para antecipar chuvas fortes, que podem produzir enxames de mosquitos e desencadear surtos.

O relatório é o mais recente aviso de que os governos devem enfrentar a destruição ambiental para evitar futuras pandemias. Em junho, um importante economista e a ONU afirmaram que a pandemia de coronavírus era um "SOS para a experiência humana" e, em abril, os principais especialistas em biodiversidade do mundo disseram que mais surtos de doenças mortais eram prováveis, a menos que a natureza fosse protegida.

"A simples ideia de que a saúde da humanidade depende da saúde do planeta e da saúde de outras espécies deve estar no cerne de nossa resposta às zoonoses e aos outros desafios que a humanidade enfrenta", diz Andersen. "Se a humanidade der à natureza a chance de respirar, ela será nossa maior aliada na construção de um mundo mais justo, mais verde e mais seguro para todos.”

*Publicado originalmente em 'The Guardian' | Tradução de Clarisse Meireles

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/ONU-o-mundo-esta-tratando-os-sintomas-nao-as-causa-da-pandemia/4/48084

sexta-feira, 10 de julho de 2020

TEMPERATURA PODE AUMENTAR 1,5ºC EM CINCO ANOS

CLIMAINFO - 10 de julho de 2020


Novas projeções feitas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) indicam que a temperatura média global provavelmente será ao menos 1oC mais alta em relação aos níveis pré-industriais em cada um dos próximos cinco anos (2020-2024). Pior: há 20% de chance de que ela possa exceder 1,5oC em pelo menos um desses anos, o que representaria um desafio tremendo para a implementação do Acordo de Paris.

Liderada pela agência meteorológica britânica Met Office, a revisão das projeções para os próximos cinco anos deixa claro que a janela de oportunidade para que o mundo consiga conter o aquecimento do planeta neste século em 1,5oC, considerada pelo IPCC como um limite relativamente seguro em termos de impactos climáticos, nunca esteve tão estreita.

As projeções não consideram os efeitos da pandemia sobre as emissões globais recentes, decorrentes do desaquecimento da economia global. Para a OMM, a queda nas emissões causada pela pandemia não substitui ação climática sustentada e coordenada. “Devido à vida útil muito longa do CO2 na atmosfera, não se espera que o impacto da queda nas emissões neste ano nos leve a uma redução da concentração de CO2 na atmosfera”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

BBC, Reuters, The Independent e Carbon Brief abordaram os principais pontos das novas projeções da OMM.