domingo, 22 de dezembro de 2019

O DEUS DE JESUS x O deus DOS TIRANOS

O Deus de Jesus x o deus dos tiranos
Roberto Malvezzi (Gogó)
O Deus de Jesus de Nazaré sempre será um mistério. Não só porque é o Criador de tudo que existe, inclusive cada um de nós, mas porque saiu de sua grandeza para tornar-se um ser humano na barriga de uma jovem periférica, num país periférico, num povo periférico, nas condições mais precárias daquele tempo. Aceitar que Deus saiu de sua grandeza para tornar-se um de nós é mesmo absurdo, portanto, compreendo perfeitamente quem não acredita e até ri de nossa fé. Não é maldade, mas o mistério é mesmo maior que nossa compreensão.
O Deus de Jesus é poderoso, mas respeita cada pessoa, o problema particular de cada ser, mas ao mesmo tempo é o Senhor do Universo. Para Ele, o pequeno e o grande, o espetacular, o inimaginável andam juntos em pé de igualdade. É desse Deus que falamos no Natal cristão, aquele que se torna um de nós, que mora conosco e eleva tudo e todos à grandeza de seu projeto definitivo.
O problema do Deus de Jesus é que Ele é amor, portanto, não pode usar de violência para impor seu projeto, mas o anuncia, oferece e depende de cada um aceitar seguir seus caminhos, ou mesmo recusar suas dádivas.
Outro é o “deus dos tiranos”, esse que está em moda hoje no Brasil. O deus que está acima de tudo, de todos, que odeia os pobres, os negros, a população LGBT, que tem armas, que tortura, que mata, que pune os indefesos, que rouba os direitos dos trabalhadores, a saúde dos doentes. Esse é o deus de mercenários bilionários, num país de milhões de desempregados e até com a volta da fome e da miséria.
Por isso, o Deus de Jesus se escreve com “D”. Por isso o deus dos tiranos se escreve com “d”. O deus dos tiranos é o deus de Hitler. “Brasil acima de Tudo e Deus acima de todos”, esse é o lema do atual governo brasileiro. “Deutschland über alles”, é o Deus de Hitler que o atual governo trouxe para o Brasil.
Não nos espantemos. Esse deus parece poderoso, mas é fraco, normalmente desaparece com o ditador que o criou.
O Deus de Jesus, na sua fragilidade-amorosa, está sempre presente no meio de nós, até o pleroma, quando Deus será tudo em todos.
Uma luz brilha nas trevas.
Feliz Natal a todos e todas.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A ELITE ESTADUNIDENSE PREVÊ FIM DO NEOLIBERALISMO


DUAS PERGUNTAS, PARA ANIMAR A LEITURA: ATÉ A ELITE ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS USA ESTÁ SE CONVENCENDO QUE O O NEOLIBERALISMO TEM QUE ACABAR? QUAIS SUAS RAZÕES E OBJETIVOS: MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO E DA MÃE TERRA, OU SALVAMENTO QUASE DESESPERADO DO CAPITALISMO? 

MESMO SABENDO QUE É OPORTUNISTA ESSE POSICIONAMENTO SÓ APARENTEMENTE CRÍTICO, ELE SERVE COMO ALERTA A TODAS AS PESSOAS QUE AINDA ESTÃO ENTRANDO NA CONVERSA MOLE - OU MELHOR, "MALA" - DOS QUE OCUPAM AS CADEIRAS DA POLÍTICA ECONÔMICA PROMOVIDA PELO GOVERNO FEDERAL: ATÉ OS EXPLORADORES ESTÃO RECONHECENDO QUE  NEOLIBERALISMO FOI E CONTINUA UM JOGO EM QUE SÓ ELES GANHAM, E MUITO, A TAL PONTO QUE, SEGUINDO NELE, AS REVOLTAS SOCIAIS PODERÃO IMPEDIR ATÉ MESMO O QUE ELES CONSIDERAM O CAPITALISMO "CORRETO", QUE EXPLORA E CONCENTRA, MAS DE FORMA MENOS AGRESSIVA E AUTODESTRUIDORA!

QUEM VAI CONVERSAR COM O MINISTRO DA FAZENDA, E COM OS CONGRESSISTAS QUE ACEITAM SUAS PROPOSTAS? OU ESTAMOS FADADOS MESMO A CONTINUAR IMPONDO O QUE FOI IMPOSTO NO SÉCULO PASSADO, E JÁ DEMONSTROU SER UM ERRO ATÉ PARA OS CAPITALISTAS?!

A elite americana prevê o fim do neoliberalismo, por Andre Motta Araujo

O Brasil, sempre atrasado na absorção de tendências do pensamento econômico elaboradas nos países centrais quer, em 2019, implantar no País a ideologia já caduca dos anos 1980

A elite americana prevê o fim do neoliberalismo

por Andre Motta Araujo

As 200 maiores corporações americanas, reunidas no  BUSINESS ROUNDTABLE, principal entidade de cúpula do capitalismo americano, presidido por Jamie Dimon, CEO do mega banco J.P. MORGAN CHASE, pela voz de seus executivos principais reunidos, decidiram que o credo neoliberal praticado há 40 anos, segundo o qual p principal objetivo das corporações é gerar “valor para o acionista”,  está errado e deve ser revisto porque esse ideia causou um desastre que vai COLOCAR EM RISCO O PRÓPRIO CAPITALISMO. Esse desastre se chama “CONCENTRAÇÃO DE RENDA”.

Há 40 anos, segundo o Business Roundtable, 1% da população americana detinha 7% da riqueza. Hoje os mesmos 1% detém 22% da riqueza, a concentração de riqueza aumentou TRÊS VEZES. O mito neoliberal, de que se o acionista ganhar mais toda a economia prospera, ERA FALSO. A riqueza se concentra e não beneficia o conjunto da sociedade. Hoje o crescimento dos EUA está estagnado e não passa de 2% anual, inexplicável quando o desemprego é baixo. Na prática, os EUA têm pleno emprego, mas há truques embutidos nessa constatação, há muitos trabalhando abaixo de sua competência porque não conseguiram prosseguir suas carreiras pela falta de crescimento da economia, há uma estagnação e até regressão social nítida nos EUA.

A explicação do Business Roundtable é clara: NÃO CRESCE PORQUE OS SALÁRIOS SÃO BAIXOS E A POPULAÇÃO ESTÁ ENDIVIDADA, quer dizer, não basta o pleno emprego, é preciso DISTRIBUIR RENDA para que a economia cresça e as grandes corporações NÃO DEVEM TER O LUCRO PARA O ACIONISTA COMO ÚNICO OBJETIVO, PORQUE ISSO VAI DESTRUIR A ECONOMIA DE MERCADO por causa de uma crise social que pode levar à implosão do País.

O FIM DO CICLO NEOLIBERAL

O chamado “ciclo neoliberal’, que é uma exacerbação dos princípios da Escola Austríaca, uma espécie de crença cega no mercado muito além dos princípios da primeira fase do capitalismo moderno com Adam Smith e David Ricardo, propagado pela então Primeira Ministra Margaret Thatcher, hoje demonizada no Reino Unido, com sua biografia histórica revista muito para baixo, partia da lógica errada de que a economia de mercado, LIVRE DAS AMARRAS DO ESTADO, seria boa para todos, ricos, classe média e pobres. Segundo a conclusão do Business Roundtable, evidenciado o pensamento de 178 CEOs das maiores corporações da economia produtiva e do mercado financeiro dos EUA, essa crença É FALSA. A economia de mercado sem Estado NÃO É BOA PARA TODOS, só para os ricos e se isso não for corrigido o capitalismo não terá futuro porque ele só funciona dentro de uma sociedade organizada.
O PAPEL DO ESTADO
A conclusão do Business Roundtable vai mais além. Julga que é fundamental reconsiderar o papel do Estado como regulador e garantidor dos direitos da população em suas relações com o mercado, que, ao contrário do que imaginavam os neoliberais de raiz, NÃO SE AUTOREGULA porque não é de sua natureza e nem de sua capacidade. É necessário um Estado forte para que a população seja protegida da ganância excessiva do mercado.

O BRASIL NA CONTRA MÃO ADOTA O NEOLIBERALISMO DOS ANOS 80

O Brasil, sempre atrasado na absorção de tendências do pensamento econômico elaboradas nos países centrais quer, em 2019, implantar no País a ideologia já caduca dos anos 1980, as ideias de Mrs. Thatcher já foram desmontadas na própria Inglaterra e sua biografia revista e piorada, a deputada Glenda Jackson, ex-artista de Hollywood, é hoje o maior algoz do papel histórico de Mrs. Thatcher e a crise de 2008 nos EUA foi atribuída à desregulamentação do mercado financeiro efetuada pelo Presidente Reagan, também sob revisão histórica.

O neoliberalismo dos anos 1980 foi desmontado no Chile pelos efeitos catastróficos que causou nas classes média e pobre do Chile, enquanto enriquecia o topo dos ricos.

O neoliberalismo com desmanche do Estado está em franca implantação no Brasil ao mesmo tempo em que é rejeitado nos países centrais, produzindo terríveis efeitos em um Pais com enorme população de baixa renda, produziu péssimos resultados em países ricos ao empobrecer a classe média, em países emergentes produzirá catástrofes de miséria e involução social. Vemos hoje no Brasil um sólido pensador econômico neoliberal de primeira linha, Arminio Fraga, fortemente preocupado, mais do que qualquer outro fator, com o desequilíbrio social, ao mesmo tempo em que neoliberais ideológicos, como o Ministro da Economia, incapaz de evoluir, pregando e colocando em prática no Brasil o receituário neoliberal antigo dos anos 1980, que fracassou redondamente no seu principal laboratório, o Chile. Cego a esse fracasso o atual núcleo que comanda a economia no Brasil insiste na fórmula chilena.
Agora, com a revisão dessas premissas nos EUA, alguma luz deve se despejar sobre a mídia e os empresários brasileiros que apoiam essa catástrofe de desmonte do Estado via privatizações absurdas e concessões fantasiosas, com a alegação infantil de “o Brasil está quebrado”, quebrado estará pela incompetência de quem deveria ter projetos e ideias de revigoramento da economia onde o Estado ainda tem e terá PAPEL CENTRAL.

O NEOLIBERALISMO COMO IDEOLOGIA

Há dois eixos diferentes no neoliberalismo de Thatcher e de Reagan. Mrs. Thatcher tinha o neoliberalismo como uma ideologia em oposição ao Partido Trabalhista Inglês, que era (e é) um partido social democrata clássico. Já Reagan adotou uma forma mais suave de neoliberalismo, baseado na desregulamentação e não na privatização, não havia o que privatizar nos EUA, ao contrário do Reino Unido. Reagan era a favor da desregulamentação do mercado financeiro, que foi a causa da crise de 2008, isso dito pelo então Secretário do Tesouro dos EUA e era contra os sindicatos de trabalhadores. Mas Reagan não seguia a linha de considerar o neoliberalismo uma ideologia, era apenas uma praxis útil à economia, não era uma fé religiosa, Reagan era um pragmático.
Já os neoliberais brasileiros do atual grupo no comando da economia têm o neoliberalismo como IDEOLOGIA ou SEITA, é uma forma muito mais primitiva tosca, grosseira e ignorante de operar aquilo que é apenas uma escola de pensamento econômico que serve para um ciclo e não pela eternidade.
O interessante é que os neoliberais da Era FHC, como Arminio Fraga, Gustavo Franco, Pedro Malan e outros não operaram a política econômica na base de ideologia, eram práticos e não fanáticos, como pessoas cultas e inteligentes alguns revisaram suas posições para ver os defeitos do neoliberalismo, caso de André Lara Rezende e Arminio Fraga, é uma característica de cérebros de primeira ordem, a capacidade de se reciclar, rever posições, refletir, e não manter a mesma ideia  até a morte, caso dos burros e limitados. Keynes se reinventou várias vezes, mudando de ideia de acordo com a época, como respondeu à observação de Lady Astor “O senhor muda de ideia a toda hora”, ao que Keynes respondeu, “My lady, eu não mudo, o que mudam são as circunstâncias”. Lara Rezende e Fraga estão hoje na mesma linha do Business Roundtable, ou o capitalismo se reforma para distribuir renda ou acaba.

E a ruptura pode vir de forma repentina, como no Chile e agora também na Colômbia, com manifestações destrutivas e intermináveis, produto da frustação acumulada de classes e pessoas que viram suas vidas serem destruídas pelo desemprego e regressão social.  A elite brasileira, historicamente atrasada, cega e surda, focada no mercado financeiro, dificilmente terá a capacidade revisionista de uma elite culta, mas fica do recado da elite americana.

https://jornalggn.com.br/artigos/a-elite-americana-preve-o-fim-do-neoliberalismo-por-andre-motta-araujo/ 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

MAIS DE 500 MIL ASSINATURAS EM FAVOR DA VIDA DO CERRADO

NÃO PODEMOS PERDER TEMPO, JÁ QUE A AMEAÇA DE COLAPSO SOCIOAMBIENTAL ESTÁ MAIS PRÓXIMO DO QUE SE PODE IMAGINAR. TUDO QUE FIZERMOS EM DEFESA DO CERRADO E DOS DEMAIS BIOMAS DEFINIRÁ COMO VIVERÃO - OU NÃO - NOSSOS NETOS.

VIVA A CAMPANHA NACIONAL EM DEFESA DO CERRADO!


2/09/2019Justiça Ambiental
https://fase.org.br/pt/informe-
se/noticias/rodrigo-maia-recebe-mais-de-meio-milhao-de-assinaturas-da-peticao-em-defesa-do-cerrado/  

Rodrigo Maia recebe mais de meio milhão de assinaturas da petição em defesa do Cerrado

A entrega da petição com mais de 500 mil assinaturas foi um marco na trajetória da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado. Organizações e movimentos sociais seguem pressionando parlamentares para aprovação da PEC que garante ao Cerrado e a Caatinga o título de Patrimônios Nacionais


Bruno Santiago¹
Rodrigo Maia e Joenia Wapichana. Foto: Thomas Bauer/CPT
No dia 11 de setembro, Dia Nacional do Cerrado, mais de meio milhão de assinaturas da petição pela aprovação da PEC 504/2010, que transforma o Cerrado e a Caatinga em Patrimônio Nacional, foram entregues ao Congresso Nacional. Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, recebeu a petição pelas mãos da deputada Joenia Wapichana. Mais cedo, durante Seminário do IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, promovido pela Rede Cerrado², que também aconteceu na Câmara, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado havia entregue o caderno de assinaturas à Joenia e a outros parlamentares presentes.
Em ação coletiva dentro da Câmara dos Deputados, também foi realizada a entrega da petição durante sessão da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Os deputados Rodrigo Agostinho, presidente da Comissão, e Nilto Tatto, coordenador da frente parlamentar ambientalista, receberam as assinaturas da liderança quilombola Maria de Fátima Barros, que representou a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado.
Para Fátima Barros, defender o Cerrado é defender um direito territorial e ancestral, mas também o direito à própria vida. ‘’Lutar pelo Cerrado é defender os nossos corpos, as nossas vidas e a nossa água. Vivemos um momento emblemático, com muitas ameaças e corte de políticas públicas, mas não podemos esquecer que somos a voz desse bioma e por isso não podemos admitir que nossos territórios, vidas e recursos naturais sejam esfaceladas’’, destacou Fátima.
Foto: Thomas Bauer/CPT
O coordenador da Frente Parlamentar ambientalista, Nilto Tatto, também ofereceu seu apoio à Campanha em Defesa do Cerrado, se comprometendo a votar em favor da PEC 504/2010. ‘’Os ataques que o Cerrado vem sofrendo nas últimas décadas comprometem diretamente a preservação das nossas florestas e a produção de água, por isso, é mais do que acertada essa campanha pela aprovação da PEC’’, afirmou o deputado.

Copos vazios

Foto: Thomas Bauer/CPT
E se um garçom, com uma bandeja cheia, te oferecesse um copo d’água vazio? Foi o que aconteceu nos corredores da Câmara dos Deputados em ação de sensibilização e divulgação antes da entrega das assinaturas da petição. ‘’Não espere a água acabar para fazer alguma coisa’’ – esses foram os dizeres que estampavam o fundo dos copos oferecidos a diversos parlamentares, assessores e público presente durante a ação.
A medida que os copos eram entregues, as pessoas se davam conta de que se tratava de um recipiente vazio, fazendo alusão a relação direta do Cerrado com o abastecimento de água em nosso país, uma vez que o bioma abriga oito das doze regiões hidrográficas brasileiras e abastece seis das oito grandes bacias hidrográficas do Brasil.
Foto: Thomas Bauer/CPT
Os deputados Alessandro Molon e Gervasio Maia, que receberam os copos vazios, demonstraram apoio à Campanha e também se posicionaram em favor da  aprovação da PEC. ‘’Para que nosso copo não fique vazio, para que o nosso país não fique sem água, vamos proteger o Cerrado e a Caatinga’’, afirmou Molon.

Ainda não acabou

A entrega da petição com mais de 560 mil assinaturas foi um marco na trajetória da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, que atua desde 2015 para alertar e conscientizar a sociedade sobre os impactos causados pela destruição do bioma no Brasil. Mais de 50 organizações e movimentos sociais fazem parte da iniciativa, que agora seguirá pressionando os parlamentares e a Câmara dos deputados para aprovação da PEC que garante ao Cerrado e a Caatinga o título de Patrimônios Nacionais.
[1] Comunicador da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, da qual a FASE é parte.
[2] A FASE integra a Rede Cerrado.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

O PONTO DE NÃO RETORNO ESTÁ À VISTA E AVANÇANDO NA NOSSO DIREÇÃO

QUEM ESCREVE ISSO É O SECRETÁRIO DA ONU. ELE DIZ TER ESPERANÇA, MAS NÃO APOSTA APENAS NA COP25. ELE RECONHECE A FORÇA DOS QUE SE MOBILIZAM POR MUDANÇAS QUE ENFRENTEM O QUE AGRIDE A NATUREZA E PROVOCA, JÁ, A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA, DE MODO ESPECIAL OS JOVENS, QUE EXIGEM SEU DIREITO A TER FUTURO.

IHU, 03 de dezembro de 2019

http://www.ihu.unisinos.br/594831-clima-o-que-ainda-falta-e-vontade-politica-artigo-de-antonio-guterres 

Emergência climática. “O ponto de não retorno não está mais no horizonte. Ele já está à vista e avançando na nossa direção”. Artigo de António Guterres


“Os sinais de esperança sobre o clima estão se multiplicando. A opinião pública está despertando em todos os lugares. Os jovens estão mostrando uma notável liderança e mobilização. O que ainda falta é vontade política.”
A opinião é de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, durante a coletiva de imprensa antes da COP-25, publicado por ONU, 01-12-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E contundente, ele alerta: "Mas sejamos claros. Até agora, os nossos esforços para alcançar essas metas têm sido totalmente inadequados. Os compromissos assumidos em Paris ainda levariam a um aumento de temperatura acima de três graus Celsius. Mas muitos países sequer cumprem esses compromissos. As emissões de gases do efeito estufa ainda estão crescendo a um ritmo alarmante".

Eis o artigo.

Há muitas décadas, a espécie humana tem estado em guerra com o planeta. E o planeta está revidando. A Organização Metereológica Mundial está divulgando seu relatório sobre o Estado do Clima nesta conferência [COP-25]. E suas descobertas são claras.
Os últimos cinco anos foram os mais quentes já registrados. O nível do mar é o mais alto da história humana. As calotas de gelo estão derretendo a uma velocidade sem precedentes, e os oceanos estão ficando mais ácidos com todas as suas consequências. A biodiversidade em terra e no mar está sob um severo ataque.
Desastres naturais relacionados ao clima estão se tornando mais frequentes, mais letais, mais destrutivos, com crescentes custos humanos e financeiros. A seca em algumas partes do mundo está progredindo a taxas alarmantes, destruindo habitats humanos e colocando em risco a segurança alimentar.
Todos os anos, a poluição do ar, associada às mudanças climáticas, mata sete milhões de pessoas. As mudanças climáticas têm se tornado uma reação dramática à saúde humana e à segurança humana. Em resumo, as mudanças climáticas não são mais um problema de longo prazo. Agora estamos diante de uma crise climática global.
O ponto de não retorno não está mais no horizonte. Ele já está à vista e avançando na nossa direção.
No entanto, a minha mensagem aqui hoje é de esperança, não de desespero. A nossa guerra contra a natureza deve parar. E sabemos que isso é possível. A comunidade científica nos forneceu o mapa para alcançar esse objetivo. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, devemos limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius, alcançar a neutralidade do carbono até 2050 e reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 45% em relação aos níveis de 2010 até 2030.
Mas sejamos claros. Até agora, os nossos esforços para alcançar essas metas têm sido totalmente inadequados. Os compromissos assumidos em Paris ainda levariam a um aumento de temperatura acima de três graus Celsius. Mas muitos países sequer cumprem esses compromissos. As emissões de gases do efeito estufa ainda estão crescendo a um ritmo alarmante.
Hoje, o mundo produz 120% mais combustíveis fósseis do que o valor consistente com um caminho de 1,5 graus. E, em relação ao carvão, esse número é de 280%. Mas a comunidade científica também nos diz que o mapa para ficar abaixo de 1,5 graus ainda está ao alcance. As tecnologias necessárias para tornar isso possível já estão disponíveis.
Os sinais de esperança estão se multiplicando. A opinião pública está despertando em todos os lugares. Os jovens estão mostrando uma notável liderança e mobilização. Cada vez mais cidades, as instituições financeiras e as empresas estão se comprometendo com o caminho de 1,5 graus. Isso ficou recentemente provado claramente durante a Cúpula de Ação Climática em Nova York.
O que ainda falta é vontade política. Vontade política de colocar um preço no carbono. Vontade política de interromper os subsídios aos combustíveis fósseis. Vontade política de parar de construir usinas a carvão a partir de 2020. Vontade política de mudar a tributação da renda para o carbono – tributando a poluição em vez das pessoas.
Nós simplesmente precisamos parar de cavar e perfurar, e aproveitar as vastas possibilidades oferecidas pelas soluções de energia renovável e baseadas na natureza. É por isso que, em setembro, eu convoquei a Cúpula de Ação Climática. A cúpula forneceu um cenário global para ver quem está dando passos à frente.
Setenta países se comprometeram com a neutralidade de carbono até 2050. Isso inclui sete países do G20, assim como muitas nações que contribuíram menos para o problema. Mas também vemos claramente que os maiores emissores do mundo não estão fazendo a sua parte. E, sem eles, o nosso objetivo é inacessível.
É por isso que é tão importante que nos reunamos em Madri para esta COP-25. Eu espero da COP uma demonstração clara de uma maior ambição e comprometimento, mostrando prestação de contas, responsabilidade e liderança. Nos próximos 12 meses cruciais à nossa frente, é essencial que garantamos compromissos nacionais mais ambiciosos – particularmente dos principais emissores – para começar imediatamente a reduzir as emissões de gases do efeito estufa em um ritmo consistente para alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
Deveríamos garantir que pelo menos 100 bilhões de dólares por ano estejam disponíveis para os países em desenvolvimento para mitigação e adaptação, e levar em conta as suas expectativas legítimas de dispor dos recursos necessários para aumentar a resiliência e a resposta e recuperação de desastres.
Também devemos progredir nas dimensões sociais das mudanças climáticas e garantir que os compromissos nacionais incluam uma transição justa para pessoas cujos empregos e meios de subsistência são afetados, à medida que passamos da economia cinza para a economia verde.
Essas são as razões pelas quais eu tenho o prazer de anunciar que Mark Carney, que atualmente é o governador do Banco da Inglaterra e um renomado pioneiro em pressionar o setor financeiro a agir pelo clima, aceitou ser meu Enviado Especial para Ação Climática e Financiamento Climático.
Também espero sinceramente que a COP-25 seja capaz de concordar com as diretrizes para a implementação do Artigo 6 do Acordo de Paris. Infelizmente, isso não foi alcançado em Katowice, quando aprovamos o livro de regras para a implementação do Acordo de Paris. Esse acordo estabelecerá uma base sólida para a cooperação internacional para reduzir as emissões e permitir um maior papel do setor privado na ação climática.
Essas são as mensagens que estou trazendo para a conferência. Estamos em um poço profundo e ainda estamos cavando. Em breve, ele será muito profundo para escapar. Saúdo as vozes dos jovens ativistas que tenho encontrado. Eles entendem que estamos colocando em risco o futuro deles. É por isso que continuarei pressionando todos os dias para manter o clima no topo da agenda internacional.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CIMI: FUNAI INSTRUMENTALIZADA COMO SUCURSAL DO RURALISMO NO BRASIL

EXISTE ESTADO NO BRASIL? SE EXISTE, QUAL INSTÂNCIA ASSUMIRÁ A RESPONSABILIDADE DE ENQUADRAR O PRESIDENTE DA FUNAI? AFINAL, SE ESTÁ A SERVIÇO DOS SENHORES DO AGRONEGÓCIO, COMO PODE SER RESPONSÁVEL PELA FUNAI? E QUEM SE DECLAROU A SERVIÇO DOS PROPRIETÁRIOS FOI ELE MESMO, COM SUA IDEOLOGIA E SUA AGRESSÃO AOS POVOS INDÍGENAS, A QUEM A FUNAI DEVE DEFENDER E PROMOVER.

QUANDO CONSEGUIREMOS SER UM PAÍS SÉRIO?









CIMI, 20 de novembro do 2019
A Funai instrumentalizada como sucursal do ruralismo no Brasil

Presidente da Funai afirma, durante audiência pública no MS, atender aos ruralistas em sua gestão e orientou fazendeiros

 
“Estou colocando pessoas de minha confiança nas bases agora justamente para atender aos senhores. Então eu quero trazer aqui o recado a todos vocês que confiem no presidente da Funai”. Estas palavras foram ditas pelo atual presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão indigenista do Estado brasileiro, vinculado ao Ministério da Justiça, o delegado da Polícia Federal Marcelo Augusto Xavier.

Vocês podem imaginar que ao proferir estas palavras o presidente da Funai estava reunido com lideranças indígenas na sede do órgão indigenista, em Brasília. Certo? Só que não. A frase foi direcionada a fazendeiros, líderes de sindicatos rurais patronais, parlamentares ruralistas contando com a presença do Secretário Especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia, durante audiência pública sobre questões fundiárias realizada na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, no último dia 8 de novembro.

Xavier, aliado da bancada ruralista do Congresso Nacional, não parou por aí. O delegado presidente da Funai tratou de fornecer orientações táticas aos fazendeiros nos seguintes termos: “Casos de invasão serão tratados como invasão. Não tenham receio! Levem ao conhecimento… os senhores, que estão na ponta, sabem o que ocorre. Nós que estamos em Brasília, às vezes não sabemos o que se passa aqui. Materializem, façam filmes, materializem, fotografem, levem ao presidente da Funai o que está acontecendo aqui”.

O Mato Grosso do Sul é o estado onde o ruralismo mais agride, oprime, violenta e assassina lideranças indígenas no Brasil. As denúncias e imagens de ataques contra os povos são recorrentes. Sobre isso, por exemplo, convidamos você a assistir e ajudar no compartilhamento da informação e do vídeo: Guarani e Kaiowá relatam caso de tortura durante ataques a retomadas em Dourados.

Ao mesmo tempo, conforme levantamento feito pelo Cimi, a invasão de terras indígenas, no Brasil, aumentou mais de 100% nos primeiros nove meses de 2019, relativamente a todo o ano de 2018. Pela função que exerce, o presidente do órgão indigenista do Estado brasileiro deveria visitar e dar sequência às denúncias dos Guarani Kaiowá; ou marcando presença e dando apoio aos povos de alguma das 153 terras indígenas invadidas por não índios, entre janeiro e setembro deste ano, a fim de ajudá-los no combate a essas invasões criminosas. No entanto, se colocou junto e orientou os fazendeiros a denunciar os povos indígenas já tão maltratados e desassistidos.

O delegado presidente da Funai parecia ansioso para apresentar aos ruralistas a “nova Funai” representada por ele. “Trago ao anseio dos senhores no sentido de que agora nós temos uma nova Funai”, disse. Em seguida, reclamou das críticas que vem recebendo dos povos e organizações indígenas e de organizações de apoio aos povos e tentou desqualificar as mesmas já que, segundo ele, “não me nomeiam e não individualizam nenhum fato”.

Embora já não faltassem fatos e argumentos para as críticas ao presidente da Funai, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e o Cimi trataram de apresentar, recentemente, ‘fatos novos’ sobre o tema, inclusive nomeando o mesmo. Em nota e matérias publicadas, demonstraram que: 1) O presidente da Funai nomeou profissionais desqualificados e ex-assessor de deputado ruralista para coordenar demarcações de terras indígenas no estado de Pernambuco e 2) Devido a “desinteresse” da Funai, manifesto pelo seu presidente, Procuradoria Federal Especializada desistiu de processo judicial, no TRF-4, contra reintegração de posse da Terra Indígena Palmas, no Paraná. Convidamos você a acessar, ler e compartilhar estas informações.

O presidente da Funai, na sua estreiteza interpretativa, parece justificar todas as suas ‘preferências’ sob o chavão, muito usado por fundamentalistas religiosos de matriz judaico-cristã, segundo o qual “a divisão de classes, destruição da família, destruição da propriedade isso pode ser interessante em países comunistas. Aqui nós vivemos um mundo capitalista, tá”. A frase de efeito, ainda mais com a ênfase dada pelo ‘tá’, ao final, rendeu uma salva de palmas entusiasmada dos ruralistas ao presidente da Funai, óbvio.

O delegado ruralista esqueceu, no entanto, que no Brasil a Constituição Federal é soberana, que esta Constituição garante aos povos o direito às suas terras originárias (Art 231), que estas terras são bens da União (Art 20) e que ele, como cidadão e gestor público, está submetido a esta Constituição. Parece ter esquecido ainda que, como presidente da Funai, gestor da coisa pública, cujo salário é pago com recursos públicos da União, ele tem o dever de defender os direitos dos povos indígenas e também os interesses da União. Parece ter esquecido também que não é direito seu fazer uso da função pública que exerce para abrir mão de bens da União em favor de interesses privados. Parece ter esquecido, por fim, que esse tipo de atitude pode caracterizar a prática do crime de ‘improbidade administrativa’ ao gestor público.

É de grande importância aos interesses do Estado brasileiro e aos direitos dos povos originários, que o Ministério Público Federal (MPF) e cada um de nós possamos ajudar o presidente da Funai a lembrar de suas responsabilidades institucionais e constitucionais para que o órgão indigenista deixe de ser instrumentalizado como sucursal do ruralismo no Brasil.
 
 Brasília, DF, 20 de novembro de 2019
 
Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira – Secretário Executivo do Cimi
Cleber César Buzatto – Secretário Adjunto do Cimi
Gilberto Vieira dos Santos – Secretário Adjunto do Cimi
 
https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/WhctKJVjMckfglRJwzXVBXdpfRKXmJpRNpKDbmBVkjxwQpbtHgDLzhxDRgGLMwFqCcvNMmV 

CRISE BOLIVIANA EVIDENCIA CONTRADIÇÕES POLÍTICAS DOS ÚLTIMOS ANOS

SEGUE UMA ANÁLISE DIFERENTE DA ANTERIOR, FEITA PELO EX-VICE-PRESIDENTE DA BOLÍVIA. GUDYBAS ASSESSORA HÁ MUITO TEMPO MOVIMENTOS SOCIAIS NA BOLÍVIA E EM OUTROS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA, E POR ISSO LEVANTA OUTRAS PRÁTICAS POLÍTICAS QUE EXIGEM ANÁLISE CRÍTICA.

LEIA OS DOIS TEXTOS E FORME SUA OPINIÃO. ALÉM DISSO, COMPARE SEMPRE, SEM SUPERFICIALIDADES, COM O QUE TEM ACONTECIDO EM NOSSO PAÍS.

Crise boliviana evidencia contradições políticas dos últimos anos. Entrevista especial com Eduardo Gudynas


Por: Patricia Fachin | Tradução: Cepat | 20 Novembro 2019

A atual crise boliviana evidencia “todas as contradições políticas que estão sendo vividas nesses anos” no país, afirma Eduardo Gudynas, ambientalista e pesquisador vinculado ao Centro Latino-Americano de Ecologia Social – CLAES, à IHU On-Line. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, ele frisa que o “apego impactante ao poder no Estado” explica as “decisões” do ex-presidente Evo Morales, que disputou à última eleição presidencial, mesmo depois de os bolivianos terem rejeitado sua proposta de concorrer ao quarto mandato. “Mas não é apenas um problema da pessoa, nesse caso Evo Morales, mas de todo um grupo de políticos do Movimento ao Socialismo - MAS que apoiou e promoveu a ideia da reeleição perpétua”, pondera.

Há quase trinta anos acompanhando as organizações bolivianas, Gudynas pontua que “os pequenos caudilhos precisavam de Evo para continuar em seus postos dentro do Estado e círculos de poder. Muitos setores empresariais também precisavam dele, já que haviam conseguido acordos que lhes resultavam economicamente vantajosos (como ocorreu com os setores de mineração, petróleo e agrícola). A insistência em manter a mesma pessoa também expressa um esgotamento do MAS como instrumento de mudança política e a incapacidade de fortalecer outras figuras políticas”.

Na avaliação dele, o ponto mais grave da crise boliviana é a situação do Poder Eleitoral, “cuja legitimidade ruiu, permitiu a fraude eleitoral, e conta com vários membros presos”. Nesse cenário, lamenta, “consolidou-se uma direita reacionária, com aspectos violentos e racistas. Isso, com a liderança de Luis Fernando Camacho, que assumiu o protagonismo nos últimos dias, substituindo o candidato de centro-direita Carlos Mesa, que foi o concorrente na eleição presidencial”. Essa direita, adverte, “tornou-se muito poderosa”.

A tradução da entrevista, concedida em espanhol, é do Cepat.
Eduardo Gudynas em conferência no IHU (Foto: Jonathan Camargo | IHU)
Eduardo Gudyinas é graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade da República - UDeLaR, do Uruguai, e já exerceu a função de professor visitante em diversas universidades da América Latina e dos Estados Unidos. É autor de Extractivismos y corrupción. Anatomía de una íntima relación (Ed. Quimantú, Santiago de Chile. 4ta ed., 2018), Naturaleza, extractivismos y corrupción. Anatomía de una íntima relación (La Libre, Cochabamba, Bolivia, 2da ed. 2018), Direitos da natureza: ética biocêntrica e políticas ambientais (São Paulo: Elefante, 2019), entre outros.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Como o senhor analisa a decisão do ex-presidente Evo Morales se candidatar a mais uma eleição presidencial, mesmo após os bolivianos decidirem, em referendo de 2016, que o presidente não poderia concorrer a um novo mandato? O que explica, na sua interpretação, a iniciativa de Evo Morales querer continuar à frente da presidência?
Eduardo Gudynas - Essa situação mostra todas as contradições políticas que estão sendo vividas nesses anos. Há um apego impactante ao poder no Estado, e isso explica essas decisões de Evo Morales. Mas não é apenas um problema da pessoa, nesse caso Evo Morales, mas de todo um grupo de políticos do Movimento ao Socialismo - MAS que apoiou e promoveu a ideia da reeleição perpétua. O caudilho presidencial só se sustenta nos ombros dos pequenos caudilhos que ocupam ministérios, o senado, agências estatais e inclusive governos locais. E eles, por sua vez, descansam e se nutrem de segmentos muito importantes dos cidadãos que apoiam o caudilho. Dessa maneira, essa lógica e a sensibilidade vertical se reproduzem.
Os pequenos caudilhos precisavam de Evo para continuar em seus postos dentro do Estado e círculos de poder. Muitos setores empresariais também precisavam dele, já que haviam conseguido acordos que lhes resultavam economicamente vantajosos (como ocorreu com os setores de mineração, petróleo e agrícola). A insistência em manter a mesma pessoa também expressa um esgotamento do MAS como instrumento de mudança política e a incapacidade de fortalecer outras figuras políticas.
Com isso, iniciou uma franca e severa deterioração da qualidade democrática. Dentro dessa deterioração, chega-se à situação dos últimos meses, incluindo as atitudes da autoridade eleitoral, as irregularidades na eleição, os protestos contra o governo e a renúncia de Morales. E, assim, nas sucessivas quedas da qualidade democrática, desemboca-se em um governo ultraconservador, acentuando-se ainda mais a violência nas ruas.
IHU On-Line - Em sua opinião, qual será o resultado da crise boliviana?
Eduardo Gudynas - Na Bolívia, tudo é muito dinâmico e muitas coisas podem acontecer. Mas, no momento, não posso esconder meu pessimismo. O esgotamento do MAS tem várias consequências negativas. Por um lado, o fracasso institucional no qual o país caiu. Não apenas pela renúncia do presidente, vice-presidente, ministros e legisladores, mas por outras questões que nem sempre estão sendo advertidas. Ao longo de todo o levante cidadão, ficou claro que o Poder Legislativo não conseguiu ser um espaço capaz de lidar com a crise política.
E mais, alguns parlamentares do MAS parecem querer acentuar essa crise, ao passo que os parlamentares da oposição parecem incapazes de controlar o governo provisório e apoiam medidas como colocar os militares nas ruas. É como se os representantes do povo, daqueles que sofrem com esta situação, não estivessem presentes no legislativo.
Contudo, mais grave é a situação do Poder Eleitoral, cuja legitimidade ruiu, permitiu a fraude eleitoral, e que conta com vários membros presos. É um poder que deverá ser reconstruído quase do zero para poder acontecer uma eleição confiável.
Finalmente, ao amparo da resistência cidadã à fraude eleitoral, consolidou-se uma direita reacionária, com aspectos violentos e racistas. Isso, com a liderança de Luis Fernando Camacho, que assumiu o protagonismo nos últimos dias, substituindo o candidato de centro-direita Carlos Mesa, que foi o concorrente na eleição presidencial. Essa direita, com alguns atributos semelhantes aos do bolsonarismo do Brasil, tornou-se muito poderosa. Nela habita um tipo de racismo e violência.
Sob essas condições, chega-se aos confrontos em Sacaba, com ao menos oito mortes e mais de 100 feridos. É uma situação gravíssima, onde morre o povo, enquanto os políticos de um lado e do outro usam esses fatos para tentar buscar vantagens pessoais.
IHU On-Line - Como o senhor analisa as diferentes crises que estão ocorrendo em vários países da América Latina, como Chile, Equador, Honduras, Haiti, Colômbia, Bolívia e Venezuela? Elas têm algum ponto comum? Qual é a causa de cada uma das crises?
Eduardo Gudynas – As características de meu trabalho fizeram com que, nas últimas semanas, estivesse em muitos dos países que enfrentam crises: Argentina, Brasil, Chile, Equador e Peru, e também acompanho organizações bolivianas há quase trinta anos. Como resultado desse trabalho, entendo que não há causa comum para o que acontece nesses e em outros países. Existem coincidências, como, por exemplo, as respostas repressivas dos governos do Equador e do Chile, mas existem diferenças substanciais nas mobilizações sociais, na maneira como se expressam e em suas causas.
IHU On-Line - No entanto, existem analistas que argumentam que existem causas comuns ou processos semelhantes. Como vê essas análises?
Eduardo Gudynas - Muitas dessas análises me parecem exageradas, em alguns casos, e, em outros, é evidente que pouco conhecem da realidade dentro de cada um dos países. É como se as peculiaridades históricas, culturais e políticas - coloquemos o caso do Equador, Chile e Bolívia - desaparecessem, esvaecessem. Então, avaliam o que acontece em outro lugar a partir da própria história do comentarista e de suas posições preconcebidas. Cai-se em comparações que me surpreendem, tais como os argentinos que entendem que a renúncia e exílio de Evo Morales da Bolívia seria como a derrubada de Juan Domingo Perón. Seria como se os analistas brasileiros comparassem Evo Morales com João Goulart. Mas, é óbvio que Morales, como boliviano, cocaleiro, sindicalista, não tem muito a ver com essas outras figuras. São análises que eu chamo de “telescópicas” porque usam um telescópio para observar de longe o que acontece nessas terras.
IHU On-Line - Alguns especialistas têm afirmado que a elaboração de novas constituições em países como Equador, Bolívia e Venezuela, embora contenham múltiplos direitos, não proporcionaram uma mudança das estruturas do Estado. Concorda com essa visão? O que dificultou as mudanças na estrutura do Estado nesses países?
Eduardo Gudynas - Na realidade, nesses países houve uma mudança nas estruturas e comportamentos estatais, mas em alguns setores e com alguns propósitos. Por exemplo, reforçaram-se atividades extrativistas, como a mineração e o petróleo, e se efetivaram planos assistencialistas orientados aos mais pobres. Mas, ao mesmo tempo, essas mudanças não serviram necessariamente para fortalecer os direitos, incluindo os novos direitos que foram sancionados nessas constituições. E mais, em vários casos, o Estado atuou contra esses direitos. Aconteceu algo semelhante ao que acontecia no Brasil, já que onde havia oposição, por exemplo, entre a salvaguarda aos direitos dos camponeses ou indígenas e, por outro lado, os interesses de empresas do agronegócio ou petroleiras, o Estado sempre tomava partido pelos interesses econômicos.
Lembro-me sempre que, no processo do Equador, o presidente da assembleia constituinte, Alberto Acosta, dizia, de vez em quando, que a Constituição é o que pessoas desejam. Uma Constituição pertence aos cidadãos. Portanto, a Constituição terá todo o vigor que os cidadãos demandem.
São demandas e exigências que, de vez em quando, devem ser repetidas aos políticos, pois uma vez que se sentam em uma cadeira estatal, rapidamente as esquecem.
IHU On-Line - Quais são os vínculos entre as demandas por direitos e as políticas de desenvolvimento nesses países, e suas relações com essas revoltas?
Eduardo Gudynas – Essa é uma questão de enorme importância. Precisamente, acabamos de concluir uma detalhada revisão e análise do caso da Bolívia que demonstra uma repetida violação dos direitos das pessoas e do meio ambiente, frente aos empreendimentos extrativistas da última década. Esta é uma análise que parte da sistematização realizada pelo Centro de Documentação e Informação da Bolívia - CEDIB e meia centena de organizações cidadãs nacionais ou locais que fizeram relatórios sobre a situação dos direitos frente aos empreendimentos como a mineração, petróleo e agronegócio. Os resultados são impactantes: existem violações em todos os tipos de possíveis empreendimentos sobre a natureza. Em todos eles, sem exceção. Além disso, entre os setores mais afetados estão os camponeses e indígenas. Finalmente, tudo isso ocorre em um âmbito de crescente violência.
Portanto, a deflagração da violência na Bolívia, de ambos os lados, na realidade, surpreende apenas aqueles que conheciam pouco sobre o país. É que lá, há mais de uma década, observa-se como os violentos e a violência, pelo Estado ou por outros atores, avançavam, dia a dia, principalmente no campo.
IHU On-Line - Em suas análises sobre a América Latina, sempre há uma crítica às políticas extrativistas. Com a crise na região, abre-se uma oportunidade para superar o extrativismo ou ele tende a se agravar?
Eduardo Gudynas - Não pode passar desapercebido que os três países que chamamos de hiperextrativistas, Venezuela, Bolívia e Equador, estejam imersos em profundas crises. Entre os outros grandes extrativistas, a situação não é melhor, tal como se observa no Chile, ou mesmo no Peru, onde o poder legislativo foi dissolvido.
Diante dessa situação, existem dois caminhos possíveis. Há aqueles que entendem que o debate deve ser entre diferentes tipos de extrativismos, por exemplo, opondo um empresarial e estrangeiro a outro que estivesse nas mãos de empresas estatais nacionais. Há outros que compreendem que os extrativismos sempre têm impactos severos, sejam eles privados ou estatais e, portanto, é urgente poder deixá-los para trás.
IHU On-Line - No Chile, discute-se a possibilidade de uma nova constituinte. O que a nova constituinte precisaria considerar para não cometer os mesmos erros das constituições do Equador, Bolívia e Venezuela?
Eduardo Gudynas - A saída por uma nova Constituição no Chile tem todas as possibilidades de contribuir para pacificar o país e promover um novo acordo social e político. Lá no Chile também se repetiu uma violência permanente, persistente, que poucas vezes se observa, mas que era muito evidente no meio rural. Existe uma herança autoritária que, sem dúvida, habita na ditadura militar do século passado, mas não se pode esconder que esse verticalismo, esse disciplinamento social e cultural, conta com muitos apoios.
Um processo constituinte pode começar a curar o país. Isso pode acontecer pelo próprio processo, se for participativo e plural. Mas, também pode ser possível, caso introduza temas do século XXI, tais como gênero, povos originários e ecologia. Debater uma nova constituição também é um processo de aprendizagem. É uma forma de aprender a escutar, ser tolerantes e tecer os compromissos para o futuro.

http://www.ihu.unisinos.br/594467-crise-boliviana-evidencia-contradicoes-politicas-dos-ultimos-anos-entrevista-especial-com-eduardo-gudynas 

BOLÍVIA: OS INDÍGENAS RESISTEM AO GOLPE...


E NO BRASIL, NÃO FUNCIONARAM ÓDIOS NASCIDOS DE ALGO PARECIDO?

Bolívia: e os indígenas resistem ao golpe…

Dez dias (e 23 mortes) passaram-se, mas ultradireita não foi capaz de silenciá-los. Exilado, o vice-presidente descreve a caça às cholas, a ação das milícias, a traição dos generais. E a covardia da classe média, tropa de choque do racismo colonial

Por Álvaro García Linera | Tradução: Simone Paz

Feito densa neblina noturna, o ódio percorre ferozmente os tradicionais bairros de classe média urbana da Bolívia. Seus olhos transbordam de ira. Não gritam, cospem; não reclamam, impõem. Seus clamores não são pela esperança nem pela irmandade, são de desprezo e de discriminação contra os índios. Montam suas motos, sobem em suas caminhonetes, agrupam-se em suas confrarias e faculdades privadas e saem à caça dos índios atrevidos que tiveram a coragem de arrebatar-lhes o poder.

Na cidade de Santa Cruz, organizam quadrilhas motorizadas em suas 4×4, com porretes nas mãos para surrar índios — os quais eles chamam de collas [pessoa de traços indígenas ou de estrato social desfavorecido] e que vivem nos bairros marginais ou nos mercados. Cantam hinos sobre matar collas e, se no meio do caminho aparecer alguma mulher de pollera [saia rodada que é o traje tradicional das cholas bolivianas], ela é espancada, ameaçada e coagida a abandonar aquele território.

Em Cochabamba organizam comboios para impor sua supremacia racial na zona sul, onde habitam as classes abastadas, e hostilizam — como se fossem um destacamento da cavalaria — milhares de mulheres camponesas indefesas, que marcham pedindo paz. Em mãos, levam tacos de beisebol, correntes, granadas de gás. Alguns até exibem armas de fogo. Mulheres são suas vítimas preferidas, pegam uma prefeita de uma comunidade campesina para humilhá-la e arrastá-la pela rua: batem nela, urinam nela quando cai no chão, cortam-lhe o cabelo, ameaçam linchá-la e, quando percebem que estão sendo filmados, resolvem jogar tinta vermelha nela, simbolizando o que farão com o sangue dela.

Em La Paz, desconfiam de suas empregadas e ficam em silêncios quando elas levam a comida à mesa, no fundo, sentem medo delas, mas também as desprezam. Depois, saem às ruas para gritar, insultando Evo e, com ele, a todos os índios que ousaram construir uma democracia intercultural com igualdade. Quando são muitos, arrastam a bandeira wiphala, cospem e pisam nela, para cortá-la e queimá-la. É uma raiva visceral a que descarregam sobre esse símbolo indígena que gostariam de eliminar da face da terra, junto com todos aqueles que se reconhecem nele.

O ódio racial é a linguagem política dessa classe média tradicional. De nada adiantam seus títulos acadêmicos, viagens e fé, se no fim tudo dilui-se perante sua linhagem. No fundo, a estirpe imaginada prevalece e parece alinhada com a linguagem espontânea da pele que odeia, dos gestos viscerais e de sua moral corrompida.

Tudo eclodiu no domingo, dia 20, quando Evo Morales ganhou as eleições com mais de 10 pontos de diferença sobre o segundo colocado, mas já não mais com a imensa vantagem de antigamente nem com o 51% dos votos. Foi o sinal que as forças regressivas esperavam, tanto o temeroso candidato liberal da oposição quanto as forças políticas ultraconservadoras, a OEA e a nefasta classe média tradicional.

Novamente, Evo tinha ganhado, mas já não contava com o 60% do eleitorado, então, estava enfraquecido e podiam ir para cima dele. O perdedor não reconheceu sua derrota. A OEA falou em eleições limpas, porém, com uma vitória tímida, e pediu segundo turno — sugerindo ir contra a Constituição, que indica que, se um candidato tem mais do que 40% dos votos e mais de dez pontos de diferença sobre o segundo lugar, é o candidato eleito.

Assim, a classe média se jogou na caça aos índios. Na noite de segunda-feira, dia 21, queimaram cinco dos nove órgãos eleitorais, incluindo as cédulas de votação. A cidade de Santa Cruz decretou uma paralisação civil que articulou os habitantes das regiões centrais da cidade, se espalhando para as regiões residenciais de La Paz e Cochabamba. E então, foi desatado o terror.

Grupos paramilitares começaram a atacar instituições, a queimar sedes de sindicatos, a colocar fogo nas casas de candidatos e líderes políticos do partido do governo. No fim, até a residência particular do presidente foi saqueada. Em outros lugares, as famílias (com filhos incluídos) foram sequestradas e ameaçadas de serem torturadas e queimadas se seus cônjuges, mães ou pais — ministros e líderes sindicais — não renunciassem aos seus cargos. Explodia uma noite de facas longas e o fascismo começava a sair da toca.

Quando as forças populares mobilizadas para resistir ao golpe civil começaram a recuperar o controle territorial das cidades com a ajuda de operários, trabalhadores das minas, camponeses, indígenas e moradores de comunidades pobres, e quando o balanço de forças começava a tender para o lado da força popular, veio o motim policial.

A polícia já vinha demonstrando negligência e inabilidade para proteger as pessoas humildes quando elas eram espancadas e perseguidas pelos bandos fascistóides; mas, a partir de sexta-feira, com o desconhecimento do comando civil, muitos deles passaram a mostrar uma capacidade extraordinária para agredir, prender, torturar e matar manifestantes populares.

Antes, quando era preciso conter os filhos da classe média, diziam não ter capacidade para isso. Mas agora, quando se trata de reprimir os índios rebeldes, a performance, a prepotência e a crueldade repressiva são imponente. O mesmo aconteceu com as Forças Armadas: em toda a nossa gestão de governo, nunca autorizamos elas a saírem reprimindo manifestações civis, nem mesmo no primeiro golpe cívico de Estado, em 2008. Agora, em plena convulsão, sem sequer serem questionados, declararam não ter elementos antidistúrbios, que apenas possuíam 8 balas para cada integrante e que, para servirem às ruas para conter os distúrbios seria necessário um decreto presidencial.

No entanto, não tardaram a pedir-impor ao presidente Evo sua renúncia, rompendo com a ordem constitucional. Fizeram de tudo para tentar sequestrá-lo no trajeto e em sua estadia em Chapare; e, quando o golpe foi consumado, saíram às ruas disparando milhares de balas, militarizando cidades e assassinando camponeses. Tudo isso sem decreto presidencial. Evidentemente, para proteger os índios era necessário um decreto. Mas para reprimir e matá-los, só era preciso obedecer ao que o ódio racial e classista ditava. Ao longo de cinco dias temos mais de 18 mortos e 120 feridos por balas — é claro que todos eles são indígenas.

A pergunta que todos deveríamos responder é: como foi possível a classe média tradicional incubar tanto ódio e ressentimento contra o povo, a ponto de abraçarem um fascismo radical, focado no índio como inimigo? Como conseguiu difundir suas frustrações de classe para a polícia e as forças armadas e ser a base social dessa fascistização, desse retrocesso estatal e dessa degeneração moral?

É a rejeição à igualdade. Ou seja, a rejeição aos próprios fundamentos de uma democracia substancial.

Nos 14 anos de governo que se passaram, os movimentos sociais têm mantido como principal característica o processo de equalização social, de redução abrupta da pobreza extrema (de 38% para 15%), de ampliação dos direitos para todos (acesso universal à saúde, à educação e à proteção social), uma indigenização do Estado (mais do que 50% dos funcionários da administração pública possuem identidade indígena), redução das desigualdades econômicas (diminuiu de 130 para 45 vezes a diferença da renda entre mais ricos e mais pobres), ou seja, uma democratização sistemática da riqueza, do acesso aos bens públicos, às oportunidades e ao poder estatal. A economia cresceu de USD $ 9 bilhões para USD $42 bilhões. Cresceram o mercado e a poupança interna — esta, por sua vez, permitiu que muitos tivessem uma casa própria e que melhorassem sua atividade laboral.
Então, tudo isso traz como resultado o fato de que, em uma década, o percentual de pessoas da chamada classe média (medida pela renda) tenha crescido de 35% da população para 60% — cuja maioria provém de setores populares, indígenas. Trata-se de um processo de democratização dos bens sociais por meio da construção de uma igualdade material que, inevitavelmente, trouxe também uma rápida desvalorização do capital econômico, educacional e político em mãos da classe média tradicional.

Enquanto antigamente um sobrenome importante ou o monopólio dos saberes legítimos ou o conjunto de vínculos parentais próprios das classes médias tradicionais permitia-lhes aceder a cargos na administração pública, a obter crédito, licitações em obras ou bolsas, hoje em dia a quantidade de pessoas que disputam o mesmo cargo ou oportunidade não só duplicou — reduzindo pela metade suas chances de aceder a tais bens — mas essa nova classe média de origem popular indígena possui também um conjunto de novos capitais (língua indígena e vínculos sindicais) de valor elevado, além do reconhecimento estatal para disputar os bens públicos disponíveis.

Trata-se, portanto, do declínio daquilo que era característico da sociedade colonial, a etnicidade como capital, ou seja, do fundamento imaginário de uma superioridade histórica da classe média sobre as classes subalternas, porque aqui na Bolívia a classe social é compreendida e visualizada sob a forma de hierarquias raciais. O fato de que os filhos da classe média tenham sido a força de choque da insurgência reacionária é o grito violento de uma nova geração que vê como a herança do sobrenome e a pele se desvanece frente à força da democratização dos bens. Ainda que tremulem bandeiras da democracia entendida como o voto, na verdade eles se sublevaram contra a democracia entendida como igualdade e distribuição de riquezas. Esse é o motivo do ódio transbordar, da violência exacerbada, porque a supremacia racial é algo que não se racionaliza; se vive como impulso primário do corpo, como tatuagem da história colonial na pele. Por isso que o fascismo não é só a expressão de uma revolução falida, mas também, paradoxalmente, em sociedades pós-coloniais, o êxito de uma democratização material alcançada.

É por isso que não surpreende que, enquanto os índios recolhem os corpos de cerca de 20 mortos assassinados a bala, seus algozes materiais e morais digam que o fizeram para salvaguardar a democracia. Mas, na realidade, sabem que o fizeram é para proteger o privilégio de castas e sobrenomes.

Mas o ódio racial só pode destruir; não é um horizonte, não é mais que uma primitiva vingança de uma classe histórica e moralmente decadente que demonstra que por trás de cada liberal medíocre esconde-se um efetivo golpista.

https://outraspalavras.net/estadoemdisputa/bolivia-e-os-indigenas-resistem-ao-golpe/ 

terça-feira, 19 de novembro de 2019

DECLARACÃO DA ARTICULÇÃO INDÍGENA "COICA" SOBRE O SÍNODO DA AMAZÔNIA

PODEMOS E DEVEMOS TRABALHAR PARA QUE ESSA DECISÃO DE ASSUMIR JUNTOS AS PRÁTICAS DO PÓS-SÍNODO DA AMAZÔNIA ACONTAÇA REALMENTE, COM O IMPULSO DO ESPÍRITO DIVINO.

Declaración final de la COICA, sobre el Sínodo Especial para la Región Amazónica. Roma, octubre de 2019.

La COICA, cumpliendo con el mandato de Macapa, aprobado en el X Congreso de junio de 2018, asume la misión de representar y liderar la defensa de los derechos y territorios de 506 pueblos indígenas y más de 66 pueblos en aislamiento voluntario y contacto inicial, en una región única de 7,5 millones de km2.

Como instancia de coordinación internacional de los pueblos, nacionalidades y organizaciones, declaramos:

1.Nuestro profundo y sincero agradecimiento a la Iglesia Católica Universal, representada por su santidad el Papa Francisco, que, motivado por un sentimiento superior, ha hecho posible este encuentro intercultural, al posibilitar nuestra presencia en la casa de San Pedro, en el Sínodo de los Obispos, en un ambiente de respeto y de profunda espiritualidad.

2. Que el contexto en el que se desarrolla este Sínodo Especial para la Región Panamazónica, ha estado marcado por acontecimientos de violencia, persecución, represión y asesinatos de nuestros defensores y defensoras de la amazonia, también de violación a los derechos fundamentales de la naturaleza y de las leyes nacionales e instrumentos jurídicos internacionales que protegen a nuestros pueblos, y a pesar de ello hemos estado presentes ante este llamado que consideramos el más importante de este siglo, ya que coloca a la amazonia, a sus pueblos y a la vida como eje central de este debate. El clamor amazónico exige al mundo, a los gobiernos, a los parlamentos de Europa, Estados Unidos y América latina, que paren la violencia contra la amazonia, que se agilice la titulación de los territorios indígenas, que pare la invasión violenta e inconsulta de grandes proyectos de “desarrollo” que están saqueando nuevamente nuestra casa y nuestra vida.

3. Que ancestralmente son los pueblos y las culturas indígenas –por sus modos de vida,
costumbres y saberes- quienes más y mejor conservan la amazonia, puesto que sus formas de
relación con la naturaleza, están determinadas por una cosmovisión y una espiritualidad
acerca de lo sagrado, que existe en el profundo respeto a la vida en plenitud y se fundamenta
en los principios de reciprocidad y la complementariedad entre todas las formas de vida, en
donde el ser humano no es superior o inferior sino que hace parte esencial de la reproducción
y mantenimiento de la vida. Los pueblos indígenas no hablan sobre la biodiversidad sino
desde la biodiversidad, es decir son una parte y no el todo de los ecosistemas, las especies y
los genes.

Que, sin embargo, por sobre los territorios indígenas se superponen: áreas protegidas, parques
nacionales, reservas de la biosfera, concesiones petroleras, mineras y forestales,
hidroeléctricas. Se intentó fallidamente en nombre del “desarrollo” o el “progreso”
reemplazar, excluir y en algunos casos exterminar a las culturas más próximas a la teoría del
desarrollo sostenible.

4.Que la cultura del capital, la lógica de la propiedad y la codicia, la enfermedad del
consumismo, el excesivo individualismo y la casi total ausencia de espiritualidad, son los
signos terminales de la crisis civilizatoria contemporánea.

5. Hoy, frente a la más reciente crisis de los incendios en la Amazonía, muchos de los
gobiernos, organismos internacionales, organismos de conservación siguen generando
iniciativas sin considerar a los pueblos indígenas ni sus organizaciones representativas, sigue
vigente una lógica neocolonial que vuelve a cometer el viejo error antropocéntrico, arrogante
y preservacionista de pensar que la conservación es posible, sin considerar a las culturas y
los pueblos indígenas.

6. Las consecuencias generadas han sido: la devastación de la selva, el exterminio de pueblos
y comunidades indígenas, la migración, la progresiva pérdida de los conocimientos, saberes
y prácticas y la disputa sobre una identidad que se debate entre lo propio y lo ajeno. La
despiadada y salvaje forma de ocupación y expropiación de la amazonia por parte de las
corporaciones transnacionales, hacen que ellas, ejerciendo el poder y la cultura del capital,
prescindan de los estados, de las culturas y de los pueblos indígenas y los sometan a una
lógica de mercado que ha mercantilizado y comercializado la vida.

Asistimos hoy, a un terrible momento en la historia de la humanidad en que la extinción de
las especies incluye a los seres humanos y a la naturaleza en su totalidad.

7. Que reconocemos y valoramos las orientaciones y visiones del Papa respecto de:
Una ecología integral, fundamento de relación entre la ética y el bien común de toda la
creación, donde el hombre no es amo, sino un administrador y servidor de la creación por
eso con voz profética exhorta a la compasión por el otro.

Nos señala que debemos: “pasar del consumo al sacrificio, de la avidez a la generosidad, del
desperdicio a la capacidad de compartir. pasar poco a poco de lo que yo quiero a lo que
necesita el mundo de Dios”. Tal propuesta es posible, si el ser humano llega a esta convicción:
“lo divino y lo humano se encuentran en el más pequeño detalle contenido en los vestidos
sin costuras de la creación de Dios”

Que: la inequidad no afecta solo a individuos, sino a países enteros, y obliga a pensar en una
ética de las relaciones internacionales. Porque hay una verdadera «deuda ecológica»,
particularmente entre el Norte y el Sur, relacionada con desequilibrios comerciales con
consecuencias en el ámbito ecológico, así como con el uso desproporcionado de los recursos
naturales llevado a cabo históricamente por algunos países. Las exportaciones de algunas
materias primas para satisfacer los mercados en el Norte industrializado han producido daños
locales, como la contaminación con mercurio en la minería del oro o con dióxido de azufre
en la del cobre.

El Papa Francisco, en su visita a Puerto Maldonado (enero 2018), llamó a cambiar el
paradigma histórico en que los Estados ven la Amazonía como despensa de los recursos
naturales, por encima de la vida de los pueblos originarios y sin importar la destrucción de la
naturaleza. La relación armoniosa entre el Dios Creador, los seres humanos y la naturaleza
está quebrada debido a los efectos nocivos del neo-extractivismo y por la presión de los
grandes intereses económicos que explotan el petróleo, el gas, la madera, el oro, y por la
construcción de obras de infraestructura (por ejemplo: megaproyectos hidroeléctricos, ejes
viales, como carreteras interoceánicas) y por los monocultivos industriales.

“La Amazonia se disputa en varios frentes: por un lado, el neo-extractivismo y la fuerte
presión de grandes intereses económicos ávidos de petróleo, gas, madera, oro y monocultivos
industriales. Por el otro, la amenaza procedente de la perversión de ciertas políticas que
promueven la ‘preservación’ de la naturaleza sin tener en cuenta al ser humano.”

Francisco apela por la defensa de las culturas y por la reapropiación de la herencia que viene
con la sabiduría ancestral, la cual propone una manera de relación armoniosa entre la
naturaleza y el Creador, y expresa con claridad que «la defensa de la tierra no tiene otra
finalidad que no sea la defensa de la vida. Esta debe considerarse tierra santa: ¡Esta no es una
tierra huérfana! ¡Tiene Madre!

Por otra parte, la amenaza contra los territorios amazónicos «también viene por la perversión
de ciertas políticas que promueven “la conservación” de la naturaleza sin tener en cuenta al
ser humano y, en concreto [a los] hermanos [y hermanas] amazónicos que habitan en ellas.

La orientación del Papa Francisco es clara: «Creo que el problema principal está en cómo
conciliar el derecho al desarrollo incluyendo también el derecho de tipo social y cultural, con
la protección de las características propias de los indígenas y de sus territorios. [...] En este
sentido, siempre debe prevalecer el derecho al consentimiento previo e informado.

En la memoria histórica de la relación entre la iglesia y los pueblos indígenas, existen
profundas huellas de encuentros y desencuentros, su origen se sitúa en el escenario de la
ocupación colonial, cuando se incorpora el territorio amazónico al dominio colonial que
luego da paso a la expropiación por parte de los estados nacionales de esos territorios, algunos
momentos de cambio en la iglesia sobre esta situación se expresan, entre otros en: El Concilio
Vaticano II; las Conferencia del Episcopado Latinoamericano de Medellín, Puebla y Santo
Domingo.

8.Que apoyamos el documento final aprobado y que confiamos plenamente en el compromiso
del papa Francisco para que cuando le corresponda hacer su exhortación a la humanidad
considere nuestra aspiración colectiva de que inicie el post Sínodo y podamos caminar juntos
con alegría, esperanza y mucha voluntad en los siguientes aspectos:

• Que la ecología integral se haga realidad en la conciencia y en la acción, denunciando
y enfrentando con valor la explotación ilimitada de la casa común y de sus habitantes.

• Que debemos iniciar conjuntamente con la iglesia amazónica y el pueblo amazónico
la discusión y ejercicio de experiencias que permitan hacer realidad en nuestros


pueblos y comunidades la valoración de sus prácticas económicas para que sean
visibilizadas y tomadas en cuenta para cambiar este modelo de desarrollo extractivitas
y podamos vencer el cambio climático y la deforestación de la amazonia.

• Que logremos incidir conjunta sobre los estados, las iglesias y los organismos
internacionales, sobre la importancia de las culturas, los conocimientos y la
espiritualidad indígena para la conservación de la Amazonia.

9-Acompañar a la iglesia en la conversión ecológica, espiritual y económica para que la
iglesia sea la que necesitamos hoy. Queremos estar al lado de los cambios y caminar junta a
ella, cuando toma en cuenta la voz y participación de los diáconos, mujeres y jóvenes que se
necesitan en la amazonia, esa iglesia indígena que ya tiene más de 50 años de vida entre
nosotros. Esperamos que la REPAM siga coordinado los procesos de articulación y
encuentros en estos nuevos caminos necesarios.

La canoa de la COICA regresa a la maloca con la esperanza intacta, en la prevalencia de la
humanidad frente al azote de egoísmo y avaricia que pone en peligro nuestra casa común, y
reitera el llamado a la protección y defensa de nuestra selva por que es nuestra madre acá en
la tierra.

José Gregorio Diaz Mirabal Tuntiak Katan

Coordinador General COICA Vice Coordinador General COICA

https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/WhctKJVjMcSrVfnHZzhsptMKCxDvthHgStgPRsTGtwbGNbJcckGZBzzBcSqcqVQNhcHmkQq?projector=1&messagePartId=0.1