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NÓS PRECISAMOS DA NATUREZA VIVA
“Olorum, supremo Deus do amor,
dá-nos teu axé.
Faze-nos descobrir ao redor de nós
teus Orixás que nos ligam contigo,
com a Natureza e com tudo o que é criado.
Dá-nos teu axé”.
(Oração de uma mãe de santo do Candomblé Ketu)
A Articulação pelos Direitos da Natureza, a Mãe Terra vem a público advertir a todas as pessoas sobre as consequências das decisões políticas que estão sendo tomadas. E o faz partindo de um fato simples, percebido por todas as pessoas que orientam sua vida pela busca da verdade: a humanidade, desde a sua origem, não tem outra possibilidade de manter-se viva e em busca de felicidade do que cuidar da vida da Natureza. Somos, na verdade, membros da imensa e diversificada comunidade viva da Terra. Dependemos dela para tudo, e quando convivemos com ela, ela garante generosamente as energias necessárias à vida.
É importante lembrar que o planeta Terra é o único que conhecemos que oferece ambiente favorável à vida. Mesmo assim, é preciso lembrar sempre que vivemos numa pequena crosta de solo e numa quase redoma de umidade, gases e raios do sol: a pequena camada que denominamos atmosfera, que impede que morramos de frio e de calor em excesso e supre nossa necessidade de oxigênio. A Terra levou mais de quatro bilhões de anos para criar essas condições que tornaram possível e continuam mantendo o milagre da vida. Nada é dispensável. Um pouco de atenção leva a perceber como tudo está interrelacionado.
É essa consciência e o desejo de cuidado que nos levam a perguntar: pode a Terra manter-se viva sem suas florestas? Como se sabe que, entre muitas outras funções essenciais, elas geram a umidade que mantém vivos os solos e, ao mesmo tempo, contribuem significativamente para a geração de umidade na atmosfera, mantendo em movimento e renovação o regime de águas. Como se manterá a vida com pouca ou até sem água?
O Brasil convive nos últimos anos com um aumento assustador de desmatamento do que resta de florestas, de modo especial na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, e com o uso impiedoso do fogo para dispor de mais solos “livres” para a exportação de produtos ligados à extração de madeira, à pecuária, à produção de grãos em imensas monoculturas e à mineração. E os poderes do Estado estão favorecendo esse processo, como fica evidenciado nas propostas de lei que praticamente anulam o licenciamento ambiental e que facilitam a legalização de imensas áreas de terra griladas em todo o país, mas afetando especialmente a Amazônia.
Unimos nossas vozes com todas as iniciativas sociais que estão mobilizadas para exigir que o Senado não confirme as insanas propostas aprovadas na Câmara Federal. Não é racional que sejam aprovadas pelos seres humanos leis que agravam o risco de prejuízos fatais para as próximas gerações e para todos os seres vivos nossos parceiros de vida.
Reafirmamos o objetivo que nos une e nos leva a agir: a defesa e a busca de reconhecimentos dos Direitos da Natureza, a Mãe Terra.
Brasília, 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente