NESSE CONTEXTO E DIANTE DA NECESSIDADE URGENTE DE AVANÇOS, COMO FICARÁ O BRASIL DE BOLSONARO? NÃO PODEMOS PERMITIR QUE SUAS AMEAÇAS SE TORNEM POLÍTICAS PÚBLICAS...
IHU, 30 de outubro de 2018
“Assim como a Idade da Pedra não acabou por falta de pedras, a Era do Petróleo chegará ao fim, não por falta de óleo” (Sheikh Ahmed-Zaki Yamani, 2000)
"Mesmo que fosse possível desativar todas as usinas de carvão do
mundo até 2035, o setor de energia ainda não estaria trilhando o caminho
acima de uma trajetória de segurança climática", escreve José Eustáquio Diniz Alves,
doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em
População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de
Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 29-10-2018.
Eis o artigo.
Fonte: EcoDebate
O novo relatório da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) – New Energy Outlook (NEO) para 2018 – traz boas notícias para a indústria de energia renovável, com previsão de que a energia eólica e solar aumente sua participação na matriz energética global para cerca de 50% até 2050. No mesmo período, o carvão deve encolher para 11% da geração global de eletricidade e as baterias para aumentar em popularidade como os preços despencam.
O relatório NEO-2018 traz, além das boas novas para as indústrias eólica e solar, destaca o impacto promissor da queda dos custos da bateria e o impacto tem sobre o mix de eletricidade ao longo das próximas décadas. Especificamente, a BNEF prevê que os preços das baterias de lítio-íon, que já despencaram 80% por megawatt-hora (MWh) desde 2010 – continuarão a cair à medida que o setor de veículos elétricos mantenha o crescimento projetado.
A BNEF estima que US$ 548 bilhões serão investidos em capacidade de armazenamento de energia em baterias, até 2050. Considerando que o armazenamento barato por meio de baterias significará a viabilidade para a utilização de eletricidade a partir do vento e da energia solar, contornando os problemas da intermitência do fornecimento destas fontes que são sujeitas à falta de sol ou de vento. O resultado será o crescimento das energias renováveis e o abandono progressivo do carvão, petróleo, gás e energia nuclear.
Para a indústria solar em particular, a BNEF está prevendo um aumento de 17 vezes na capacidade global e o custo nivelado da eletricidade (LCoE) cairá mais 71% até 2050, já tendo caído 77% entre 2009 e 2018. A indústria eólica vai beneficiar de um aumento de seis vezes na capacidade e ver a sua própria LCoE cair mais 58%, face ao decréscimo de 41% observado na década anterior.
Além disso, a BNEF prevê que o setor elétrico global aumentará suas emissões de 2017 até um pico em 2027. Em seguida, as emissões devem cair até 2050. Infelizmente, isso ainda significa que o setor elétrico não cumprirá sua parte esforço para manter os níveis globais de CO2 abaixo de 450 partes por milhão (ppm), o nível equivalente a um aumento nas temperaturas globais de apenas 2 graus Celsius, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
Porém, mesmo que fosse possível desativar todas as usinas de carvão do mundo até 2035, o setor de energia ainda não estaria trilhando o caminho acima de uma trajetória de segurança climática. O último relatório do IPCC mostra que a humanidade só tem 12 anos para reverter as emissões de gases de efeito estufa.
Ou seja, a transição energética é fundamental para a segurança climática, mas no ritmo atual – mesmo sendo o mais rápido de todos os tempos – o aumento da temperatura do Planeta poderá, ainda assim, chegar em um nível que os custos serão muito maiores do que os benefícios.
Se este processo de transição não for acelerado o mundo pode perder o controle sobre o clima devido aos efeitos de retroalimentação e pode assistir a um colapso ambiental de grandes proporções já na metade do século XXI.
Referência:
Bloomberg New Energy Finance (BNEF) – New Energy Outlook (NEO), 2018 https://about.bnef.com/new-energy-outlook/
http://www.ihu.unisinos.br/584199-energia-renovavel-deve-responder-por-50-da-eletricidade-mundial-ate-2050
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