Foi anunciado que o governo federal lançará uma campanha com
o objetivo de demonstrar que a falta de água na região tem a ver com o sexto
ano de seca que aflige os sertanejos, e não com falhas do governo.
Imaginem os nordestinos recebendo na tv e rádio a seguinte
propaganda: “sertanejos, a falta de água em sua casa não é culpa do governo, e
sim da seca que já dura seis anos; o governo está fazendo a sua parte...” E aí,
muitos se perguntarão: quanto custou essa propaganda estúpida e inútil? Não
poderiam usar esse recurso público em algo bom para nós?
Imaginemos duas comunidades: numa, quase todas as famílias
já têm sua cisterna caseira, e algumas têm a segunda cisterna, usada para produzir
alimentos básicos para a família, e com isso se ajudam a enfrentar a seca; na
outra, mais sofrida, nenhuma família tem ainda sua cisterna caseira, porque a
Articulação do Semiárido (ASA) não conseguiu recursos para animar a comunidade a
construir, em mutirão, essas caixas de cimento e ferro para guardar a água da
chuva pra ter nos tempos de seca.
Que boa notícia animaria estas duas comunidades?
Antes de responder, vale lembrar que, numa região semiárida,
que não é um deserto, é normal que, volta e meia, caiam chuvas mesmo em tempos
de seca. E chuvas intensas, às vezes. Há poucos dias, choveu em toda a região
semiárida, mas a seca não acabou, porque essas chuvas não garantem que se possa
plantar e colher normalmente.
Pois bem, é claro que a boa notícia esperada pelas duas
comunidades seria esta: “o governo federal decidiu que liberará, junto com o
socorro dos carros-pipa e de cestas de alimentos, recursos suficientes para que
a ASA ajude todas as comunidades a construírem cisternas caseiras em todas as
casas. E os primeiros recursos virão da diminuição de gastos com propaganda”.
Sem essa boa política pública, tudo que se fizer em nome do
combate à seca não passará de continuidade da indústria da seca, com enriquecimento
dos privilegiados de sempre e com maior empobrecimento de quase toda a
população.
Ivo
Poletto, do FMCJS
[se desejar ouvir esta mensagem em programa radiofônico, entre em fmclimaticas.org.br ]
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