segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

DILMA, OS ÓRFÃOS E AS VIÚVAS

REFLEXÃO E DENÚNCIA SÉRIA E DESAFIADORA: POR QUE SE MEXE COM TANTA FACILIDADE NOS CONTRATOS COM AS PESSOAS FRÁGEIS E EMPOBRECIDAS, ENQUANTO OS CONTRATOS COM OS RICOS SÃO MANTIDOS COMO ALGO INTOCÁVEL, SAGRADOS? NÃO SERIA ESTA PRÁTICA REVELAÇÃO DE QUE OS DEUSES DO MERCADO EXIGEM SANGUE DE HUMANOS EMPOBRECIDOS?

Dilma, os órfãos e as viúvas.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Se há uma tradição bíblica onde o Deus judaico-cristão se manifesta claramente, é exatamente no cuidado com os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. Para esse Deus, essas são cláusulas pétreas e inegociáveis.
Esse cuidado não era por acaso, mas porque esses eram os grupos de pessoas mais desamparados da sociedade daquele tempo.
O Deus bíblico vai sempre lembrar ao povo judeu esses cuidados, até porque tinha sido escravo no Egito.
Portanto, é chocante ver que o governo Dilma escolheu exatamente os mais indefesos da sociedade – órfãos e viúvas e desempregados – para fazer os ajustes que a economia de mercado, ainda um tanto neoliberal, exige.
Ela tinha milhões de modos para arrecadar mais, ou gastar menos, para angariar reservas com a finalidade de pagar a sede insaciável dos juros da dívida pública. Poderia retomar os impostos dos carros, fazer as grandes fortunas pagarem algo pelo seu luxo, aumentar o imposto do cigarro, dos refrigerantes, ou de qualquer outra porcaria que não afetasse a vida dos brasileiros. Mas, ela preferiu reduzir em 50% a pensão das viúvas, o que impacta diretamente o cuidado com seus filhos.
Certamente cada leitor conhece alguma família em que a mãe morreu cedo, ou o pai, ficando aquele que continua vivo responsável pelos seus filhos. Certamente sabe a situação dramática que é enfrentar a viuvez e o cuidado com os filhos. Então, exatamente quando mais precisa, é exatamente onde o governo escolheu cortar para arrecadar e saciar os deuses do mercado.
Dilma dissera que não mexeria nos direitos dos trabalhadores, nem que a vaca tossisse. Nem precisou.
Nesse país os contratos são vacas sagradas e intocáveis, mas só se forem do capital com o governo. Os contratos do governo com a população são facilmente quebrados, sempre em nome dos ajustes econômicos. Basta lembrar o fator previdenciário, o reajuste das aposentadorias, agora o seguro desemprego, agora a pensão das viúvas e viúvos.
O governo Dilma conseguiu preservar empregos mesmo com a economia aí posta patinando. Na Grécia, Espanha e outros países da Europa a crise econômica jogou nas ruas milhares de pais de famílias. Na Espanha cerca de 50% da juventude continua desempregada, mesmo sendo altamente qualificada. Mas, essa qualidade do governo não lhe dá autoridade para sacrificar aqueles que não tem como se defender.
Segue sobre essa realidade o silêncio dos sindicatos e da sociedade em geral, inclusive das igrejas.

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