O ex-presidente Lula costumava afirmar que, no Brasil, havia
terra para ao agronegócio e para a produção de alimentos, por isso, o governo
poderia conviver, ao mesmo tempo com os empresários agrícolas e com os
sem-terra em luta por reforma agrária. Aliás, tudo indica que foi para
relacionar com esses dois setores da sociedade brasileira que foram criados e
mantidos dois ministérios ligados à terra: o tradicional, da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, e o novo, o do Desenvolvimento agrário.
Agora, no início do segundo mandato da presidente Dilma, os
dois ministros destas pastas entraram em clara contradição. Para Kátia Abreu,
ministra da agricultura, nem sequer existiria latifúndios no Brasil, e, por
isso, a reforma agrária seria uma política desnecessária. Qualquer pratica de
pressão sobre os proprietários, por parte de sem-terra ou de indígenas, deveria
ser combatida como invasão, como agressão aos que produzem alimentos.
Para o ministro do desenvolvimento agrário, Patrus Ananias,
contudo, a reforma agrária é uma política absolutamente estratégica, afirmando
ser necessário derrubar as cercas do latifúndio.
E agora, Dilma e povo brasileiro: existe ou não latifúndios
em nosso país? E a reforma agrária, é política importante ou não?
Em artigo publicado no jornal O Globo do dia 9 de janeiro,
Tatiana Farah apresentou dados oficiais que mostram que os grandes
proprietários continuam aumentando seu controle sobre a terra no Brasil. Mesmo
nos governos Lula e Dilma, de 2003 até 2014, eles aumentaram suas propriedades
em 120 milhões de hectares. O debate para definir se são latifúndios ou não
passa pela falta de atualização dos índices de produtividade, que são de 1980.
Naquele ano, produzia-se 1.200 quilos de soja por hectare, por exemplo, e hoje
já se produz 3.600 quilos – mas para a lei valem os dados de 1980!
Os que produzem mais de 70% dos alimentos da nossa mesa, os
médios, pequenos e ninifundiários, diminuíram a quantidade de terra para seu
trabalho.
Até onde pode ir um governo com esse tipo de divisão? Até
onde pode ir uma sociedade com esse tipo de divisão? Não seria bom para todas
as pessoas que a terra fosse melhor repartida? E não seria melhor só fazer
agroecologia, em pequenas e médias áreas de produção, evitando
monoculturas e uso de tantos venenos e produtos químicos? Isso não seria bom
também para a natureza, porque evitaria tanta exploração e contaminação?
Como este é um problema que faz parte da realidade da vida
em nosso país, não cabe só à Dilma decidir se dá razão à Kátia Abreu ou ao
Patrus Ananias. Para haver democracia, cabe aos eleitores de Dilma e a todos os
brasileiros dizerem a ela o que ela deve fazer.
Ivo
Poletto (programa de rádio - acessar em fmclimaticas.org.br
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