segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A FERRO E FOGO - UMA JORNADA NO RASTRO DOS TRILHOS DA VALE

CINISMO PURO DA VALE: REPETIR QUE SUA PRÁTICA É "VERDE" E "GERA DESENVOLVIMENTO". VEJAM COMO ISSO É COMPROVADO NESTA REPORTAGEM DA JORNADA ORGANIZADA PELA ARTICULAÇÃO JUSTIÇA NOS TRILHOS, COM APOIO DA ENTIDADE ROSA LUXEMBURGO.

OBRIGADO, VERENA GLASS, POR SEU RELATO REALISTA E POR SUA CRENÇA DE QUE "DESENVOLVIMENTO É OUTRA COISA" 

http://rosaluxspba.org/a-ferro-e-fogo-uma-jornada-no-rastro-dos-trilhos-da-vale/


A ferro e fogo – uma jornada no rastro dos trilhos da Vale

Reflexões sobre uma viagem pelo sudeste do Pará no encalço das múltiplas desintegrações cometidas pela maior mineradora do mundo

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Trem da Vale em trecho da ferrovia que corta o assentamento de Palmares, em Parauapebas
Por Verena Glass, texto e fotos
Em uma manhã muito quente de agosto, um micro-ônibus deixou Marabá, no Pará, carregado de gente para uma viagem pelo sudeste do estado, no rastro das múltiplas desintegrações – de comunidades, de modos de vida, da sustentação, dos territórios, do trabalho, das matas e da terra – cometidas pela mineradora Vale; e também no rastro dos levantes ao longo dos trilhos que carregam para longe o minério de ferro de Carajás. A chamada Caravana Norte, organizada pela Rede Justiça nos Trilhos (fórum de organizações e movimentos sociais que atua junto a comunidades afetadas pela Vale), percorreu durante cinco dias os interiores de Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás e Serra Pelada, tecendo uma espécie de fio condutor entre os vários aspectos da presença da Vale na região, que remonta à década de 1970.
Dos macroimpactos socioambientas do Projeto Grande Carajás, que inclui a mina de ferro Carajás no interior da Floresta Nacional (Flona) de mesmo nome, a hidrelétrica de Tucuruí no Pará, e a estrada de ferro que cruza o sudeste paraense e o estado do Maranhão de Cidelândia a São Luís, pouco já não foi falado. O que a Caravana proporcionou, no entanto, foi a configuração de diferentes situações em um quadro global dolorosamente representativo do reverso des-envolvimento patrocinado pela Vale, em um processo continuo de aprofundamento de danos.

Des-compensação

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Trilha na área dos indígenas Akrãtikatêjê na TI Mãe Maria
Ainda nas cercanias de Marabá, a primeira parada da Caravana foi na Terra Indígena (TI) Mãe Maria, para onde foram realocados à força os indígenas Akrãtikatêjê (Gavião da Montanha) após remoção de seu território durante a construção de Tucuruí na década de 1970. A TI – onde já viviam os Gavião Parkatejê e Gavião do Oeste -, é cortada pela estrada de ferro Carajás, atualmente em processo de duplicação.
Em Mãe Maria, além dos impactos da ferrovia, a perversidade da presença da Vale assumiu contornos maiores ao dar alma à máxima sobre “a força da grana que ergue e destrói coisas belas”. Há anos, como forma de compensação pelos danos sofridos, os indígenas vinham recebendo da mineradora valores mensais que, apesar de fundamentais para a sustentação de projetos de saúde e educação, segundo relata uma liderança local “foi dinheiro que deixou o povo acomodado e as roças abandonadas, mudou nossa cultura e os hábitos alimentares”.
No início deste ano, após um protesto pela revisão do convênio com a Vale que interditou a ferrovia, a empresa decidiu romper unilateralmente o contrato e suspender o repasse de verbas, o que mergulhou as comunidades em uma profunda crise. “Estávamos mal com o dinheiro, estamos pior sem”, reflete a liderança Akrãtikatêjê. Agora, prossegue, a luta é pela reconstrução de uma unidade esfacelada pelo dinheiro, em torno de um novo projeto de dignidade e autonomia. “Precisamos nos reorganizar, refazer as roças, reaprender a viver do nosso jeito antigo. Mas ainda assim, precisamos do recurso…”.
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Criança Akrãtikatêjê na TI Mãe Maria

Ferro

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Mina de ferro a céu aberto na Flona Carajás
A segunda parada da Caravana foi em Parauapebas, à boca da maior mina de ferro à céu aberto do mundo, no interior da Flona Carajás. Criada em 1998, a Unidade de Conservação nasceu já em regime de exceção, uma vez que no decreto que a instituiu foi outorgada à recém-privatizada Vale o direito de lavra sobre todas as jazidas de minério (ferro, manganês, cobre, níquel e ouro) no seu interior. Ou seja, diferente das demais Florestas Nacionais, onde se permite legalmente a exploração dos recursos florestais de forma não impactante, a exploração mineraria, atividade intrinsecamente degradante dos solos e da vegetação local (um misto de floresta amazônica e cerrado, considerada de “extremamente alta prioridade para a conservação da biodiversidade brasileira”), foi definida como “sustentável”.
A Vale tem cindo jazidas em exploração no interior da Flona (N4E, N4W, N5E, N5W, N5 Sul). Em 2013, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu à mineradora a licença para uma nova mina – a S11D, “o maior projeto da história da Vale” -, prevista para entrar em operação em 2016; isso a despeito das nove autuações por infrações ambientais cometidas pela empresa entre 2005 e 2012, e do fato de, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, responsável pela administração da Flona, a Vale nunca ter pago as compensações ambientais pelos impactos não mitigáveis de suas atividades.
O malabarismo jurídico-ambiental que envolveu a criação da Flona Carajás, em contradição com a legislação ambiental e o ordenamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), leva a crer que seu proposito nunca foi a proteção da biodiversidade; se configura muito mais em uma manobra que reservou e deu exclusividade de exploração dos recursos minerais à Vale. Sem direito de apelação.
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Vegetação amazônica no interior da Flona Carajás, desprotegida diante da expansão mineraria da Vale

Fogo

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Batentes da ferrovia Carajas em chamas
Na terceira parada, a Caravana desceu aos trilhos da ferrovia Carajás no trecho que corta o assentamento Palmares, em Parauapebas. Ocupada por mais de 100 famílias do MST, a estrada de ferro naquele momento estava em chamas, como protesto e forma de pressão tanto sobre a Vale quanto sobre o governo federal, ambos em dívida com assentados e sem-terra.
De acordo com o movimento, os impactos dos trens da Vale que passam dia e noite e os linhões da empresa que atravessam os territórios de assentamento nunca foram compensados. O que se quer, explicaram os manifestantes, é o mínimo; asfaltamento de estradas, cercas às margens da ferrovia para evitar o atropelamento de animais, indenização pelos já mortos, túneis por baixo dos trilhos para possibilitar deslocamentos, indenização pelas minas de água destruídas. Do governo, se exige medidas definitivas de assentamento das famílias que continuam sem respostas nos 11 acampamentos da região. Demandas que existiram desde sempre e tempos passados e, na atual conjuntura, podem se perder num futuro sem horizonte se não permanecer acesa a obstinação da resistência, explicam os sem-terra.
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Protesto de integrantes do MST na estrada de ferro Carajás

Terra e trabalho

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Acampamento da retomada de Planalto Serra Dourada, vila de Bom Jesus, Canaã dos Carajás
A quarta parada da Caravana foi nos arredores de Canaã dos Carajás, município onde a Vale explora a mina de cobre Vale do Sossego, e que engloba a área da Flona Carajás onde deve ser instalada a mina de ferro S11D. Reunidos no galpão da igreja da vila de Bom Jesus sob um calor causticante e abafado, moradores, agricultores, lideranças sindicais e comunitárias, e muitos desempregados, desfiam um rosário de penas relacionadas à atuação da mineradora na região.
Da contaminação dos rios e outras fontes de água pelos efluentes tóxicos de Sossego às enchentes causadas pelos seus dejetos; dos danos às estruturas de casas causadas pelas explosões na mina à “compra” compulsória de terras dos agricultores; do muito desemprego, crescente a cada mês em função de uma política de cortes de gastos e aumento de receitas da empresa, aos despejos forçados: de acordo com a população local, a Vale desgraçou a vida de muitos. “Eles usam ácido clorídrico e mercúrio na extração do cobre, vaza pros rios e mata tudo. Com as explosões na mina, até ovo de galinha não está chocando mais porque estoura junto”, diz seu Volnei, que, depois e anos trabalhando na mineradora, está desempregado.
Os desterros e despejos compulsórios, segundo os moradores de Bom Jesus, ocorreram tanto no processo de desapropriação das áreas onde a mina foi instalada, quanto nos arredores onde a empresa argumenta ter constituído sua reserva legal. E foi nestas áreas que dois grupos diferentes promoveram duas retomadas e montaram os acampamentos Grotão do Mutum e Planalto Serra Dourada. Ambas as áreas eram originalmente assentamentos do Incra – consequentemente terras da União -, e, apesar de declarar posse, a empresa não apresenta documentação de propriedade. Com seus 20 e tantos anos, Marcio resume: “como estou desempregado, ao invés de ficar em casa vendo TV vim pro acampamento fazer luta pelo que é nosso. E ver se, na nossa mão, a gente salva o pouco de mato e do rio Sossego que a Vale ainda não estragou”.
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Desmatamento da Vale às margens do rio Sossego em área retomada pelo acampamento Planalto Serra Dourada

Buraco na terra e na alma

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Montagem com foto de Sebastião Salgado de Serra Pelada em 1981, e túnel da Colossus Minerals em 2015
Serra Pelada, o formigueiro de gente que abismou o mundo ao ser exposto pelas lentes do fotógrafo Sebastião Salgado na década de 1980, foi a penúltima parada da Caravana, coroando de melancolia o recorrido dos últimos cinco dias. Talvez por ser domingo, ou talvez por simplesmente serem passagem de nada além de antigas memórias, as ruas empoeiradas de Serra Pelada estavam desertas. Ladeadas por casas de madeira que fazem lembrar os velhos filmes de faroeste, sua monotonia só é quebrada pela profusão de flores coloridas que transbordam aqui e ali dos pequenos jardins.
Depois do delírio da febre do ouro que marcou a vilazinha e a vida de milhares de garimpeiros, o enorme buraco cavado com pás e unhas para retirada do minério hoje é um lago tranquilo. Não sobrou nada de antigamente, diz um velho ex-garimpeiro que fumava solitário um palheiro na varanda de sua casa.
“E hoje, o senhor vive de que?”
“A gente veve de sonho, fia. A esperança já levaram faz tempo. Você não quer comprar a minha Kombi? Estou vendendo”
Em tese, toda região adjacente ao que foi o garimpo de Serra Pelada é de posse da Vale, que tira minério de ferro na Serra Leste. Não há muita relação entre a empresa e os habitantes da vila, que vive de ilusão, conta seu Pedro, gaúcho que chegou há tempos para fazer dinheiro, perdeu tudo e nunca partiu. A maior dessas ilusões, continua, é um enorme túnel de 2 km, oco e abandonado, escavado em 2010 para debaixo do caldeirão da mina original, hoje lago.
O buraco que leva para abaixo do outro buraco foi um projeto de parceria entre a cooperativa dos garimpeiros de Serra Pelada e a mineradora canadense Colossus Minerals. Havia uma estimativa de que as profundezas da terra ainda resguardam cerca de 50 toneladas de ouro. Mas os canadenses captaram uma dinheirama, aplicaram um tanto na escavação, enfiaram outro tanto no bolso e sumiram, contam dois garimpeiros que montam guarda nas ruínas do que sobrou da estrutura do projeto, na boca do túnel. “O pessoal da Colossus enganou os investidores e desapareceu. Hoje estamos tentando negociar a retomada dos trabalhos com uma empresa japonesas, temos esperança que isso aqui volte a funcionar. No meio tempo, montamos guarda”, diz o garimpeiro, enquanto cospe um caroço de jabuticaba, limpa as unhas com o canivete e deixa o olhar vagar para o nada.
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Rua melancolicamente deserta num domingo de manhã na vila de Serra Pelada
Sob um calor escaldante de uma manhã de agosto, o micro-ônibus coberto de poeira deixou Serra Pelada carregado de gente rumo a Marabá. Faz uma pequena parada na Curva do S, onde há 19 anos a polícia matou 19 sem-terra para liberar o trafego para a Vale na rodovia que liga Eldorado dos Carajás a Marabá, ocupada naquele 17 de abril de 1996 pelo MST em luta por reforma agrária. Silenciosa, a Caravana faz uma prece de cabeça baixa, e segue seu rumo.
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Monumento em homenagem aos 19 sem-terra assassinados na Curva do S em Eldorado dos Carajás
Depois de tanto “sem” – compensação, direitos ambientais, direitos sociais, terra, trabalho e esperança – no caminho da Caravana, uma ideia renitente toma o pensamento: que a única reparação para tanta terra e gente arrasadas ao longo de anos e anos de desmantelo é um último e grande “sem”: sem Vale, mineradora, mineração. Porque desenvolvimento não é isso. É outra coisa.
A Caravana Norte fez parte do projeto de parceria da Fundação Rosa Luxemburgo com a Rede Justiça nos Trilhos. Para mais informações sobre a atuação da Vale e os impactos do Complexo Grande Carajás, clique aquí

"ECONOMIA VERDE" VIOLA DIREITOS NO ACRE

O CITADO RELATÓRIO PODE SER ACESSADO NO LINK http://www.plataformadh.org.br/files/2015/08/economia_verde_relatorio.pdf  E FOI ELABORADO PELA PLATAFORMA DHESCA A PARTIR DA MISSÃO DE INVESTIGAÇÃO E INCIDÊNCIA. NO FINAL, HÁ RECOMENDAÇÕES AOS RESPONSÁVEIS POR ESSE TIPO DE FALSA SOLUÇÃO NEOLIBERAL.


Relatório denuncia violação de Direitos por causa do modelo de economia verde no Acre

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Foto tirada durante manifestação em 2013. Foto: Lindomar Padilha

Por Lindomar Padilha – Cimi Amazônia Ocidental

Cantada e decantada como modelo, a farsa da economia verde do Acre, baseada na financeirização da natureza, cai por terra e é denunciada em um contundente relatório divulgado no último dia 28 em evento internacional, justamento no momento que defensores dessa farsa se encontravam em Rio Branco para ouvirem a ex-senadora Marina Silva e o atual senador Jorge Viana.

O relatório intitulado Economia Verde, Povos das Florestas e Territórios: violações de direitos no Estado do Acre denuncia graves violações de direitos humanos, ambientais e territoriais no Estado do Acre e aponta a farsa da economia verde como responsável. Entre as denúncias estão a falta de consulta às comunidades, criação e alterações legislativas sem o devido debate, como foi o caso da  aprovação da lei 2.308 de 22 de outubro de 2010, conhecida como lei Sisa e que abre os territórios ao capitalismo verde e à financeirização da natureza, a utilização de recursos internacionais para realização de supostas oficinas com o intuito de convencer as comunidades e os povos indígenas a aceitarem mecanismos como o REDD+ que visam a apropriação dos territórios via mercado de carbono, falta de transparência no uso e aplicação dos recursos contraídos no exterior entre outras gravíssimas violações.

A não demarcação das terras indígenas é apresentada como intenção de "liberar essas terras para o mercado de carbono". Também a falta de clareza e verdade na relação com esses povos cada vez mais os empurra para uma dependência direta do Estado do Acre e de ONGs com intenções pouco nobres e que dependem de convênios com o Estado para continuarem sobrevivendo.

Projetos específicos de REDD, como os do Serigais Russas e Valparaíso em Cruzeiro do Sul e o projeto Purus, em Manoel Urbano, também figuram no relatório como forma de apropriação e espoliação desses territórios ao mesmo tempo em que se apresentam como solução. Aliás, um aspecto interessantíssimo do relatório é justamente desmascarar essas "falsas soluções".

O modelo de economia verde no Acre, baseado na financeirização da natureza, em si mesmo, representa uma gravíssima violação de direitos e serve tão somente para que empresas e ONGs sigam abastecendo seus cofres às custas de nossas vidas e através da exploração irracional dos bens comuns e, que por serem comuns, pertencem a todos nós e nem o estado e muito menos empreendimentos privados, podem se apropriar. Por isso, essas questões dizem sim respeito a todos nós e não podemos deixar que um pequeno grupo decida sobre o uso desses bens comuns a seu bel prazer.

E antes que imprensa e marqueteiros muito bem remunerados para transformar mentiras em verdades venham a dizer que não apresentamos alternativas, veja as recomendações do relatório. Nossas alternativas e soluções são baseadas na verdade, na transparência e não no acúmulo a qualquer preço. Nossas soluções não são dentro do modelo, mas fora dele. A financeirização da natureza e da vida como um todo é antes, morte. Só há uma saída para nosso planeta, a defesa dele mesmo.

TRANSPOSIÇÃO: DE QUAL SÃO FRANCISCO?

O QUE ESTÁ ACONTECENDO ERA CLARAMENTE PREVISÍVEL QUANDO HOUVE AS TENTATIVAS DE MOBILIZAÇÃO PARA EVITAR O PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO. LULA NÃO DEU BOLA, CHEGOU A SER FALSO COM O BISPO EM GREVE DE FOME, QUIS MOSTRAR QUE ERA MAIS PODEROSO QUE DOM PEDRO II... 

E AGORA, DE ONDE SERÁ TIRADA A ÁGUA A SER TRANSFERIDA PARA O CEARÁ E OUTROS ESTADOS? JÁ ESTÃO BRIGANDO PARA QUE VENHA DO TOCANTINS, EM MAIS UMA OBRA QUE MESMO A PRESIDENTE DILMA DECLAROU EXIGIR "BILHÕES E BILHÕES"! 

ATENÇÃO, TEIMOSOS MESTRES DO MAIS DO MESMO EQUIVOCADO E CRIMINOSO DESENVOLVIMENTO CENTRADO NO CRESCIMENTO ECONÔMICO SEM DÓ NEM PIEDADE: SE A OBRA DE TRANSPOSIÇÃO DO TOCANTINS FOR IMPLANTADA, HAVERÁ ÁGUA NELE QUANDO FOR INAUGURADA? AFINAL, HÁ CRISE HÍDRICA NO CERRADO, E SE ELE NÃO FORNECER ÁGUA, O TOCANTINS BAIXARÁ, E TALVEZ NÃO MANTENHA NEM AS HIDRELÉTRICAS EXISTENTES NELE...

A CRISE HÍDRICA PODE VIRAR TRAGÉDIA HÍDRICA. PODEMOS EVITAR ESSE DESASTRE, MAS NÃO PODEMOS BRINCAR COM A NATUREZA NEM COM O TEMPO...

Transposições de Pirro.
- O pânico da irrigação do vale do São Francisco –

Roberto Malvezzi (Gogó)

A transposição de águas do Tocantins para o São Francisco tomou conta da mídia de Juazeiro e Petrolina por esses dias. Juntos, autoridades e empresários do setor pedem imediata transposição para salvar seus projetos irrigados.

O pedido chegou a ser feito diretamente pelo prefeito da cidade à presidenta Dilma quando ela veio inaugurar mais unidades do “Minha Casa, Minha Vida” aqui em Juazeiro.

A presidenta respondeu que uma obra como essa demanda “bilhões e bilhões”. Será que o obreireismo da presidenta tomou algum juízo?

Na semana seguinte Dilma inaugurou simbolicamente o Eixo Norte da Transposição do rio São Francisco para regiões do Ceará e Rio Grande do Norte. Nem o governo, nem Dilma, nem a mídia do São Francisco fizeram qualquer vinculação entre as transposições e o assassinato do Velho Chico.

O fato é que o São Francisco está com apenas 900 m3/s no lugar que mais tem água, isto é, à jusante de Sobradinho em direção à Itaparica. Quando o governo discutia conosco a Transposição do São Francisco para o Nordeste Setentrional, nos garantia que a vazão segura a partir de Sobradinho era de 1800 m3/s.

Portanto, a água garantida pelas autoridades e corporações técnicas simplesmente não existe mais.

O debate dos irrigantes na região é que, se não chover até Setembro, alguns projetos de irrigação terão seu acesso à água interrompido por absoluta falta dela nas áreas de captação. Assim, o projeto Nilo Coelho em Petrolina, com 12 núcleos, teria que fazer um flutuante de cerca de 4 km para captar água no lago de Sobradinho. O custo está orçado em mais de 60 milhões de reais.

O Maniçoba, em Juazeiro, que capta no leito do rio abaixo de Juazeiro, teria que fazer um flutuante para captar no meio do rio. A derrubada do barranco, com máquinas, para aproximar a tomada de água, não surtiu efeito.

Então, duas cidades montadas em torno da irrigação, de repente veem seus projetos ameaçados de irem para o balaio exatamente por falta de água. Daí o desespero de pedir a transposição do Tocantins para o São Francisco.

Há uma tremenda ilusão a esse respeito, já que apenas expande o modelo predador. Uma obra dessas leva décadas e custa bilhões. Segundo, é o atestado de óbito do São Francisco. É como dizer: “o São Francisco não tem salvação, agora a salvação é transpor o Tocantins para cá”.

A região é o exemplo do modelo insustentável de desenvolvimento. A expansão da demanda de água ilimitada agora mostra seus limites. Como sempre dissemos, a inflexão só viria com os impasses. E eles se fazem cada vez mais assombrosos também para o setor econômico.

Só para lembrar, a transposição do São Francisco para o Setentrional nem começou. Portanto, se falta água hoje até para os projetos de irrigação de Juazeiro e Petrolina, onde vão achar água para expandir o modelo baseado na irrigação para outros estados?

Esse poço não tem fundo, mas o São Francisco tem.  

domingo, 30 de agosto de 2015

O BURACO NEGRO DAS FINANÇAS GLOBAIS

VEJAM MAIS DADOS SOBRE A DOMINAÇÃO ABSURDA DO CAPITAL FINANCEIRO, COMANDADO PELO SISTEMA PRIVADO DE BANCOS, SOBRE A VIDA EM SOCIEDADE. 

VEJAM IGUALMENTE AS SUGESTÕES PARA ENFRENTAR ESSE ROUBO QUE SE INSTITUCIONALIZOU COMO DIREITO... 

Um olhar sobre o buraco negro das finanças globais

OUTRAS PALAVRAS - 30 de agosto de 2015
Mensagem gravada em muro em 2011, durante a revolta dos Indignados na Espanha
Mensagem gravada em muro em 2011, durante a revolta dos Indignados na Espanha
Livro de Ellen Brown revela como bancos organizam, dia a dia, apropriação da riqueza social. Sua alternativa: reinventar um sistema bancário público
Resenha de Ladislau Dowbor

Resenha de:
The Public Bank Solution: from Austerity to Prosperity
Por Ellen Brown 
Third Millenium Press, Baton Rouge, 2013, 471p.
Disponível (em inglês) na Amazon ou (diversos capítulos) no
 site da autora
Ellen Brown vai direto ao ponto: “Os bancos são de propriedade e controle privados, com o mandato de servir aos interesses limitados dos seus acionistas; e esses interesses e o interesse público frequentemente entram em conflito. O que é bom para Wall Street não é necessariamente bom para a economia…O edifício bancário privado constitui uma máquina massiva cujo objetivo principal é o de se manter a si mesmo. O que está sendo preservado é uma forma extrativa de atividade bancária que está se provando ser insustentável, e que atingiu os seus limites matemáticos. Um parasita que devora a sua fonte de alimentação e que perecerá junto com a sua fonte de alimentação”.(419) Quando vemos no Brasil o Banco Itaú aumentando em 22% nos últimos 12 meses os seus lucros já fenomenais, numa economia parada, temos de prestar atenção. Este enriquecimento vem de onde?
150829-PublicBanksO caos planetário gerado pelos sistemas financeiros privados, tal como existem desde a desregulação a partir dos anos 1980, só não vê quem não quer. E também – isto é crucial – quem não tem acesso a informações sobre como funcionam, e isto significa a imensa maioria da população. Professores, advogados, engenheiros, políticos dos mais variados tipos, com algumas honrosas exceções, simplesmente não entendem. Na realidade, não há tanto mistério nisto, pois apesar do dinheiro sob suas diversas formas ser na era moderna o principal vetor de organização da sociedade, por alguma razão os seus mecanismos não figuram em nenhum currículo escolar. Mesmo nos cursos superiores, simplesmente não figura, a não ser em economia, e ainda assim na versão assexuada, ou seja, aquela que não implica entender quem efetivamente se apropria do dinheiro e de que maneira, pois isso já seria política.
Depois de ter deixado a sua forma material – ouro ou outra expressão que tem valor em si – e depois de ter abandonado até o papel-moeda que hoje tem importância marginal, o dinheiro passou a ser apenas uma notação magnética, imaterial, com imensa volatilidade, podendo ser criada e transferida na velocidade da luz. Os mecanismos deste universo planetário são dominados por grandes corporações, em particular os 28 bancos “sistemicamente significativos”, onde trabalham especialistas que estes sim entendem tudo deste novo universo, onde o enriquecimento não se atinge produzindo riquezas, como no bom velho capitalismo, mas gerando sinais magnéticos que dão aos seus detentores direitos sobre o produto dos outros.
Joseph Stiglitz chamou justamente a atenção para a importância desta “assimetria de informação”. Um número crescente de instituições hoje trabalham para cobrir o fosso, como o Tax Justice Network, o Global Financial Integrity e muitas outras, além de pesquisadores como o hoje indispensável Thomas Piketty. O sucesso deste último, aliás, não se deve a qualquer genialidade particular, mas ao fato de ter explicitado como o sistema funciona. E quem leu, passa a entender, e esta coincidência entre a explicação e o universo que vemos é que gera o sucesso. Passamos a entender. Isto é boa ciência.
Piketty explica uma dimensão global: quando os ricos, em vez de investir, passam a fazer aplicações financeiras, ganhando dinheiro com dinheiro e não com a produção de sapatos, e quando esta forma de ganhar dinheiro permite inclusive se apropriar do lucro de quem produz, o sistema se desequilibra. É a tal da financeirização. A importância de entender os mecanismos não se deve a um preciosismo intelectual, mas ao fato de que deveremos cedo ou tarde por ordem no sistema. Hoje 85 famílias detêm (essencialmente sob forma de sinais magnéticos que são “direitos”) mais riqueza do que a metade mais pobre da humanidade, 3,5 bilhões de pessoas que labutam seriamente. Não é mais possível não ver o elefante no meio da sala.
O aporte de Ellen Brown é diferente do de Thomas Piketty: ela destrincha o funcionamento concreto dos bancos, de como se organiza no dia a dia esta apropriação de riqueza por quem não produz. A orientação dela é clara: o setor público tem de recuperar o controle da emissão desses “direitos”, e assegurar que o financiamento sirva a financiar o desenvolvimento. Subversivo? O artigo 192 da nossa constituição determina que o sistema financeiro nacional seja “estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e servir aos interesses da coletividade”, fixando ainda um limite às taxas de juros reais, sendo que “a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei irá determinar.” A lei, evidentemente, não determinou nada, pois as eleições são financiadas livremente pelas corporações, segundo lei de 1997, aliás rigorosamente inconstitucional.
Nesta era de caos financeiro, o livro de Ellen é muito bem-vindo. A primeira parte é um resgate do processo histórico, de Wall Street a Beijing, o que ajuda a entender como se articulam as instituições criadas e os grandes grupos de interesses. Os inúmeros exemplos tanto das iniciativas de regulação como da organização diferenciada segundo os países – a Alemanha com os seus sparkassen, a Polônia com as suas cooperativas de crédito, a China com os seus sistemas descentralizados de gestão financeira, o próprio papel da nossa Caixa Econômica Federal e muito outros – ajudam a entender que este universo pode sim ser resgatado aplicando soluções de comprovada eficiência. O estudo fecha com propostas de uma nova teoria monetária, o que ajuda muito.
Uma belíssima leitura, tapando um imenso buraco negro de informação não só na academia como na população instruída em geral. Um amplo glossário dos termos técnicos ajuda muito. Não é um livro para economistas, e sim para qualquer pessoa com boa formação que queira entender para onde vamos.

CIDADES LIVRANDO-SE DA DITADURA DO AUTOMÓVEL

RECEITA NECESSÁRIA: AMOR À VIDA, VONTADE POLÍTICA PARA PRIORIZAR TRANSPORTE COLETIVO DE BOA QUALIDADE, DE PREFERÊNCIA MOVIDO COM ENERGIA SOLAR. 

Trinta fotos contra a Ditadura do Automóvel
OUTRAS PALAVRAS – 29 DE AGOSTO DE 2015
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Imagens demonstram: quando desafiam paradigma automobilístico, sociedades são capazes de construir espaços urbanos agradáveis, igualitários e acolhedores
Proporcionar mais espaço aos pedestres é uma das principais metas dos projetos de renovação urbana em muitas cidades do mundo.
Recorrendo à distribuição do espaço público, que implica, muitas vezes, em restringir o espaços dos automóveis – seja nas ruas ou estacionamentos -, plantar mais árvores, construir mais calçadas e ciclovias e estabelecer novas zonas de lazer, é possível projetar lugares mais acolhedores, com menos congestionamento viário e que fomentam o uso de meios de transporte sustentáveis, como as caminhadas e o ciclismo.
Visando divulgar as renovações que mudaram o desenho das cidades, o coletivo brasileiro Urb-I, composta por arquitetos e urbanistas, iniciou o projeto Antes/Depois, que, como diz seu nome, mostra como era as ruas no passado e como são hoje, expondo indubitáveis mudanças em seus desenhos.
O projeto tem caráter colaborativo, então, qualquer pessoa pode recorrer ao Google Street View ou outra ferramenta para divulgar as mudanças que estão acontecendo em sua cidade.
Veja, a seguir, a renovação de alguns espaços urbanos.
Padre Alonso de Ovalle, Santiago de Chile. Cortesia de Urb-I
Apoquindo, Santiago de Chile. Cortesia de Urb-I
Bank St., Adelaida, Austrália. Cortesia de Urb-I
Bank St., Adelaida, Austrália. Cortesia de Urb-I
Boulevard Ion C., Bucarest, Rumania. Cortesia de Urb-I
Boulevard Ion C., Bucarest, Rumania. Cortesia de Urb-I
Forth St., Auckland, Nova Zelânda. Cortesia de Urb-I
Forth St., Auckland, Nova Zelânda. Cortesia de Urb-I
Griffith Park Boulevard, Los Angeles, Estados Unidos. Cortesia de Urb-I
Griffith Park Boulevard, Los Angeles, Estados Unidos. Cortesia de Urb-I
Minquen W Rd, Taipei, Taiwan. Cortesia de Urb-I
Minquen W Rd, Taipei, Taiwan. Cortesia de Urb-I
Calle Marqués de Leganés, Madri, Espanha. Cortesia de Urb-I
Coenties Slip, Nova York, Estados Unidos. Cortesia de Urb-I
Regnbuepladsen, Copenhague, Dinamarca. Cortesia de Urb-I
Rue St. Hubert, Montreal, Canadá. Cortesia de Urb-I
R Sacadura Cabral, Rio de Janeiro, Brasil. Cortesia de Urb-I
R Nova do Carvalho, Lisboa, Portugal. Cortesia de Urb-I
Plaza Tiradentes, Rio de Janeiro, Brasil. Cortesia de Urb-I
Dutch Kills Green, Queens, Nova York, Estados Unidos. Cortesia de Urb-I
Palace St., Dublin, Irlanda. Cortesia de Urb-I
Avenue General Brosset, Lyon, Francia. Cortesia de Urb-I
Avenue Shamrock, Montreal, Canadá. Cortesia de Urb-I
Agias Sofias, Salónica, Grécia. Imagem 2015 por Kosmas Anagnostopoulos. Cortesia de Urb-I
Av. Duque de Ávila, Lisboa, Portugal. Cortesia de Urb-I
Avenida Francisco I Madero, Cidade do México. Cortesia de Urb-I
Avenida José Larco, Lima, Peru. Cortesia de Urb-I
Avenue General Brosset, Lyon, Francia. Cortesia de Urb-I
Stationsstraat, San Nicolás de Flandes, Bélgica. Cortesia de Urb-I
Strada Halelor, Bucarest, Romênia. Cortesia de Urb-I
Strada Halelor, Bucarest, Romênia. Cortesia de Urb-I
Times Square, Nova York, Estados Unidos. Cortesia de Urb-I
Venn St., Londres, Reino Unido. Cortesia de Urb-I
Young St., Southport, Austália. Cortesia de Urb-I
Shlomtsiyon HaMalka, Jerusalém, Israel.Cortesia de Urb-I
Cita:Gaete, Constanza Martínez. “Antes/Depois: 30 fotos que mostram que é possível projetar para os pedestres” [Antes / Después: 30 fotos que demuestran que es posible diseñar pensando en los peatones] 27 Ago 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Romullo Baratto) Acessado 29 Ago 2015.