segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

SEREMOS CAPAZES DE VIVER SEM ÁGUA?

As imagens mostradas pelas televisões não deixam dúvida: há muita gente ameaçada de ficar sem água! Antes disso, se a lei for respeitada, empresas deverão fechar por falta de água. E a situação das barragens de hidrelétricas também não deixa dúvida: já falta energia elétrica!

Agora, só agora, aparecem autoridades declarando que essa crise pode ter um lado positivo: que o povo se dê conta de que deve economizar água. Falam passando a ideia de que a população seria a culpada pela crise. Depois de Deus ou de São Pedro, claro, porque a maior ou menor quantidade de chuva dependeria do bom ou mau humor de quem cuida das torneiras lá de cima.

Afinal, de quem é culpa pela crise da água?

Lembro que políticos e técnicos afirmaram que nunca mais teríamos um apagão como o de 2001, iludidos pela construção de mais termelétricas e novas hidrelétricas, especialmente na Amazônia. Só que, agora, o nível da água de 85% das barragens já está mais baixo do que em 2001. E o das barragens para consumo humano, de modo especial em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, está perto ou abaixo de zero, tendo que tirar água do que sobra, o chamado volume morto.

Parece que as autoridades não quiseram ouvir os avisos. Os mais de dois mil cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC – publicaram três Relatórios a partir de 2001, e neles deixaram claro que o planeta Terra está se aquecendo, e que isso agrava cada dia mais eventos climáticos como as chuvas e as secas. E os pesquisadores do INPE e do INPA não se cansaram de avisar que a situação da água iria se agravar. Antônio Nobre, por exemplo, do INPE, chegou a afirmar que a crise do Sudeste indica que, sem mudanças profundas e logo, “estaremos indo para o matadouro”.

De quem é a culpa? 

Como os governos e as empresas de abastecimento de água não informaram a população, e menos ainda se preocuparam em desenvolver processos educativos sobre a água, são, com certeza, grandes responsáveis pelo desastre. Os que desperdiçam água, sejam as empresas que não cuidam da rede de distribuição, sejam as indústrias, o comércio e os consumidores finais, também têm sua responsabilidade. Mas, na verdade, todas as empresas e pessoas que contribuem para o aquecimento do planeta têm responsabilidade pela diminuição das chuvas. E, por isso, só quando todos esses mudarem seu jeito de relacionar com a água e a natureza e seu modo de vida consumista, só aí a Terra se sentirá apoiada para buscar novo equilíbrio para garantir a água que todos os seres vivos precisam.


            Ivo Poletto

[texto de programa radiofônico disponível em www.fmclimaticas.org.br ] 

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