Mesmo com o cuidado de sermos sempre realistas, nosso
espírito é de esperança. E não apenas em relação aos frutos de nossas ações.
Precisamos sempre estar abertos às surpresas, àquilo que acontecerá sem ter
sido previsto, e até mesmo em lugar do que fora previsto. Há tempos, em nossa
vida, que nos cabe o desafio de esperar contra tudo que nossa razão insiste em
dizer que não acontecerá. Nossa razão não dá conta de prever tudo, por mais que
nos tente com seu poder. A história sempre pode apresentar surpresas.
É o que esperamos em 2015: surpresas. A realidade da vida,
em nosso país e em todo o mundo, indica que deveremos enfrentar desafios
complicados. Mas é desse tipo de desafios que podem nascer iniciativas
surpreendentes. Citarei uma, e espero que nos ajude a repensar a nossa prática
política.
Faz alguns anos que os países da Europa estão experimentando
as crises sociais provocadas pelo neoliberalismo, crises que conhecemos muito
bem. A Grécia, que é o berço da democracia, é um dos países em que essa crise
se manifesta através de alto desemprego, de modo especial de jovens, de
diminuição de recursos públicos para saúde, educação, moradia, e, para piorar
tudo, através de um aumento sem fim da dívida pública e das taxas de juro que
pesam sobre ela.
Pois bem, foi no meio dessa crise que foi nascendo, a partir
de grandes mobilizações sociais nas ruas e praças, um tipo diferente de
organização política, que vai sendo chamada de movimento-partido porque coloca
em prática um jeito de fazer política que sempre consulta os movimentos
sociais. E esse movimento-partido, que tem o nome de Syriza, poderá ser apoiado
por mais de 35% dos eleitores no final desse mês. Se isso acontecer, caberá a
ele assumir o governo nacional, porque será o partido com maior número de votos
e com provável maioria no Parlamento. A partir daí, aumentará o medo dos que
ganham com a dominação neoliberal porque, para reorganizar as oportunidades de
trabalho e renda, aumentar o salário e retomar as políticas sociais, a Grécia
deverá suspender o pagamento da dívida externa e organizar uma auditoria dela,
forçando a renegociação da parte dela que for legal e justa.
Em outras palavras, da crise está nascendo algo novo e
carregado de esperança. E algo que dará força ao movimento-partido da Espanha,
o Podemos, que também está sendo apoiado por muitos eleitores e já assusta as
elites econômicas e políticas.
Como será bom se da terrível crise climática também nascer
uma articulação mundial de muitos movimentos sociais, igrejas e religiões para
exigir que os governantes de todo o mundo tenham a coragem de assumir, na
Conferência do Clima, que será realizada em dezembro, tudo que é necessário
para salvar a vida em nosso Planeta Terra. Quem sabe essa será a maior surpresa
de 2015!
Ivo Poletto
[texto de programa de Rádio disponiiblizado no dia 5/01/2015, que pode ser baixado em www.fmclimaticas.org.br e utilizado livremente]
Nenhum comentário:
Postar um comentário