quinta-feira, 30 de junho de 2011

CÓDIGO FLORESTAL: O QUE A SOCIEDADE PODE FAZER?


Está no Senado o “novo” Código Florestal aprovado pela Câmara Federal. As pressões dos deputados e dos setores por eles representados insistem que o Senado deve aprovar o texto votado na Câmara. Por outro lado, as expectativas dos setores que consideram esse texto um atraso e um desastre ambiental são de que o Senado o modificará profundamente. Quem estará mais próximo do que acontecerá?

Vale a pena fazer um exercício de cenários: se as modificações do Senado forem superficiais, tornando desnecessário o retorno à Câmara, a presidente Dilma receberá uma proposta de Código que deverá vetar, se ficar firme em sua palavra; se as modificações forem profundas, o texto voltará à Câmara, e lá, com certeza, terá incluídas novamente as principais mudanças já aprovadas – e neste caso, uma vez mais a presidente Dilma deverá vetar a proposta.

Qual será a provável reação da Câmara Federal ao veto ou vetos da Presidente? Pelo que se viu até agora, haverá uma proposta de derrubada do ou dos vetos e, mais uma vez tendo presente o que ocorreu até agora, com alta probabilidade de ser aprovada. Com isso, a presidente entrará na história como pessoa coerente e responsável, mas derrotada, inclusive por parte significativa do que deveria ser sua base parlamentar.

Diante desses prováveis cenários, o que se deve fazer? O que deve fazer a sociedade brasileira, que conta, segundo levantamento publicado pela Folha de São Paulo, com 80% de pessoas contrárias a mudanças que aumentem o desmatamento? O que devem fazer de modo especial os movimentos e entidades que consideram um crime ambiental e contra a vida o projeto aprovado até agora pela Câmara Federal?

É claro que uma primeira atitude é continuar pressionando, agora os senadores, em favor de um projeto responsável de Código Florestal, contra o elaborado pelo deputado Aldo Rebelo e aprovado pela Câmara. Mas isso, se os cenários acima estiverem corretos, de qualquer forma levará a presidente Dilma à prática do veto, que é sempre um ato solitário e que, neste caso, expõe-se à derrota, com graves conseqüências de isolamento institucional.

Por isso, creio ser necessário dar-se conta de que este não é o único caminho constitucional para aprovar ou não mudanças numa lei de tantas conseqüências para todas as formas de vida. Tanto a população como a Presidente podem e, eventualmente, devem acionar a soberania popular através de um Referendo nacional. 

Como todo o poder emana do povo, ele pode ser exercido de forma direta ou indireta, através de representantes. Como os representantes estão decidindo sobre algo que afetará gravemente a vida das pessoas, dos demais seres vivos e da própria Terra sem ter feito consulta ao povo; pior, como muitos estão decidindo em causa própria, até perdoando-se dívidas e ampliando privilégios; como os representantes, ao agirem desta forma estão colocando em cheque a Presidente da República, gerando grave conflito entre os poderes constitucionais, todos eles com fonte de poder na cidadania – estão criadas as condições para que a cidadania popular seja convocada a decidir de forma direta e soberana, definindo se o Código Florestal atual deve ou não ser modificado, e se o for, decidir sobre as mudanças mais significativas e de maior impacto.

Sou de opinião que as entidades e movimentos da sociedade civil deveriam agir com este horizonte de prática democrática. Se não houver condições e tempo para exigir a consulta soberana através do Referendo antes de o Congresso tomar sua decisão, que ele seja recurso constitucional para sancionar ou não a própria decisão dos representantes, pois não são detentores da última palavra.
                        Ivo Poletto

quarta-feira, 29 de junho de 2011

BRASIL TEM CARGA TRIBUTÁRIA LEVE PARA RICOS

Como referi em texto anterior, os mais ricos são privilegiados no Brasil: pagam pouco imposto sobre a renda, e os impostos sobre os produtos pesam pouco em seu bolso. Vejam dados no texto que segue.


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Divulgando!

De: Lucidio Bicalho Barbosa [mailto:lucidio@inesc.org.br]
Enviada em: terça-feira, 21 de junho de 2011 11:24
Assunto: BBC Brasil: Brasil tem carga tributária 'leve' para ricos, diz estudo

Olá,
Compartilhando outra notícia sobre a carga tributária menor para os que ganham mais.
abç,

BBC Brasil

Brasil tem carga tributária 'leve' para ricos, diz estudo
Atualizado em  21 de junho, 2011 - 07:51 (Brasília) 10:51 GMT

Contando impostos diretos e indiretos, brasileiros pagam 41% de carga tributária
Um levantamento de uma associação internacional de consultorias indicou que o Brasil tem uma carga tributária considerada leve para as classes mais altas.
Segundo a rede UHY, com sede em Londres, um profissional no Brasil que recebe até US$ 25 mil por ano – cerca de R$ 3.300 por mês – leva, após o pagamento de imposto de renda e previdência, 84% do seu salário para casa.
Já os profissionais que recebem US$ 200 mil por ano – cerca de R$ 26.600 por mês – recebem no final cerca de 74% de seu pagamento.
Entre 20 países pesquisados pela UHY, essa diferença de cerca de 10 pontos percentuais é uma das menores.
Na Holanda, onde um profissional na faixa mais baixa recebe um valor líquido semelhante ao do Brasil após os impostos e encargos (84,3%), os mais ricos levam para casa menos de 55% do salário.
A lógica também se aplica a todos os países do G7, o grupo de países mais industrializados do mundo (EUA, Canadá, Japão, Grã-Bretanha, Alemanha, França e Itália).
Nos EUA, enquanto os mais ricos levam para casa 70% do salário, os profissionais na faixa dos US$ 25 mil anuais deixam apenas um décimo da renda para o governo e a previdência.
Tributação ‘esdrúxula’
O representante da UHY no Brasil, o superintendente da UHY Moreira Auditores, Paulo Moreira, disse que a pesquisa revela o caráter “esdrúxulo” da carga tributária brasileira.
Com grande parte dos impostos sendo coletada de forma indireta, a carga tributária brasileira total supera a tributação à pessoa física, e é estimada em 41%.
Como esses tributos circulam embutidos nas mercadorias e serviços consumidos pelos contribuintes, aplicam-se de forma igual a ricos e pobres, explica.
Para Moreira, entretanto, essa suposta “justiça” tributária é ilusória, porque as classes mais altas têm formas de evitar o pagamento de impostos sobre consumo fazendo compras no exterior ou recorrendo a outros artigos de consumo.
“Se o sujeito ganha R$ 3 mil, a renda dele tem de ser praticamente consumida em bens de consumo geral: sabonete, comida, arroz, roupas, gasolina, as coisas que são de grande consumo e que são taxadas com mais rigor”, explica o especialista.
Salários líquidos / Países selecionados
Salário bruto: US$ 200 mil/ ano
Itália
$108.189
54%
Holanda
$109.417
55%
Irlanda
$111.905
56%
Alemanha
$111.953
56%
França
$117.519
59%
China
$117.897
59%
Grã-Bretanha
$121.819
61%
Canadá
$129.340
65%
Malaysia
$137.128
69%
EUA
$139.709
70%
Índia
$141.163
71%
Japão
$144.083
72%
México
$146.377
73%
Brasil
$148.088
74%
Estônia
$152.515
76%
Egito
$160.847
80%
Rússia
$174.000
87%
Dubai
$200.000
100%
Fonte: Membros da UHY / Bai Yanfeng, Univ. Central de Finanças e Economia da China
“Quem tem uma renda alta, após um primeiro momento dos bens de consumo geral, passa a ter consumos mais sofisticados, produtos menos taxados, obras de artes, enfim, artigos de difícil controle na tributação.”
O porta-voz da UHY diz que outro fator que contribui para fazer do Brasil um país pouco “equânime” no quesito tributário é o teto aplicado à contribuição previdenciária.
O imposto de 11% sobre o salário é aplicado somente até o valor de R$ 3.038,99, o que quer dizer que trabalhadores que ganham acima disso têm uma fatia maior do seu salário livre de descontos que os que ganham dentro da faixa.
Atração de mão-de-obra
Entretanto, como lembra o UHY, o imposto sobre a renda pessoal é um dos instrumentos utilizados pelos países, sobretudo emergentes, para atrair mão-de-obra qualificada.
Dubai e a Rússia, por exemplo, são os dois países com menor nível de tributação e não fazem nenhuma diferenciação entre a taxa aplicada sobre a renda dos profissionais em qualquer das duas faixas analisadas.
Enquanto um profissional na Rússia leva 87% do seu salário após os impostos e encargos – independentemente da faixa de salário –, Dubai tem alardeado seu regime de “imposto zero” como um dos maiores atrativos de se trabalhar no emirado.
Depois destes países, as primeiras posições entre as nações com carga tributária mais leve para as classes privilegiadas são todas ocupadas por emergentes, como Egito, Estônia, Brasil e México.
Além disso, todos os países emergentes da pesquisa diferenciam relativamente pouco entre profissionais de renda alta e mais baixa.
“As companhias olham para o nível de tributação sobre a pessoa física para decidir onde investir”, disse o sócio da UHY Hacker Young, o britânico Mark Giddens.
“Se a taxação for muito alta, elas podem ter dificuldades em atrair talentos.”
Paulo Moreira diz que o Brasil não é exceção a esta regra, e que a tributação leve para as classes mais altas é “um fator favorável na atração do talento”.
“Essa é uma escolha dura: ou se facilita a vida dos menos qualificados (que ganham menos) ou a vida dos mais qualificados”, raciocina.
“O argumento é que mais qualificados trarão tecnologia e conhecimento, e que tecnologia e esse conhecimento, por sua vez, trarão condições de melhorar também os menos qualificados.”

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LUCRO BRASIL FAZ O CONSUMIDOR PAGAR O CARRO MAIS CARO DO MUNDO

Ao contrário do que muitos pensam, influenciados pelas campanhas empresariais contra a cobrança de impostos, são os altos lucros das empresas que fazem os preços serem mais altos no Brasil do que em outras partes do mundo. É o que demonstram os dados a seguir sobre os preços dos automóveis. Por isso, vale ter visão crítica sobre essas campanhas contra os impostos, pois elas podem estar voltadas para a diminuição do que pagam as empresas, mas não para diminuir os preços para os consumidores, e sim para aumentar a sua fatia de lucros. Mais uma vez, isso está demonstrado no artigo abaixo: os impostos diminuíram para todos os modelos, menos para os que deviam ser "populares", mas os preços continuaram aumentando.

Aliás, aproveito para recordar que os impostos são realmente altos sobre os produtos básicos, que todos pagam mas pesam muito mais no bolso dos que recebem menos por seu trabalho. Agora, quem ganha muito paga, relativamente, muito menos imposte de renda do que o que ganha apenas um salário razoável, já que só existem no Brasil duas faixas de contribuintes: os que pagam 15% e os que pagam 27,5% sobre a renda anual. Nos países em que há melhores e universais políticas sociais, mesmo sendo capitalistas, existem até seis faixas de contribuintes, chegando a mais de 50% de contribuição sobre as rendas mais altas. Só que a globalização capitalista, com a dominação do capital financeiro, está colocando em risco estas políticas sociais, e isso está provocando as manifestações sociais, especialmente de jovens, praticamente em toda a Europa...


27/06/2011


O Brasil tem o carro mais caro do mundo. Por quê? Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção. Outro vilão seria o “alto valor da mão de obra”, mas os fabricantes não revelam quanto os salários – e os benefícios sociais - representam no preço final do carro. Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei.
A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas as histórias que você verá a seguir vão mostrar que o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor.
A indústria culpa também o que chama de Terceira Folha pelo aumento do custo de produção: gastos com funcionários, que deveriam ser papel do estado, mas que as empresas acabam tendo que assumir, como condução, assistência médica e outros benefícios trabalhistas.
Com um mercado interno de um milhão de unidades em 1978, as fábricas argumentavam que seria impossível produzir um carro barato. Era preciso aumentar a escala de produção para, assim, baratear os custos dos fornecedores e chegar a um preço final no nível dos demais países produtores.
Pois bem: o Brasil fechou 2010 como o quinto maior produtor de veículos do mundo e como o quarto maior mercado consumidor, com 3,5 milhões de unidades vendidas no mercado interno e uma produção de 3,638 milhões de unidades.
Três milhões e meio de carros não seria um volume suficiente para baratear o produto? Quanto será preciso produzir para que o consumidor brasileiro possa comprar um carro com preço equivalente ao dos demais países?
Segundo Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, “é verdade que a produção aumentou, mas agora ela está distribuída em mais de 20 empresas, de modo que a escala continua baixa”. Ele elegeu um novo patamar para que o volume possa propiciar uma redução do preço final: cinco milhões de carros.  
A carga tributária caiu e o preço do carro subiu
O imposto, o eterno vilão, caiu nos últimos anos. Em 1997, o carro 1.0 pagava 26,2% de impostos, o carro com motor até 100cv recolhia 34,8% (gasolina) e 32,5% (álcool). Para motores mais potentes o imposto era de 36,9% para gasolina e 34,8% a álcool.
Hoje – com os critérios alterados – o carro 1.0 recolhe 27,1%, a faixa de 1.0 a 2.0 paga 30,4% para motor a gasolina e 29,2% para motor a álcool. E na faixa superior, acima de 2.0, o imposto é de 36,4% para carro a gasolina e 33,8% a álcool.
Quer dizer: o carro popular teve um acréscimo de 0,9 ponto percentual na carga tributária, enquanto nas demais categorias o imposto diminuiu: o carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos. O imposto da versão álcool/flex caiu de 32,5% para 29,2%. No segmento de luxo, o imposto também caiu: 0,5 ponto no carro e gasolina (de 36.9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.
Enquanto a carga tributária total do País, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cresceu de 30,03% no ano 2000 para 35,04% em 2010, o imposto sobre veículo não acompanhou esse aumento.
Isso sem contar as ações do governo, que baixaram o IPI (retirou, no caso dos carros 1.0) durante a crise econômica. A política de incentivos durou de dezembro de 2008 a abril de 2010, reduzindo o preço do carro em mais de 5% sem que esse benefício fosse totalmente repassado para o consumidor.
As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora-de-estrada. Derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva.  
A margem de lucro é três vezes maior que em outros países
O Banco Morgan concluiu que esses carros são altamente lucrativos, têm uma margem muito maior do que a dos carros dos quais são derivados. Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais.
O Palio Adventure (que tem motor 1.8 e sistema locker), custa R$ 52,5 mil e a versão normal R$ 40,9 mil (motor 1.4), uma diferença de 28,5%. No caso do Doblò (que tem a mesma configuração), a versão Adventure custa 9,3% a mais.
O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países.
O Honda City é um bom exemplo do que ocorre com o preço do carro no Brasil. Fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo, ele é vendido no México por R$ 25,8 mil (versão LX). Neste preço está incluído o frete, de R$ 3,5 mil, e a margem de lucro da revenda, em torno de R$ 2 mil. Restam, portanto R$ 20,3 mil.
Adicionando os custos de impostos e distribuição aos R$ 20,3 mil, teremos R$ 16.413,32 de carga tributária (de 29,2%) e R$ 3.979,66 de margem de lucro das concessionárias (10%). A soma dá R$ 40.692,00. Considerando que nos R$ 20,3 mil faturados para o México a montadora já tem a sua margem de lucro, o “Lucro Brasil” (adicional) é de R$ 15.518,00: R$ 56.210,00 (preço vendido no Brasil) menos R$ 40.692,00.
Isso sem considerar que o carro que vai para o México tem mais equipamentos de série: freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos. O motor é o mesmo: 1.5 de 116cv.
Será possível que a montadora tenha um lucro adicional de R$ 15,5 mil num carro desses? O que a Honda fala sobre isso? Nada. Consultada, a montadora apenas diz que a empresa “não fala sobre o assunto”.
Na Argentina, a versão básica, a LX com câmbio manual, airbag duplo e rodas de liga leve de 15 polegadas, custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), segundo o Auto Blog.
Já o Hyundai ix35 é vendido na Argentina com o nome de Novo Tucson 2011 por R$ 56 mil, 37% a menos do que o consumidor brasileiro paga por ele: R$ 88 mil. 
Colaboraram Ademir Gonçalves e Luiz Cipolli
http://omundoemmovimento.blog.uol.com.br/arch2011-06-01_2011-06-30.html#2011_06-27_18_42_25-142809534-0

quarta-feira, 22 de junho de 2011

DEMOCRACIA REAL

Como subsídio para os que duvidam da importância da prática do Plebiscito e Referendo, leiam o artigo do filósofo Vladimir Safatle sobre o que está ocorrendo na Europa, destacando a prática democrática do povo da Islândia como caminho para enfrentar a infindável crise financeira.


22.06.11 - Europa
Democracia real

Vladimir Safatle
Filósofo
Adital

As atuais manifestações que sacodem a Europa trouxeram uma reivindicação que há muito não se ouvia em países como Reino Unido, Espanha, França: democracia real. Há algo de importante aqui.

Pois poderíamos nos perguntar o que haveria de fictício na democracia de países que aprendemos a ver como exemplos de sistemas políticos consolidados. Por que largas parcelas de sua população compreendem que há algo no jogo democrático que parece ter se reduzido exatamente à condição de mero jogo?

Talvez tais manifestantes entenderam que a democracia parlamentar é incapaz de impor limites e de resistir aos interesses do sistema financeiro. Ela é incapaz de defender as populações quando os agentes financeiros começam a operar, de modo cinicamente claro, a partir dos princípios de um capitalismo de espoliação dos recursos públicos.

Não é por outra razão que se ouve, cada vez mais, a afirmação de que a alternância de partidos no poder não implica mais alternativas de modelos de compreensão dos conflitos e políticas sociais. Por isso, o cansaço em relação aos partidos tradicionais não é sinal do esgotamento da política. Na verdade, ele é o sintoma mais evidente de uma demanda de política, de uma demanda de politização da economia.

Em momentos assim, devemos lembrar que a democracia parlamentar não é o último capítulo da democracia efetiva. A Islândia tem algo a nos ensinar sobre isso.
Um dos primeiros países atingidos pela crise econômica de 2008, a Islândia decidiu que o uso de dinheiro público para indenizar bancos seria objeto de plebiscito. Maneira de recuperar um conceito decisivo, mas bem esquecido, da democracia, a saber, a soberania popular. O resultado foi o apoio massivo ao calote.

Mesmo sabendo dos riscos de tal decisão, o povo islandês preferiu realizar um princípio básico da soberania popular: quem paga a orquestra, escolhe a música.
Se a conta vai para a população, é ela quem deve decidir o que fazer, e não um conjunto de tecnocratas que terão seus empregos garantidos nos bancos ou de parlamentares cujas campanhas são financiadas por esses bancos. Como disse o presidente islandês, Ólafur Ragnar Grímsson: "A Islândia é uma democracia, não um sistema financeiro".

O interessante é que, com isso, saímos dos impasses da democracia parlamentar para dar um passo decisivo em direção a uma democracia plebiscitária capaz de institucionalizar a manifestação necessária da soberania popular.

É tal processo que nos coloca nas vias de uma democracia real. Ele é a condição primeira para sair da crise. Pois a verdadeira questão que tal crise nos coloca é política: que regime político é este que permitiu um descalabro deste tamanho na calada da noite?

A NECESSIDADE DE UM REFERENDO SOBRE O CÓDIGO FLORESTAL

Publico hoje um emeio que recebi sobre o Referendo com que a cidadania italiana conseguiu evitar a privatização da água, exigir que não se produza energia nuclear e impedir novos privilégios das autoridades públicas.

A partir desta boa notícia, enviei aos movimentos sociais a proposta de um Referendo nacional para que as decisões sobre o Código Florestal sejam tomadas pelo povo que arcará com as consequências, e não por legisladores que estão decidindo em causa própria e/ou em defesa dos financiadores de suas campanhas eleitorais. Trata-se de proposta dos participantes do Seminário Mudanças Climáticas e Bioma Caatinga, realizado em Petrolina, PE, no mês passado. 

Leiam, reflitam, ajudem a decidir e, se for o caso, a implementar a mobilização em favor desta prática de Democracia Direta da soberania popular.


Bom dia, amigas e amigos!

Parto da bela notícia italiana para cumprir um mandato que recebi dos participantes do Seminário Mudanças Climáticas e Bioma Caatinga, realizado na cidade de Petrolina, PE, nos dias 25 a 27 de maio deste ano: o de mobilizar os movimentos, entidades e pastorais sociais que não aceitam as mudanças que estão sendo impostas pelo Congresso Nacional ao Código Florestal no sentido de propor à Presidente Dilma que convoque a cidadania brasileira a decidir sobre esta lei tão vital para toda a população brasileira e mundial através de um REFERENDO. Na verdade, poderíamos ligar a lei do Código Florestal com a ÁGUA COMO DIREITO HUMANO.

Partindo da experiência vitoriosa na Itália, creio que deveríamos trabalhar em duas direções: o de propor o engajamento da Presidente Dilma, evitando sua provável derrota com a derrubada do que ela vier a vetar, mas, ao mesmo tempo e como forma de realizar verdadeira sinalização de apoio popular a esta proposta, assumir a organização de comitês em todos os municípios e localidades, criando as bases para a mobilização exigida para que também nosso Referendo venha a ser vitorioso.

Segundo pesquisa publicada pela FSP, em torno de 80% da população ouvida manifestou-se contra mudanças em leis que favoreçam a derrubada e queima de florestas. Temos, então, uma base importante para um grande movimento nacional, mesmo se tivermos que remar contra a maioria dos partidos políticos e contra quase toda a mídia - pois não está definido que toda ela se posicione contra. Junto com a percepção de que todos precisamos cuidar melhor e com amor o ambiente vital criado pela Terra, creio que há rejeição da prática dos congressitas de decidir em causa própria; há, mais uma vez, a vontade de dizer um não ao modo como os "políticos" usam o poder a eles delegado pelo povo.

Cumprindo o mandato recebido, estou apresentando esta proposta à Assembléia Popular, que deveria ser a articulação mobilizadora, ressaltando que o Referendo tem a ver tanto com os movimentos, entidades e pastorais sociais ligadas à terra e ao seu cultivo, quanto aos que estão ligados à possibilidade e à qualidade de vida em nossas cidades. Quero lembrar, ainda, que esta luta e mobilização cidadã pode ser um grande movimento de educação popular, seja na perspectiva da crítica do tipo de economia ainda predominante em nosso país, que tem tudo a ver com o que se pretende completar com a mudança do Código Florestal em relação às florestas, córregos, rios, mar, seja na perspectiva de avanços na construção de outra economia, esta sim a serviço da vida e realizada em diálogo respeitoso com a Terra.

Peço que a proposta circule, seja debatida e abra, se for assumida por muitas forças sociopolíticas, uma nova frente de luta pelo Brasil que Queremos.

Abraços.
Ivo Poletto - assessor do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social


Em 21/06/2011 08:15, sgeral escreveu:
----- Original Message -----
Sent: Tuesday, June 21, 2011 5:08 AM
Subject: a agua e uma nova democracia para Italia!

queridos amigos/as, envio um report duma companheira de genova  sobre a victoria que conseguimos na Italia  para agua publica e contro o nuclear
Abraços
antonio lupo Comitè Amig@s MST- Italia
o que aconteceu nos últimos meses na Italia foi realmente extraordinario!
Há alguns anos o nosso governo super corrupto de Berlusconi fez uma lei para privatizar todos os serviços hídricos, de transporte publico local e de gestão do lixo. Essa lei continua o percurso que os governos tanto de esquerda quanto de direita levam para a frente há muito anos, querendo privatizar os serviços públicos.
Então o ano passado, em cada cidade começou uma mobilização popular e recolhemos assinaturas para pedir um referendum (plebiscito popular) contra essa lei e contra a mercantilização da agua. Em 3 meses recolhemos mais de 1.400.000 assinaturas, o numero mais alto na historia da Itália, e finalmente 12 e 13 de junho 2011 o povo todo foi chamado a votar para decidir sobre privatização da agua, sobre energia nuclear, e sobre privilegio do chefe de governo e ministros em poder não ser chamados nas aulas de tribunal para julgamentos.
Toda essa luta foi levada a frente por conta dos movimentos sociais, dos voluntários da sociedade civil, o Fórum dos movimentos pela agua cresceu muito e jà tem comité de agua em cada cidade da Itália. Os partidos políticos nos obstaculavam ou gozavam de nos. Até o maior partido da esquerda (que já levou para a frente a privatização nos anos passado) não ajudou, mas sò falava contra de nos.
A mídia, escrava do poder, nunca falava dos assuntos, tivemos que não se organizar e fazer nossa campanha de informação através de internet, nas ruas, nos povoados, com encontros, eventos, teatro, foi um esforço imenso, mas que nos fez encontrar as pessoas de uma maneira direta, pessoal. Os voluntários cresciam de numero, no ultimo mês a mobilização crescia e cada um fazia sua parte para repassar as informações.
Vocês tem que saber que aqui na Itália o referendum tem validade somente se vai votar mais de 50% da população e que aqui na Itália votar não é obrigação. Nos últimos 16 anos nenhum referendum tinha conseguido chegar a ser valido, também porque a pululação esta muito enjoada da politica e muitas pessoas não votam mais.
Mas vamos voltar a o que aconteceu no ultimo mês, porque para nos isso tem o sabor de um milagre. A sociedade civil, que parecia adormecida, começou a se mobilizar cada dia mais, em favor da agua publica, contra a energia nuclear e para una justiça igual para todos.
Se mobilizaram os jovens que usam internet, todos se unimos, pessoas de diferentes ideas politicas, de todos os lados e experiencias, unidos, porque a agua não tem color, a agua é vida para todos.
Um mês antes das votações começou se perceber que o consenso popular estava crescendo e alguns partidos mudaram suas falações, e começaram apoiar a luta. Essa mudança foi mais uma vez o tentativo da mala politica de se apropriar de uma luta que estava se prospectando vitoriosa.
Mesmo assim nos estávamos com medo de não conseguir chegar a 50%, porque como já disse, a mídia e o governo estavam todos contra nos, fazendo um escandaloso boicote da informação e convidando o povo para não ir votar.
Mas chegou o dia que vai entrar na historia do nosso país. Dia 13 e 14 de junho a população começou encher as urnas já de manha cedo, jovens e velhinhos, famílias, até doentes e estudantes de outras cidades que pediam para votar, maior parte da igreja apoiou a luta, missionários fizeram vigília de oração, papa Bendito falou contra energia nuclear, os artistas faziam shows gratuitos para mobilizar, os bares prometiam bebidas para quem ia fazer seu dever de votar, cada um inventava uma coisa para convencer os outros.
E afinal vencemos: 57% dos italianos foram as urnas , 95% deles votou para cancelar as leis injustas do governo. A noite as praças se encheram de pessoas fazendo festa, pela primeira vez cheias de jovens animados, sorrisos, abraços, a sensação que as coisas a partir de hoje vão mudar para melhor.
Foi maravilhoso descobrir que não precisamos mais da mídia tradicional, a liberdade de internet substituiu a escravidão da televisão, foi maravilhoso descobrir que os jovens não estão todos anestesiados e desinteressados, o enjôo não é devido à politica, mas aos políticos! Quando a politica é feita pelo povo, falando de assuntos concretos como agua, saúde, segurança, o povo entende e se mobiliza.
Tem um vento novo soprando na Itália, um ar limpo e fresco como uma cachoeira de agua transparente.
Nestes anos ganhamos força com as lutas vitoriosas de alguns povos da América Latina, hoje estamos felizes de oferecer nossa vitoria a todos os povos que ainda lutam pelo direito à agua. A agua é nossa mãe, nessa irmandade avançamos juntos para um mundo melhor.

Abraços

Silvia Parodi - comité “Agua Publica” de Genova – Italia.