As imagens mostradas pelas televisões não deixam dúvida: há
muita gente ameaçada de ficar sem água! Antes disso, se a lei for respeitada,
empresas deverão fechar por falta de água. E a situação das barragens de
hidrelétricas também não deixa dúvida: já falta energia elétrica!
Agora, só agora, aparecem autoridades declarando que essa
crise pode ter um lado positivo: que o povo se dê conta de que deve economizar
água. Falam passando a ideia de que a população seria a culpada pela crise.
Depois de Deus ou de São Pedro, claro, porque a maior ou menor quantidade de
chuva dependeria do bom ou mau humor de quem cuida das torneiras lá de cima.
Afinal, de quem é culpa pela crise da água?
Lembro que políticos e técnicos afirmaram que nunca mais teríamos
um apagão como o de 2001, iludidos pela construção de mais termelétricas e
novas hidrelétricas, especialmente na Amazônia. Só que, agora, o nível da água
de 85% das barragens já está mais baixo do que em 2001. E o das barragens para
consumo humano, de modo especial em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais,
está perto ou abaixo de zero, tendo que tirar água do que sobra, o chamado
volume morto.
Parece que as autoridades não quiseram ouvir os avisos. Os mais
de dois mil cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas –
IPCC – publicaram três Relatórios a partir de 2001, e neles deixaram claro que
o planeta Terra está se aquecendo, e que isso agrava cada dia mais eventos
climáticos como as chuvas e as secas. E os pesquisadores do INPE e do INPA não
se cansaram de avisar que a situação da água iria se agravar. Antônio Nobre,
por exemplo, do INPE, chegou a afirmar que a crise do Sudeste indica que, sem mudanças
profundas e logo, “estaremos indo para o matadouro”.
De quem é a culpa?
Como os governos e as empresas de
abastecimento de água não informaram a população, e menos ainda se preocuparam
em desenvolver processos educativos sobre a água, são, com certeza, grandes
responsáveis pelo desastre. Os que desperdiçam água, sejam as empresas que não
cuidam da rede de distribuição, sejam as indústrias, o comércio e os
consumidores finais, também têm sua responsabilidade. Mas, na verdade, todas as
empresas e pessoas que contribuem para o aquecimento do planeta têm
responsabilidade pela diminuição das chuvas. E, por isso, só quando todos esses
mudarem seu jeito de relacionar com a água e a natureza e seu modo de vida
consumista, só aí a Terra se sentirá apoiada para buscar novo equilíbrio para
garantir a água que todos os seres vivos precisam.
Ivo
Poletto
[texto de programa radiofônico disponível em www.fmclimaticas.org.br ]
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