sábado, 30 de janeiro de 2016

COOPERATIVA DE ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NA FAVELA BABILÔNIA

É UM PRIMEIRO PASSO, MAS TEM A POTENCIALIDADE DE ABRIR UM CAMINHO DE PRODUÇÃO AUTÔNOMA DE ENERGIA NUMA FAVELA DO RIO DE JANEIRO. ISSO É MOTIVO DE CELEBRAÇÃO. COMO EM OUTRAS FRENTES DE CONQUISTAS INOVADORAS, O POVO EXIGIRÁ TAMBÉM UMA POLÍTICA ENERGÉTICA QUE PRIORIZE A ENERGIA SOLAR E EÓLICA DESCENTRALIZADA.

Moradores de favela de Rio instalam painéis solares em resposta os preços altos de eletricidade 

Convite imprensa com oportunidade para fotos e filmagem: Na sexta-feira 29/01/2016 às 11 horas moradores da favela da Babilônia no Leme vão finalizar duas instalações solares fotovoltaicas. Reunião para imprensa no Mirante da Babilônia, Estrelas da Babilônia, Rua Dona Alexandrina, Ladeira Ary Barroso, Leme, Rio de Janeiro, RJ 22010-060 (mapa em anexo).


Rio de Janeiro, 27/01/2016 - No sábado, 30 de janeiro de 2016, os moradores da favela da Babilônia (Leme) estarão inaugurando as duas primeiras instalações solares fotovoltaicas no Mirante da Babilônia, no Leme. 

De acordo com um grupo de moradores unidos a frente da RevoluSolar, uma nova associação sem fins lucrativos, a inauguração, no sábado marca o início da independência energética e uma transição democrática de energia renovável para a favela da Babilônia. Os preços da eletricidade no Rio quase dobraram nos últimos dois anos (R$ 0,48kWh em janeiro 2014, para R$ 0,90 kWh em janeiro 2016).

Através do trabalho voluntário coletivo que envolve eletricistas e empreendedores da favela e da Associação de Moradores da Babilônia, um grupo de moradores criaram RevoluSolar, que visa informar e educar a população local sobre os benefícios sociais, econômicos e ambientais com o uso da energia solar. Cálculos iniciais por RevoluSolar estimarem que o retorno sobre o investimento será alcançado no prazo de 6 anos, após os quais a luz gerada pelos painéis solares será de graça para mínimo 19 anos.

Pol DHuyvetter (53) Presidente da RevoluSolar declarou: ¨Energia solar não só vai resolver o problema das contas de luz muito alta para as famílias de baixa renda, mais também  capacitar as pessoas que sofreram uma exclusão social por gerações, e dá um orgulho para se tornarem produtores de luz. Nosso projeto é um exemplo de desenvolvimento sustentável, com benefícios sociais, econômicos e ambientais para a comunidade¨. Pol DHuyvetter vive no Brasil desde 2009 e é um membro de longa data da Ecopower, uma cooperativa de energia renovável que conta mais de 50.000 famílias associadas na Bélgica.

As duas primeiras instalações solares nos telhados do bar, restaurante e pousada Estrelas da Babilonia e no Babilonia Rio Hostel, duas empresas locais, foram possíveis graças a um programa de micro crédito para moradores de favelas da AG RIO, uma agência estatal. Ambos os proprietários calcularam um retorno muito significativo do investimento.

Confrontado com o aumento dos preços da empresa LIGHT, Sr. André Luiz Abreu de Souza, o presidente da Associação de Moradores da Babilônia,  quer transformar a atenção dos moradores para o enorme potencial com instalações de energia solar em seus telhados. 

Com um número crescente na favela de famílias interessadas em se tornar produtores de energia, o objetivo da RevoluSolar é a criação da primeira cooperativa de produção de energia renovável no Brasil. RevoluSolar já recebe o interesse e apoio da Organização de Cooperativas do Brasil (OCB). Também recebe apoio de Viva Rio, o Frente para uma nova Política Energéticas do Brasil, Favela Orgânica e da Fundação Heinrich Boell.

O Brasil ainda não faz uso de energias renováveis descentralizadas. Em novembro passado ANEEL, a agência reguladora de energia elétrica no Brasil, conta apenas 1.285 pequenas unidades geradoras de energia elétrica, dos quais 1.233 (96%) solar. A ANEEL acompanhará de perto a implantação das novas regras do Sistema de Compensação e prevê que até 2024 cerca de 1,2 milhão de unidades consumidoras passem a produzir sua própria energia, totalizando 4,5 gigawatts (GW) de potência instalada, que irá revolucionar o mercado. RevoluSolar diz que está pronto para desempenhar um papel cooperativo.

Contatos RevoluSolar para imprensa

- Pol Dhuyvetter, Presidente RevoluSolar / Estrelas da Babilonia +55(21)998121716
- Eduardo Figueiredo e Bianca Lima, Babilonia Rio Hostel +55(21)992029243
- Augustin Butruille, Secretario Executivo RevoluSolar para informaçaos tecnica  +55(21)982794765

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

POÇOS CONTAMINADOS POR URÂNIO EM CAITITÉ

ATÉ QUANDO HAVERÁ TÉCNICOS TEIMOSOS E GOVERNANTES IRRESPONSÁVEIS PARA CONTINUAREM COM A RETIRADA E O USO DO URÂNIO PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA? NA VERDADE, DEVEM SER CEGOS, E TALVEZ POR CAUSA DA QUANTIDADE E MARAVILHA DE SOL QUE ILUMINA CAITITÉ, TODA A BAHIA, TODO O SEMIÁRIDO, TODO O BRASIL! OU, TALVEZ, SEU CASO MEREÇA UM TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO... 

 Após nova análise, Bahia identifica mais poços com alto teor de urânio

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Estadão Conteúdo
28/01/201616h07

Brasília - O governo da Bahia encontrou novos poços com alto teor de urânio na região de Caetité, no Sudoeste do Estado, onde está em operação a única mina do material radioativo em toda a América Latina.Os novos testes de água foram realizados pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Ceped), a pedido do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema). No fim de dezembro, foram coletadas amostras em 19 poços da região. Os resultados ficaram prontos nesta semana. O jornal "O Estado de S. Paulo" teve acesso aos resultados dos laudos técnicos de cada poço.
Os dados revelam que pelo menos três poços estão com nível de urânio acima do limite determinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O órgão estabelece uma tolerância de, no máximo, 15 microgramas de urânio por litro de água. Em um dos poços contaminados, localizado no Povoado Imbu, o volume encontrado chegou a 32 microgramas, mais que o dobro da quantidade autorizada pelo organismo internacional.
Além dos três poços que estouraram o limite previsto em lei, outros três chegaram ao índice de 14 microgramas por litro, isto é, estão praticamente em cima da quantidade permitida. Os volumes são preocupantes mesmo se considerado o critério mais brando utilizado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que impõe uma tolerância de até 20 microgramas.
Ao ser questionado sobre os resultados, o secretário de Meio Ambiente do governo da Bahia, Eugenio Spengler, disse ao jornal que os novos pontos de contaminação serão fechados, para garantir a segurança e saúde da população. "Está decidido que os poços que apresentaram níveis superiores não poderão ser mais utilizados. Nossa orientação é de que eles sejam lacrados", afirmou.
Spengler disse que uma nova rodada de coleta de amostras será feita nas próximas semanas e que o governo baiano vai adquirir equipamentos para fazer um monitoramento permanente das águas subterrâneas da Bahia, projeto que terá início na região de Caetité. O termo de referência para compra desses equipamentos está em fase de conclusão.
O governo baiano tem encontrado dificuldades de executar o monitoramento na região por causa dos dados precários sobre a localização de cada poço. "Além disso, muitos reservatórios usados pela população foram abertos clandestinamente", diz o coordenador de monitoramento dos recursos ambientais e hídricos do Inema, Eduardo Topázio.
Denúncia
Reportagem publicada pelo jornal em agosto do ano passado revelou que a estatal federal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), responsável pela exploração do minério radioativo na região, havia realizado testes e confirmado a contaminação de pelo menos um poço no município de Lagoa Real, vizinho de Caetité, conforme laudos técnicos reunidos pela reportagem. A empresa, no entanto, nunca informou as autoridades estaduais e federais sobre esses resultados, como o governo baiano, o Ibama, o Ministério da Saúde ou o Ministério do Meio Ambiente. Em vez disso, a estatal declarou que não havia encontrado nenhuma irregularidade em suas inspeções de água feitas ao longo ano.
O governo baiano voltou a testar a qualidade da água do poço analisado pela INB e comprovou a contaminação.
A INB nega responsabilidade e afirma que não tinha obrigação de informar sobre os resultados que coletou porque tinha feito apenas um favor ao dono do sítio, que queria checar a qualidade de sua água. Sete meses depois de confirmar que a presença de urânio no poço estava quatro vezes acima do limite, a empresa limitou-se a entregar uma cópia de seus testes à prefeitura local, sem qualquer tipo de comunicação oficial.
Segundo a estatal, a presença de alto teor de urânio na água da região seria natural, por conta da quantidade de minério que há no local. A empresa também afirma que sua mineração não tem influência sobre a água no poço de Lagoa Real, porque estaria em outra sub-bacia hidrográfica a cerca de 15 km de distância de sua mina.
Multa
Por meio de nota, o diretor de proteção ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, confirmou que houve irregularidade da empresa e que a INB será multada. "A INB deveria ter comunicado o fato imediatamente ao Ibama. Está configurada a infração ambiental e a INB será autuada", declarou Evaristo. "O Ibama finaliza neste momento o relatório de fiscalização com o conjunto de provas e a determinação da dosimetria do auto de infração."
Em parecer técnico, o Ibama concluiu que, mesmo o poço não se localizando na área de abrangência da rede de monitoramento da estatal, "a partir do momento em que a INB se dispôs a realizar a análise da água do poço na propriedade, essa empresa assumiu a responsabilidade e o dever de disponibilizar as informações por ela produzidas, assim como de orientar, tanto o produtor como os órgãos competentes, sobre a execução das medidas aplicáveis ao caso."
Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff exonerou, a pedido, Aquilino Senra Martinez do cargo de presidente da INB, estatal que está vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Para o lugar de Martinez foi nomeado João Carlos Derzi Tupinambá.


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     André Borges •  Repórter
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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

SENTIDOS DO BEM VIVER


OUTRAS PALAVRAS

Para entender a fundo os sentidos de Bem Viver


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marchaindigena (1)Um dos pensadores mais empenhados em superar ideologia do “desenvolvimento” debate, em três cidades brasileiras, alternativas à lógica capitalista de estar no mundo para acumular
Por Tadeu Breda
Mais: veja tudo sobre o lançamento nesta página do Facebook
No final de janeiro, a Editora Autonomia Literária e a Editora Elefante lançam O Bem Viver – Uma oportunidade para imaginar outros mundos, escrito pelo político e economista equatoriano Alberto Acosta. Graças ao apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, haverá três lançamentos: dia 26 de janeiro, em São Paulo; dia 27 de janeiro, no Rio de Janeiro; e dia 28 de janeiro, em Mariana-MG, palco do que talvez seja a maior catástrofe socioambiental da história do país. Todos os eventos contarão com a presença do autor.
Nascido em Quito em 1948, Alberto Acosta é um dos fundadores da Alianza País, partido que chegou à Presidência do Equador em 2007 após a vitória eleitoral de Rafael Correa. Foi ministro de Energia e Minas no primeiro ano de mandato, mas deixou o cargo para dirigir a Assembleia Constituinte que incluiu pela primeira vez em um texto constitucional os conceitos de plurinacionalidade, Direitos da Natureza eBuen Vivir.
Durante o trabalho constituinte, porém, Acosta rompeu com o presidente equatoriano — e seu partido — devido ao que viu como desvios nos rumos do governo. Em 2013, candidatou-se à Presidência da República por uma coalizão de movimentos políticos, sociais e indígenas denominada Unidad Plurinacional de las Izquierdas. Obteve, porém, escasso apoio popular, acabando em sexto lugar nas eleições.
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Garante seu exemplar em nossa livraria!
Lançado originalmente em 2011, no Equador, o livro foi revisado e atualizado para a edição brasileira. Em 264 páginas, Acosta trata de conceituar o Bem Viver, filosofia nascida dos conhecimentos e práticas indígenas sul-americanas. Mas não dá espaço a romantismos. Até porque, argumenta, o Bem Viver não é uma exclusividade ameríndia: encontra correspondências na sabedoria de outros povos e culturas tradicionais ao redor do mundo, como o ubuntu, na África do Sul, e também no pensamento ocidental.
O Bem Viver – Uma oportunidade para imaginar outros mundos propõe a construção de novas realidades políticas, econômicas e sociais a partir de uma ruptura radical com as noções de “progresso” e “desenvolvimento”, que são pautadas pela acumulação de bens e capital, pelo crescimento infinito e pela exploração inclemente dos recursos naturais – o que, como demonstram os climatologistas, está colocando em risco a sobrevivência dos próprios seres humanos sobre a Terra.
Até agora não houve governo, à direita ou à esquerda, que não perseguisse o progresso e o desenvolvimento propagandeados pelos países centrais do capitalismo – e a grande maioria deles não conseguiu nem conseguirá alcançá-lo. De acordo com Acosta, nem mesmo as experiências socialistas do século 20 questionaram efetivamente esse caminho.
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Acosta, candidato à presidência do Equador: apesar do pequeno apoio popular, ideias marcantes
Os governos progressistas que no início do século 21 chegaram ao poder em boa parte da América Latina tampouco abandonaram a miragem do desenvolvimento. Pelo contrário, aprofundaram a dependência econômica de recursos naturais, com exportações crescentes de matéria-prima, muitas vezes às custas dos direitos dos povos tradicionais.
É o que tem ocorrido no Brasil, que, após uma série de tragédias sociais diuturnamente registradas nos rincões mais afastados do país e nas periferias das grandes cidades, assistiu em 2015 ao rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, subsidiária da Vale, em Minas Gerais, resultando na morte do Rio Doce. A contaminação não é um acidente, mas uma mera consequência do extrativismo.
Acosta lembra que não é possível enriquecer, como apregoa a retórica desenvolvimentista, depredando o próprio patrimônio natural. E, ao reconhecer os avanços sociais obtidos pelos governos progressistas, explica que apenas repetiram as conhecidas formas de produtivismo e consumismo capitalista, sem promover mudanças estruturais nas esferas política, econômica ou social. Talvez por isso, o conservadorismo agora avance com força na região – como já aconteceu na Argentina, Paraguai, Chile e Venezuela, e está acontecendo no Brasil.
“Necessitamos outras formas de organização social e práticas políticas”, propõe o autor. “O Bem Viver é parte de uma longa busca de alternativas forjadas no calor das lutas indígenas e populares. São propostas invisibilizadas por muito tempo, que agora convidam a romper com conceitos assumidos como indiscutíveis. São ideias surgidas de grupos marginalizados, excluídos, explorados e até mesmo dizimados.”
Com uma linguagem simples e muitas referências a pensadores clássicos e contemporâneos, Alberto Acosta revisa a história política e econômica para explicar que o Bem Viver não se trata de mais uma alternativa de desenvolvimento – não é mais um “sobrenome” do desenvolvimento, tal qual “desenvolvimento humano”, “desenvolvimento sustentável” ou “etnodesenvolvimento”. É uma alternativa ao desenvolvimento. Uma fuga ao desenvolvimento.
“Mais do que nunca é imprescindível construir modos de vida baseados Direitos Humanos e nos Direitos da Natureza, que não sejam pautados pela acumulação do capital,” diz o autor.
EVENTO
Lançamento em São Paulo (26/1, terça às 19h)
Local: Coworking Espacio 945 – Conselheiro Ramalho 945, Bixiga
Mesa: Alberto Acosta, Célio Turino (Raiz Cidadã) e Salvador Schavelzon (UNIFESP). Mediadora: Verena (RosaLux)
Nome da mesa: Bem Viver: um horizonte para superação do desenvolvimentismo
Link: https://www.facebook.com/events/645815612224272/
Lançamento no Rio (27/1)
Local: auditório UFRJ na praia vermelha
15:00 ~ Abertura
– Giuseppe Cocco (UFRJ)
– Tadeu Breda (jornalista e tradutor)
– Samuel Braun (sindicalista)
17:00 ~ Alternativas constituintes no Brasil pós-2013
– Clarissa Naback (PUC-RJ)
– Celio Gari (Garis em luta)
– Camila Moreno (UFRJ)
– Alexandre Nascimento (FAETEC)
19:00 ~ O bem viver como imaginação em luta
conferencistas:
– Alberto Acosta (Equador)
– Oscar Camacho (Bolívia,grupo Comuna)
debatedor:
Bruno Cava (UniNômade)
Link: https://www.facebook.com/events/1544810705836245/
Lançamento em Minas Gerais / Mariana (28/1, quinta às 19h30)
Local: auditório do ICSA/UFOP
Mesa debate: O alto preço do extrativismo na América Latina: há alternativas? Com Alberto Acosta, Andrea Zhouri (UFMG), Isabela Corby (advogada popular do Coletivo Margarida Alve) e Sammer Siman (Brigadas Populares)
Link: https://www.facebook.com/events/802305846581806/

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

POLÍTICA DA DESIGUALDADE: UM SISTEMA PARA O 1%

NADA DE FATALIDADES NEM DE SORTE. A CONCENTRAÇÃO DA RIQUEZA AUMENTA PORQUE HÁ POLÍTICAS QUE A FAVORECE. VEJAM POR QUE NA ENTREVISTA ABAIXO.

Um sistema para o 1%

Opulência e miséria misturam-se em Manila, Filipinas. Uma cena cada vez mais frequente, num mundo dominado por políticas de "austeridade" e  "ajustes fiscais"
Opulência e miséria misturam-se em Manila, Filipinas. Uma cena cada vez mais frequente, num mundo dominado por políticas de “austeridade” e “ajustes fiscais”
Conselheiro da Oxfam, que denunciou hiper-concentração global de riqueza, sustenta: desigualdade tem sido meticulosamente fabricada, por elite que controla poder ou refugia-se em paraísos fiscais
Mikhail Maslennikov, entrevistado por Elena Llorente, no Página 12 | Tradução: Cepat
O relatório da organização internacional Oxfam sobre a desigualdade no mundoAn economy for the 1% (“Uma economia para o 1%”), divulgado nesta semana, mostra que as 62 pessoas mais ricas do mundo – 53 delas homens, com os estadunidenses Bill Gates eWarren Buffet e o mexicano Carlos Slim na liderança – detêm em conjunto a mesma riqueza de 3,6 bilhões de pobres do mundo. Isto equivale dizer que possuem a riqueza de quase a metade da população mundial, que hoje soma pouco mais de 7,3 bilhões.
Os números são apavorantes, caso se acrescente, além disso, que o abismo está crescendo mais rápido do que a própria Oxfam havia predito, há um ano, e que as mulheres são desproporcionalmente atingidas por esta desigualdade. Oxfam – cujo nome deriva de Oxford, Inglaterra, onde foi fundada em 1942, e de ‘famine’ que em inglês significa fome – é uma confederação de 17 organizações não governamentais que trabalha em 94 países para encontrar soluções à pobreza.
Mikhail Maslennikov é um matemático e econometrista que trabalha na Oxfam Itália como conselheiro político sobre temas de desigualdade econômica e justiça fiscal. Eis sua entrevista.
Segundo o relatório da Oxfam, 62 multimilionários tem a mesma riqueza que quase a metade do mundo. Como se chegou a esta conclusão?
Analisamos a distribuição da receita em escala global. A desigualdade é um sintoma de grande mal-estar social tão forte que até mesmo organizações econômicas internacionais como FMIOCDE(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e Banco Mundial estão sendo obrigadas a levá-la em conta. Porque se as desigualdades econômicas não fossem tão extremas como agora, o crescimento econômico interno em diferentes regiões do mundo haveria sido favorecido. Na Itália, por exemplo, estima-se que a queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 8%, nos úlitmos anos, deu-se também em razão das desigualdades econômicas.
E os governos, que papel têm cumprido em tudo isto?
Em geral, os governos subestimaram o fenômeno e o favoreceram, em certo sentido, com certas decisões em nível de política pública. AOxfam concentrou-se nos efeitos produzidos pelas políticas fiscais, especialmente nos sistemas fiscais nacionais que não são suficientemente progressivos (quanto mais se ganha, mais se paga). Em muitos países – um caso eloquente são os Estados Unidos – as alíquotas fiscais para as receitas mais altas foram reduzidas ao mínimo, nos últimos trinta anos. Isto permitiu a concentração da receita nos setores mais favorecidos da população, que pagaram menos tributos para o Estado. Um exemplo de pouca progressividade em matéria fiscal é a Itália, onde a alíquota paga por uma pessoa que ganha 80.000 e por outra que ganha 8 milhões, ao ano, é a mesma.
Você também mencionou os salários…
Para analisar a desigualdade também observamos a receita do trabalho nos últimos 25 e 30 anos, analisamos a receita global em razão da receita do trabalho. E concluímos que sobre a ampla desigualdade econômica também incidem as variações remunerativas.
O abismo entre os que ocupam cargos de direção e os empregados médios foi ampliada, com o passar dos anos. No relatório, analisamos casos significativos de grandes companhias estadunidenses. Há dados de vários países, como Estados Unidos, Índia e Reino Unido, mas nem todas as companhias têm a obrigação de publicar os salários dos grandes dirigentes. Em outros países, não há qualquer obrigação de torná-los públicos. Nos países em que foi possível analisar, a diferença está se acentuando.
Outros fatores que influíram para aumentar a distância entre ricos e pobres?
Também influíram as políticas econômicas dos últimos 30 anos. Houve uma redução dos investimentos nos serviços públicos essenciais, em geral. Para nós, a desigualdade econômica também é uma demonstração de que este modelo econômico fracassou.
Quanto mais poder econômico se tem, mais riqueza se possui e mais é possível condicionar as decisões em matéria de política econômica por parte dos governos.
Qual foi o papel do dinheiro enviado aos chamados paraísos fiscais?
Quando a concentração da riqueza chega ao pico da pirâmide, tenta-se conservá-la. Uma das formas para isso é defender os privilégios fiscais ou esconder essa riqueza em algum paraíso fiscal. Alguns economistas e a Oxfam têm estimado que cerca de 7,6 trilhões de dólares estão escondidos nos paraísos fiscais. Se fossem pagos os impostos sobre esta riqueza, as receitas fiscais para os governos seriam de 190 bilhões por ano. Além disso, os paraísos fiscais são o ponto de chegada dos lucros transferidos pelas grandes multinacionais, mas também pelos indivíduos, fora das jurisdições fiscais dos países onde realmente fazem sua atividade. O exemplo é o informe 2012 de grandes companhias estadunidenses que declararam receitas nas ilhas Bermudas – um paraíso fiscal – por 80 bilhões de euros. Significa 3,3% de todas as suas receitas globais. No entanto, esse número não reflete a real presença econômica dessas companhias nas Bermudas, onde possuem apenas 0,3% de suas vendas globais e 0,01% do custo trabalhista global.
Nesses dias, acontece o tradicional Foro de Davos, na Suíça, que reúne políticos, economistas e empresários de todo o mundo. O que a Oxfam apresentará lá?
Queremos fazer um chamado às elites e aos governos, lançando a reivindicação de maior justiça fiscal. Queremos também recordar às elites o nível de desigualdade em que vivemos e a responsabilidade que elas têm. Aoxfam demonstrou que das 200 companhias analisadas – entre as quais estão incluídas as 120 maiores do mundo e uns 100 sócios estratégicos do Fórum –, nove em cada dez estão presentes nos paraísos fiscais.
Queremos dizer que o dinheiro enviado para os paraísos fiscais acentua a desigualdade. Ou seja, chamaremos atenção sobre os níveis insustentáveis da desigualdade. Também alertaremos de forma provocadora contra a evasão fiscal das corporações que estejam presentes em Davos.
Em sua opinião, o que cada país deveria fazer para diminuir as diferenças entre ricos e pobres?
Como prioridade, acredito que seria preciso redefinir os sistemas fiscais para que sejam mais progressivos e analisar o impacto de novos sistemas sobre os níveis de desigualdade. Além disso, maiores investimentos em serviços públicos essenciais como Educação e Saúde, e políticas de apoio ao Trabalho. E, em plano internacional, os governos deveriam contribuir para uma reforma da fiscalidade internacional, acabando com os paraísos fiscais.

sábado, 23 de janeiro de 2016

AUMENTO DA TEMPERATURA E A AMAZÔNIA

NÃO SE DEVE BRINCAR COM AS ENERGIAS DA TERRA, JÁ QUE OS DESEQUILÍBRIOS QUE PROVOCAMOS SE VOLTAM CONTRA NÓS. E ISSO VALE DEMAIS PARA A AMAZÔNIA, POIS SEM O PARQUE NACIONAL DO XINGU, POR EXEMPLO, A TEMPERATURA DA REGIÃO DO XINGU ESTARIA EM TORNO DE 6ºC MAIS ALTA!

DUAS MEDIDAS URGENTES: PRIORIZAR AS ENERGIAS QUE NÃO EMITEM GASES DE EFEITO ESTUFA PARA A ATMOSFERA E APRENDER A CONVIVER COM O BIOMA AMAZÔNIA. 

Pesquisador explica o aumento da temperatura global

A temperatura global continua aumentando, independente do acordo climático realizado em Paris, na COP 21, e da promessa dos governos de resolverem essa questão durante esse século, segundo dados do Met Office, o serviço meteorológico do governo britânico.
A reportagem foi publicada por EBC Rádios, 20-01-2016.
O Amazônia Brasileira conversou com o pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM),Paulo Moutinho.
A previsão da temperatura global, no ano de 2016, divulgada esse mês, pelo Met Office, mostrou que graças a um efeito do El Niño, que vem sendo chamado de “Godzilla”, somado aos efeitos das mudanças climáticas, a temperatura média global deve ser 0,84°C mais alta do que a média do período 1961-1990.
Caso seja confirmada essa previsão haverá o terceiro recorde histórico de temperatura máxima em três anos consecutivos, pois em 2014, a média da temperatura foi 0,61°C mais alta que no período 1961-1990, e em 2015, a média foi de um aumento de 0,72°C, em relação ao período citado, afirma o pesquisador.
De acordo Paulo Moutinho, essa questão do aumento da temperatura, está muito ligada a quantidade de poluentes, principalmente o gás carbônico que é emitido em excesso, por queima de combustível fóssil para a atmosfera, devido a atividade humana, causa uma série de alterações no planeta, porém há outra preocupação além do aumento em si: “essas alterações vem acontecendo não em escala de décadas e sim em escala de milênios. Nos últimos 150 mil anos, é normal a Terra ter esses ciclos de aumento e diminuição de temperaturas, mas a velocidade com que isso está acontecendo agora, é que está nos impressionando”.
Met Office divulgou que recordes como esses, provavelmente, não serão batidos anualmente. Entretanto, as mudanças causadas pelo acúmulo das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera podem potencializar alterações naturais do clima, como os El Niños e as variações em ciclos naturais dos oceanos, como a oscilação decadal do Pacífico e a oscilação multidecadal do Atlântico.
O pesquisador explica que esses fenômenos naturais alteram, ocasionalmente, a circulação marinha, que tem a capacidade de regular a temperatura global sem nenhum auxílio externo.
“Temos que buscar cada vez mais energias limpas, que não jogam poluentes oriundos da queima de combustíveis fósseis para a atmosfera, pois a emissão desses gases aprisionam o calor, e precisamos manter as florestas em pé”, sugere Paulo Moutinho.
E complementa: “as florestas são um grande ar-condicionado, mantendo a temperatura na região mais amena, e um grande regador, especialmente da agricultura da região e se derrubarmos as florestas, estaremos desligando esse ar-condicionado e retirando o regador. Segundo um estudo, na região do Xingu, se não fosse o Parque Indígena do Xingu, aquela região teria um aumento de 6° C a 7°C na temperatura, e isso seria um efeito do desmatamento”.
O aumento na temperatura, diminui a quantidade de chuvas, o que afeta a produção agrícola na região: “cada vez mais, manter as florestas, é um investimento econômico, principalmente, na agricultura, sendo uma garantia de produção”, explica Paulo Moutinho.
O pesquisador ressalta que a sociedade brasileira precisa, definitivamente, fazer uma escolha na Amazônia. “Espero que seja pelo caminho da sustentabilidade, que ela quebre os paradigmas de que para se crescer, é necessário que se estrague e para que se tenha um crescimento econômico, é necessário que se tenha um prejuízo socioambiental”.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ALERTA: ALTAS EMISSÕES DE METANO NAS HIDRELÉTRICAS DA AMAZÔNIA

AGORA PARECE QUE A MÍDIA ESTÁ LEVANDO A SÉRIO: A INFORMAÇÃO SAIU EM PUBLICAÇÕES ESTRANGEIRAS. ANTES DISSO, COM OS DADOS DO IMPA, NADA DE LEVAR A SÉRIO. DE TODA FORMA, MELHOR AGORA DO QUE NUNCA.

ATENÇÃO: HAVERÁ MENOS ÁGUA PARA A PRODUÇÃO DE ENERGIA E, ALÉM DISSO, AS HIDRELÉTRICAS DA AMAZÔNIA PRODUZIRÃO MAIS GASES DE EFEITO ESTUFA DO QUE AS TERMELÉTRICAS. 

PRECISAMOS AUMENTAR NOSSA LUTA. VISTEM O SITE ENERGIAPARAVIDA E REFORCEM A MOBILIZAÇÃO "NOSSA CASA SOLAR", SUBSCREVENDO A PETIÇÃO AO MINISTRO DE MINAS E ENERGIA. É URGENTE!


Comparar as emissões de gases de efeito estufa de uma usina hidrelétricas às de usinas termelétricas que queimam carvão ou gás pode parecer insensato. No entanto, um estudo publicado na revista científica americana Environmental Research Letters mostra que as emissões de seis das 18 hidrelétricas que o governo brasileiro ergueu recentemente, está erguendo ou pretende erguer na Amazônia poderão ser equivalentes aos de usinas que queimam combustíveis fósseis. A produção de gás metano, devido a decomposição de matéria orgânica submersa nos reservatórios das hidrelétricas, das usinas de Sinop, no Mato Grosso, e a de Cachoeira do Caí, no Pará, por exemplo, podem ultrapassar as emissões das usinas termelétricas de carvão. Desta forma, aos impactos destas grandes obras - na biodiversidade e no modo de vida da população - podem ser somados elevados níveis de emissão de gases de efeito estufa que agravam as mudanças climáticas. Se estes motivos não são suficientes para convencer o governo brasileiro de que não é uma boa ideia que 85% da potência hidráulica a ser agregada ao sistema elétrico brasileiro até 2022 venha de hidrelétricas na Amazônia, é válido lembrar que o aquecimento global reduzirá a oferta de energia no mundo e que a estiagem que tem limitado a produção de energia nas hidrelétricas brasileiras será comum nas próximas décadas. Ao invés de direcionar investimentos para estas grandes obras que trazem impactos socioambientais na Amazônia e que estão sujeitas à diminuição de vazão de rios e podem estar fadadas a gerar muito menos energia do que o previsto inicialmente, o Brasil pode escolher diversificar sua matriz energética apostando em outras renováveis como a energia solar e eólica, trazendo mais segurança para seu sistema elétrico com energia limpa.




sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O FINANCIAMENTO BILIONÁRIO DOS CÉTICOS DO CLIMA

JÁ SE SABE DISSO, MAS AGORA UMA PESQUISA NOS DÁ MAIOR SEGURANÇA PARA DENUNCIAR QUEM ESTÁ POR TRÁS E FINANCIA COM RIOS DE DÓLARES OS QUE PROPAGAM DÚVIDAS SOBRE A MUDANÇA CLIMÁTICA. OS DIFERENTES TIPOS DE "CÉTICOS" TEM A VER, COM CERTEZA, COM A LENTIDÃO DAS DECISÕES NECESSÁRIAS PARA ENFRENTAR O QUE ESTÁ COLOCANDO EM RISCO A VIDA NA TERRA.

POR OUTRO LADO, TAMBÉM SERÁ BOM O LEVANTAMENTO DAS FONTES DE FINANCIAMENTO DAS ONGs E DO USO QUE FAZEM DO DINHEIRO RECOLHIDO. ESPERA-SE QUE SUA AÇÃO NÃO SE LIMITE À PROMOÇÃO DE INOVAÇÕES TÉCNICAS "NO TERRENO", MAS QUE ESTAS PRÁTICAS SIRVAM DE ARGUMENTO EM FAVOR DAS MUDANÇAS ESTRUTURAIS NECESSÁRIAS PARA ENFRENTAR AS CAUSAS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.

O financiamento bilionário dos céticos do clima

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Nos EUA, fundações e think-tanks conservadores recompensam, quase 1 bilhão de dólares ao ano, teóricos que negam mudanças climáticas
A investigação do sociólogo norte-americano Robert Brulle, citada há dias no Le Monde, foi publicada na última edição da revista Climatic Change. Brulle tem estudado a fundo o que chama de “contramovimento sobre as alterações climáticas” nas últimas décadas e identificou 91 organizações com intervenção sistemática no espaço público no sentido de promover o ceticismo sobre as alterações climáticas e impedir mudanças políticas que as combatam.
Entre 2003 e 2010, este investigador calcula que tenham sido injetados 900 milhões de dólares todos os anos por parte de 140 fundações filantrópicas conservadoras, incluindo muitas pertencentes às grandes famílias da indústria do petróleo, minas e do setor financeiro. Em primeiro plano, pelo menos até 2007, estavam as Fundações Koch e ExxonMobil.
Mas a partir daí as contribuições públicas destas organizações encontram-se dissimuladas no Donors Trust e Donors Capital, duas entidades com a mesma morada que passaram a agrupar os donativos daquelas fundações para os redistribuir depois sem a mesma transparência. Do ponto de vista dos investigadores, estas duas entidades “são uma caixa negra” envolta em secretismo, mas Brulle calcula que representava em 2003 cerca de 3% do total de doações a este contramovimento, disparando em 2009 para cerca de 25% do total.
“Este é um movimento político muito bem organizado que abarca diversas componentes, sem grande coordenação mas seguindo a mesma linha. Vemos organizações que se concentram no desenvolvimento de ideias, como os think tanks, grupos de media, publicidade, actividades educativas nas universidades”, explicou Robert Brulle em entrevista à estação pública norteamericana PBS.
Brulle situa este contramovimento na órbita do movimento conservador, ao qual se associou no fim dos anos 80 para se tornar num dos seus grandes temas já neste século.
Para Brulle, assistimos à combinação das fundações filantrópicas da indústria e dos conservadores. “O que eles fizeram foi tomar emprestadas muitas das estratégias e táticas usadas pela indústria tabaqueira para impedir a ação sobre os efeitos do tabagismo para a saúde”, acrescenta o sociólogo da Drexel University de Filadélfia. “Eles usam as mesmas organizações e as mesmas táticas para semear dúvidas sobre se as alterações climáticas serão um problema ambiental sério e verdadeiro”, tal como antes fizeram acerca da ligação entre o tabagismo e o cancro.
“Este movimento teve um verdadeiro impacto político e ecológico no fracasso da ação mundial nesta área. Não creio que tenha sido a única causa que nos impediu de agir, mas julgo que tem sido uma causa importante do atraso das ações para combater as alterações climáticas”, prossegue Robert Brulle.
Este estudo de Robert Brulle é a primeira de três partes de um trabalho mais ambicioso. O sociólogo quer estudar também o financiamento das organizações ecologistas e a seguir fazer a comparação entre os dois movimentos. Para já, Brulle diz que embora o movimento ecologista tenha uma capacidade maior de recolha de fundos do que os céticos das elterações climáticas, a diferença está na forma como gasta esse dinheiro.
Os ambientalistas “procuram gastar o dinheiro no desenvolvimento de soluções para as alterações climáticas, como apoiar a indústria de painéis solares na China, assegurar que toda a gente tem um forno solar na India para reduzir as emissões de CO2, e outras coisas do mesmo género. Raramente gastam dinheiro em processos políticos ou culturais”, que é o grande alvo das despesas do contramovimento dos céticos do clima.
Ou seja, a grande diferença encontrada por Brulle é que “enquanto um movimento realmente tenta desenvolver soluções tecnológicas no terreno, o outro está empenhado na ação política para atrasar qualquer tipo de ação…”.
http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/o-financiamento-bilionario-dos-ceticos-do-clima/

sábado, 9 de janeiro de 2016

HERODES E O MENINO

DESEJO QUE O ARTIGO DE PEDRO DE OLIVEIRA NOS AJUDE A APRENDER, COMO ELE DESTACA, O QUE OS POVOS INDÍGENAS TENTAM HÁ QUINHENTOS ANOS: A VIVER EM PAZ COM ELES - ACOLHENDO SUA CRÍTICA AO SISTEMA CAPITALISTA, QUE INSTAURA A PROPRIEDADE E O LUCRO COMO DEUSES, E QUE, POR ISSO, NEGA VALOR À VIDA, MESMO A HUMANA, NEGANDO O DEUS DA VIDA. 

Herodes e o menino
Pedro A. Ribeiro de Oliveira
Nesse dia seis de janeiro, ao celebrar com a Folia de Reis a visita dos Magos ao menino que amedrontou Herodes, me veio o gosto amargo da derrota sofrida em Imbituba, há apenas uma semana: Herodes mandou degolar mais um menino. Com o requinte de crueldade de ser a criança atacada justamente onde nos sentimos maior segurança – o colo materno.
Se Vitor fosse branco e estivesse com a família em uma praça do Rio ou São Paulo, o crime hediondo estaria em todos os noticiários e provocaria repulsa maior do que as fotos de prisioneiros prestes a serem degolados por terroristas do Estado Islâmico. Mas Vitor é Kaingang e só foi morto porque índio não tem valor para a sociedade capitalista. Não se sabe até o momento de quem é a mão que passou o estilete mortal na garganta do menino. Sabemos, porém, quem são os mandantes do assassinato: grandes proprietários e proprietárias de terra que não respeitam o direito dos Povos Indígenas a terem seu próprio modo de produção e de consumo. Tal como o Herodes bíblico, eliminam até mesmo crianças que possam um dia ameaçar seu poder econômico.
Em outros tempos a Igreja católica não ficaria em silêncio diante de um crime como esse. A nota do CIMI seria acompanhada de uma nota dos bispos e repercutiria por dezenas de milhares de comunidades de base de todo o Brasil. Celebraríamos os Reis magos, com certeza, mas não deixaríamos em silêncio o crime cometido por Herodes apenas uma semana antes. Pediríamos perdão por não termos evitado, com uma legislação e uma educação corretas, o preconceito contra os povos indígenas e nos comprometeríamos com os Santos Reis a tomar outro rumo nos caminhos da história. O sofrimento daquela pequena família Kaingang ao ver seu filho caçula esvaindo-se em sangue deveria dar um sentido mais realista à celebração da Epífania: aprender com os Santos Reis da bela tradição popular, a ver naquela criança degolada o anúncio da Libertação dos Povos Indígenas.

Que neste ano da Misericórdia, ao passar pela porta do jubileu e entrarmos numa igreja, sejamos chamados à conversão e saiamos pela mesma porta para assumir a defesa da Vida das crianças Kaingang, Kayová, Mundurucu e de todos os outros povos que há quinhentos anos querem nos ensinar a viver em Paz com eles.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

MISSA PELO CURUMIM DEGOLADO

COMENTÁRIOS? SÓ OS QUE SERÃO FEITOS POR NOSSAS PRÁTICAS.

Sexta, 08 de janeiro de 2016
Uma missa para o curumim degolado
Meia hora antes do horário previsto para a missa, duas beatas bufavam impacientes pela demora do padre. A poucos metros dali o indiozinho kaigangVitor Pinto, 2 anos, foi degolado. No sétimo dia depois do crime do penúltimo dia de 2015, a comunidade cristã resolveu homenageá-lo. No chão não havia flor ou vela, mas sangue. As beatas venceram o tédio percorrendo as marcas. Os sinais estão lá, sob a sombra da castanheira, em frente a rodoviária da cidade portuária de Imbituba, no sul de Santa Catarina. Dois bêbados que não sabiam do caso se uniram a elas. Aos poucos as pessoas surgiram, mais de cem. Meio-dia em ponto começou a missa. No mesmo horário que Vitor teve a garganta cortada, após ter os cabelos afagados pelo assassino.
A reportagem é de Aline Torres, publicada por El País, 07-01-2016.
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Inscrição em calçada lembra morte de criança indígena.
Foto: CIMI
Concluído o Pai Nosso, o padre Luciano dos Santos pediu licença para complementar a oração doPapa Francisco: “Digamos juntos, de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá”, e acrescentou “nenhuma etnia indígena sem suas terras demarcadas”.
Quando se discute no Congresso mudanças que podem por em xeque a demarcação de terras indígenas no Brasil, o padre recebeu aplausos tímidos dos Guarani, que vieram de aldeias próximas, solidários ao ato.
— Esse padre é índio, né?, perguntou uma mulher.
Foi aberto espaço. A cacique Guarani Kerexu Ixapyry, 35 anos, viajou 93 km para falar.
— Eu temia por esse momento. Os indígenas são vítimas da violência em todo o Brasil. Mas é preciso a tragédia para que nos ouçam. Somos tratados piores que animais. No Mato Grosso do Sul nosso povo está sendo exterminado. Em Santa Catarina somos vítimas de ameaças”, disse a líder, há quatro anos jurada de morte.
Os Guarani entoaram um canto a Nhanderú, deus solar, pela alma do curumim. O padre encerrou seu discurso pedindo aos fiéis que “vençam as diferenças”. “Basta de perseguição”, bradou. Em seguida fez a comunidade repetir três vezes uma expressão: “Somos paz”. Nesse momento, ativistas grafitavam no chão "Vitor Kaingang vive em nós".
Em busca do motivo
Antes que a população se dispersasse, Marina Oliveira, representante do CIMI (Conselho Indigenista Brasileiro), braço da Igreja Católica que milita na causa indígena, fez uma convocatória para irem à delegacia. Foram todos com intuito de entender o “real motivo” do assassino de Vitor.
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Oração pelo menino.
Foto: CIMI
O delegado Rafael Giordani foi cravejado pela curiosidade. No início calmo e depois irritado, ele foi respondendo cada questão. Até que um homem perguntou se a mãe de Vitor tinha reconhecido o suposto criminoso. O delegado disse que não. Mas a mulher, de longos cabelos pretos e voz trêmula, o interrompeu aos gritos: “É sim. É o menino que matou meu filho. Por que vocês querem soltar ele?”.
Era Sônia. Aos 27 anos, mãe de dois filhos, a indígena é a imagem do abandono. Vestia um camisetão rosa, saia azul comprida e havaianas verdes menores que os seus pés. A dor dos últimos dias causou tiques nervosos. As pálpebras e maçãs do rosto tremiam. Na pele há inúmeras feridas e alergias, o olho esquerdo não abre, e apesar de medir 1,5 metro, pesa mais de 80 quilos. O pai de VitorArcelino, 42 anos, ao contrário, tem pinta de pastor. Vestia sapatos pretos fechados, calça social cinza e camisa azul de mangas compridas. O casal é evangélico, apesar de adorar Tupã, deus do Trovão. O sincretismo religioso permitiu a sobrevivência dos Kaingang.
A família chegou atrasada, após 12 horas de viagem de Chapecó, no Oeste catarinense, até Imbituba. Vieram os pais do indiozinho e as lideranças da aldeia Condá, onde vivem, e onde Vitor foi enterrado. Como o umbigo tradicionalmente jogado no solo após o nascimento, o curumim voltou ao ventre da Mãe Terra.
Surpreso com a presença da família, o delegado passou a responder somente aos indígenas. A plateia ora vaiava, ora se excitava. “Se um indígena cortasse a garganta de uma criança branca o Brasil viria abaixo. Quero a mesma indignação pela morte do meu filho”, justificou Sônia.
Com o clamor, o delegado transformou o espetáculo em conversa privada. Na salinha da delegacia, Sônia eArcelino reconheceram os objetos encontrados com Matheus de Ávila Silveira, 23 anos. A mochila, a camiseta, os tênis e as luvas azuis e brancas. O jovem foi preso no 1° dia do ano e aguarda a conclusão do inquérito policial, que levará 30 dias, na Unidade Prisional Avançada de Imbituba, em isolamento. O delegado não tem dúvida sobre a autoria do crime e descreve o autor como “frio e debochado”.
Apesar dessa definição, agentes prisionais contam que Matheus arranca a própria pele, é nervoso. A autoflagelação também ocorria na delegacia de polícia, onde tentou suicídio por asfixia engolindo a espuma do colchão.
O rapaz integrava um grupo de satanistas. Segundo seu amigo Ramon, eram mal vistos na cidade praiana por gostarem de preto e fumarem maconha na praça. Na página do Facebook, Moxa Zombie postava imagens macabras e frases como Nictofilia “qualidade daquele que encontra conforto na escuridão”. No entanto, seu maior culto era às drogas. Não várias publicações exaltando pirações e bebedeiras. Como no dia que conta aos amigos “bebi tanto que mijei toda minha legging”. Apesar do perfil, Matheus não levantou suspeita.
O ataque
Sônia alimentava o indiozinho com colheradas de arroz – era apenas o que tinha naquele momento – quando viu um rapaz “simpático se aproximar”. “Ele veio calmamente. Era bem vestido, classe média. Afagou os cabelos do piá, sorriu. Quando ele olhou para cima para ver quem o tocava aconteceu o pior”, disseSônia.
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Pais de menino degolado mostram cartaz.
Foto: CIMI
Segundo Ronaldo Campos, 33 anos, dono da lanchonete da rodoviária, Matheus “pernoitou em um dos bancos no dia anterior e parecia inofensivo”. Foi Ronaldo e a auxiliar de limpeza, Marize, que estancaram o sangue do pescoço de Vitor enquanto a índia gritava por ajuda. “Não durou dois minutos. Se tivesse uma paramédico ao lado ele não teria sobrevivido, tamanha foi a violência”, disse Ronaldo.
O comerciante atendeu Vitor e sua família desde o dia que desembarcaram no município. “O menininho vinha a tarde inteira com o irmão mais velho, Jessé, buscar doces e geladinhos. Parecia uma formiguinha carregadeira”, contou.
Arcelino trabalhava em outra praia. Comia um salgado frito com refrigerante em um boteco quando ouviu na televisão “um índio foi morto na rodoviária de Imbituba”. Quando chegou no local do crime, viu os chinelos e brinquedos de Vitor espalhados no chão. Sônia não estava, eram quase 18h.
Antes de chegar à delegacia viu a mulher vagando de um lado para o outro, sozinha, na chuva. Ali soube o destino do seu "nenê": “Foi morto por um branco”, disse a mãe. Na rodoviária, sem abrigo ou apoio, permaneceram até a manhã seguinte.
Para o delegado, não se trata de crime étnico. Os kaingang discordam. “Esse menino não é louco. Se fosse, teria matado o primeiro que viu pela frente. Ele escolheu o Vitor, um bebê, no colo de uma indígena. Escolheu porque eram vulneráveis, assim são os índios do Brasil ”, disse a vice-cacique da CondáMárcia Rodrigues.