sexta-feira, 30 de agosto de 2019

INCÊNDIOS NA AMAZÔNIA: "A GRILAGEM DE TERRAS É O CORAÇÃO DO PROBLEMA"




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As ima­gens e mapas dos focos de in­cêndio que do­mi­naram a Amazônia a partir do dia 10 de agosto e pro­du­ziram a apo­ca­líp­tica imagem do céu es­curo em pleno ho­rário de al­moço a mi­lhares de quilô­me­tros já são parte da his­tória bra­si­leira. Pro­testos se se­guiram em ca­pi­tais na­ci­o­nais e in­ter­na­ci­o­nais e o cons­tran­gi­mento ao go­verno segue enorme. No en­tanto, se­gundo o geó­grafo Ari­o­valdo Um­be­lino, en­tre­vis­tado pelo Cor­reio da Ci­da­dania, nin­guém, nem mesmo os am­bi­en­ta­listas, toca nas ra­zões ge­ra­doras do de­sastre.

“A res­pon­sa­bi­li­dade do atual go­verno é a de pra­ti­ca­mente zerar a fis­ca­li­zação. Os ór­gãos que de­ve­riam fazê-la estão todos re­du­zidos às pró­prias sedes, aos pró­prios lo­cais de tra­balho. A fis­ca­li­zação não vai a campo. Não de­vemos nos as­sustar. É que agora Bol­so­naro tomou a de­cisão de per­mitir a gri­lagem, o des­ma­ta­mento e tudo. Claro que de­vemos nos pre­o­cupar com os in­cên­dios, mas é pre­ciso re­forçar: o que está no co­ração de tudo é o pro­cesso de gri­lagem de terras”.

Es­tu­dioso de longa data dos pro­cessos de ocu­pação ter­ri­to­rial e dis­tri­buição de terras no país, Um­be­lino é en­fá­tico ao longo de todo a en­tre­vista em dizer que tudo se deve ao des­con­trole do acesso a terra. In­cen­ti­vados pelos go­vernos ao longo dos anos, a ocu­pação ilegal de terras e o des­ma­ta­mento com fins agro­pe­cuá­rios são as reais ex­pli­ca­ções dos in­cên­dios, ou seja, o mo­delo de de­sen­vol­vi­mento econô­mico quase unâ­nime entre todas as grandes forças po­lí­ticas.

“A questão am­bi­ental no Brasil não leva em conta a pro­pri­e­dade da terra; não se fis­ca­liza, não se ve­ri­fica se as do­cu­men­ta­ções estão certas ou er­radas. Já tem dois es­tados que fi­zeram este le­van­ta­mento. E não en­con­traram nada, não há tí­tulos, mas a ocu­pação segue, o des­ma­ta­mento au­mentou, as grandes em­presas do su­deste e centro-oeste se­guem com­prando boi criado em terra gri­lada”.

A en­tre­vista com­pleta com Ari­o­valdo Um­be­lino pode ser lida a se­guir.

Cor­reio da Ci­da­dania: Que sín­tese você faz dos in­cên­dios da Amazônia que cho­caram o Brasil e o mundo?

Ari­o­valdo Um­be­lino: Os in­cên­dios na Amazônia têm a ver com pro­ce­di­mentos que os em­pre­sá­rios bra­si­leiros adotam, com in­ter­fe­rência di­reta no pro­cesso de ocu­pação da Amazônia. Como o pro­cesso se dá por meio de gri­lagem, é ne­ces­sário abrir pastos e der­rubar ár­vores pra com­pletar a ocu­pação.
Por­tanto, o que vemos é apenas um au­mento do des­ma­ta­mento de sempre, porque o Es­tado bra­si­leiro não fis­ca­liza e não tem esse ob­je­tivo, per­mi­tindo que o pro­cesso de gri­lagem con­tinue. Não me as­susta o au­mento dos focos de in­cên­dios, porque todo ano se re­pete. Nos meses de junho, julho, agosto e se­tembro temos, his­to­ri­ca­mente, o au­mento dos focos de in­cêndio.

Neste ano au­mentou, mas já acon­tecia nos anos an­te­ri­ores, pelo mo­tivo de não haver fis­ca­li­zação. Pior: não há um pro­cesso ri­go­roso de acesso a terra, que se faz via gri­lagem. A maior parte das terras da Amazônia está em mãos de pes­soas que não têm do­cu­mento ne­nhum a provar a pro­pri­e­dade.

Cor­reio da Ci­da­dania: Qual o grau de res­pon­sa­bi­li­dade do atual go­verno? O que pensa das re­a­ções de con­tenção das chamas, de­fi­nidas pelo pre­si­dente Jair Bol­so­naro?

Ari­o­valdo Um­be­lino: A res­pon­sa­bi­li­dade do atual go­verno é a de pra­ti­ca­mente zerar a fis­ca­li­zação. Não existe fis­ca­li­zação hoje. Os ór­gãos que de­ve­riam fazê-la estão todos re­du­zidos às pró­prias sedes, aos pró­prios lo­cais de tra­balho. A fis­ca­li­zação não vai a campo.

Não de­vemos nos as­sustar. É que agora Bol­so­naro tomou a de­cisão de per­mitir a gri­lagem, o des­ma­ta­mento e tudo. O que resta às pes­soas de bom senso deste país? Pedir o im­pe­a­ch­ment do pre­si­dente da Re­pú­blica, não há outro ca­minho.

Em Al­ta­mira, tem um fiscal. Vai fazer o que? Nada. Bol­so­naro deixa rolar um pro­cesso de di­mi­nuição de fun­ci­o­ná­rios. Reuniu sol­dados da força bra­si­leira pra com­bater o in­cêndio, mas não tem ob­je­tivo de ve­ri­ficar a fundo as ra­zões do que acon­tece. No má­ximo apaga o in­cêndio.

Cor­reio da Ci­da­dania: O que co­menta da atu­ação, neste caso e na soma de sua gestão, do mi­nistro Ri­cardo Salles? A que grau de­veria chegar sua res­pon­sa­bi­li­zação?

Ari­o­valdo Um­be­lino: Ele pode ser res­pon­sa­bi­li­zado pelos in­cên­dios deste ano. Mas pelos do ano pas­sado, não. A questão prin­cipal re­side no fato de que o atual go­verno per­mite; não tem bases de fis­ca­li­zação, não tem ne­nhuma po­lí­tica para a Amazônia, ex­ceto a ocu­pação por meio de gri­lagem.
Um dos focos con­cen­trados de in­cêndio é perto do Parque Na­ci­onal do Ja­manxim. É uma área toda gri­lada, do­mi­nada por fa­zen­deiros que se dizem pro­pri­e­tá­rios, pro­va­vel­mente vo­taram em Bol­so­naro e querem con­ti­nuar com sua po­lí­tica de gri­lagem de terras.

Claro que de­vemos nos pre­o­cupar com os in­cên­dios, mas é pre­ciso re­forçar: o que está no co­ração de tudo é o pro­cesso de gri­lagem de terras. O fato novo é que uma parte da fu­maça veio parar em São Paulo, a tarde ficou es­cura, isso nunca acon­teceu. As pes­soas que re­sidem em São Paulo estão vendo suas vidas afe­tadas pelas quei­madas. Mas quei­mada na Amazônia tem todo ano, em 2019 apenas au­mentou. Porque a gri­lagem de terras corre solta. É a gri­lagem de terras que tem de ser com­ba­tida e isso não se faz no Brasil.

Cor­reio da Ci­da­dania: O que pensa das re­a­ções in­ter­na­ci­o­nais em face da fa­mosa ideia do in­te­resse es­tran­geiro sobre o ter­ri­tório amazô­nico?

Ari­o­valdo Um­be­lino: Con­versa pra boi dormir. A França, que se ma­ni­festou mais for­te­mente, tem uma colônia ali, a Guiana Fran­cesa está ali do lado. Por isso o país se ma­ni­festou com mais força. E foi por meio do seu pre­si­dente, algo sem mai­ores con­sequên­cias. A im­prensa fica em cima do fato do dia. Mas a questão é o fato de abran­gência: gri­lagem de terras. Te­remos in­cên­dios no ano que vem, porque a maior parte das terras está gri­lada.

Cor­reio da Ci­da­dania: Quais pro­vi­dên­cias devem ser to­madas daqui em di­ante? Qual o tipo de de­bate o se­nhor gos­taria de ver ga­nhar corpo?

Ari­o­valdo Um­be­lino: É pre­ciso medir cla­ra­mente a po­sição do go­verno atual. Acre­dito que o atual go­verno tem por ob­je­tivo in­cre­mentar a gri­lagem. Tira os fun­ci­o­ná­rios e deixa o pro­cesso se in­ten­si­ficar. Todo mundo sabe que é crime, mas nin­guém toma pro­vi­dên­cias para pegar os cul­pados. Quem grila as terras? Os grandes em­pre­sá­rios, quem têm di­nheiro. Este é o prin­cipal a ser dito.

Cor­reio da Ci­da­dania: Em en­tre­vista que o se­nhor deu ao Cor­reio em 2009, falou que “o fato é que o go­verno atual adotou duas po­lí­ticas claras: a pri­meira é o apoio in­te­gral ao agro­ne­gócio. A se­gunda é re­mover toda pos­si­bi­li­dade his­tó­rica que possa frear o apoio ao agro­ne­gócio. A re­forma agrária foi subs­ti­tuída pela con­trar­re­forma-agrária e a po­lí­tica am­bi­ental é subs­ti­tuída gra­da­ti­va­mente pela po­lí­tica an­ti­am­bi­ental. O Brasil faz um dis­curso no ex­te­rior, mas aqui a prá­tica é outra”. Qual o lastro re­la­tivo a go­vernos pas­sados em re­lação a esses in­cên­dios?

Ari­o­valdo Um­be­lino: É isso. Man­tenho tudo que disse há dez anos. Apenas des­taco a questão da gri­lagem de terras. O pro­blema todo é a questão da pro­pri­e­dade. Por exemplo, fiz um tra­balho para o Mi­nis­tério da Jus­tiça sobre gri­lagem, em São Félix do Xingu. Fui a campo, le­vantei tudo. Não tem uma única pro­pri­e­dade com fun­da­mento. É tudo gri­lado, tudo que está re­gis­trado no car­tório da ci­dade é grilo. Como vamos co­meçar a acabar com essa his­tória? Vão gri­lando, gri­lando... Há um grupo que so­zinho detém 700 mil hec­tares, e aí? Não é o pos­seiro, é o grande quem faz isso.

O úl­timo re­cen­se­a­mento do INCRA, em 2014, fez um le­van­ta­mento da es­tru­tura fun­diária. Chegou-se à con­clusão de que temos 5,765,000 imó­veis. Destes, 4.058.000 são imó­veis de pes­soas que de­cla­raram ser pro­pri­e­tá­rias, ainda que não tenha ocor­rido in­ves­ti­gação ne­nhuma pra aferir; 1.700.000 de­cla­raram ao INCRA que não têm tí­tulo ne­nhum. Tais “pro­pri­e­tá­rios” te­riam 110 mi­lhões de hec­tares. Destes, 42 mi­lhões de hec­tares são grandes pro­pri­e­dades; 22 mi­lhões são mé­dias pro­pri­e­dades. Uma parte é de pe­queno pro­pri­e­tário e mi­ni­fun­dista. Estes têm di­reito à pro­pri­e­dade e à re­gu­la­ri­zação. São pos­seiros. Mas con­trolam um total de 40 mi­lhões de hec­tares. Os ou­tros são todos gri­leiros pro­fis­si­o­nais, não tem outra ex­pli­cação. Eles de­claram ao INCRA que são gri­leiros. E o go­verno não faz nada.
Dos que se de­claram pro­pri­e­tá­rios, 58 mil dizem ter pro­pri­e­dade pro­du­tiva; 49 mil dizem ter im­pro­du­tivas. Ao todo são 111 mi­lhões de hec­tares, dos quais 68 mi­lhões im­pro­du­tivos. Logo che­ga­remos a 200 mi­lhões de hec­tares gri­lados. Esse é o nó.

Cor­reio da Ci­da­dania: Quanto ao Có­digo Flo­restal, de 2012, você disse em 2010 que era ba­seada na falsa di­co­tomia entre pre­ser­vação e de­sen­vol­vi­mento? Há uma re­lação di­reta entre este novo có­digo e o que es­tamos vendo agora?

Ari­o­valdo Um­be­lino: Hoje temos duas re­a­li­dades: uma é a da le­gis­lação am­bi­ental, que acabou caindo na fei­tura do CAR (Ca­dastro Am­bi­ental Rural). Uma parte dos pro­pri­e­tá­rios fez o ca­dastro, que não tem o ob­je­tivo de medir a questão da dis­tri­buição de terras no Brasil. É só um ca­dastro de con­trole am­bi­ental. Estão tra­zendo o CAR como o sis­tema ofi­cial de dis­tri­buição de terras do país, o que nem é seu ob­je­tivo. Faz-se a de­cla­ração apenas com fins de con­trole am­bi­ental. O outro pro­blema é apre­sentar dados que provam a pro­pri­e­dade da terra. Quem tem tais dados é o INCRA.

No en­tanto, o ca­dastro é feito da se­guinte forma: quem se diz pro­pri­e­tário faz a de­cla­ração e assim che­gamos aos dados sis­te­ma­ti­zados pelo INCRA que aca­bamos de men­ci­onar. Pro­pri­e­dade de terras só pode ser vista ofi­ci­al­mente via INCRA, mas pode ser con­fe­rida também nos car­tó­rios. E os car­tó­rios da Amazônia estão pas­sando por um pente-fino, a fim de ver se as es­cri­turas são de fato ver­da­deiras.

Por exemplo: o es­tado do Ama­zonas pegou os do­cu­mentos dis­po­ní­veis para pro­pri­e­dades de 3000 hec­tares para cima. E já se sabe que 96% das terras são de­vo­lutas, isto é, de gri­leiros que se dizem donos. O Pará também ini­ciou o pro­cesso. O es­tado tem um total de 486.194.000 hec­tares re­gis­trados nos car­tó­rios. Como? É me­tade do Brasil! É grilo. É esse o ponto. O es­tado tem quase quatro vezes mais terra re­gis­trada do que seu ter­ri­tório real. Os car­tó­rios têm feito a gri­lagem da terra no Brasil.
Para ter am­paro, a pro­pri­e­dade da terra pre­cisa de tí­tulo emi­tido pelo go­verno trans­fe­rido a par­ti­cu­lares. Para tal, há pre­ceitos cons­ti­tu­ci­o­nais que es­ti­pulam quanto se pode trans­mitir de terras, o que no caso é 2500 hec­tares. Entre 1967 e 1988, po­diam ser trans­mi­tidos 3000 hec­tares. De 1943 a 1967, 10 mil. A rigor, nin­guém po­deria pos­suir pro­pri­e­dades mai­ores que essas.

A maior pro­pri­e­dade do Brasil está em nome de Mo­acir Eloy Cro­cetta Ba­tista, que tem re­gis­trada no INCRA uma pro­pri­e­dade de 246 mil hec­tares, em Boca do Acre. Como o cara tem 246 mil hec­tares?! A se­gunda maior é per­ten­cente à Pa­ra­nacre, que tem 195.309, em Ta­rauacá, no Acre também.
É pre­ciso que o go­verno tome a ini­ci­a­tiva de con­trolar o pro­cesso de ocu­pação da Amazônia. Os gri­leiros vão na frente, eles que metem fogo. A tá­tica de des­ma­ta­mento hoje é: pri­meiro tiram-se as “ma­deiras de lei”, isto é, os cortes per­mi­tidos; fazem os cortes ne­ces­sá­rios e, de­pois, metem fogo em todo o resto. Sempre se fez isso na Amazônia. Mas claro que o atual pre­si­dente per­mite que a gri­lagem con­tinue. Se per­mite, de­vemos pedir seu im­pe­a­ch­ment.

Cor­reio da Ci­da­dania: Por fim, como en­xerga todo o mo­mento po­lí­tico, ins­ti­tu­ci­onal e so­cial que es­tamos vi­vendo? Acre­dita que a questão am­bi­ental possa ser es­topim de re­versão do que es­tamos vi­vendo agora?

Ari­o­valdo Um­be­lino: O pre­si­dente é eleito, não vamos es­quecer. Ele é mi­litar de origem, o vice também, mas estão ambos na re­serva. Foram eleitos. Não estou pondo em dis­cussão a eleição. Eles são fruto de uma eleição e têm o di­reito de go­vernar por quatro anos. Este é o prin­cípio. O fato de serem mi­li­tares não dá a eles con­dição de falar em nome das forças ar­madas, que são outra ins­ti­tuição com seus pró­prios porta-vozes.

Pre­ci­samos tratar do prin­cipal: o pro­cesso de gri­lagem de terras. Os in­cên­dios são o re­sul­tado disso. A questão am­bi­ental no Brasil não leva em conta a pro­pri­e­dade da terra; não se fis­ca­liza, não se ve­ri­fica se as do­cu­men­ta­ções estão certas ou er­radas. Já tem dois es­tados que fi­zeram este le­van­ta­mento. E não en­con­traram nada, não há tí­tulos, mas a ocu­pação segue, o des­ma­ta­mento au­mentou, as grandes em­presas do su­deste e centro-oeste se­guem com­prando boi criado em terra gri­lada. A soja do MT também é pro­du­zida em terra gri­lada, assim como a do Ma­to­piba, toda ela em área gri­lada. A gri­lagem de terras é o grande pro­blema e está cada vez maior no Brasil.

Uma boa parte dos in­cên­dios é em Lá­brea, mu­ni­cípio do sul do Ama­zonas, área de ex­pansão agro­pe­cuária. E se olharmos a es­tru­tura fun­diária ve­remos que só tem grande pro­pri­e­dade. Como, se o go­verno não ti­tulou nada? O pro­blema é que a gri­lagem atingiu um nível tão grande que as pes­soas pa­raram de falar dela. De 2010 pra cá, os am­bi­en­ta­listas re­sol­veram parar de falar deste as­sunto. Ao fa­zerem isso, co­o­nestam o pro­cesso. Vê-se o pro­cesso e não se faz nada. A gri­lagem de terras no Brasil é o co­ração de toda esta dis­cussão.

http://www.correiocidadania.com.br/34-artigos/manchete/13868-incendios-na-amazonia-a-grilagem-de-terras-e-o-coracao-do-problema
Ga­briel Brito é jor­na­lista e editor do Cor­reio da Ci­da­dania.

A CRISE (SOCIO)AMBIENTAL VAI ÀS RUAS

A crise ambiental vai às ruas

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A gi­gan­tesca cor­tina de fu­maça que es­cu­receu a ci­dade de São Paulo em pleno dia e pre­ci­pitou uma chuva es­cura, sa­tu­rada de par­tí­culas de quei­mada, dis­parou o sinal de alerta da ur­gência de deter a dan­tesca de­vas­tação da Amazônia.

A flo­resta em chamas não pode ser dis­so­ciada da nova cor­rida por terras ins­ti­gada pelo go­verno Bol­so­naro. Os dados são ater­ra­dores. Apenas no mês de julho, a der­ru­bada na Amazônia com­pro­meteu uma área su­pe­rior ao ter­ri­tório da ci­dade de São Paulo, um au­mento quase quatro vezes su­pe­rior ao do mesmo mês do ano an­te­rior.

A res­pon­sa­bi­li­dade pes­soal do pre­si­dente, o au­toin­ti­tu­lado “ca­pitão mo­tos­serra”, pelo agra­va­mento da crise am­bi­ental é inequí­voca. O in­cen­tivo à gri­lagem de terras, o re­la­xa­mento das normas de pro­teção am­bi­ental, a apo­logia da der­ru­bada da mata, o des­manche dos ór­gãos pú­blicos de mo­ni­to­ra­mento e fis­ca­li­zação da flo­resta, a in­ti­mi­dação de fun­ci­o­ná­rios pú­blicos que tra­ba­lham da de­fesa do meio am­bi­ente, o ab­so­luto des­caso com a pro­teção das re­servas in­dí­genas e a co­ni­vência da Po­lícia Fe­deral com ma­dei­reiros e fa­zen­deiros ins­tigam a ra­pi­nagem da flo­resta. Bol­so­naro li­berou o “vale tudo”. No “dia do fogo”, 10 de agosto, data da ma­ni­fes­tação de ru­ra­listas “para mos­trar ao pre­si­dente que que­remos tra­ba­lhar”, os focos de quei­madas no mu­ni­cípio de Al­ta­mira au­men­taram quase nove vezes em re­lação ao ano an­te­rior.

A Amazônia ar­dendo po­li­tizou a crise am­bi­ental. A ir­res­pon­sa­bi­li­dade do go­verno Bol­so­naro des­pertou forte re­ação po­pular, no Brasil e no ex­te­rior. No dia 23 de agosto, os atos de rua em de­fesa da Amazônia foram ro­bustos. As cenas de ci­da­dãos ba­tendo pa­nelas du­rante a fala do pre­si­dente em rede na­ci­onal de te­le­visão lem­braram o início do de­bacle de Dilma Rous­seff. Os pro­testos contra as quei­madas na Amazônia também se es­pa­lharam por vá­rias ca­pi­tais da Eu­ropa, reu­nindo um nú­mero con­si­de­rável de ma­ni­fes­tantes.

No de­bate sobre o que fazer para en­frentar o pro­blema, a des­fa­çatez e a hi­po­crisia são a regra.
De­pois de negar a exis­tência do pro­blema, para em se­guida atribuí-lo a uma cons­pi­ração de ONGs, pres­si­o­nado pelas ame­aças de re­ta­li­ação in­ter­na­ci­onal, Bol­so­naro, hu­mi­lhado, foi for­çado a dar sa­tis­fação à opi­nião pú­blica. Em pro­nun­ci­a­mento pa­té­tico, re­co­nheceu fi­nal­mente a exis­tência das quei­madas, mas, co­e­rente com sua in­tenção de des­truir todo resquício de ci­vi­li­dade do Es­tado bra­si­leiro, não re­cuou um mi­lí­metro em sua po­lí­tica pre­da­tória. Ao fim e ao cabo, com­pro­meteu-se a con­vocar re­crutas do exér­cito a bater fogo no meio da selva. Uma pro­vi­dência ri­dí­cula e ab­so­lu­ta­mente inócua para deter o ho­lo­causto da flo­resta.

As li­de­ranças das po­tên­cias im­pe­ri­a­listas eu­ro­peias, to­madas de ardor am­bi­en­ta­lista, le­varam a questão amazô­nica à reu­nião do G7. Ace­nando com a ne­ces­si­dade de uma tu­tela in­ter­na­ci­onal, na ver­dade, estão muito mais in­te­res­sadas em tirar pro­veito elei­toral e co­mer­cial da si­tu­ação do que em deter o de­sastre am­bi­ental, cujo con­di­ci­o­nante es­tru­tural, como se sabe, é a sanha in­sa­ciável de lucro do grande ca­pital que im­pul­siona a ordem global da qual o G7 é fiel guar­dião.

A re­ação “na­ci­o­na­lista” do ex-ca­pitão e de seus as­se­clas às ame­aças de re­ta­li­ação in­ter­na­ci­onal não passa de uma pan­to­mima. A afir­mação apai­xo­nada de que “a Amazônia é nossa” é apenas re­tó­rica com­pen­sa­tória e cor­tina de fu­maça para ocultar a en­trega da ri­queza da re­gião de mão bei­jada às grandes cor­po­ra­ções, na­ci­o­nais e in­ter­na­ci­o­nais — um ex­pe­di­ente ca­nhestro que lembra o fervor in­dig­nado dos es­cra­va­gistas bra­si­leiros, que, em me­ados do sé­culo 19, vo­ci­fe­ravam rai­vo­sa­mente, em nome da so­be­rania na­ci­onal, contra as pres­sões bri­tâ­nicas pelo fim do trá­fico ne­greiro, en­quanto acei­tavam do­cil­mente as re­la­ções de ex­plo­ração e do­mi­nação de­cor­rentes da po­sição re­bai­xada do país na di­visão in­ter­na­ci­onal do tra­balho.

De olho no ca­len­dário elei­toral, a opo­sição dentro da ordem apro­veita a oca­sião para des­gastar o pre­si­dente. Sem ne­nhum pru­rido com a ló­gica, os pe­tistas fazem ma­la­ba­rismo para mos­trar que o único meio de salvar a flo­resta é “Lula Livre”. Os pa­la­dinos do eco­ca­pi­ta­lismo, Ma­rina Silva à frente, clamam pela res­tau­ração da go­ver­nança am­bi­ental como única forma de ad­mi­nis­trar o ritmo e a in­ten­si­dade da des­truição am­bi­ental.

Não há dú­vida de que a po­lí­tica cri­mi­nosa de Bol­so­naro ace­lera pe­ri­go­sa­mente a des­truição de um dos prin­ci­pais re­ser­va­tó­rios de ri­queza bi­o­ló­gica do pla­neta, mas é pre­ciso não es­quecer que a vi­o­lência contra a Amazônia não é de hoje. A ex­plo­ração pre­da­tória da flo­resta avança em ritmo cé­lere desde a aber­tura da re­gião à ex­plo­ração em­pre­sa­rial em grande es­cala pela di­ta­dura mi­litar nos anos 60.

O pro­cesso ga­nhou pro­por­ções ca­ta­clís­micas após 1995, com a ex­pansão da fron­teira agrí­cola e mi­neral vin­cu­lada aos grandes ne­gó­cios da glo­ba­li­zação. A di­mensão da ca­tás­trofe fica evi­dente quando se cons­tata que a dis­cussão entre os ci­en­tistas é para saber se a área de mata des­truída nas úl­timas duas dé­cadas, pe­ríodo dos go­vernos tu­canos e pe­tistas, equi­vale ao ter­ri­tório do Uru­guai, Pa­ra­guai ou Ale­manha.

A crise am­bi­ental é uma das formas de ma­ni­fes­tação da bar­bárie ca­pi­ta­lista no Brasil. À su­pe­rex­plo­ração do tra­balho cor­res­ponde a de­pre­dação ace­le­rada dos re­cursos na­tu­rais. Sem co­locar em questão a to­ta­li­dade do pa­drão de de­sen­vol­vi­mento, não há como en­frentar suas causas es­tru­tu­rais.

Os in­te­resses econô­micos res­pon­sá­veis pela des­truição das flo­restas têm nome e en­de­reço: o agro­ne­gócio, as mi­ne­ra­doras, as in­dús­trias de tra­tores e equi­pa­mentos me­ca­ni­zados ru­rais, as em­presas de agro­tó­xicos, fer­ti­li­zantes e se­mentes trans­gê­nicas, as grandes cons­tru­toras, as hi­dro­e­lé­tricas, as si­de­rúr­gicas e o sis­tema fi­nan­ceiro que lu­bri­fica e po­ten­ci­a­liza o fun­ci­o­na­mento de toda essa en­gre­nagem, sob a benção de uma plu­to­cracia acul­tu­rada que não abre mão de co­piar os es­tilos de vida e pa­drões de con­sumo das eco­no­mias cen­trais.

A de­fesa do meio am­bi­ente passa pela luta de classes. A bur­guesia não tem como salvar a flo­resta. Na­ci­o­na­lismo com­pen­sa­tório, im­pe­ri­a­lismo cí­nico e co­o­pe­ração ba­seada na go­ver­nança am­bi­ental não são so­lu­ções para a Amazônia. Quem cuida da flo­resta é o homem livre no ter­reno. Só uma in­ter­venção po­pular pode deter a marcha in­sen­sata da ca­tás­trofe am­bi­ental. Em úl­tima ins­tância, a pre­ser­vação da Amazônia de­pende da ca­pa­ci­dade dos tra­ba­lha­dores de re­a­li­zarem um modo de pro­dução e con­sumo que res­peite o tra­balho e o meio am­bi­ente.

Dia 20 de se­tembro, todos na Greve Global do Clima!

http://www.correiocidadania.com.br/2-uncategorised/13861-a-crise-ambiental-vai-as-ruas 

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

ENTRE NA GREVE GLOBAL PELO CLIMA!

QUEM MAIS SEGUIRÁ O EXEMPLO DO OUTRAS PALAVRAS, CRIANDO OPORTUNIDADES PARA PERCEBER E COMPREENDER POR QUE É VITAL PARTICIPAR E MULTIPLICAR MOBILIZAÇÕES EM FAVOR DAS MUDANÇAS ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIAS PARA QUE TODOS OS SERES VIVOS POSSAM CONTINUAR EXISTINDO NO PLANETA TERRA.

"Encontros debatem, em SP, grandes temas ambientais brasileiros. Com Lucimara Patté, Ladislau Dowbor, Ricardo Abramovay e Angela Pappiani, ajudarão a mobilizar para as manifestações de 20/9 e a resistir à devastação de Bolsonaro", escreve Antonio Martins, jornalista, em artigo publicado por  

Outras Palavras, 27-08-2019.

Eis o artigo. 

A defesa da Amazônia, que levou milhares de pessoas às ruas em diversas cidades do país, no último fim de semana, voltará a convocar a sociedade em breve. A nova data é 20 de setembro. Nesse dia, o Brasil participará, pela primeira vez, das Greves Globais pelo Clima, que atraem multidões crescentes de jovens – e adquirem claro caráter anticapitalista – desde o ano passado. Em São Paulo, uma coalizão organiza, em reuniões que atraem dezenas de pessoas (a próxima ocorrerá neste sábado), manifestação que começará na Avenida Paulista. Outras Palavras decidiu somar-se ao processo. Em conjunto com a Associação Scientiae Studia, nossa contribuição será exibir, num curto ciclo, três documentários, sobre grandes temas ambientais brasileiros. Serão seguidos de debate e permitirão, a novos interessados em se envolver com a greve, articular-se com os coletivos que já mobilizados. Ocorrerão no Teatro Commune, central e acolhedor.

A série começa às 19h da próxima terça-feira, 3/9. Belo Monte, anúncio de uma guerra, do diretor André D’Elia, expõe o tema crucial das fontes de energia. Ao contrário do que ocorre na maioria dos países, a matriz elétrica brasileira é, majoritariamente, livre de petróleo. Mas o aumento de consumo, e em especial os interesses de certos grupos econômicos, levaram à multiplicação de barragens – algumas delas, na Amazônia, e em território indígena. É o caso de Belo Monte: em Altamira (PA), surgiu um caldeirão explosivo de contradições, multiplicadas pela desigualdade e ausência de planejamento urbano. A construção da usina atraiu milhares de pessoas, que trabalharam em condições desumanas. Qual seu destino, ao final da obra e do emprego? Sujeitar-se a ocupações ainda mais precárias e destrutivas?

Lucimara Patté (uma das animadoras da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB) e economista Ladislau Dowbor (autor, entre outros de A Era do Capital Improdutivo) abrirão, em seguida, um debate. Não há pretensão acadêmica, nem formalidade. O objetivo principal é incorporar as experiências e vozes de quem já está envolvido na Greve Global, quer se integrar e, principalmente, deseja somar-se à reflexão e às mobilizações ambientais no Brasil. Por isso, a Coalizão pelo Clima estará presente neste encontro e nos seguintes.

O miniciclo prossegue 8 dias depois (11/9, uma quarta-feira), sempre no Teatro Commune. Outra obra de André D’Elia, A Lei da Água, trata de um tema ainda mais amplo: os retrocessos no Código Florestal Brasileiro. Por fim, em 18/9 (dois dias antes da greve), será a vez de O Amanhã é Hoje, com roteiro de Laura Toledo Dauden e Thais Lazzeri, o documentário situa nossos dramas no cenário global, ao tratar de um tema pouco debatido na mídia: como as mudanças climáticas já afetam a natureza, a economia e milhares de pessoas no Brasil. Para debater o segundo e o terceiro filmes estão convidados o economista Ricardo Abramovay e a jornalista e antropóloga Angela Pappiani. Também intervirá o professor de Filosofia Pablo Mariconda (USP), presidente da Associação Scientiae Studia e coordenador do Grupo de Estudos em Filosofia e História da Ciência do IEA/USP.

Ao estimular abertamente a devastação da Amazônia, o presidente pateta menosprezou o risco de despertar um poderoso movimento socioambiental no Brasil. Temos agora a possibilidade de fazê-lo pagar por isso – e, talvez, de abrir novos caminhos para a transformação do país.

Serviço

CINEDEBATE 1
Belo Monte, anúncio de uma guerra, de André D’Elia
Participação de Ladislau Dowbor e Lucimara Patté
Terça-feira, 3/9, 19h
Teatro Commune: Rua da Consolação, 1218 – Metrô Higienópolis-Mackenzie — São Paulo

http://www.ihu.unisinos.br/592092-filmes-e-debates-preparam-greve-do-clima 

O FENÔMENO GRETA THUNBERG: TEATRO OU PROFECIA?

PARA QUE SEJA PROFECIA É PRECISO QUE HAJA GENTE QUE ACOLHE O SINAL E O CHAMADO. E HÁ, GRAÇAS A DEUS, COMO SEMPRE RECONHECE O POVO. MAS É PRECISO QUE MAIS E MAIS PESSOAS E POVOS ACOLHAM ESTA PROFECIA. 

E QUE NASÇAM OUTRAS TANTAS GRETAS, OUTRAS TANTAS PROFECIAS, DE MODO ESPECIAL DE JOVENS, LUTANDO POR UM FUTURO QUE A GERAÇÃO ATUAL NÃO GARANTIU. E DESAFIANDO A GERAÇÃO ATUAL A ENTRAR EM LUTA TAMBÉM, NUMA ALINANÇA INTERGERACIONAL INDISPENSÁVEL.

Teatro ou profecia? O fenômeno Greta Thunberg


Todos os olhares estão voltados para Greta Thunberg, a ativista sueca de 16 anos, enquanto ela começa a sua jornada através do Atlântico em um veleiro neutro em carbono para falar em um encontro das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas. As viagens aéreas geram toneladas de emissões de carbono. Ela não vai fazer isso. E nós gostamos de vê-la não fazendo isso.

A reportagem é de Rita Ferrone, publicada em La Croix International, 28-08-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Thunberg chegou ao conhecimento público há cerca de um ano, através de um protesto pessoal em frente ao Parlamento sueco. Isso, por sua vez, inspirou uma série mundial de greves de crianças em idade escolar, chamadas “Sextas-Feiras pelo Futuro”, atraindo mais de um milhão de participantes.
Cerca de 1.600 greves em 118 países foram planejadas para esta primavera no Hemisfério Norte, incluindo 50 greves organizadas pela “Geração Laudato si’, uma iniciativa juvenil sob o guarda-chuva do Movimento Católico Global pelo Clima.

Enquanto o tempo se esgota para a oportunidade de reverter alguns dos piores efeitos das mudanças climáticas, Greta, como seus apoiadores a chamam, tem sido incrivelmente corajosa, focada e apaixonada pela sua causa. Em reconhecimento aos seus esforços, ela foi nomeada para um Prêmio Nobel e reafirmada pelo Papa Francisco.

Ela se tornou um ícone do movimento de crianças e jovens que exige ações concretas para a sustentabilidade em resposta à crise climática.

Em certo nível, o fenômeno Greta Thunberg se conforma a um padrão bem conhecido: um indivíduo altamente motivado, presente no lugar e na hora certos da história, inflama um movimento e torna-se a sua face pública.

A fogueira estava pronta – a crescente preocupação com o ambiente e um crescente sentimento de necessidade de mudança –, e ela acendeu o fósforo. O momento é o que importa.

No entanto, seu impacto sobre o nosso imaginário, em um sentido importante, também depende da sua juventude.

Crianças e jovens na era atual assumiram um papel real e simbólico em relação ao modo como os adultos lidam com o desafio das mudanças climáticas e da degradação ambiental.

Os jovens estão cada vez mais no centro das atenções como aqueles cujo futuro está em suspenso e cuja energia tem o potencial de despertar o mundo para a ação.

Os custos da agitação e deslocamento sociais

O ativismo juvenil na área de ecologia e, mais especificamente, das mudanças climáticas, não é novidade. O Sunrise Movement, o Extinction Rebellion, o Green New Deal e outras iniciativas ousadas foram alimentadas pelos ideais e pela energia dos jovens.

Na Jornada Mundial da Juventude no Panamá, um Manifesto Climático foi apresentado ao cardeal Luis Antonio Tagle, de Manila, que o recebeu em nome da agência católica de ajuda e desenvolvimento Caritas Internationalis.

As “Sextas-Feiras pelo Futuro”, convocadas por Greta, podem ter levado crianças em idade escolar para as ruas, mas ela dificilmente é a única líder jovem que pressiona por um mundo ecologicamente sustentável.

Nos Estados Unidos, um momento definidor na identificação da crise climática com o destino dos jovens surgiu em 2015 através do processo judicial Juliana vs. Estados Unidos.
Ele abriu o precedente, em nome de 21 jovens demandantes diretamente afetados pelos efeitos nocivos das mudanças climáticas, de que eles têm direito a um ambiente sadio e estável.
Julia Olson, a principal advogada dos demandantes, lembra que ela se radicalizou em relação às mudanças climáticas quando estava grávida: "Há algo em relação ao fato de carregar a vida dentro do seu corpo que é transformador e dá a você uma perspectiva diferente sobre o mundo”.

Está claro por que os jovens estão na vanguarda da agitação: as gerações futuras pagarão a conta da ineficiência ambiental passada e presente.

As crianças e os adolescentes de hoje serão aqueles que estarão sujeitos a condições climáticas extremas, à poluição do ar, à extinção de espécies, à escassez de água limpa e à elevação dos oceanos de amanhã, sem falar dos custos da agitação social e do deslocamento sociais em todo o mundo devido à degradação ecológica.

Os jovens podem nos salvar de nós mesmos? Essa é a parte sobre a qual eu não tenho tanta certeza. Sua energia e o próprio fato de não se desesperarem em mudar os hábitos e as estruturas que nos trouxeram até esta confusão proporcionam algo precioso ao mundo.

Como disse o Pe. Joshtrom Isaac Kureethadam, coordenador do setor de Ecologia e Criação do Dicastério para Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, do Vaticano, em uma recente conferência na Creighton University, eles nos dão esperança.

Mas, se o mundo adulto simplesmente observar e aplaudir, e não se engajar em seu próprio trabalho recíproco e em seu sacrifício para reduzir as emissões de carbono, pouco vai mudar.
Os protestos, os manifestos e a viagem de Greta através do oceano em um pequeno barco neutro em carbono entrarão para a história como um teatro, e não como uma profecia.

O que importa, no fim, é o princípio que o Papa Francisco articulou na Laudato si’: a solidariedade intergeracional. Cada geração conserva a terra em nome da próxima; cada geração é responsável por repassá-la intacta.

 http://www.ihu.unisinos.br/592107-teatro-ou-profecia-o-fenomeno-greta-thunberg

terça-feira, 27 de agosto de 2019

O NEGÓCIO MILIONÁRIO DOS INCÊNDIOS DA AMAZÔNIA


Força-tarefa do Ministério Público Federal calcula que queimada de 1.000 ha custa cerca de um milhão no mercado negro da região. Raquel Dodge vê ação orquestrada em fogo. Procuradores não comentam alertas ignorados por Força Nacional.

A reportagem é de Afonso Benites, publicada por El País, 26-08-2019.

IHU - 27 de agosto de 2019

No negócio milionário das queimadas na Amazônia, atear fogo em uma área de mil hectares custa cerca 1 milhão de reais no mercado negro. O cálculo, que aplicado à conta da devastação neste ano na floresta amazônica e em parte do Pantanal alcançaria cerca de 20 milhões de reais, faz parte de uma investigação do Ministério Público Federal que apura a participação de grupos criminosos nas queimadas, as mais intensas na região em ao menos cinco anos. “Há suspeita de ação orquestrada e de uma atuação que foi longamente cultivada para chegar a esse resultado”, afirmou a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que reuniu em Brasília a força-tarefa de procuradores específica para apurar crimes ocorridos na Amazônia Legal.

Um dos atos que estão no âmbito da investigação do MPF é o “Dia do Fogo”, um evento organizado por produtores rurais, sindicalistas, grileiros e comerciantes com objetivo de derrubar parte da floresta e plantar pasto, conforme anunciado em um jornal local do interior do Pará em 5 de agosto.
Uma reportagem do programa Globo Rural mostrou que o delito foi combinado por um grupo formado por pelo menos 70 pessoas das cidades de Altamira e Nova Progresso, ambas paraenses e numa das regiões com maior alta das queimadas. O objetivo era, no dia 10 de agosto, desmatar uma área ao redor da rodovia BR-163 e mostrar ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) que eles apoiam seus planos de afrouxar a fiscalização realizada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).
Partiu do próprio Ministério Público Federal do interior do Pará o alerta sobre o riscos do "Dia do Fogo". Documentos publicados pelo site Poder 360 mostram que o procurador Paulo de Tarso Moreira Oliveira comunicou ao Ibama dos planos criminosos. O Ibama respondeu, dias depois, que não tinha como atuar pela falta de acompanhamento da Polícia Militar do Pará e porque a Força Nacional, sob o comando do Ministério da Justiça de Sergio Moro, havia ignorado os pedidos de apoio.

Nenhum dos procuradores entrevistados pela reportagem quis atribuir qualquer responsabilidade do Governo federal sobre o caso, apesar dos alertas recebidos. “O Ministério Público brasileiro está olhando para frente”, disse a procuradora-geral, Raquel Dodge. Enquanto que o procurador Joel Bogo afirmou que o objetivo principal é encontrar os autores dos crimes. “Nosso papel construtivo é de estimular os órgãos do Governo, não só do federal, mas também dos governos estaduais”, disse Bogo, um dos membros da força-tarefa Amazônia, criada pela Procuradoria-Geral da República há um ano.

“O desmatamento ilegal de grandes proporções é praticado, sim, por agentes do crime organizado, inclusive pela capitalização”, explicou o procurador. “As queimadas são reflexo do aumento do desmatamento. A queimada aumenta porque a fronteira agrícola está sendo expandida”, completou o procurador, que está lotado em Rio Branco, no Acre.

Depois que a reportagem do Globo Rural sobre o "Dia do Fogo" foi publicada, o presidente Bolsonaro determinou que a Polícia Federal também passasse a investigar o caso. Nas redes sociais, os apoiadores e aliados do presidente, como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (NOVO), ressaltaram a fala de uma pecuarista em que ela acusava, sem provas, de que servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), um órgão do próprio Governo, teriam ateado fogo na floresta. A acusação dessa produtora rural ecoava o discurso de Bolsonaro, no qual ele sugeriu, sem provas, que ONGs estariam incendiando a Amazônia.

Essa suspeita já foi prontamente descartada pelo Ministério Público Federal. “Não há um ínfimo indicativo de participação de ONGs”, destacou o coordenador da Câmara de Meio Ambiente do Ministério Público Federal, Nívio de Freitas. Para ele, do que se sabe até o momento, a principal linha de investigação é de que grileiros, que são invasores de terras públicas, sejam os responsáveis pelos delitos.

Nos últimos meses, a gestão Bolsonaro abriu mão de receber cerca de 280 milhões de reais mensais do Fundo Amazônia – um projeto bancado principalmente pela Noruega e pela Alemanha cujo valor era destinado para fiscalização ambiental. O governo também decidiu reduzir a fiscalização realizada pelos agentes do Ibama e do ICMBIO. Em abril, em discurso em uma feira agropecuária em Ribeirão Preto (SP), Bolsonaro disse que pretendia fazer “um limpa” nos dois órgãos responsáveis pela fiscalização e preservação ambiental. “Em torno de 40% das multas aplicadas no campo, em grande parte, serviam para retroalimentar uma fiscalização xiita, que buscava apenas atender nichos que não ajudavam o meio ambiente e muito menos aqueles que produzem”, conforme relatou o portal G1.

Na última semana, o Governo decidiu reforçar o combate ao incêndio na região norte com o emprego de 43.000 militares. Até o momento, sete dos nove Estados da Amazônia Legal requisitaram a ajuda de tropas federais para debelar os focos.

http://www.ihu.unisinos.br/592030-o-negocio-milionario-dos-incendios-na-amazonia 

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

CIMI DA AMAZÔNIA OCIDENTAL DENUNCIA INCÊNDIO CRIMINOSO NA TERRA DO POVO HUNIKUIN

Conclamamos a todas e todos para que colaborem com o povo !

Eis a nota na íntegra:


NOTA PÚBLICA

O Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Regional Amazônia Ocidental, com sede em Rio Branco, capital do Estado do Acre, vem a público externar sua imensa preocupação frente ao agravamento das derrubadas e queimadas na Amazônia que, a nosso ver, seguem orientação de fazendeiros e apoiadores insanos do agronegócio tornando estes agrocriminosos e por isso também denunciamos suas ações criminosas.

O incêndio criminoso da terra do povo HuniKuin, no Km 35 da rodovia Trasacreana, ramal Txaná, extrapolou todos os limites. Tal qual nos posicionamos contra projetos de mercantilização e Financeirização da natureza, como REDD, PSA, REM, vimos, por meio desta nota, nos posicionar contra a ação de agrocriminosos que também de forma violenta agridem a natureza e viola direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais, em ações que por fim, prejudica a todos.

Associamo-nos ao movimento “levante a voz pela Amazônia” e, como membros que somos da REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica, convocamos a todas e todos a que nos juntemos ainda mais na defesa da Amazônia e seus povos.

Exigimos que governos e autoridades tomem medidas urgentes para punir estes criminosos e evitar que novos crimes sejam cometidos em nome de um suposto desenvolvimento. Exigimos especialmente que seja apurado o incêndio criminoso contra o povo Huni Kuin e os culpados sejam exemplarmente punidos.

Juntamos nossa voz às vozes dos povos indígenas, comunidades tradicionais e todos de boa vontade, para dizermos “NÃO” ao agrocrime e a toda forma de violação de direitos e ataque à nossa mãe natureza e aos empobrecidos da terra.


Rio Branco, 24 de agosto de 2019


Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Regional Amazônia Ocidental

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O RIO VOADOR DE FUMAÇA E O SÍNODO PARA A AMAZÔNIA

MAIS DO QUE NUNCA, A RESPONSABILIDADE DO SÍNODO PARA A AMAZÔNIA: PARA ANUNCIAR QUE O DEUS DE JESUS DE NAZARÉ QUER QUE TODAS AS PESSOAS TENHAM VIDA E VIDA EM ABUNDÂNCIA, SERÁ NECESSÁRIO MELHORAR A PRESENÇA JUNTO AOS POVOS DESTE BIOMA E, JUNTO COM ELES E TODOS E TODAS QUE DESEJAM QUE A TERRA CONTINUE VIVA E FONTE DE VIDA PARA TODOS OS SERES VIVOS, MOBILIZAR UMA CAMPANHA, QUE PODERIA TER ESSE CONVITE:
SALVEMOS A AMAZÔNIA PARA SALVAR NOSSA VIDA 

COM O PAPA FRANCISCO COMO PADRINHO E SÃO FRANCISCO COMO PATRONO, ESTA CAMPANHA PODERÁ SER GERADORA DE CONSCIÊNCIA E DE PRESSÕES QUE EXIGIRÃO MUDANÇAS ESTRUTURAIS NO SISTEMA DOMINANTE NO PLANETA, UM SISTEMA GERADOR DE MORTE.

O Rio Voador de Fumaça e o Sínodo para a Amazônia
Roberto Malvezzi (Gogó)
Um rio voador de fumaça cobriu o imenso território brasileiro. Ele percorreu exatamente o caminho dos rios voadores, feitos de vapor de água, que irrigam a maior parte do território brasileiro, chegando até a Argentina, Uruguai e Paraguai. É da Amazônia que vem as chuvas que abastecem grande parte de nosso território, que depois se armazenam nos aquíferos do Cerrado, mas que hoje estão sendo extintos pela devastação da Amazônia e do Cerrado.
Um fato grave e exemplar como esse deveria suscitar a reflexão e a inflexão que nos apavorassem nesse momento. Afinal, os estudos científicos - tão desprezados pelo atual governo -, nos alertam continuamente que sem a Amazônia, a região brasileira que vai de São Paulo até os demais países do Cone Sul, se transformará em deserto.
Pior, o rio voador de fumaça foi uma celebração planejada, isto é, os predadores do agronegócio decidiram celebrar a liberação do desmatamento com um dia de queimadas. E assim o fizeram. Somando com a fumaça que veio de outros países, transformou um dia de São Paulo em noite escura.
Esse é o Brasil do futuro e do presente. Sem Amazônia, grande parte do sul e sudeste brasileiros se transformará em deserto. Não adianta tentar camuflar essa realidade, ou amenizar, como fez a reportagem da Folha de São Paulo e o Jornal Nacional, dizendo que esse fenômeno acontece todos os anos. Sim, acontece desde que as queimadas passaram a acontecer nessa época, mas não é normal, não é natural, é um processo de devastação pelo fogo.  Fato é que o desmatamento e as queimadas da Amazônia aumentaram exponencialmente no último governo, sem eximir de responsabilidade os que vieram antes dele.
O Sínodo para a Amazônia, que acontecerá de 06 até 27 de Outubro, em Roma, vai discutir com as igrejas dos nove países da região uma ecologia integral, capaz de preservar o bioma para o bem de seus povos, mas também para aqueles que se beneficiam de suas dádivas, mesmo morando fora da Amazônia, caso dos paulistas, catarinenses, paranaenses, gaúchos, argentinos, uruguaios, paraguaios, etc.
Preservar a Amazônia seria a lógica do bom senso, até para o instinto de sobrevivência do povo brasileiro. Mas, não é o caso. Estamos vivendo um momento em que a pior fumaça é a que queima os cérebros.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

ATENÇÃO PARA O CONVITE PARA A GREVE GLOBAL PELO CLIMA


QUE ADIANTA CONTINUARMOS ESTUDANDO SE NÃO TEREMOS FUTURO?, PERGUNTAM OS JOVENS QUE TOMAM CONSCIÊNCIA DE COMO A VIDA ESTÁ AMEAÇADA EM NOSSO PLANETA TERRA. E DECIDIRAM SAIR DAS ESCOLAS NAS SEXTAS-FEIRAS E LUTAR PARA QUE OS ADULTOS, COMO OS SEUS PAIS, FAÇAM O QUE DEVE SER FEITO PARA FREAR E PARAR COM O QUE PROVOCA AUMENTO DO AQUECIMENTO E O AGRAVAMENTO CONSTANTE DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.

POIS AGORA O CONVITE E PROVOCAÇÃO ESTÁ ENDEREÇADO A TODAS AS PESSOAS QUE VIVEM NA TERRA: FAÇAMOS UMA GREVE GLOBAL PELO CLIMA NOS DIAS 20 A 27 DE SETEMBRO DE 2019.

QUEM VAI ADERIR AQUI NO BRASIL? O NECESSÁRIO SERIA QUE TODAS AS PESSOAS ENTRASSEM EM GREVE E ORGANIZASSEM AÇÕES DE PRESSÃO SOBRE OS QUE SE CONSIDERAM DONOS DA POLÍTICA PARA QUE FAÇAM O QUE DEVE SER FEITO PARA ENFRENTAR O PROCESSO DE DESTRUIÇÃO DA VIDA EM NOSSA CASA COMUM.

AS IGREJAS, POR EXEMPLO, QUE DESEJAM A PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS EM SUAS COMUNIDADES DE FÉ, APOIARÃO, PARTICIPARÃO E PROMOVERÃO MOBILIZAÇÕES NESSES DIAS DE GREVE GLOBAL? COMO INSISTE O PAPA FRANCISCO, OU OS CRISTÃOS E CRISTÃS - COM DESTAQUE PARA OS MEMBROS DA HIERARQUIA E DA VIDA RELIGIOSA - SAEM DE SEUS TEMPLOS E DE SUA BOA VIDA, E VÃO AO ENCONTRO DOS QUE LUTAM PELA VIDA, E NESSE CASO, OS JOVENS, OU ELA SERÁ INFIEL À SUA MISSÃO. ALÉM DE PROVOCAR E REFORÇAR AS INICIATIVAS DE JOVENS, PORQUE NÃO PROMOVER RITUAIS DE PEDIDO DE PERDÃO PELO DESCUIDO E AGRESSÃO À MÃE TERRA POR MUITOS QUE SE DIZEM CRISTÃOS E SÃO FILIADOS À IGREJA? E CELEBRAÇÕES QUE RECONHEÇAM O QUE OS POVOS INDÍGENAS E AS COMUNIDADES TRADICIONAIS FIZERAM E ESTÃO FAZENDO DE BEM VIVER, DE MANTER RELAÇÕES DE COOPERAÇÃO ENTRE AS PESSOAS E RELAÇÕES HARMONIOSAS COM A TERRA?

O CONVITE ESTÁ SENDO ENVIADO PARA TODAS AS PESSOAS, POVOS, IGREJAS, SINDICATOS, UNIVERSIDADES, ESCOLAS, ASSOCIAÇÕES, MOVIMENTOS, ENTIDADES... 

É MELHOR AGIR AGORA DO QUE CHORAR DEPOIS, JÁ TARDE! 


IHU, 17 de agosto de 2019

"O mundo vive uma situação de emergência climática e ambiental. Só uma união geral poderá evitar o colapso ecológico. A Greve Global pelo Clima pode unir as lutas específicas contra o classismo, o escravismo, o racismo, o sexismo, o homofobismo, o idadismo, o xenofobismo e o especismo. Sem condições climáticas e sem o fortalecimento da biocapacidade do Planeta não haverá perspectiva para as futuras gerações", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 16-08-2019.

Eis o artigo.

Não peçam aos seus filhos respostas para a bagunça que vocês fizeram” - Greta Thunberg
Os adolescentes que sempre foram vistos como imaturos e inconstantes estão dando uma lição aos seus pais e avós. Eles dizem que não querem repetir os versos de Belchior: “Ainda somos os mesmos, E vivemos, Como os nossos pais”.

A juventude mundial está começando a perceber que recebeu uma herança maldita das gerações anteriores e que é grande a possibilidade de um colapso ambiental em meados do século XXI. Relatório publicado pelo Centro Nacional de Descoberta do Clima da Austrália argumenta que, se nada for feito, as mudanças climáticas podem levar ao colapso da civilização humana até 2050.

Os cientistas acreditam que, no atual ritmo de aquecimento global, a temperatura subirá cerca de 3 graus Celsius nos próximos 30 anos: “Há um risco existencial para a civilização, com consequências negativas permanentes para a humanidade que nunca poderão ser desfeitas, aniquilando a vida inteligente permanentemente – ou reduzindo drasticamente seu potencial”.

Se as velhas gerações, pensando egoisticamente pouco fazem em defesa da natureza (pois já estarão mortas na segunda metade do século XXI), os jovens do mundo – os millennials – se preocupam com o futuro e a degradação das bases naturais da vida na Terra.

Os jovens já estão sentindo os efeitos do caos climático e ambiental. São inúmeros os casos de desastres provocados pelas mudanças climáticas. Se nos próximos 12 anos, a temperatura média do planeta alcançar mais de 1,5 graus Celsius, em relação ao período pré-industrial, os impactos na biodiversidade e na sociedade serão dramáticos, afetando a disponibilidade de alimentos, afetando a saúde e agravando as condições de vida. O impacto será maior entre os pobres e os jovens.

Segundo o Greenpeace, aqui no Brasil, alguns grupos já começaram a se articular para a “Greve Global pelo Clima”. No dia 14 de julho, cerca de 50 pessoas entre ativistas, representantes de ONGs e movimentos sociais se reuniram na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, para construírem juntos as próximas ações para a mobilização. Em um encontro de microfone aberto, todos puderam sugerir caminhos e expor ideias para um dos maiores desafios: fazer com que a população entenda a urgência do tema e se engaje nessa mobilização. Afinal, defender o clima estável é defender uma vida saudável, segura e em harmonia com o planeta. As ações humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, são as principais aceleradoras do aquecimento global.

A Greve Global pelo Clima ganha força e se conecta com o movimento “Fridays for Future” (Sextas-feiras pelo Futuro), liderado pela jovem sueca Greta Thunberg, de 16 anos. A adolescente sueca, que se recusa a viajar de avião, por conta das altas emissões de CO2, viajará de barco para Nova Iorque, onde irá fazer uma fala na “U.N. Climate Action Summit”, em 21 de setembro de 2019, dentre outras atividades.

Na semana de 20 a 27 de setembro de 2019 haverá a “Greve Global pelo Clima”. Este movimento é mais urgente no Brasil, que está passando por um momento de ataque ecológico por parte do próprio governo brasileiro. Como disseram Ferrante e Fearnside (IHU, 02/08/2019): “Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2019 como o novo presidente do Brasil, tomou medidas e fez promessas que ameaçam a floresta amazônica brasileira e os povos tradicionais que a habitam. Os ruralistas, nomeadamente os grandes proprietários de terras e os seus representantes, que são uma parte fundamental da base política do novo presidente, estão a avançar uma agenda com impactos ambientais que se estendem a todo o mundo”.

O mundo vive uma situação de emergência climática e ambiental. Só uma união geral poderá evitar o colapso ecológico. A Greve Global pelo Clima pode unir as lutas específicas contra o classismo, o escravismo, o racismo, o sexismo, o homofobismo, o idadismo, o xenofobismo e o especismo. Sem condições climáticas e sem o fortalecimento da biocapacidade do Planeta não haverá perspectiva para as futuras gerações.

Portanto, os jovens brasileiros e todas as pessoas que se solidarizam com a natureza e a vida na Terra deveriam participar da “Greve Global pelo Clima”. É preciso superar os nacionalismos, os isolacionismos e os corporativismos.

A defesa do clima é de todos e pode unir todas as forças. O futuro da vida no Planeta depende da mobilização de todas as pessoas! 
Referências:
Outras palavras. Prepara-se a Greve Mundial pelo Clima, 01/08/2019

http://www.ihu.unisinos.br/591754-greve-global-pelo-clima