A IRRESPONSABILIDADE DOS GOVERNANTES E DAS EMPRESAS QUE EXPLORAM O SERVIÇO DA ÁGUA BEIRAM O ABSURDO. E AGORA, AMEAÇAM A VIDA DA POPULAÇÃO.
POR ISSO, UNIR FORÇAS DA SOCIEDADE CIVIL É PRÁTICA URGENTE, DANDO PASSOS NA DIREÇÃO DA MOBILIZAÇÃO DOS INDIGNADOS PARA EXIGIR MUDANÇAS POLÍTICAS E GARANTIA DO DIREITO HUMANO À ÁGUA. ELA NÃO PODE CONTINUAR SENDO TRATADA COMO UMA MERCADORIA QUALQUER.
MANIFESTO DE CRIAÇÃO DO COLETIVO DE LUTA PELA ÁGUA
A Água é um Direito Humano, não uma mercadoria!
São Paulo vive uma crise de abastecimento de água sem precedentes. É um
momento difícil para todos. Há anos o Governo do Estado vem sendo alertado do
risco de um colapso devido de infraestrutura insuficiente para atender a população
das Regiões Metropolitanas de São Paulo (RMSP) e de Campinas.
Não houve investimento necessário para ampliação dos sistemas de abastecimento
que acompanhasse o crescimento das cidades. Descaso com a preservação
ambiental, falta de tratamento de esgotos, ocupação das várzeas e intensa
impermeabilização do solo somados à insuficiência dos investimentos e à ausência
de planejamento, contribuíram para o agravamento da crise.
O modelo de gestão privada agravou-se a partir do momento em que a Sabesp
passou a negociar suas ações nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York.
A busca do lucro a qualquer preço em detrimento da priorização da prestação de
um serviço público de qualidade fez com a empresa ignorasse as previsões
climáticas que já apontavam para uma redução das chuvas, o crescimento da
demanda e negligenciasse todas as advertências, sobretudo a obrigatoriedade
estabelecida na outorga do Cantareira de redução da dependência desse Sistema e
de redução de perdas por vazamentos.
Como se não bastasse, no momento decisivo em que era preciso medidas eficazes
de combate à crise e informação clara de medidas individuais e coletivas, o
Governo do Estado esvaziou os espaços de participação e deliberação, como os
comitês de bacia hidrográficas , o Conselho Estadual de Recursos Hídricos o
Conselho de Desenvolvimento da RMSP e aparelhou. Além disso aparelhou a
Agência Estadual de Regulação - Arsesp.
Para tirar o foco da crise, o Governo do Estado, ao mesmo tempo em que pedia
para economizar, água dizia que não faltaria água, passando “sinal trocado” para a
população.
Também demorou a iniciar uma campanha de redução de consumo porque os
interesses comerciais de maximizar receita com a venda de água se sobrepõem à
necessidade de conscientização da população. E quando o fez, responsabilizou o
povo pelo problema, alegando consumo exagerado, ocupação desordenada de
áreas de mananciais e furto de água. Transformou, assim, a vitima em culpada.
Só o Governo do Estado não admite ate hoje que os problemas estruturais da crise
hídrica são resultados da inoperância da SABESP em investir na melhoria do
sistema de distribuição de água que hoje contabiliza cerca de 37% de perda.
Também mantém a postura ao continuar superexplorando os mananciais e de
estimular o alto consumo de setores industriais, competindo comercialmente com
outras soluções para abastecimento de água para os processos de produção.
A situação realmente é alarmante e imprevisível para a população, e a economia do
Estado. Há ameaça de desemprego em grande escala em vários setores, escolas
terão seu funcionamento afetado, prejudicando a educação de milhares de crianças
e adolescentes. A saúde também poderá ser atingida. No horizonte, conflitos pela
água.
Uma face perversa da condução dessa crise é privilegiar os usuários mais
endinheirados que certamente ampliarão a sua capacidade de reservar água. O
contrário acontecerá com a população mais pobre. Na periferia mais distante e nos
lugares mais altos, seus moradores já chegam a ficar sem água por muitos dias
seguidos.
A política do Governo do Estado está inviabilizando um direito humano
fundamental: o acesso à água de forma segura em quantidade suficiente e
qualidade comprovada.
O COLETIVO DE LUTA PELA ÁGUA
Com o objetivo de ampliar e unificar ações para pressionar o Governo do Estado a
adotar medidas que ao menos, minimizem os impactos da crise, entidades ligadas
aos movimentos popular, sindical, gestores municipais e organizações não
governamentais, criaram o Coletivo de Luta Pela Água. Juntos defendem o direito
a água e ao saneamento como um direito humano fundamental nos moldes da
resolução aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 2010. Outra meta do coletivo é constituir os comitês de luta locais como forma de envolver
as populações afetadas.
As entidades entendem ser necessário que o Governo do Estado aja com total
transparência e mobilize seus órgãos como Cetesb, Secretaria do Meio Ambiente,
Defesa Civil, Secretaria da Saúde e Educação para atuar de forma conjunta e
garanta a participação da sociedade e prefeituras em todo o processo de debate
para enfrentamento da crise.
É preciso que o governo apresente imediatamente um Plano de Emergência que
explicite de forma clara os próximos passos que serão tomados a partir de um
amplo diálogo com a sociedade e representantes dos municípios.
Acreditamos que para a superação dessa crise seja necessário que o Governo do
Estado decrete imediatamente Estado de Calamidade Pública nas Bacias do Alto
Tietê e do Piracicaba, Capivari e Jundiaí para enfrentamento da crise e mitigação
dos prejuízos aos cidadãos e às atividades econômicas. O Plano deverá contemplar
as seguintes medidas:
a) Priorizar o uso da água para consumo humano e de animais;
b) Garantir volume de água suficiente e de qualidade segura para o consumo
imprescindível à sobrevivência;
c) Manter sem interrupção o abastecimento dos imóveis em que residam
populações internadas, vulneráveis ou serviços públicos de administração
pública ou privada, como hospitais, unidades de saúde, clínicas, albergues,
asilos, creches, escolas, presídios, delegacias, aeroportos, rodoviárias;
d) Informar locais e horários em que haverá desabastecimento de água ou
redução de pressão e prazo de restabelecimento;
e) Administrar com equidade a falta de água, quer seja por racionamento,
redução de pressão ou gestão de demanda. É para não penalizar a população
que mora nos extremos das periferias e nos pontos mais altos nem privilegiar
os endinheirados que dispõe de mais volume domiciliar de reservação;
f) Veicular campanha com esclarecimentos sobre a crise e orientações para
proteção da saúde humana contra doenças de veiculação hídrica;
g) Iniciar imediatamente a distribuição de caixas de água para todos os imóveis
de população de baixa renda que não as disponham;
h) Criar incentivos fiscais para equipamentos hidráulicos que economizam água e,
ao mesmo tempo, sua aquisição através de campanhas publicitárias;
i) Estimular a implantação de programas de apoio para utilização de água de
reuso inclusive domestico, garantindo apoio técnico e financeiro;
j) Criar sala de situação para todos os sistemas produtores que atendem a
RMSP para acompanhamento e divulgação diária das condições de armazenamento dos mananciais, pluviometria, vazões afluentes e defluentes e
consumos de água por categoria de usuários;
k) Implantar sistema de divulgação dos dados, informações e decisões de forma
a trazer transparência ao setor e permitir que os cidadãos, as prefeituras e os
diferentes segmentos econômicos possam se planejar;
l) Estruturar enfrentamento sanitário do desabastecimento de água, no que se
refere à ampliação do monitoramento da qualidade da água pública distribuída,
de bicas, nascentes e poços para lidar com ocorrências de doenças de
veiculação hídrica;
m)Preparar as medidas jurídicas que possibilitem requisitar poços artesianos e
todas as fontes disponíveis de água para direcioná-las aos usos prioritários da
mesma forma que a frota de caminhões pipa existente, em especial de
empresas que comercializam água a granel;
n) Divulgar para a sociedade todos os contratos de “demanda firme” para grandes
consumidores, a quantidade de água fornecida, valor da tarifa, e rever esses
contratos para avaliar a possibilidade de substituição por água não potável e
qual a prioridade do uso atual;
o) Acelerar as obras capazes de ampliar em curto prazo a disponibilidade hídrica
nas regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas;
p) Definir com transparência a quantidade de água potável que será
disponibilizada para grandes consumidores (industria, comercio, agricultura e
construção civil) enquanto perdurar a crise;
q) Administrar o calendário escolar a fim de preservar o cumprimento do ano
letivo, garantindo a participação das representações dos alunos, pais e
professores;
r) Intensificar o investimento em educação ambiental através dos meios de
comunicação e diretamente em todos os bairros das cidades afetadas.
Por fim, esse coletivo conclama todos os movimentos e a sociedade a se unirem
nessa luta na perspectiva de fortalecer o acesso a água de forma plena, com
qualidade adequada e com controle social.
COLETIVO DE LUTA PELA ÁGUA
Janeiro de 2015
APEOESP - Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo -
ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento - CMP
– Central de Movimentos Populares -CONAM - Confederação Nacional das
Associações de Moradores - CUT – Central Única dos Trabalhadores – SP - De
Olho nos Mananciais - Espaço Formação Assessoria e Documentação -
FACESP - Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo -
FNSA – Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental - FNU – Federação Nacional
dos Urbanitários - Fórum Paulista de Participação Popular - ISP – Internacional
de Serviços Públicos - MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens - Rede
Nossa São Paulo - Sindae – Sindicato dos Trabalhadores (as) em Água e Esgoto
de Campinas - Sintaema – Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio
Ambiente do Estado de São Paulo - União dos Movimentos de Moradia
/clap
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