quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

QUEM LEVA A SÉRIO A DESERTIFICAÇÃO?

ESTAMOS FALANDO DE CRISE DA ÁGUA, FINALMENTE EXPERIMENTANDO O QUE ESTAVA SENDO ANUNCIADO HÁ MUITO TEMPO. AGORA, OUTRA FACE DA DIMINUIÇÃO DA ÁGUA DISPONÍVEL É O AVANÇO DAS ÁREAS COM SOLO DESERTIFICADO. VALE A PENA IR PENSANDO NISSO PORQUE AS MUDANÇAS QUE PRECISAM SER FEITAS SÃO MUITO MAIS PROFUNDAS DO QUE SE ESTÁ IMAGINANDO E ANUNCIANDO. 

Desertificação, mais uma crise omitida pelos jornais

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ONU adverte: embora precise elevar produção de alimentos, planeta perde solos férteis aceleradamente. Fenômeno está relacionado a agronegócio e desmascara sua suposta “eficiência”
Por Najar Tubino, em Carta Maior
É uma decisão da ONU, que desde 2013 também definiu o dia 5 de dezembro como o dia mundial do solo. Em maio, entre os dias 4 e 7, ocorrerá, na Albânia, a Conferência Internacional do Solo, com o lema: “O solo sustenta a vida: muito lento para formar, rápido demais para perder”. Um centímetro de solo demora entre 100 e 400 anos para se formar, e os pesquisadores calculam que um solo produtivo dentro da normalidade leve de três mil a 12 mil anos para a sua formação. Mesmo assim, a ONU calcula que até 2050 o mundo perderá um Brasil inteiro em solo, ou seja, 849 milhões de hectares. São 12 milhões de hectares por ano. O que é mais importante: somente 5 a 10% dessa terra chegam ao mar. Onde fica o restante? No leito dos rios, no lago das represas, tanto de abastecimento de água, como das hidrelétricas, nos córregos, nos afluentes. Como dizem os chineses: os rios do planeta estão empanturrados.
O secretário executivo da Convenção das Nações Unidas contra a desertificação, o africano Luc Gnacadja, do Benin, pergunta: por que este assunto não está na capa dos jornais? Simples, porque a mídia tradicional não trata de assuntos importantes realmente, a não ser com um viés conservador, sempre a favor do mercado. Tratar do solo, portanto, poderá desmascarar a eficiência do agronegócio, cuja receita de monoculturas é a mesma no mundo. Mas aí temos as previsões para o aumento da população e as necessidades de alimentação, o que reforça a prática destrutiva do modelo industrial de produção de alimentos. Temos que crescer 50% até 2050, dizem eles. Isso significa algo como 175 a 200 milhões de novos hectares.
A degradação avança em todo o mundo
A matemática é simples: se nada for feito para deter a erosão e o desmatamento, os dois principais fatores da degradação dos solos, em 20 anos teremos perdidos mais 240 milhões de hectares, calculando 12 milhões ao ano, como faz a ONU. Em 1991, 15% das terras cultiváveis do planeta estão se degradando, agora são 24%. Eram 110 países que sofriam com o problema da erosão e com o aumento da desertificação, agora são 168.
“Veja o caso da África”, cita o secretário da Convenção contra a Desertificação, que é o continente mais vulnerável à seca e à degradação dos solos. A situação atual aponta para 45% do solo afetado pela degradação e admite-se que dois terços podem ser perdidos até 2025”, diz Luc Gnacadja.
Ele completa: “até agora a resposta humana à degradação dos solos e ao avanço da desertificação tem sido derrubar mais área de floresta para aumentar a fronteira agrícola”.
Mundo urbano não discute o rural
Um texto sobre outra conferência – em Brasília, entre os dias 25 a 27 de março — cita alguns argumentos sobre a importância do solo:
“Os solos constituem insumo fundamental para o desenvolvimento humano. Nenhum país consegue desenvolver-se plenamente sem acesso a esse recurso natural e as suas riquezas são incalculáveis. Em interface com a atmosfera, a hidrosfera, a biosfera e a litosfera o solo é responsável pelos principais processos biogeoquímicos que garantem a vida na Terra, estoca a água e recicla nutrientes, protege contra enchentes, sequestra carbono e abriga 25% da biodiversidade”.
Ocorre que o mundo atual é urbano, digital, eletrônico e não comporta espaço nem discussão sobre assuntos considerados rurais, do campo, de outra esfera. A não ser quando da realidade bate a porta e começa a sumir a água das torneiras e, de repente, milhões ficarão sem água, como acontecerá em 2015 em São Paulo. É o que diz um trabalho divulgado pela The Nature Conservancy sobre o problema da falta de água nas grandes cidades.
Detonaram o mato dos mananciais
Se 14,3 mil hectares dos 493,4 mil hectares que formam os sistemas Cantareira, Alto Tietê, Guarapiranga e Rio Grande fossem reflorestados com mato nativo, isso diminuiria em 568,9 mil toneladas de sedimentos que são jogados nos cursos d’água, que alimentam os reservatórios.
“- A sedimentação tem impacto direto na quantidade e na qualidade da água dos mananciais. Isso ocorre porque não há cobertura vegetal ao redor dos rios e das represas. O solo exposto, além de sofrer erosão e não absorver a água das chuvas provoca o escoamento da terra para os corpos d’água, assoreando o leito e diminuindo a vida útil dos reservatórios”, como explica Samuel Barreto, coordenador do Movimento Água para São Paulo.
A região dos mananciais já perdeu 70% da mata nativa para a pecuária e agricultura. Os números levantados pela organização não governamental SOS Mata Atlântica são piores – só restam 488km2, ou seja, 21,5%. Não se trata de uma novidade brasileira. A erosão na China já consumiu 19% da área agrícola e os números apontam para descarga de terra superior no rio Yang-Tsé, o maior da Ásia, superior as dos rios Nilo e Amazonas juntos – três bilhões de toneladas ao ano.
O tempo passa, as cidades inflam, os rios são empanturrados não somente de terra, de solo perdido, juntamente com seus nutrientes e dos fertilizantes químicos, mas também de esgoto e lixo de todo tipo. É uma situação vergonhosa o que acontece no Brasil, onde o tratamento de esgoto ainda não é considerado uma prioridade, mesmo com verbas federais autorizadas. O conto do vigário de políticos sem compromisso com a população não combina com obras que ficam embaixo da terra. Hoje, ao se fazer uma pesquisa sobre assoreamento de rios e represas no país, o resultado é revoltante. Sem exceções, todos os principais rios brasileiros estão assoreados e entupidos de esgoto e lixo. Seus afluentes, córregos e nascentes foram detonados, sem mato para proteção. Tudo em nome do progresso e da modernidade, que fede com os excrementos de milhões de pessoas.
Colapso do sistema público de água
Em 2015, justamente quando o assunto solo poderá ganhar as páginas da mídia ordinária, o país será usado como exemplo do que pode ocorrer na maior metrópole, a falta de água nas torneiras paulistas. O Centro de Desastres Climáticos, do INPE calculou as estimativas de chuvas até abril – mesmo com fevereiro acima da média-, além do que a SABESP retira do sistema Cantareira. E a previsão é que o sistema seca em julho. No início de dezembro passado ocorreu um encontro na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, sobre as perspectivas de abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo. O professor Pedro Luiz Cortês, da Uninove, coordenador do encontro, disse:
“Temos um sistema cada vez mais suscetível a eventos climáticos, como secas prolongadas, além do consumo cada vez mais intenso. Desde 2012 sabíamos que entraríamos num regime de falta de chuvas. O governo deveria vir a público apresentar os cenários com os quais está trabalhando”.
Outro comentário, agora do professor Reginaldo Berto, do Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas, da USP:
“É preciso se preparar para o colapso do sistema público de abastecimento a partir de abril de 2015”.
Enquanto isso, a mídia ordinária faz uma contagem regressiva ao contrário, dando uma falsa impressão à população de que as coisas estão melhorando. O Sistema Cantareira, assim como outros sistemas de abastecimento, começou a entrar em colapso ao longo dos últimos anos. A essência do problema é que a classe política conservadora não considera o ambiente como parte da vida e do suporte da vida, além de combater a noção que vivemos mudanças climáticas, como se fosse ideia de comunista. E, por essa e outras, que o país, que tem água doce em grande quantidade, dará um exemplo ao contrário ao mundo. Claro, que tudo ainda depende da decisão técnica do governador paulista.

POVO SURUÍ QUER SUSPENDER PROJETO DE CARBONO COM A NATURA

VALE COMO ADVERTÊNCIA TANTO PARA OUTROS POVOS QUE ESTÃO SENDO TENTADOS A ACEITAR E ENTRAR EM CONTRATOS DE PROJETOS DE CARBONO E/OU DE SERVIÇOS AMBIENTAIS E TAMBÉM PARA ENTIDADES DA SOCIEDADE CIVIL QUE ESTÃO ASSUMINDO SEREM INTERMEDIÁRIAS ENTRE EMPRESAS E POVOS. AFINAL, SE O PROJETO SEMPRE APRESENTADO COMO MODELO ESTÁ INDI MAL, PROVOCA DIVISÕES NO INTERIOR DO PRÓPRIO POVO E PREJUÍZOS PARA A PRÓPRIA QUALIDADE DE VIDA, AO CONTRÁRIO DO QUE FOI PROMETIDO COM BELAS E ENGANOSAS PALAVRAS, É CORRETO CONTINUAR NESSE CAMINHO?

A PRÁTICA DOS SURUÍ DEIXA CLARO QUE AS PROPOSTAS DE ECONOMIA VERDE DAS GRANDES EMPRESAS DOMINADAS PELO CAPITAL FINANCEIRO SÃO FALSAS SOLUÇÕES: ESCONDEM AS CAUSAS REAIS DO AQUECIMENTO E DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS, PROVOCADAS PELO SISTEMA CAPITALISTA NEOLIBERAL E O CONSUMISMO QUE ELE PROMOVE; PIOR, SERVEM COMO JUSTIFICATIVA ILUSÓRIA E IMORAL PARA ELAS CONTINUAREM EMITINDO GASES DE EFEITO ESTUFA E ESTRESSANDO A TERRA; E PIOR AINDA, SERVEM COMO NOVA OPORTUNIDADE DE ESPECULAÇÃO FINANCEIRA QUE, COMO SE SABE, PARA CONCENTRAR AINDA MAIS A RIQUEZA EM MÃOS DE UMA MINORIA QUE DOMINA O MUNDO E O ESTÁ LEVANDO PARA O MATADOURO.

Lideranças Suruí afirmam ao presidente da Funai que não querem mais o projeto de carbono em suas terras

Inserido por: Administrador em 25/02/2015.
Fonte da notícia: Assessoria de Comunicação Cimi
Patrícia Bonilha
Assessoria de Comunicação Cimi

Doze lideranças do povo Paiter Suruí, da Terra Indígena (TI) Sete de Setembro, localizada no estado de Rondônia, afirmaram ao presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Flávio Chiarelli, em uma reunião realizada na manhã de ontem (24), que desejam que o projeto de Carbono Florestal Suruí seja suspenso. Os principais argumentos apresentados pelas lideranças foram: as graves divisões ocorridas no povo; o não cumprimento das promessas de melhoria de vida da comunidade (enquanto, por outro lado, afirma que algumas poucas famílias têm se beneficiado bastante); o afastamento de lideranças e a centralização da representatividade do povo; e as ameaças feitas a vários integrantes do povo que, atualmente, se posicionam contrários ao projeto.
Assinado com a maior empresa brasileira de cosméticos, a Natura, em setembro de 2013, este projeto previa o sequestro de 120.000 toneladas*[1] de créditos de carbono na TI Sete de Setembro, no período de 2009 a 2012, por um valor divulgado na imprensa de R$ 1,2 milhão[2]. Por ser o primeiro projeto do mecanismo de Redução de Emissões por Degradação e Desmatamento (Redd) a ser realizado em terras indígenas com certificação internacional ganhou repercussão em todo o mundo, além de ser “vendido” pelas empresas que defendem a economia “verde” como um projeto modelo.
No entanto, desde que o atual cacique geral do povo, Henrique Iabaday Suruí, deu uma entrevista à edição de setembro do jornal Porantim sobre os severos impactos deste projeto, uma outra realidade foi desvelada. “As promessas foram muito boas: vida de maior qualidade, saúde, educação. Todo mundo contribuiu. Mas logo chegou conflito e faltou respeito. Somos todos culpados de aceitar isso, de assinar. Mas fomos enganados e estamos passando as consequências disso. Nosso povo cada vez mais sofre. Nos arrependemos. Este projeto não está dando certo para nós”, desabafou Jonaton Suruí, segundo cacique da aldeia Linha 14. Em seguida, ele afirmou que “se este projeto continuar, vão acontecer mortes, briga, cadeia. Não só entre os Suruí, mas com outros povos que também estão se envolvendo com estes projetos, como os Arara”.
Falando na língua Suruí, o ancião Joaquim, vice cacique geral, reforçou as preocupações de seus parentes Jonaton e Henrique. “Caímos na armadilha de uma proposta enganosa. Nós estamos aqui pedindo a suspensão deste projeto que a Funai também aprovou. Estamos aqui de frente com o presidente da Funai para que também assuma a responsabilidade com a gente. Não queremos mais este projeto no nosso povo”, declarou de modo enfático.
Em um documento entregue à Funai, indígenas de 10 povos de Rondônia afirmam:
 “Exigimos urgentemente a suspensão e posterior cancelamento do Projeto de captura de Gás Carbono no território indígena Suruí e Cinta Larga e o impedimento de implementação de qualquer projeto que visa esse tipo de exploração em todos os territórios indígenas no estado de Rondônia e no Brasil;
 Enfatizamos a responsabilidade da Funai pela implementação do Projeto Carbono no território Suruí, mesmo não havendo legislação que prevê tal iniciativa”.
Após explicar que a Funai deu parecer favorável ao projeto porque avaliou que o projeto beneficiaria a comunidade e devido à insistência de uma liderança do povo, Flávio Chiarelli, afirmou que os fatos relatados pelas lideranças Suruí presentes na reunião eram graves e que é preciso, primeiro, entender melhor o que está acontecendo. “Esta é a primeira vez que a comunidade diz que este projeto é um problema. Depois de ouvir mais vocês, podemos encaminhar para a Procuradoria para avaliar e, se for o caso, entrar com uma ação contra ele”, declarou.
A contínua luta pela terra
Após um debate sobre a necessidade de fortalecimento das coordenações regionais da Funai e do órgão como um todo, outro tema abordado durante a reunião da manhã foi a situação dos processos de demarcação de terras indígenas no estado de Rondônia e do Mato Grosso.
O diretor de Proteção Territorial da FunaiAluísio Azanha, após fazer uma breve análise do difícil contexto político em que a Funai vem atuando, devido ao déficit de funcionários e ao contingenciamento e diminuição de recursos financeiros, para além das ofensivas contra os direitos indígenas, adiantou informações sobre alguns destes processos. Ele informou, por exemplo, que as terras indígenas Karitiana e Kaxarari enfrentam problemas judiciais e que em relação às terras Cujubim, Migueleno e Wajoro, não será possível instalar Grupos de Trabalho neste ano. Em relação à terra do povo Puruburá, em estudo, Azanha afirmou que será realizado o trabalho de campo na área reivindicada pelos indígenas ainda em 2015.
Como resposta, representantes do povo Puruburá, Antônio e Hosana, pediram agilidade da Funai em relação à demarcação desta terra e respeito ao povo. “A Funai tirou a gente da nossa terra original. Nunca tínhamos saído de lá. O sonho de nossos anciãos é ter a nossa terra demarcada, mas estão morrendo sem ver este sonho se realizar. Preciso viver escondida por conta das ameaças que sofremos”, declarou Hosana Puruburá.
As discussões sobre os processos de demarcação de terras indígenas dos povos de Rondônia foram aprofundadas na reunião à tarde. No entanto, ainda na parte da manhã, várias lideranças manifestaram suas preocupações em relação à grave, e infelizmente bastante comum, invasão dos territórios indígenas do estado por madeireiros. Uma queixa consensual dos 10 povos presentes foi em relação ao sentimento que têm de estarem abandonados pela Funai e da necessidade deste órgão se fortalecer para proporcionar o apoio que os povos indígenas precisam como, por exemplo, em relação à fiscalização e punição de quem rouba madeira.
Leia na íntegra o documento entregue pelos povos de Rondônia à Funai



[1] http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/09/indios-surui-concluem-1-venda-de-creditos-de-carbono-indigenas-do-pais.html

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

FRIBOI: O CUSTO HUMANO DA CARNE DE MARKETING

QUE TAL LANÇAR UMA CAMPANHA PARA QUE O ATOR TONI RAMOS CONTE A VERDADE NOS HORÁRIOS DE PROPAGANDA? E PARA QUE O BNDES INFORME AOS TRABALHADORES DO FIBOI A ORIGEM DO DINHEIRO EMPRESTADO E AS VANTAGENS OFERECIDAS NOS EMPRÉSTIMOS? AFINAL, POR QUE A FRIBOI TEM QUE EXPLORAR TANTO OS TRABALHADORES?

Funcionária da JBS: “Fui demitida por passar abaixo-assinado, pedindo para rever decisão de cobrar nossas refeições”

A empresa brasileira JBS é a maior produtora global de carnes. No terceiro trimestre de 2014, o seu lucro líquido cresceu 397% em relação a igual período de ano anterior. Foi R$ 219,8 milhões para R$1,1 bilhão.
A reportagem é de Conceição Lemes, publicada por Viomundo, 18-02-2015.
No último ano, ela também “invadiu” a TV, via campanhas publicitárias de suas marcas Seara, estrelada por Fátima Bernardes, e Friboi, por Toni Ramos.
JBS, porém, tem outro lado nada glamouroso. Tem sido denunciada por desrespeito a direitos trabalhistas de funcionários. Por exemplo, descumprimento da pausa de 20 minutos a cada 1h40min em ambientes frios. Falta de locais adequados para o intervalo de recuperação térmica dos trabalhadores expostos à temperaturas extremamente frias para o corpo humano (entre 5o C e -15o C). Excesso de jornadas de trabalho; há registros de até 12 horas seguidas. Infringir normas de saúde e segurança dos trabalhadores.
Apenas em 2014, teve quatro condenações por irregularidades trabalhistas em fábricas no AcreMaranhão, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, que lhe custaram R$ 8 milhões em indenizações.
Em 16 de janeiro de 2015, Andreia Pires de Oliveira, trabalhadora da JBS de Osasco, foi demitida por justa causa, apesar de ter estabilidade no emprego garantida por lei até setembro.
A justificativa da empresa foi o excesso de suspensões: oito (sete por atrasos no horário de entrada) em três anos de trabalho. A última em 15 de janeiro, por ter saído uma hora mais cedo no dia 12. A alegação é de que o supervisor não havia sido informado, configurando abandono de trabalho. Contudo, o superior imediato de Andreia, o líder, havia sido informado e encarregado de avisar ao supervisor, como é de costume.
Andreia trabalhava no terceiro turno no setor de higienização pré-operacional. Entrava às 23h e saía às 6h30.
“Na verdade, a razão para a minha demissão é outra. Fui demitida porque comecei a passar um abaixo-assinado, pedindo à JBS para rever a decisão de cobrar as nossas refeições”, afirma Andreia ao Viomundo. “Nós, funcionários, não pagávamos a refeição. De repente, arbitrariamente, a empresa passou a cobrar R$ 28,22 por mês. Já estávamos com mais de 200 assinaturas.”
“Além disso, eu não poderia ter sido demitida”, explica Andreia. “Fui membro da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) de setembro de 2013 a setembro de 2014. Tinha estabilidade no emprego garantida por lei até setembro de 2015.”
O papel da Cipa, como bem lembra Andreia em sua carta aos colegas (na íntegra, abaixo), é cuidar pela segurança dos trabalhadores, observando o cumprimento de normas básicas, como o uso correto dos EPI´s (equipamentos de proteção individual), o excesso de trabalho e assédio moral da chefia para aumento de produtividade.
“São situações que contribuem para acidentes frequentes, além do surgimento de doenças”, observa.
“Essa postura de Andreia se fazia necessária frente à completa omissão do Sindicato dos Trabalhadores da Carne e dos Frios do Estado de São Paulo”, diz Diana Assunção, do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), que está dando apoio à trabalhadora demitida. “Nosso objetivo é a readmissão dela.”
Viomundo perguntou à JBS o que tinha a dizer sobre a denúncia. A resposta, via sua assessoria de imprensa: “A JBSinforma não comenta decisões sobre demissões e/ou contratações na empresa”.
Carta de Andreia Pires aos colegas de trabalho
“Como muitos devem saber, na última sexta-feira fui demitida por justa causa, segundo o supervisor porque levei muitas suspensões. Apesar de ainda estar com a estabilidade da CIPA. A última suspensão que levei foi na quinta, porque na segunda tinha pedido para sair 1h mais cedo. O supervisor esperou dois dias (terça e quarta) para “decidir” que não tinha sido avisado que eu sairia mais cedo e aplicou a suspensão. É claro que avisei, sabemos que a demissão não foi por causa disso.
Todos que me conhecem nessa fábrica sabem que não fico quieta frente a tanta coisa errada que fazem, seja com o trabalhador ou com o alimento que produzimos. Essa semana estávamos passando um abaixo assinado para não cobrarem nossas refeições, quase 200 assinaram e eu estava ajudando. Por isso é que fui demitida, porque não querem aceitar nem o mínimo que podemos fazer para nos defender. Eles tiram dentista, encarecem o convenio, tiram várias coisas de benefícios e quem fala alguma coisa é mandado sem direitos?!
Faz 3 anos que trabalho aqui, foram muitas noites de trabalho pesado junto com a equipe do terceiro turno. Assim como vários colegas, também tenho buraco de sabão corrosivo na mão, muitas vezes tive que correr pra torneira com os olhos ardendo, trinquei um dedo em acidente, arrastamos peso, esfregamos chão, parede, placas pesadas da formax, damos o sangue toda noite para essa fábrica ficar limpa e agora o que recebo em troca quando tento me defender?
Durante a minha atuação na CIPA conseguimos melhorar a situação, com bastante atenção a todos no chão de fábrica, acompanhando, falando para usar luva, óculos, viseira, não só no meu turno, mas em todos os turnos. Sempre levei muito a sério meu trabalho na higienização e como cipeira, isso ninguém pode duvidar.
Faço essa carta para denunciar a todos essa grande injustiça que fizeram comigo. Agradeço aos colegas de todos os turnos com os quais pude trabalhar, continuarei lutando com unhas e dentes, seja onde estiver, por melhores condições de trabalho, contra tanta exploração.”

APOIE E PARTICIPE DA MARCHA PELA ÁGUA EM SÃO PAULO

Companheiros e companheiras vamos nos organizar para participar  da Marcha pela Água em São Paulo organizada pelos companheiros e companheiras  do MTST. 

Concentração: a partir das 17h no Largo da Batata. 

Será mais uma atividade importante que visa mobilizar a população para enfrentar a crise e cobrar medidas do Governor Geraldo Alckmin, que continua agindo como se tudo estivesse sob controle. 

Sabemos que os moradores das periferias e os mais pobres que sofrem com a falta d'agua, enquanto os ricos dificilmente terão problemas pois habitam as áreas nobre, e ainda se beneficiam dos contratos de demanda firme, da compra de água de caminhões pipa. Suas piscinas continuam cheias enquanto os pobres nem caixa d'água têm.

Vamos nos mobilizar, apoiar e participar de todas a lutas. Vamos incentivar a solidariedade e a unidade do povo.


-- 
Edson Aparecido da Silva
Membro do Coletivo de Luta pela Água
Coordenador da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental 
11-986744984
11-38866467
11-55747511

A LUTA PELA REFORMA AGRÁRIA CONTINUA

CONTINUA NA LUTA DOS SEM-TERRA, SEM APOIO E COMPROMETIMENTO DO GOVERNO FEDERAL, AINDA FORMALMENTE COMANDADO POR UMA PETISTA E A QUEM CABE, SEGUNDO A CONSTITUIÇÃO FEDERAL, REALIZAR A POLÍTICA DE REFORMA AGRÁRIA EM TODO O PAÍS. 

VEJAM A REFLEXÃO SOBRE ISSO COM DESTAQUE DO SENTIDO SIMBÓLICO DO ACAMPAMENTO DOM TOMÁS BALDUINO, AMEAÇADO, MAIS UMA VEZ, DE DESPEJO, PREVISTO PARA DIA 25 DE FEVEREIRO. QUEM PERDE SE FOR EFETIVADO?


Acampamento Dom Tomás Balduíno: um símbolo nacional da luta pela reforma agrária

Por Rafael Villas boas, da UNB
Brasilia, 22 de fevereiro de 2015.

Fazer a Reforma Agrária com uma canetada foi a promessa que empolgou os trabalhadores sem terra quando Lula assumiu o comando do país, em 2002. Mais de 150 mil famílias foram acampar, na expectativa de que a ordem viesse, e com ela as terras e a mudança de vida. Estamos iniciando a quarta gestão petista, no governo federal, com a principal representante das corporações do agronegócio no comando do Ministério da Agricultura.

         Nem no esforço de imaginação mais pessimista seria possível pensar que Kátia Abreu estaria na Esplanada dos Ministérios, no quarto governo petista consecutivo. Da mesma forma como seria inconcebível pensar que um dos homens que levou São Paulo à lona seria alçado à condição de Ministro das Cidades, outro que foi expulso do PFL por roubar 600 mil estaria no comando dos Esportes, em véspera de sediarmos uma Olimpíada, e um homem forte dos bancos privados estaria no comando da operação dos cortes de gastos públicos.

           Bem sabemos que o que governa o país não é o pacote de ideais do partido vencedor dos pleitos, mas a gama de interesses que prevalecem dos pactos de governabilidade com os partidos e segmentos da classe dominante. Após doze anos, não notamos um projeto político progressista ascendente, mas uma massa disforme de projetos e intenções, no mais das vezes, reacionárias.      

          É nessa conjuntura, claramente regressiva, que a luta das três mil famílias sem terra do Acampamento Dom Tomás Balduíno adquire um caráter simbólico de âmbito nacional.

      As terras reivindicadas em Corumbá (GO), supostamente, pertencem a um senador da República pelo estado do Ceará: 30 mil hectares improdutivos.(detalhe: esta é apenas uma das 81 fazendas que o senador declarou ser proprietario ao TSE..) Exposta a forma de acumulação de poder territorial, político e do domínio dos meio de comunicação no Ceará, os cearenses mudaram a direção do voto e não elegeram Eunício Oliveira para governador daquele estado. Se trata de um belo exemplo de como a luta de massas da classe trabalhadora pode interferir na festa dominada pelo marketing que são as eleições brasileiras, impondo questões, como a reforma agrária, que o meio político se esforça por ignorar.

             Quem perde com a vitória judicial de Eunício e com o possível despejo anunciado para 25 de fevereiro? As três mil famílias que resistem bravamente às pressões e ameaças de um massacre que se anuncia. Os movimentos que lutam pela reforma agrária. Mas, sobretudo, o governo federal. Por quê?

            Porque deixar que essa legítima luta seja mais uma vez tratada como questão de polícia é cortar de vez os frágeis laços com os movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. É referendar a opinião da ministra da Agricultura, que se empenha em afirmar que não existe mais latifúndio no Brasil. É trocar mais uma vez a maioria pela minoria. É preferir manter um pacto de governança com partidos arcaicos, oligárquicos, a buscar meios de fortalecer a participação popular na política.

            O Acampamento Dom Tomás Balduíno é um símbolo da luta popular, pela terra, pelo direito ao trabalho, pela educação, pela saúde, pela cultura, pela vida. Deixar que a justiça local decida o futuro dessa luta, fechando os olhos para o jogo político de influências e interesses de políticos com o judiciário, é se omitir. Omissão, nesse caso, é conivência com o que há de pior na política brasileira.

         O desfecho dessa luta será emblemático do que teremos pela frente nos próximos anos. Enquanto políticos e governos se esforçam por invisibilizar o latifúndio, a luta do MST expõe a chaga de sua existência, e prenuncia o seu fim.

ÁGUA: AJUDEM A EVITAR O PIOR

ESTAMOS TENDO, MAIS UMA VEZ, A SOCIALIZAÇÃO DE CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS SOBRE O QUE ESTÁ POR TRÁS DA CRISE DA ÁGUA NO SUDESTE BRASILEIRO, FEITA POR ANTÔNIO DONATO NOBRE, PESQUISADOR DO INPE. PARA LER SUAS INFORMAÇÕES, REFLEXÕES E ADVERTÊNCIAS NA PERSPECTIVA EM QUE SE COLOCA O CIENTISTA, VALE A PENA TER PRESENTE A PARTE FINAL DA ENTREVISTA, EM QUE ELE FAZ SUGESTÕES SOBRE O QUE SE DEVE FAZER PARA EVITAR O PIOR:

Absorva e entenda a mensagem de alerta; aproprie-se do saber sobre a floresta e o clima; explique a seu modo para seu semelhante da importância das florestas; ensine a seus filhos, tios e avós; deixe de consumir produtos que colocam a floresta em risco; plante árvores; substitua seu chuveiro por aquecimento solar; demande de seus representantes e governantes atitudes responsáveis com o interesse da sociedade. E alegre-se que ainda temos essa oportunidade de evitar o pior – se lutarmos com todas nossas forças!

A água nossa de cada dia
 
Entrevista com Antonio Donato Nobre

Há uma ficção que traduz com semelhança a situação que ora vivemos. Um cientista anteviu uma catástrofe climática inevitável no filme O dia depois de amanhã. Os políticos o ignoraram, até que o pior previsto aconteceu.
A entrevista é de Marcelo Csettkey, publicada por EcoDebate, 18-02-2015.
A diferença entre a realidade e a ficção se dá por dois detalhes importantes: no filme, o cientista elabora uma teoria no calor do momento, na iminência do fato ocorrer. Na vida real, nossa crise hídrica foi antevista e anunciada pelo cientista Antonio Donato Nobre (PhD, pesquisador do MCTi/CCST-Inpe e MCTi/Inpa) com bastante antecedência. Sua previsão, feita há dez anos, está registrada em uma reportagem da revista Veja intitulada “O ano em que a Amazôniacomeçou a morrer”, publicada no dia 28 de dezembro de 2005. Ali, Nobre afirmava:
“Teríamos uma grande queda de pluviosidade na Região Sudeste, comprometendo a Bacia do Prata e consequentemente, grande parte da geração de energia do país.”
Exatamente o que está acontecendo, basta acompanhar as notícias. Então, o que será da Região Sudeste se os “volumes mortos” morrerem? Os políticos até agora não quiseram ouvir o alerta e a mídia não lhe deu a importância merecida. Políticos e mídia, ao que parece, preferem assumir o risco da ocorrência, omitindo-se ou tergiversando. No filme, houve, por parte do cientista, a constatação da inevitabilidade da catástrofe! Na realidade, ainda há esperança de gerar-se uma inflexão no curso dessa inevitabilidade. É por esta esperança que entrevisto o cientista real.
Partilho a preocupação de todos com a seca que atinge o Sudeste do Brasil, pondo em risco nossas bacias hidrográficas, nossa energia elétrica, nossa água e comida. Tudo o que está acontecendo pode não ser aleatório, mas sim resultado também do desmatamento irresponsável que ocorre diuturnamente na Amazônia e sua relação causal, e não casual, com a diminuição da umidade vinda da floresta para o Sudeste do país nos “rios aéreos” – por uma singularidade que envolve a Cordilheira dos Andes.
O relatório de avaliação científica feito por Nobre, “O Futuro Climático da Amazônia“, é contundente; porém, como diziaShakespeare, “para males desesperados só remédios enérgicos ou remédio nenhum”. Nobre exorta a população, pois só combatendo a ignorância por meio da mobilização popular poderá ser estancada a grande perda anunciada.
Eis a entrevista.
O que de fato acontece que põe em risco o abastecimento de água e energia elétrica nas cidades e capitais do Sudeste? Que singularidade está sendo ameaçada – que difere o Sudeste do país dos desertos na mesma linha entre os trópicos de Câncer ou Capricórnio – e por que motivo os “volumes mortos” tendem a morrer definitivamente?
Os sintomas do desarranjo climático estão aí. Como na crônica da morte anunciada, experimentamos já agora muito do que fora previsto desde mais de 20 anos por vários estudos feitos na Amazônia. E da observação desta nova realidade chegamos à conclusão cientifica: remover árvores leva a um clima inóspito. Com a destruição continuada das florestas é garantido o destino de clima não amigável, especialmente sob o estresse aumentado das mudanças climáticas globais. Éramos felizes e não sabíamos, pois a Amazônia foi e, apesar do desmatamento, ainda é, grande provedora de serviços ao clima. Sabemos agora que a região centro sul da América do Sul recebe a maior parte de suas chuvas a partir de vapor bombeado pela grande floresta. Tal explicação permite compreender por que essa rica região produtiva não é deserto, como são outras regiões na mesma latitude. O clima é variável, assim é provável que, apesar destes anos alarmantemente secos, ainda voltem as chuvas. Não sabemos exatamente como essa transição para uma aridez possa se dar. Mas sabemos que, quando vier, toda a região se verá permanentemente privada do elo mais importante do ciclo de água doce em terra: o suprimento pelas chuvas. 2014 já é um exemplo do que poderemos esperar.
O que provoca o surgimento de uma enorme massa de ar seco, um “paquiderme atmosférico”, uma espécie de Jabba the Hutt“sentado” em cima da Região Sudeste? O que poderia ser feito para diluir essa massa de ar seco que insiste em impedir que as nuvens carregadas de água, vindas da Amazônia se espraiem pela Região Sudeste?
O grupo no qual atuo, liderado pelos físicos russos Victor Gorshkov e Anastassia Makarieva, explica o fenômeno como decorrência direta da remoção de florestas (também na própria região Sudeste), o que impede a convergência de umidade do oceano para o interior do continente, permitindo a estacionamento dessa massa de ar quente e seco, típica de deserto. Tem também a alça de ar da circulação de Hadley, aquela do ar ascendendo úmido no entorno do equador e baixando seco nas latitudes médias – a explicação clássica para o cinturão de desertos nestas latitudes – que poderia estar recebendo vitamina energética do próprio aquecimento global. Liguemos as pontas: tire as florestas e os efeitos da circulação alterada pelo aquecimento global têm campo livre para atuar e eventualmente ali se fixar. Se essa nova circulação e seu clima associado vieram para ficar, se já não for tarde demais, a única possibilidade é recolocar na paisagem o elemento-chave para um clima amigo: restaurar as florestas.
Quais as medidas mais eficientes para se impedir a catástrofe climática anunciada?
Nesta altura e a curto prazo não parece provável ou mesmo possível impedirmos a calamidade climática que nos bate a porta. Mas creio que podemos, se fizermos um genuíno esforço de guerra na restauração extensiva das florestas, atenuar muito os efeitos e quiçá logremos recuperar o espetacular sistema de condicionamento climático que operava no “berço esplêndido”.
No filme supracitado, os políticos são os últimos a reconhecer a situação emergencial. Na realidade, ao que tudo indica, o governo Dilma está na contramão da História, pois negou a assinatura da carta de intenções pelo desmatamento zero até 2030, e replantio de árvores, na Declaração de Nova York sobre Florestas, em setembro de 2014, na reunião do Clima em Nova York – documento assinado por 29 países, incluindo Estados Unidos, Canadá e vários países da União Europeia. Que interesse segundo sua opinião, motivou a negativa?
Não me parece útil presumir os interesses que governam o Brasil. Entretanto, o que parece evidente é que tais ações (ou falta delas) são instruídas pelo desconhecimento da ciência. Tenho a esperança de que governantes responsáveis e compromissados com a sorte da sociedade se apropriarão dos fatos científicos e reformarão as posturas oficiais. Em vista também dos graves fatos climáticos, o Brasil deveria ocupar a liderança mundial em uma luta que resultasse em curtíssimo prazo no estancamento do desmatamento, na abolição do fogo, fumaça e fuligem e no início de um amplo esforço de restauração florestal.
Como a destruição da Floresta Amazônica pode interferir no clima mundial? O que irá acontecer se a grande floresta se transformar em uma savana, ou algo pior, em um deserto?
Simulando a morte e desaparecimento da floresta, alguns estudos estimaram o efeito da liberação massiva do carbono estocado na Amazônia sobre o clima e os prognósticos que geraram indicam sério agravamento do aquecimento global. Outros estudos avaliaram o efeito do desaparecimento da floresta sobre a circulação atmosférica, transporte de vapor e mesmo no balanço de energia, e indicaram que o clima próximo e distante pode ser impactado via perturbação no funcionamento dos oceanos. A grande floresta amazônica, descobriu-se ter papel importantíssimo na regulação climática local, regional e mesmo global. Eliminá-la será uma catástrofe impensável para a humanidade.
De que forma pode haver cooperação internacional para frear o desmatamento da Amazônia? Que atitude mundial fará com que haja uma interrupção dessa catástrofe climática já anunciada? O senhor acredita que este tema possa estar inserido na pauta da Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 21), em Paris, em dezembro de 2015? O que fazer para que o mundo tome ciência da gravidade de destruir-se a maior floresta tropical contínua do planeta?
O desmatamento na Amazônia precisa ser zerado a qualquer custo. E a tarefa compete primeiramente aos países amazônicos porque a eles foi dado o privilégio de possuir tal riqueza. Os outros países podem colaborar neste esforço através de ações ao seu alcance, especialmente deixar de consumir produtos oriundos da destruição da floresta, como toras e madeira serrada, grãos e carnes produzidos em áreas de onde se removeram florestas, entre outros. Podem também apoiar a adoção de soluções alternativas à construção de hidrelétricas nos rios amazônicos, como facilitar o acesso a tecnologias de energia solar. Mas o essencial é que os países amazônicos assumam a liderança neste grande esforço, que precisa se estender a todos os países detentores de florestas e também aos que precisam reconstruir suas florestas originais. Essa grande ação na proteção e restauração de florestas tem ótima oportunidade de ser encampada pelas Nações Unidas, mas é preciso fazer um grande trabalho de conscientização da humanidade, que então demandará dos governos o fim da procrastinação.
Seria a demanda crescente por carne bovina, no mercado nacional e internacional, elemento catalisador do desmatamento da Floresta Amazônica, transformando grandes áreas do riquíssimo bioma em pastagens? O consumo de carne bovina oriunda da Amazônia poderia ser associado à crise hídrica no Sudeste? É plausível este pensamento?
Se uma maior parcela do desmatamento bruto é atribuível diretamente à pecuária bovina e a ampliação desta atividade somente existe devido ao consumo crescente de carne no mundo, decorre que os efeitos no clima do desmatamento estão intimamente associados ao hábito de consumir carne.
Em cinco séculos foram destruídos biomas exuberantes que garantiam o clima paradisíaco que encantou Pero Vaz de Caminha. A devastação sistemática de fauna e flora, apesar de enorme, alterou pouco o clima do país. Que singularidade beneficiou o Brasil até 40 anos atrás? E o que provocou a mudança drástica?
A grande floresta amazônica, como sabemos hoje, exporta serviços ao clima para uma maior parte da América do Sul. A destruição da Mata Atlântica certamente teve efeito ruim sobre o clima local, especialmente na perda da regulação hidrológica fina e da capacidade de atenuação de extremos climáticos. Mas nos séculos passados essas regiões continuaram recebendo umidade suficiente da Amazônia para não terem se aridificado. A destruição sistemática e acelerada da floresta amazônica nos últimos 40 anos começa a destroçar a proteção que oferecia. Estamos matando a galinha dos ovos de ouro.
Quanto o senhor calcula que a destruição de árvores tenha causado a diminuição dos “rios aéreos” que, tudo indica, tem provocado a crise hídrica crescente? O quanto de espaço foi perdido no desmatamento da Amazônia em quatro décadas?
A crise hídrica atual parece resultar da atuação de vários fatores. Aquecimento global, mudança da circulação atmosférica, impedimento da progressão da umidade amazônica e enfraquecimento dos fluxos de vapor nos rios aéreos são alguns destes fatores. Quanto e de que forma exatamente contribui cada um deles, ainda não sabemos. Mas sabemos que todos estes fatores têm sido impactados por atividade humana. O desmatamento é a face mais visível da tragédia: somente de corte raso foram três estados de São Paulo (~763 mil km2). Degradação florestal, uma área maior ainda (~1,2 milhão de km2). Somadas, estas áreas de impacto já ocupam mais de 47% da área original de floresta na Amazônia brasileira. Tanta destruição já está produzindo impacto.
Qual a importância das árvores na formação das nuvens? De que forma as árvores são vitais para se gerarem as chuvas de que tanto precisamos para viver?
As árvores transpiram grandes quantidades de água bombeada do solo, o que resfria a superfície e fornece matéria-prima principal para a formação de nuvens. Elas também emitem compostos voláteis, os cheiros, que, como gases que se precipitam na forma de poeira finíssima, atuam na nucleação de nuvens e promoção de chuvas. Com a condensação do vapor fornecido pelas árvores, ocorre um abaixamento da pressão na atmosfera sobre a floresta, o que determina a sucção dos ares úmidos de sobre o oceano para dentro do continente.
Há alguma possibilidade de tombar-se a Floresta Amazônica como patrimônio da Humanidade, tentando impedir assim sua destruição pela ignorância humana?
Creio ser mais factível e prático empreender esforços para eliminar a ignorância humana. Somente uma sociedade consciente consegue fazer frente a interesses menores e destrutivos que surgem e são defendidos por elites poderosas. O exemplo das hidrelétricas na Amazônia é sintomático. Nos anos 80, depois de absurdos como Balbinae outras represas, pensou-se que nunca mais voltariam a cogitar novas obras deste tipo na Amazônia. Mas passaram-se décadas e o lobby das hidrelétricas voltou à carga, desta vez recebendo suporte de um governo oriundo de movimentos populares e até de parcela da sociedade que passou a justificar a geração de energia para atender à crescente demanda nacional. Até a proteção das reservas indígenas e outras áreas de conservação inscrita em nossa carta magna estão sob ataque eficiente dos interesses menores que dominam o Congresso. A meu ver, somente tombar a floresta, como se faz com valores culturais reconhecidos, não conseguirá barrar tais ataques.
Sua mensagem para todos os que alimentam esperança, e possam garantir o futuro climático do Brasil, protegendo a Amazônia – por nós e pelas gerações que virão.
Absorva e entenda a mensagem de alerta; aproprie-se do saber sobre a floresta e o clima; explique a seu modo para seu semelhante da importância das florestas; ensine a seus filhos, tios e avós; deixe de consumir produtos que colocam a floresta em risco; plante árvores; substitua seu chuveiro por aquecimento solar; demande de seus representantes e governantes atitudes responsáveis com o interesse da sociedade. E alegre-se que ainda temos essa oportunidade de evitar o pior – se lutarmos com todas nossas forças!