É muito triste ver reportagens que mostram como a água está
sendo tratada como uma coisa qualquer. Tirada do seio da terra, continua
desperdiçada por anos, depois de ser proibido seu uso por um clube. Tirada das
profundezas de um aquífero, é vendida como uma mercadoria de baixo preço a
outro clube. No Semiárido, teima-se em continuar a construção do canal para a
transposição da água do rio São Francisco, que está secando e não terá água
para ser transportada. Em São Paulo e outras cidades, muita água continua sendo
perdida nas tubulações que a levam para as casas... Enquanto isso, continua-se
dizendo que as represas, seja para levar água para a população, seja para
produzir energia elétrica, estão dependendo das chuvas para sua recuperação.
Alguns afoitos são capazes de dizer que, por isso, a falta de água está na
conta do pouco cuidado de São Pedro, ou mesmo da falta de atenção de Deus ao
nosso país.
Vale a pena refletir seriamente sobre o que está provocando
a falta de água doce. Há muitas iniciativas populares, em São Paulo e em outras
regiões, que mobilizam a população para cuidar deste bem absolutamente
indispensável à vida e para apresentar propostas de políticas públicas em relação
à água. Isso mostra que as pessoas estão procurando reeducar-se, dando-se conta
que a água não é um bem infinito, que nunca faltará, mesmo se a gente
desperdiça, suja córregos e rios, enche tudo de lixo, cobre o solo com asfaltos
e cimento.
Por isso vale a pergunta: qual a relação dos governantes e
empresários com a água? Há algumas exceções, mas praticamente todos agem como
se tudo estivesse às mil maravilhas. Não aceitam, por exemplo, que a água é um
bem finito e indispensável à vida e um direito de todas as pessoas e demais
seres vivos, e que, por isso, deve ser um bem comum e administrado com cuidado
de forma pública. Não aceitam mudar a política energética, deixando de usar a
água dos rios e de queimar fontes fósseis, passando a produzir energia com os
raios do sol nos telhados das casas, empresas, prédios... Não aceitam trocar o
agronegócio, que usa setenta por cento da água doce e envenena o solo, os rios
e aquíferos, pela agroecologia em pequenas e médias propriedades, que usa menos
água e cuida da natureza... Não aceitam mudar a política de mineração, em que
se usa muita água e se contamina solo, córregos e rios...
Precisamos conquistar uma política pública que cuide da
água, em todas as nossas relações com ela. Sem água, morreremos; com pouca água,
brigaremos até com violência por ela.
[veja programa de rádio sobre o tema em www.fmclimaticas.org.br ]
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