Quantos mortos teríamos se fôssemos a Bolívia? Ou a Alemanha?
A ordem de grandeza do número de vidas perdidas pela negligência brasileira
Por César Locatelli
26/09/2021 13:20
Quantos mortos teríamos se fôssemos a Bolívia? Ou a Alemanha?
A ordem de grandeza do número de vidas perdidas pela negligência brasileira
Por César Locatelli
26/09/2021 13:20
O Brasil não tem salvação: é muita estupidez e pouca inteligência
Roberto Malvezzi (Gogó)
O que era uma piada do Papa Francisco, agora virou profecia. Não pela cachaça, nem pela pouca oração, mas pelo tamanho da estupidez que tomou conta do Brasil.
O relatório do IPCC nos diz que já estamos mergulhados nas mudanças climáticas: secas, enchentes, ondas de calor, ondas de frio, furacões, tempestades, com o consequente impacto nas comunidades e países mais pobres e vulneráveis, com aumento de doenças, fome, sede e miséria. O que antes era esperado para o fim do século, depois para a metade do século, agora já se confirma e deve chegar ao ápice já em 2030.
O `Pantanal já perdeu 75% de suas águas desde 1985. Uma grande vitória do agronegócio brasileiro, com sua soja, seu milho, seu gado e todas as suas monoculturas.
No geral o Brasil perdeu 15% de suas águas doces em 30 anos. Vitória complementar dos devastadores da Amazônia e do Cerrado. A Mata Atlântica já tinha sido destruída. E Caatinga vai sendo destruída a conta gotas, assim como cada gota de chuva que cai sobre nós.
O desmatamento da Amazônia cresceu 51% em relação ao mesmo período anterior. Portanto, a política de devastação de Bolsonaro/Sales vai atingindo plenamente a sua meta, mas o processo já vinha desde a década de 70 do século passado com a ocupação da Amazônia nos padrões de desenvolvimento do Regime Civil-Militar.
Um deserto do tamanho da Inglaterra avança sobre o Semiárido Brasileiro. Resultado do desmatamento para a agricultura e pecuária extensivas. Cerca de 13% do território do Semiárido já estaria desertificado e a perspectiva é de ampliação desse processo de extinção da vida, segundo o mesmo IPCC (https://www.bbc.com/
A maior seca dos últimos 91 anos se abate sobre a região Sudeste e os sulistas e sudestinos insistem em levar seu modelo de desenvolvimento para a Amazônia, para o Pantanal, para o Cerrado e para o Oeste Baiano.
Um Senhor de cabeça branca, vice-governador da Bahia, em um vídeo exalta uma empresa no Oeste Baiano por “suprimir a vegetação de 25 mil hectares” e implantar um projeto de irrigação no município de Barra, onde estão os Brejos, verdadeiros “oásis” em território brasileiro.
Hoje se fala em múltiplas inteligências, inclusive a emocional. Olhe para o presidente da República e dê uma nota de zero a dez para sua inteligência emocional, sem falar na capacidade de raciocínio.
Para completar, cinco ex-presidentes vão perguntar aos generais se eles estão querendo dar um golpe ditatorial no Brasil. É o avesso do avesso, do avesso, do avesso.
Parafraseando o Papa Francisco, o Brasil não tem salvação, é muita estupidez e pouca inteligência.
O pão que Bolsonaro amassou
Roberto Malvezzi (Gogó)
As Pastorais do Campo sabem muito bem por qual razão o governo federal colocou um jagunço armado em homenagem ao Dia do Agricultor. Porque é assim que o agronegócio trata quem lhe atravessa pela frente, seja posseiro, quilombola, índio ou pequeno agricultor. Nossas estatísticas de assassinatos e conflitos no campo, registrados desde 1985, são também um retrato da violência contra o povo do campo por quem é pop, tech e fogo.
Informações atuais dizem que o agronegócio brasileiro produz comida suficiente para alimentar 1,6 bilhão de pessoas no mundo. Os números são um espanto!
Entretanto, outras informações nos dizem que o Brasil atual tem 110 milhões de pessoas em insegurança alimentar, isto é, não sabem se comem a cada dia e não têm garantia de ter os nutrientes necessários para alimentar uma pessoa. Pior, 26 milhões estariam na miséria absoluta, situação de fome.
Esse é o Brasil dos ufanistas e esse é o Brasil real. Facilmente se esconde a realidade trágica de milhões de famílias atrás de estatísticas e números, mesmo que outros números digam exatamente o contrário do que alardeiam.
Matérias de jornal dizem que o povo faz filas para comprar um osso no Mato Grosso, onde existem dez cabeças de vaca para cada ser humano. Mas, que nada, não existe paradoxo e estamos felizes nessa ilha de prosperidade chamada Brasil.
Fui ver o IDH de Cuba comparado ao Brasil. Pois bem, a ilha tem um Índice de Desenvolvimento Humano (0,783 em 2019) superior ao do Brasil (0,765 em 2019). E o IDH é um índice formulado pela ONU. Até a Renda per Capita de Cuba, pasmem, é superior à Brasileira: 8.821,82 USD (2018) de Cuba e a do Brasil 8.717,19 USD (2019). O problema é que lá essa renda é melhor distribuída e no Brasil ela é concentrada.
Então, a tal ilha comunista, pobre, que dizem miserável, tem educação, longevidade e renda per capta superior a essa maravilha capitalista chamada Brasil. Uruguai, Argentina e Chile também estão melhores que o Brasil em seu IDH.
O fato é que a fome voltou ao Brasil com a voracidade de séculos passados, para desespero de Dom Hélder Câmara, Betinho, Josué de Castro e nosso também.
Estamos comendo o pão que Bolsonaro amassou e não amassou sozinho.
MARAVILHOSA CARTA DE SORAIA MENDES AO APRESENTAR SUA CANDIDTURA. MERECE TODO O APOIO POSSÍVEL DE TODAS AS PESSOAS QUE AMAM O DIREITO E A DEMOCRACIA.
https://www.cartacapital.com.br/politica/contra-andre-mendonca-jurista-soraia-mendes-se-candidata-ao-stf/?utm_campaign=novo_layout_newsletter_-_21072021&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
CAMPANHA CONTRA O 'TERRIVELMENTE EVANGÉLICO'
Contra André Mendonça, jurista Soraia Mendes se candidata ao STF
Se nomeada, a pesquisadora seria a 1ª mulher negra a atuar como ministra da mais alta Corte do País
por VICTOR OHANA 20 DE JULHO DE 2021 - ... Leia mais em https://www.cartacapital.com.br/politica/contra-andre-mendonca-jurista-soraia-mendes-se-candidata-ao-stf/?utm_campaign=novo_layout_newsletter_-_21072021&utm_medium=email&utm_source=RD+Station. O conteúdo de CartaCapital está protegido pela legislação brasileira sobre direito autoral. Essa defesa é necessária para manter o jornalismo corajoso e transparente de CartaCapital vivo e acessível a todos
Quando a paróquia vira um inferno!
Roberto Malvezzi (Gogó)
Um dos demônios alimentados pelos fundamentalistas religiosos é que nos países comunistas não há liberdade religiosa. Lá seriam proibidas missas, celebrações, procissões, assim por diante. Aqui, no Brasil, muito pelo contrário, a liberdade religiosa é total e completa.
Talvez, se fôssemos perguntar aos terreiros de candomblé e outras expressões religiosas de origem africana, eles nos diriam que nem sempre têm liberdade religiosa. Antigamente a Igreja Católica se sentia no direito de perseguir os cultos afros no Brasil, até pichados como coisas do demônio. Na verdade, foi um comunista chamado Jorge Amado que introduziu na Constituição Brasileira de 1946 a liberdade religiosa para os cultos afros. Hoje, muitos pastores e igrejas evangélicas se sentem no direito de perseguir os cultos afros.
O mesmo com os povos indígenas. Como me dizia um jovem indígena num dos preparativos do Sínodo para a Amazônia: “o pastor vai lá na tribo, a gente o acolhe bem, ele diz que nossa religião é coisa do demônio. A gente escuta, quando ele vai embora, a gente faz os nossos ritos”.
Mas, alguma coisa de pior está acontecendo. A Paróquia da Paz, em Fortaleza, está sendo invadida por “católicos” durante as celebrações, que se sentem no direito de berrar, atacar o padre, criar confusão e divisão durante a própria celebração da Eucaristia. Não são os perseguidores dos cultos afros e nem dos índios, são católicos, os que se julgam verdadeiros intérpretes do Evangelho e da doutrina da Igreja Católica. Não são comunistas, muito ao contrário, são militares, defensores da pátria, da família, dos “Deus acima de todos”, inclusive da liberdade religiosa. Enfim, são os bolsonaristas, os fascistas de estilo brasileiro.
Assim será se permitirmos que se instale no Brasil uma ditadura religiosa, uma teocracia, sempre a pior de todas as ditaduras, porque feitas em nome de Deus, ou o tal do “cristofascismo”. Sei lá o que quer dizer “terrivelmente evangélico”, ou “terrivelmente católico”, o certo é que que estas pessoas se sentem no direito de infernizar a vida dos outros, de ofender o Papa Francisco, ofender padres, bispos e leigos que tem um mínimo de fidelidade ao Evangelho. Enfim, querem impor suas ideias religiosas ao resto do país na estupidez e brutalidade.
Ou esse país acorda, ou até nossas paróquias e comunidades vão se tornar um inferno.
Toda solidariedade aos padres Lino, Ermanno e Luís Sartorel, italianos no Brasil, nossos amigos desde a década de 80, que saíram do conforto do primeiro mundo para estar a serviço dos setores mais descartados da sociedade brasileira.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Em primeiro, um alerta aos ingênuos e mal-intencionados: quem muito fala de corrupção pode ser tão ou mais corrupto que aqueles que denuncia. Falamos de corrupção no sentido amplo, “cor ruptum”, coração rompido. Prestem atenção em Moro, Dallagnol e Bolsonaro.
Segundo, a pior das democracias sempre é melhor que qualquer ditadura. Se a ilusão com as ditaduras for derrotada nesse momento, será um grande saldo positivo dessa tragédia.
Terceiro, boa parte dos militares que foi ao poder logo mostrou toda sua ganância por propinas e corrupção. Que se acabe de uma vez por todas o mito que militar é sinônimo de incorruptibilidade. Bolsonaro é o ícone maior dessa ilusão.
Quarto, todas as vezes que os militares saíram de sua tarefa constitucional e foram para a política, foi uma tragédia nacional. Dessa vez não foi diferente. No poder político, muitos se mostraram eticamente falhos, politicamente comprometidos com ditaduras, e tecnicamente uma lástima, como é o caso do especialista em logística. Quem sabe dessa vez os militares aprendam que não têm que se meter em política.
Quinto, a elite só é contra a corrupção dos pobres, não contra a própria. Em outras palavras, a corrupção também é propriedade privada das elites. Aqueles que querem mudar esse país também devem aprender essa lição.
Sexto, a destruição do Estado Brasileiro é, na verdade, um ataque aos bens comuns, é a destruição de uma legislação que garante direitos básicos à população e a proteção do ambiente. A elite nunca erra seu voto e sempre promove a luta de sua classe, sempre protege seus interesses, por mais mesquinhos e nefastos que sejam.
Sétimo, dessa vez não conseguiram corromper e cooptar todas as instituições brasileiras de peso. A Lava-Jato mexeu nos brios do Supremo, alguns que pediram ditadura e tortura foram presos, espalhadores de fake News andam bem menos aguerridos. Como já se dizia antes, fascista só é corajoso enquanto está protegido. Depois, todos são covardes.
Oitavo, a religião pode ser manipulada para qualquer lado. Esses pastores, padres, bispos, leigos, defensores da família, dos bons costumes, da pátria, são o exemplo da religião cooptada e servil aos interesses dos poderosos e de seus chefes. A crítica das religiões como ópio do povo deve ser retomada, aprofundada e popularizada. Louvemos todos os setores eclesiais que ajudaram a fazer essa resistência positiva contra o pior governo de nossa história.
Nono, estamos sendo salvos pelas vacinas. Infelizmente, famílias como a minha, mais de 500 mil, perderam seus entes queridos para o Covid19, graças a uma campanha sistemática de descredibilização das vacinas, da ciência e a corrupção na compra das vacinas. Os fundamentalistas, tanto os religiosos como os do mercado, têm que ser combatidos permanentemente.
Décimo, enfim, estamos do lado certo da história. Com todos aqueles que resistiram a essa tragédia, sairemos desse pesadelo mais pobres, mais machucados, mais mortos, porém, com a consciência limpa que não temos as mãos mergulhadas nesse mar de sangue.
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NÓS PRECISAMOS DA NATUREZA VIVA
“Olorum, supremo Deus do amor,
dá-nos teu axé.
Faze-nos descobrir ao redor de nós
teus Orixás que nos ligam contigo,
com a Natureza e com tudo o que é criado.
Dá-nos teu axé”.
(Oração de uma mãe de santo do Candomblé Ketu)
A Articulação pelos Direitos da Natureza, a Mãe Terra vem a público advertir a todas as pessoas sobre as consequências das decisões políticas que estão sendo tomadas. E o faz partindo de um fato simples, percebido por todas as pessoas que orientam sua vida pela busca da verdade: a humanidade, desde a sua origem, não tem outra possibilidade de manter-se viva e em busca de felicidade do que cuidar da vida da Natureza. Somos, na verdade, membros da imensa e diversificada comunidade viva da Terra. Dependemos dela para tudo, e quando convivemos com ela, ela garante generosamente as energias necessárias à vida.
É importante lembrar que o planeta Terra é o único que conhecemos que oferece ambiente favorável à vida. Mesmo assim, é preciso lembrar sempre que vivemos numa pequena crosta de solo e numa quase redoma de umidade, gases e raios do sol: a pequena camada que denominamos atmosfera, que impede que morramos de frio e de calor em excesso e supre nossa necessidade de oxigênio. A Terra levou mais de quatro bilhões de anos para criar essas condições que tornaram possível e continuam mantendo o milagre da vida. Nada é dispensável. Um pouco de atenção leva a perceber como tudo está interrelacionado.
É essa consciência e o desejo de cuidado que nos levam a perguntar: pode a Terra manter-se viva sem suas florestas? Como se sabe que, entre muitas outras funções essenciais, elas geram a umidade que mantém vivos os solos e, ao mesmo tempo, contribuem significativamente para a geração de umidade na atmosfera, mantendo em movimento e renovação o regime de águas. Como se manterá a vida com pouca ou até sem água?
O Brasil convive nos últimos anos com um aumento assustador de desmatamento do que resta de florestas, de modo especial na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, e com o uso impiedoso do fogo para dispor de mais solos “livres” para a exportação de produtos ligados à extração de madeira, à pecuária, à produção de grãos em imensas monoculturas e à mineração. E os poderes do Estado estão favorecendo esse processo, como fica evidenciado nas propostas de lei que praticamente anulam o licenciamento ambiental e que facilitam a legalização de imensas áreas de terra griladas em todo o país, mas afetando especialmente a Amazônia.
Unimos nossas vozes com todas as iniciativas sociais que estão mobilizadas para exigir que o Senado não confirme as insanas propostas aprovadas na Câmara Federal. Não é racional que sejam aprovadas pelos seres humanos leis que agravam o risco de prejuízos fatais para as próximas gerações e para todos os seres vivos nossos parceiros de vida.
Reafirmamos o objetivo que nos une e nos leva a agir: a defesa e a busca de reconhecimentos dos Direitos da Natureza, a Mãe Terra.
Brasília, 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente
Não é seca, é a devastação da Amazônia.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Por que a velha mídia e os cientistas se mostram surpresos com o vazio de nossos reservatórios e com a maior seca dos últimos 91 anos?
Quando cheguei pela primeira vez no município de SINOP, Mato Grosso, me perguntei o que isso significava. Então, me disseram que era uma sigla: Sociedade Imobiliária do Noroeste do Paraná. O próprio site da prefeitura diz que a cidade se originou na década de 70 do século passado, pela política de ocupação da Amazônia Legal pelo Regime Militar.
Quando estive lá, a cidade era uma serraria atrás da outra, mas também me disseram que já tinha diminuído o número, já que a madeira estava acabando. Então, viria a soja para ocupar os espaços desmatados. Depois viria o gado. Por fim, terras abandonadas, imprestáveis para qualquer uso. Números dizem que o agronegócio deixou para trás cerca de 80 milhões de hectares de terras imprestáveis no território brasileiro.
Mas, o que o pessoal do Paraná foi fazer em SINOP? Foi levar o modelo de desenvolvimento que eles aplicaram no próprio estado décadas atrás. E o modelo, que sempre foi predador, continua predador. É o modelo que sulistas e sudestinos espalham também no Oeste Baiano.
Agora, com o licenciamento ambiental pornograficamente liberado, a grilagem das terras públicas liberada, então o avanço sobre a Amazônia tende a se acelerar e devastar o bioma como nunca na história desse país. No último mês de abril o desmatamento foi de 810 km2, o maior da série dos últimos dez anos (Imazon).
Então, acontece uma seca nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Aí vem a mídia, a Agência Nacional de Águas etc., para dizerem que passamos pela maior seca dos últimos “91 anos”. Se você destrói a floresta amazônica, fundamental no ciclo das águas que abastece o Brasil pelos Rios Voadores, como você vai querer que continue chovendo no Sul e no Sudeste? É como matar as árvores dos ovos de ouro. E matam.
Os cientistas já alertaram que, nessa latitude, no Chile há o deserto do Atacama, na África o deserto da Namíbia e na Austrália o deserto Australiano. Mas, mistério, chove à cântaros no Centro-Oeste brasileiro, nas regiões Sul e Sudeste, chegando até Uruguai, Paraguai e Argentina. Hoje se fala que a Amazônia chega até à Patagônia.
Então, matemática simples, como ligar lâmpada e interruptor, se o agronegócio continuar destruindo a Amazônia como está fazendo, a região Sul do Brasil, incluindo o norte da Argentina, viram deserto como o é em outras latitudes da Terra.
É uma escolha. E esses homens que dominam o Brasil escolheram o pior cenário. Novas secas virão, sempre mais terríveis e o deserto aguarda a todos ali na frente.
ClimaInfo -
22 de mai. de 2021 09:24 (há 2 dias) |
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Roberto Malvezzi (Gogó)
Se existe alguma virtude no atual governo é que ele é absolutamente transparente nos seus propósitos, ainda que seja uma perversa transparência. Como diz Jesus sobre os mercenários em uma de suas falas: “O ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (João 10,10).
Bolsonaro avisou na campanha que viria para destruir (voltar 50 anos na história) e que gostaria de ver mortos ao menos os 30 mil que a “ditadura torturou, mas não matou”. Esse propósito se materializa com os fatos, como os 400 mil mortos pela Covid19, mas também a fala expressa do ministro Paulo Guedes: “De acordo com o ministro, não foi a pandemia que tirou a capacidade de atendimento do setor público, mas sim ‘o avanço na medicina’ e ‘o direito à vida’ (Globo Economia). O ministro não tem pudores de dizer que a vida de muitas pessoas é um problema para a concepção que ele tem economia.
Para o ministro as únicas vidas que valem é a dos mercadores. O resto das vidas têm que ser sacrificadas no altar dos deuses do mercado. Pensadores como Jung Mo Sung e Franz Hincklammert já devassaram a alma sanguinária e sacrificial desses deuses. Mas, esses deuses têm uma característica pavorosa, isto é, são insaciáveis.
Mas, assim como Bolsonaro não fala sozinho, mas tem milhões de pessoas ainda sustentando suas práticas e seu discurso, Paulo Guedes também não fala sozinho. Ele é o ícone da “economia que mata” segundo o dizer do Papa Francisco: “Os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra”. (FRANCISCO, Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra, no dia 09-07-2015).
Além de Guedes, agora a Câmara dos Deputados deleta a licença ambiental e quer instalar a grilagem aberta nas terras públicas. Bolsonaro não está só, ele é o ícone dessa direita extrema e implacável.
A mídia corporativa brasileira já nem fala em mercado, mas na Faria Lima. Além do personagem histórico, o que é a Faria Lima? Uma avenida em São Paulo, que junto com a Paulista, a Rebouças e a Nove de Julho fazem o quadrado dos Jardins na capital paulista. Isso quer dizer que Paulo Guedes representa uma avenida no Brasil, os mercadores da Faria Lima, onde estão estabelecidos os escritórios do mundo financeiro e as startups. É o Brasil pensado para uma avenida.
Podemos acusar Bolsonaro, Guedes e Sales de tudo, menos de que são enganosos em seus propósitos e em suas práticas. Eles são convictos no processo de destruição que promovem. Dizem abertamente a quem servem e o que fazem. E fazem.
Esses bancos, pobres bancos
Os cinco maiores bancos do país lucraram, apenas neste trimestre, R$ 23 bi, completamente livres de impostos. Seus patrimônios somados já ultrapassam o PIB brasileiro. Saída da crise requer regulamentação eficaz e tributação sobre o sistema financeiro
A cada nova divulgação dos resultados dos conglomerados que o integram, o sistema financeiro parece confirmar a crença, cada vez mais aceita, de que os mesmos vivem e atuam em um universo paralelo. É mesmo impressionante a sua capacidade de se manter à parte da desgraça toda que se abateu sobre a sociedade e sobre a economia brasileiras ao longo dessa terrível pandemia. As empresas do setor produtivo marcam índices inéditos de falências, o desemprego atinge recordes atrás de recordes, os indicadores de miséria avançam a cada dia, o Brasil volta ao mapa da fome e os lucros dos bancos não param de crescer.
É bem verdade que tal hegemonia arrasadora do financismo sobre todo o mundo real vem de muito longe. Não se trata de mais um fenômeno surgido na efervescência destruidora do coronavírus. Mas o fato concreto é que a crise atual, aprofundada pela doença desde março do ano passado, terminou por nos revelar, mais um vez, a natureza concentradora e desigual do nosso sistema econômico e social. Além dos recordes criminosos dos números de casos e mortes por covid, o período também deixou registradas as marcas daqueles que lucraram com o caos e o drama da tentativa desesperada da sobrevivência a que foi submetida a maioria da população.
Ao longo da presente semana foram divulgados os balanços dos resultados econômico-financeiros dos bancos para o primeiro trimestre de 2021. Para a surpresa generalizada de quem não acompanha esse movimento de perto e na rotina, os números exibem um setor que parece não estar nem aí para crise. O comércio tem perdido muito terreno, em especial os pequenos negócios. Os serviços foram afetados de forma brutal, com o encerramento de empresas e suas atividades. O setor industrial também vem perdendo capacidade, sofrendo falências e demitindo seus trabalhadores. Um dos poucos espaços econômicos que não foram tão afetados negativamente agrupam as empresas de atividades exportadoras, em especial aquelas vinculadas ao agronegócio.
Pois os bancos apresentaram balanços dignos de provocarem aquela reação que o dito popular chama de “vergonha alheia”. Senão, vejamos. Os 5 maiores conglomerados do setor incluem os 2 maiores bancos comerciais estatais federais. Assim, o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF) figuram nessa lista, ao lado do Itaú-Unibanco, do Bradesco e do Santander. A tabela abaixo exibe os lucros de tais empresas apurados entre janeiro e março deste ano, bem como os valores relativos à mesma variável para igual período do ano passado.
5 Maiores Bancos – Lucro líquido – R$ bilhões
1º Trimestre 2020 e 2021
2020 | 2021 | % crescimento | |
Itaú | 3,91 | 6,4 | 64% |
BB | 3,4 | 4,91 | 44% |
Bradesco | 3,75 | 6,52 | 74% |
Caixa | 3 | 1,5 | -50% |
Santander | 3,85 | 4,01 | 4% |
Total | 17,91 | 23,34 | 30% |
Como se pode perceber, o quadro expõe com a crueza e a frieza dos números o retrato da espoliação. Apenas 5 instituições apresentaram um lucro líquido superior a R$ 23 bilhões em apenas 3 meses do presente ano. Além do valor bilionário do ganho apurado, chama atenção o crescimento observado em relação ao 2020. Como se sabe, os efeitos sociais, econômicos e sanitários da pandemia no Brasil só começaram a se fazer sentir de forma mais efetiva a partir do final de março. Assim, o primeiro trimestre de 2020 poderia ser considerado como um período “normal”. E mesmo assim, o lucro apurado 12 meses depois, o período mais dramático da covid-19, apresentou um crescimento nada desprezível. O lucro dos 5 maiores elevou-se em 30% ao longo do período.
Caso deixemos à parte o resultado da CEF e do Santander, os números são ainda mais impressionantes. A primeira teve redução do lucro (o que não significa prejuízo) e o crescimento dos ganhos do segundo foi relativamente e pequeno. Porém, Bradesco e Itaú alcançaram elevação de 74% e 64%, respectivamente. E esse desempenho não foi característico apenas da banca privada, uma vez que o BB cresceu 44% durante a pandemia. Vale observar que tais valores bilionários, quando transferidos a seus acionistas sob a forma de lucros e dividendos, estão isentos do recolhimento de imposto de renda. Uma loucura!
No entanto, o crescimento do lucro apurado no primeiro trimestre de 2021 não reflete o ocorrido ao longo de todo o exercício de 2020. A tabela abaixo exibe os valores dos lucros anuais obtidos em 2020 e 2019. Assim, percebe-se uma queda dos valores dos ganhos dos 5 maiores bancos, ainda que os valores permanecem sendo bilionariamente elevados. No agregado dos maiores, percebe-se uma redução de 26% nos lucros anuais auferidos, caindo de R$ 107 bi para “apenas” R$ 79 bi. A incógnita permanece relativamente ao que deverá ocorrer ao longo dos 12 meses do presente ano na comparação com o anterior. Caso o desempenho do primeiro trimestre siga como tendência, é bem possível que 2021 apresente uma recuperação das diminuições observadas em 2020.
5 Maiores Bancos – Lucro líquido – R$ bilhões
2019 e 2020
2019 | 2020 | % crescimento | |
Itaú | 27 | 19 | -30% |
BB | 18 | 14 | -22% |
Bradesco | 26 | 19 | -27% |
Caixa | 21 | 13 | -38% |
Santander | 15 | 14 | -7% |
Total | 107 | 79 | -26% |
De todas as maneiras, o desempenho das instituições financeiras guarda uma relação direta com suas respectivas dimensões. Assim, ainda que tenha ocorrido uma diminuição relativa dos lucros entre 2019 e 2020, o fato relevante é que o patrimônio dos bancos não cessou de crescer. A tabela abaixo nos oferece esse panorama. A média dos 5 maiores apresentou uma elevação de seus ativos da ordem de 17%, saindo de agregado de R$ 6,7 trilhões em 2019 para R$ 7,9 tri em 2020. Esse valor, a título comparativo, é maior do que o próprio Produto Interno Bruto (PIB) apurado para o mesmo ano no Brasil, que foi de R$ 7,4 tri.
Apesar de representarem variáveis de dimensões distintas, a relação entre o patrimônio dos 5 maiores bancos e o PIB jamais havia demonstrado a superioridade dos ativos da banca. Para tanto contribuiu o processo recessivo observado no país desde 2015, onde o desempenho do Produto ficou comprometido ou reduzido. Mas também colaborou o crescimento ininterrupto dos lucros e do patrimônio dos bancos. De qualquer forma, o fato reforça o argumento do crescimento desproporcional do poder do financismo, seja em termos econômicos, seja em termos políticos e institucionais.
5 Maiores Bancos – Patrimônio – R$ bilhões
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2019 | 2020 | % crescimento | |
Itaú | 1.738 | 2.112 | 22% |
BB | 1.481 | 1.725 | 16% |
Bradesco | 1.359 | 1.591 | 17% |
Caixa | 1.294 | 1.450 | 12% |
Santander | 857 | 1.002 | 17% |
Total | 6.729 | 7.880 | 17% |
Em um momento onde a maior parte dos países e a sociedade brasileira começam a discutir os rumos a serem adotados pelos atores globais no chamado período pós-pandemia, é essencial que sejam redefinidos os limites de atuação do sistema financeiro. Por um lado, para que haja maior eficácia nos mecanismos públicos de sua regulamentação, em direção oposta ao projeto de lei recentemente aprovado pelo Congresso Nacional, que pretende conferir independência ao Banco Central. De outro lado, por uma legislação que seja mais progressiva no sentido da tributação dos bancos, com o objetivo de forçá-los a oferecer uma maior contribuição para o desenvolvimento brasileiro.
https://outraspalavras.net/mercadovsdemocracia/esses-bancos-pobres-bancos/