domingo, 22 de dezembro de 2019

O DEUS DE JESUS x O deus DOS TIRANOS

O Deus de Jesus x o deus dos tiranos
Roberto Malvezzi (Gogó)
O Deus de Jesus de Nazaré sempre será um mistério. Não só porque é o Criador de tudo que existe, inclusive cada um de nós, mas porque saiu de sua grandeza para tornar-se um ser humano na barriga de uma jovem periférica, num país periférico, num povo periférico, nas condições mais precárias daquele tempo. Aceitar que Deus saiu de sua grandeza para tornar-se um de nós é mesmo absurdo, portanto, compreendo perfeitamente quem não acredita e até ri de nossa fé. Não é maldade, mas o mistério é mesmo maior que nossa compreensão.
O Deus de Jesus é poderoso, mas respeita cada pessoa, o problema particular de cada ser, mas ao mesmo tempo é o Senhor do Universo. Para Ele, o pequeno e o grande, o espetacular, o inimaginável andam juntos em pé de igualdade. É desse Deus que falamos no Natal cristão, aquele que se torna um de nós, que mora conosco e eleva tudo e todos à grandeza de seu projeto definitivo.
O problema do Deus de Jesus é que Ele é amor, portanto, não pode usar de violência para impor seu projeto, mas o anuncia, oferece e depende de cada um aceitar seguir seus caminhos, ou mesmo recusar suas dádivas.
Outro é o “deus dos tiranos”, esse que está em moda hoje no Brasil. O deus que está acima de tudo, de todos, que odeia os pobres, os negros, a população LGBT, que tem armas, que tortura, que mata, que pune os indefesos, que rouba os direitos dos trabalhadores, a saúde dos doentes. Esse é o deus de mercenários bilionários, num país de milhões de desempregados e até com a volta da fome e da miséria.
Por isso, o Deus de Jesus se escreve com “D”. Por isso o deus dos tiranos se escreve com “d”. O deus dos tiranos é o deus de Hitler. “Brasil acima de Tudo e Deus acima de todos”, esse é o lema do atual governo brasileiro. “Deutschland über alles”, é o Deus de Hitler que o atual governo trouxe para o Brasil.
Não nos espantemos. Esse deus parece poderoso, mas é fraco, normalmente desaparece com o ditador que o criou.
O Deus de Jesus, na sua fragilidade-amorosa, está sempre presente no meio de nós, até o pleroma, quando Deus será tudo em todos.
Uma luz brilha nas trevas.
Feliz Natal a todos e todas.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A ELITE ESTADUNIDENSE PREVÊ FIM DO NEOLIBERALISMO


DUAS PERGUNTAS, PARA ANIMAR A LEITURA: ATÉ A ELITE ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS USA ESTÁ SE CONVENCENDO QUE O O NEOLIBERALISMO TEM QUE ACABAR? QUAIS SUAS RAZÕES E OBJETIVOS: MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO E DA MÃE TERRA, OU SALVAMENTO QUASE DESESPERADO DO CAPITALISMO? 

MESMO SABENDO QUE É OPORTUNISTA ESSE POSICIONAMENTO SÓ APARENTEMENTE CRÍTICO, ELE SERVE COMO ALERTA A TODAS AS PESSOAS QUE AINDA ESTÃO ENTRANDO NA CONVERSA MOLE - OU MELHOR, "MALA" - DOS QUE OCUPAM AS CADEIRAS DA POLÍTICA ECONÔMICA PROMOVIDA PELO GOVERNO FEDERAL: ATÉ OS EXPLORADORES ESTÃO RECONHECENDO QUE  NEOLIBERALISMO FOI E CONTINUA UM JOGO EM QUE SÓ ELES GANHAM, E MUITO, A TAL PONTO QUE, SEGUINDO NELE, AS REVOLTAS SOCIAIS PODERÃO IMPEDIR ATÉ MESMO O QUE ELES CONSIDERAM O CAPITALISMO "CORRETO", QUE EXPLORA E CONCENTRA, MAS DE FORMA MENOS AGRESSIVA E AUTODESTRUIDORA!

QUEM VAI CONVERSAR COM O MINISTRO DA FAZENDA, E COM OS CONGRESSISTAS QUE ACEITAM SUAS PROPOSTAS? OU ESTAMOS FADADOS MESMO A CONTINUAR IMPONDO O QUE FOI IMPOSTO NO SÉCULO PASSADO, E JÁ DEMONSTROU SER UM ERRO ATÉ PARA OS CAPITALISTAS?!

A elite americana prevê o fim do neoliberalismo, por Andre Motta Araujo

O Brasil, sempre atrasado na absorção de tendências do pensamento econômico elaboradas nos países centrais quer, em 2019, implantar no País a ideologia já caduca dos anos 1980

A elite americana prevê o fim do neoliberalismo

por Andre Motta Araujo

As 200 maiores corporações americanas, reunidas no  BUSINESS ROUNDTABLE, principal entidade de cúpula do capitalismo americano, presidido por Jamie Dimon, CEO do mega banco J.P. MORGAN CHASE, pela voz de seus executivos principais reunidos, decidiram que o credo neoliberal praticado há 40 anos, segundo o qual p principal objetivo das corporações é gerar “valor para o acionista”,  está errado e deve ser revisto porque esse ideia causou um desastre que vai COLOCAR EM RISCO O PRÓPRIO CAPITALISMO. Esse desastre se chama “CONCENTRAÇÃO DE RENDA”.

Há 40 anos, segundo o Business Roundtable, 1% da população americana detinha 7% da riqueza. Hoje os mesmos 1% detém 22% da riqueza, a concentração de riqueza aumentou TRÊS VEZES. O mito neoliberal, de que se o acionista ganhar mais toda a economia prospera, ERA FALSO. A riqueza se concentra e não beneficia o conjunto da sociedade. Hoje o crescimento dos EUA está estagnado e não passa de 2% anual, inexplicável quando o desemprego é baixo. Na prática, os EUA têm pleno emprego, mas há truques embutidos nessa constatação, há muitos trabalhando abaixo de sua competência porque não conseguiram prosseguir suas carreiras pela falta de crescimento da economia, há uma estagnação e até regressão social nítida nos EUA.

A explicação do Business Roundtable é clara: NÃO CRESCE PORQUE OS SALÁRIOS SÃO BAIXOS E A POPULAÇÃO ESTÁ ENDIVIDADA, quer dizer, não basta o pleno emprego, é preciso DISTRIBUIR RENDA para que a economia cresça e as grandes corporações NÃO DEVEM TER O LUCRO PARA O ACIONISTA COMO ÚNICO OBJETIVO, PORQUE ISSO VAI DESTRUIR A ECONOMIA DE MERCADO por causa de uma crise social que pode levar à implosão do País.

O FIM DO CICLO NEOLIBERAL

O chamado “ciclo neoliberal’, que é uma exacerbação dos princípios da Escola Austríaca, uma espécie de crença cega no mercado muito além dos princípios da primeira fase do capitalismo moderno com Adam Smith e David Ricardo, propagado pela então Primeira Ministra Margaret Thatcher, hoje demonizada no Reino Unido, com sua biografia histórica revista muito para baixo, partia da lógica errada de que a economia de mercado, LIVRE DAS AMARRAS DO ESTADO, seria boa para todos, ricos, classe média e pobres. Segundo a conclusão do Business Roundtable, evidenciado o pensamento de 178 CEOs das maiores corporações da economia produtiva e do mercado financeiro dos EUA, essa crença É FALSA. A economia de mercado sem Estado NÃO É BOA PARA TODOS, só para os ricos e se isso não for corrigido o capitalismo não terá futuro porque ele só funciona dentro de uma sociedade organizada.
O PAPEL DO ESTADO
A conclusão do Business Roundtable vai mais além. Julga que é fundamental reconsiderar o papel do Estado como regulador e garantidor dos direitos da população em suas relações com o mercado, que, ao contrário do que imaginavam os neoliberais de raiz, NÃO SE AUTOREGULA porque não é de sua natureza e nem de sua capacidade. É necessário um Estado forte para que a população seja protegida da ganância excessiva do mercado.

O BRASIL NA CONTRA MÃO ADOTA O NEOLIBERALISMO DOS ANOS 80

O Brasil, sempre atrasado na absorção de tendências do pensamento econômico elaboradas nos países centrais quer, em 2019, implantar no País a ideologia já caduca dos anos 1980, as ideias de Mrs. Thatcher já foram desmontadas na própria Inglaterra e sua biografia revista e piorada, a deputada Glenda Jackson, ex-artista de Hollywood, é hoje o maior algoz do papel histórico de Mrs. Thatcher e a crise de 2008 nos EUA foi atribuída à desregulamentação do mercado financeiro efetuada pelo Presidente Reagan, também sob revisão histórica.

O neoliberalismo dos anos 1980 foi desmontado no Chile pelos efeitos catastróficos que causou nas classes média e pobre do Chile, enquanto enriquecia o topo dos ricos.

O neoliberalismo com desmanche do Estado está em franca implantação no Brasil ao mesmo tempo em que é rejeitado nos países centrais, produzindo terríveis efeitos em um Pais com enorme população de baixa renda, produziu péssimos resultados em países ricos ao empobrecer a classe média, em países emergentes produzirá catástrofes de miséria e involução social. Vemos hoje no Brasil um sólido pensador econômico neoliberal de primeira linha, Arminio Fraga, fortemente preocupado, mais do que qualquer outro fator, com o desequilíbrio social, ao mesmo tempo em que neoliberais ideológicos, como o Ministro da Economia, incapaz de evoluir, pregando e colocando em prática no Brasil o receituário neoliberal antigo dos anos 1980, que fracassou redondamente no seu principal laboratório, o Chile. Cego a esse fracasso o atual núcleo que comanda a economia no Brasil insiste na fórmula chilena.
Agora, com a revisão dessas premissas nos EUA, alguma luz deve se despejar sobre a mídia e os empresários brasileiros que apoiam essa catástrofe de desmonte do Estado via privatizações absurdas e concessões fantasiosas, com a alegação infantil de “o Brasil está quebrado”, quebrado estará pela incompetência de quem deveria ter projetos e ideias de revigoramento da economia onde o Estado ainda tem e terá PAPEL CENTRAL.

O NEOLIBERALISMO COMO IDEOLOGIA

Há dois eixos diferentes no neoliberalismo de Thatcher e de Reagan. Mrs. Thatcher tinha o neoliberalismo como uma ideologia em oposição ao Partido Trabalhista Inglês, que era (e é) um partido social democrata clássico. Já Reagan adotou uma forma mais suave de neoliberalismo, baseado na desregulamentação e não na privatização, não havia o que privatizar nos EUA, ao contrário do Reino Unido. Reagan era a favor da desregulamentação do mercado financeiro, que foi a causa da crise de 2008, isso dito pelo então Secretário do Tesouro dos EUA e era contra os sindicatos de trabalhadores. Mas Reagan não seguia a linha de considerar o neoliberalismo uma ideologia, era apenas uma praxis útil à economia, não era uma fé religiosa, Reagan era um pragmático.
Já os neoliberais brasileiros do atual grupo no comando da economia têm o neoliberalismo como IDEOLOGIA ou SEITA, é uma forma muito mais primitiva tosca, grosseira e ignorante de operar aquilo que é apenas uma escola de pensamento econômico que serve para um ciclo e não pela eternidade.
O interessante é que os neoliberais da Era FHC, como Arminio Fraga, Gustavo Franco, Pedro Malan e outros não operaram a política econômica na base de ideologia, eram práticos e não fanáticos, como pessoas cultas e inteligentes alguns revisaram suas posições para ver os defeitos do neoliberalismo, caso de André Lara Rezende e Arminio Fraga, é uma característica de cérebros de primeira ordem, a capacidade de se reciclar, rever posições, refletir, e não manter a mesma ideia  até a morte, caso dos burros e limitados. Keynes se reinventou várias vezes, mudando de ideia de acordo com a época, como respondeu à observação de Lady Astor “O senhor muda de ideia a toda hora”, ao que Keynes respondeu, “My lady, eu não mudo, o que mudam são as circunstâncias”. Lara Rezende e Fraga estão hoje na mesma linha do Business Roundtable, ou o capitalismo se reforma para distribuir renda ou acaba.

E a ruptura pode vir de forma repentina, como no Chile e agora também na Colômbia, com manifestações destrutivas e intermináveis, produto da frustação acumulada de classes e pessoas que viram suas vidas serem destruídas pelo desemprego e regressão social.  A elite brasileira, historicamente atrasada, cega e surda, focada no mercado financeiro, dificilmente terá a capacidade revisionista de uma elite culta, mas fica do recado da elite americana.

https://jornalggn.com.br/artigos/a-elite-americana-preve-o-fim-do-neoliberalismo-por-andre-motta-araujo/ 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

MAIS DE 500 MIL ASSINATURAS EM FAVOR DA VIDA DO CERRADO

NÃO PODEMOS PERDER TEMPO, JÁ QUE A AMEAÇA DE COLAPSO SOCIOAMBIENTAL ESTÁ MAIS PRÓXIMO DO QUE SE PODE IMAGINAR. TUDO QUE FIZERMOS EM DEFESA DO CERRADO E DOS DEMAIS BIOMAS DEFINIRÁ COMO VIVERÃO - OU NÃO - NOSSOS NETOS.

VIVA A CAMPANHA NACIONAL EM DEFESA DO CERRADO!


2/09/2019Justiça Ambiental
https://fase.org.br/pt/informe-
se/noticias/rodrigo-maia-recebe-mais-de-meio-milhao-de-assinaturas-da-peticao-em-defesa-do-cerrado/  

Rodrigo Maia recebe mais de meio milhão de assinaturas da petição em defesa do Cerrado

A entrega da petição com mais de 500 mil assinaturas foi um marco na trajetória da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado. Organizações e movimentos sociais seguem pressionando parlamentares para aprovação da PEC que garante ao Cerrado e a Caatinga o título de Patrimônios Nacionais


Bruno Santiago¹
Rodrigo Maia e Joenia Wapichana. Foto: Thomas Bauer/CPT
No dia 11 de setembro, Dia Nacional do Cerrado, mais de meio milhão de assinaturas da petição pela aprovação da PEC 504/2010, que transforma o Cerrado e a Caatinga em Patrimônio Nacional, foram entregues ao Congresso Nacional. Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, recebeu a petição pelas mãos da deputada Joenia Wapichana. Mais cedo, durante Seminário do IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, promovido pela Rede Cerrado², que também aconteceu na Câmara, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado havia entregue o caderno de assinaturas à Joenia e a outros parlamentares presentes.
Em ação coletiva dentro da Câmara dos Deputados, também foi realizada a entrega da petição durante sessão da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Os deputados Rodrigo Agostinho, presidente da Comissão, e Nilto Tatto, coordenador da frente parlamentar ambientalista, receberam as assinaturas da liderança quilombola Maria de Fátima Barros, que representou a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado.
Para Fátima Barros, defender o Cerrado é defender um direito territorial e ancestral, mas também o direito à própria vida. ‘’Lutar pelo Cerrado é defender os nossos corpos, as nossas vidas e a nossa água. Vivemos um momento emblemático, com muitas ameaças e corte de políticas públicas, mas não podemos esquecer que somos a voz desse bioma e por isso não podemos admitir que nossos territórios, vidas e recursos naturais sejam esfaceladas’’, destacou Fátima.
Foto: Thomas Bauer/CPT
O coordenador da Frente Parlamentar ambientalista, Nilto Tatto, também ofereceu seu apoio à Campanha em Defesa do Cerrado, se comprometendo a votar em favor da PEC 504/2010. ‘’Os ataques que o Cerrado vem sofrendo nas últimas décadas comprometem diretamente a preservação das nossas florestas e a produção de água, por isso, é mais do que acertada essa campanha pela aprovação da PEC’’, afirmou o deputado.

Copos vazios

Foto: Thomas Bauer/CPT
E se um garçom, com uma bandeja cheia, te oferecesse um copo d’água vazio? Foi o que aconteceu nos corredores da Câmara dos Deputados em ação de sensibilização e divulgação antes da entrega das assinaturas da petição. ‘’Não espere a água acabar para fazer alguma coisa’’ – esses foram os dizeres que estampavam o fundo dos copos oferecidos a diversos parlamentares, assessores e público presente durante a ação.
A medida que os copos eram entregues, as pessoas se davam conta de que se tratava de um recipiente vazio, fazendo alusão a relação direta do Cerrado com o abastecimento de água em nosso país, uma vez que o bioma abriga oito das doze regiões hidrográficas brasileiras e abastece seis das oito grandes bacias hidrográficas do Brasil.
Foto: Thomas Bauer/CPT
Os deputados Alessandro Molon e Gervasio Maia, que receberam os copos vazios, demonstraram apoio à Campanha e também se posicionaram em favor da  aprovação da PEC. ‘’Para que nosso copo não fique vazio, para que o nosso país não fique sem água, vamos proteger o Cerrado e a Caatinga’’, afirmou Molon.

Ainda não acabou

A entrega da petição com mais de 560 mil assinaturas foi um marco na trajetória da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, que atua desde 2015 para alertar e conscientizar a sociedade sobre os impactos causados pela destruição do bioma no Brasil. Mais de 50 organizações e movimentos sociais fazem parte da iniciativa, que agora seguirá pressionando os parlamentares e a Câmara dos deputados para aprovação da PEC que garante ao Cerrado e a Caatinga o título de Patrimônios Nacionais.
[1] Comunicador da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, da qual a FASE é parte.
[2] A FASE integra a Rede Cerrado.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

O PONTO DE NÃO RETORNO ESTÁ À VISTA E AVANÇANDO NA NOSSO DIREÇÃO

QUEM ESCREVE ISSO É O SECRETÁRIO DA ONU. ELE DIZ TER ESPERANÇA, MAS NÃO APOSTA APENAS NA COP25. ELE RECONHECE A FORÇA DOS QUE SE MOBILIZAM POR MUDANÇAS QUE ENFRENTEM O QUE AGRIDE A NATUREZA E PROVOCA, JÁ, A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA, DE MODO ESPECIAL OS JOVENS, QUE EXIGEM SEU DIREITO A TER FUTURO.

IHU, 03 de dezembro de 2019

http://www.ihu.unisinos.br/594831-clima-o-que-ainda-falta-e-vontade-politica-artigo-de-antonio-guterres 

Emergência climática. “O ponto de não retorno não está mais no horizonte. Ele já está à vista e avançando na nossa direção”. Artigo de António Guterres


“Os sinais de esperança sobre o clima estão se multiplicando. A opinião pública está despertando em todos os lugares. Os jovens estão mostrando uma notável liderança e mobilização. O que ainda falta é vontade política.”
A opinião é de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, durante a coletiva de imprensa antes da COP-25, publicado por ONU, 01-12-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E contundente, ele alerta: "Mas sejamos claros. Até agora, os nossos esforços para alcançar essas metas têm sido totalmente inadequados. Os compromissos assumidos em Paris ainda levariam a um aumento de temperatura acima de três graus Celsius. Mas muitos países sequer cumprem esses compromissos. As emissões de gases do efeito estufa ainda estão crescendo a um ritmo alarmante".

Eis o artigo.

Há muitas décadas, a espécie humana tem estado em guerra com o planeta. E o planeta está revidando. A Organização Metereológica Mundial está divulgando seu relatório sobre o Estado do Clima nesta conferência [COP-25]. E suas descobertas são claras.
Os últimos cinco anos foram os mais quentes já registrados. O nível do mar é o mais alto da história humana. As calotas de gelo estão derretendo a uma velocidade sem precedentes, e os oceanos estão ficando mais ácidos com todas as suas consequências. A biodiversidade em terra e no mar está sob um severo ataque.
Desastres naturais relacionados ao clima estão se tornando mais frequentes, mais letais, mais destrutivos, com crescentes custos humanos e financeiros. A seca em algumas partes do mundo está progredindo a taxas alarmantes, destruindo habitats humanos e colocando em risco a segurança alimentar.
Todos os anos, a poluição do ar, associada às mudanças climáticas, mata sete milhões de pessoas. As mudanças climáticas têm se tornado uma reação dramática à saúde humana e à segurança humana. Em resumo, as mudanças climáticas não são mais um problema de longo prazo. Agora estamos diante de uma crise climática global.
O ponto de não retorno não está mais no horizonte. Ele já está à vista e avançando na nossa direção.
No entanto, a minha mensagem aqui hoje é de esperança, não de desespero. A nossa guerra contra a natureza deve parar. E sabemos que isso é possível. A comunidade científica nos forneceu o mapa para alcançar esse objetivo. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, devemos limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius, alcançar a neutralidade do carbono até 2050 e reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 45% em relação aos níveis de 2010 até 2030.
Mas sejamos claros. Até agora, os nossos esforços para alcançar essas metas têm sido totalmente inadequados. Os compromissos assumidos em Paris ainda levariam a um aumento de temperatura acima de três graus Celsius. Mas muitos países sequer cumprem esses compromissos. As emissões de gases do efeito estufa ainda estão crescendo a um ritmo alarmante.
Hoje, o mundo produz 120% mais combustíveis fósseis do que o valor consistente com um caminho de 1,5 graus. E, em relação ao carvão, esse número é de 280%. Mas a comunidade científica também nos diz que o mapa para ficar abaixo de 1,5 graus ainda está ao alcance. As tecnologias necessárias para tornar isso possível já estão disponíveis.
Os sinais de esperança estão se multiplicando. A opinião pública está despertando em todos os lugares. Os jovens estão mostrando uma notável liderança e mobilização. Cada vez mais cidades, as instituições financeiras e as empresas estão se comprometendo com o caminho de 1,5 graus. Isso ficou recentemente provado claramente durante a Cúpula de Ação Climática em Nova York.
O que ainda falta é vontade política. Vontade política de colocar um preço no carbono. Vontade política de interromper os subsídios aos combustíveis fósseis. Vontade política de parar de construir usinas a carvão a partir de 2020. Vontade política de mudar a tributação da renda para o carbono – tributando a poluição em vez das pessoas.
Nós simplesmente precisamos parar de cavar e perfurar, e aproveitar as vastas possibilidades oferecidas pelas soluções de energia renovável e baseadas na natureza. É por isso que, em setembro, eu convoquei a Cúpula de Ação Climática. A cúpula forneceu um cenário global para ver quem está dando passos à frente.
Setenta países se comprometeram com a neutralidade de carbono até 2050. Isso inclui sete países do G20, assim como muitas nações que contribuíram menos para o problema. Mas também vemos claramente que os maiores emissores do mundo não estão fazendo a sua parte. E, sem eles, o nosso objetivo é inacessível.
É por isso que é tão importante que nos reunamos em Madri para esta COP-25. Eu espero da COP uma demonstração clara de uma maior ambição e comprometimento, mostrando prestação de contas, responsabilidade e liderança. Nos próximos 12 meses cruciais à nossa frente, é essencial que garantamos compromissos nacionais mais ambiciosos – particularmente dos principais emissores – para começar imediatamente a reduzir as emissões de gases do efeito estufa em um ritmo consistente para alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
Deveríamos garantir que pelo menos 100 bilhões de dólares por ano estejam disponíveis para os países em desenvolvimento para mitigação e adaptação, e levar em conta as suas expectativas legítimas de dispor dos recursos necessários para aumentar a resiliência e a resposta e recuperação de desastres.
Também devemos progredir nas dimensões sociais das mudanças climáticas e garantir que os compromissos nacionais incluam uma transição justa para pessoas cujos empregos e meios de subsistência são afetados, à medida que passamos da economia cinza para a economia verde.
Essas são as razões pelas quais eu tenho o prazer de anunciar que Mark Carney, que atualmente é o governador do Banco da Inglaterra e um renomado pioneiro em pressionar o setor financeiro a agir pelo clima, aceitou ser meu Enviado Especial para Ação Climática e Financiamento Climático.
Também espero sinceramente que a COP-25 seja capaz de concordar com as diretrizes para a implementação do Artigo 6 do Acordo de Paris. Infelizmente, isso não foi alcançado em Katowice, quando aprovamos o livro de regras para a implementação do Acordo de Paris. Esse acordo estabelecerá uma base sólida para a cooperação internacional para reduzir as emissões e permitir um maior papel do setor privado na ação climática.
Essas são as mensagens que estou trazendo para a conferência. Estamos em um poço profundo e ainda estamos cavando. Em breve, ele será muito profundo para escapar. Saúdo as vozes dos jovens ativistas que tenho encontrado. Eles entendem que estamos colocando em risco o futuro deles. É por isso que continuarei pressionando todos os dias para manter o clima no topo da agenda internacional.