Posição do CONIC sobre as Eleições 2018
Foi realizada, no dia 1 de outubro, em Brasília, o primeiro encontro
da Comissão Ecumênica de Justiça e Paz do CONIC. Recém-criada para
assessorar a Diretoria do Conselho em posicionamentos importantes, esta
reunião teve por objetivo refletir sobre o cenário eleitoral e
pós-eleitoral do Brasil. O encontro também contou com a participação,
via webconferência, do professor Dr. Henrique Carlos de Oliveira de
Castro, doutor e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
O documento final, que pode ser conferido a seguir, destaca o contexto
difícil das Eleições 2018 e conclama todos(as) os(as) cristãos e
cristãs a permanecerem comprometidos(as) com os valores do Evangelho. Um
dos trechos da declaração também critica o posicionamento da elite
brasileira que "constantemente age no sentido de colocar o povo contra o
povo, criando um ambiente de medo, fortalecendo narrativas de que o
pobre seria o principal ator da violência." Outro ponto citado é a
possibilidade de ruptura democrática: "uma das candidaturas fala
abertamente em golpe, caso o resultado eleitoral não seja em seu favor."
Leia, a seguir, a declaração:
DECLARAÇÃO SOBRE AS ELEIÇÕES 2018
O Brasil está vivendo, em 2018, um processo eleitoral incomum. Ele
ocorre em um contexto de ruptura democrática. O atual Presidente da
República não foi eleito para a função. Uma Presidenta foi afastada do
cargo com justificativas questionáveis. Além disso, uma das candidaturas
fala abertamente em golpe, caso o resultado eleitoral não seja em seu
favor.
A história do país revela o quanto a nossa democracia é frágil. Se
observarmos os presidentes que governaram o país de 1930 até os dias de
hoje, somente quatro foram eleitos e cumpriram seus mandatos. Portanto, a
democracia no Brasil não é a regra, mas a exceção.
Este processo eleitoral revela e explicita questões históricas não
resolvidas. O Brasil jamais teve um projeto de nação, nem depois de sua
Independência ou da Proclamação da República.
Ao idealizar as experiências e organização social dos países europeus
ou dos Estados Unidos, a elite brasileira nunca teve interesse em que o
Brasil se reconhecesse como nação, mas apenas em produzir e manter as
desigualdades.
Esta elite tende a sonegar impostos, não aceitar taxar as suas fortunas
e eximir-se de suas responsabilidades sociais. E constantemente age no
sentido de colocar o povo contra o povo, criando um ambiente de medo,
fortalecendo narrativas de que o pobre seria o principal ator da
violência.
Vivemos uma espécie de “futebolização” da política, em que o
pressuposto não é a de que todos ganhem, como nas democracias mais
amadurecidas, mas de que se torce para o outro lado ser derrotado, não
importando se, ao fim, todos perdem. Esta é uma polarização que aniquila
a busca e a realização do bem comum.
Nossa fé é política na medida em que assume a responsabilidade cristã
que vem do Batismo. É esta fé que nos compromete incondicionalmente com a
dignidade humana, com o cuidado dos bens comuns, com a cultura da paz e
da não violência, com a promoção dos direitos humanos e da justiça. A
única opção para uma pessoa cristã é a promoção destes valores,
expressos claramente no Evangelho, em especial, nas Bem-aventuranças (Mt
5.1-12), e nas práticas de misericórdia (Mt 25.35-45).
Destacamos a urgência de que cada pessoa, comprometida com a sua fé, e
também, aquelas que não comungam de fé alguma, que defendam o Estado
Democrático de Direito, incluindo o respeito pelas liberdades civis,
direitos humanos e sociais e outras garantias fundamentais estabelecidas
na Constituição.
Que no dia 7 de outubro cada cidadão e cidadã vote com discernimento e
com o conhecimento do projeto de governo escolhido para os próximos
quatro anos, incluindo os cargos legislativos.
Neste atual clima de confronto e de crise das instituições, temos nos
perguntado, com temor e seriedade, se há algum risco de um Estado de
Exceção. Em situações assim, os direitos se restringem e os poderes são
concentrados.
Neste sentido, como pessoas de diferentes tradições de fé, conclamamos:
- A que permaneçamos em vigília e fortaleçamos a profecia coletiva e popular, organizando-nos nas casas, bairros e comunidades para conversar sobre os impactos que o racismo, a xenofobia, ameaça de práticas fascistas, o ódio às mulheres e a LGBTfobia causam nas nossas vidas;
- As igrejas, organizações sociais, movimentos populares a que contribuam para a formação de uma cultura democrática em contraposição à cultura autoritária;
- O fortalecimento das mobilizações pela revogação das reformas trabalhistas e do teto de gastos, assim como para renovar a luta por uma reforma do sistema político e uma reforma tributária justa, além de garantir outras conquistas resultantes da luta dos trabalhadores e trabalhadoras;
- A que renovemos e aprofundemos o compromisso com a laicidade do estado. Nenhum candidato ou governo pode se pronunciar em nome de Deus.
- As nossas igrejas a dialogar sobre a proteção das famílias constituídas a partir do afeto e não pela manutenção de hierarquias familiares propagadoras de violência doméstica.
Em um país religioso como o Brasil, não devemos ser porta-vozes nem do
ódio e nem do medo. Cabe-nos ser anunciadores e anunciadoras do amor, da
paz, do diálogo, da solidariedade, da justiça, da cultura do encontro.
Quem se apropria do nome de Deus, de Jesus e da Bíblia para disseminar o
ódio e atacar os direitos humanos está desrespeitando o Evangelho.
Confiemos naquele que nos amou primeiro e orientemos nossas ações no fogo do amor que tudo regenera e recria. (Lc 12.49ss)
CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
http://www.conic.org.br/portal/noticias/2815-posicao-do-conic-sobre-as-eleicoes-2018
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