sexta-feira, 14 de agosto de 2015

BELO MONTE: DIREITOS DOS RIBEIRINHOS COM PARTICIPAÇÃO DOS RIBEIRINHOS

VEJAM COMO HÁ SINAIS DE QUE AS LUTAS DOS RIBEIRINHOS AFETADOS PELA BELO MONTE PODEM TER SEUS DIREITOS GARANTIDOS. O PONTO DE PARTIDA É O RECONHECIMENTO DE SEU MODO DE VIDA, ABSOLUTAMENTE AMEAÇADO PELA EMPRESA CONSTRUTORA DESSE MONSTRO.

Reocupação ribeirinha do reservatório de Belo Monte pode trazer participação inédita de grupos tradicionais

Após paralisação de remoções, MPF aguarda definição de território para ribeirinhos e pescadores afetados por Belo Monte. O processo de reocupação ribeirinha do reservatório da hidrelétrica pode trazer participação inédita de grupos tradicionais que ficaram invisíveis durante o licenciamento ambiental
A reportagem foi publicada pelo Ministério Público Federal do Pará e republicada pelo portal EcoDebate, 13-08-2015.
O Ministério Público Federal disparou no final de julho uma série de manifestações aos órgãos governamentais envolvidos no licenciamento da usina hidrelétrica de Belo Monte, assim como à Norte Energia, responsável pelo empreendimento, buscando uma solução viável para os ribeirinhos e pescadores atingidos por Belo Monte. Viável, no entendimento do MPF, é exclusivamente uma proposta que reconheça e mantenha o modo de vida tradicional dessas populações, que vinha sendo violado no processo de instalação da usina.
Segundo o MPF: “o cotidiano do ribeirinho guarda uma dinâmica peculiar, num fluxo entre o rio e a cidade, no qual a dupla moradia tem um papel indispensável à manutenção do seu modo de vida. Deste modo, ficou evidente que, para garantir o modo de vida ribeirinho é necessário primeiro reconhecê-lo e, no mínimo: 1. a garantia de sua territorialidade no rio, que inclua seu ponto de pesca e sua moradia na ilha ou margem; 2. a garantia da pesca após as alterações que o desvio do curso do rio vai acarretar e; 3. a garantia do acesso ao núcleo urbano, com moradia próxima ao rio”.
As violações ao modo de vida ribeirinho foram constatadas em junho de 2015 durante inspeção feita pelo MPF e diversas instituições governamentais e não-governamentais. Enumeradas em relatório enviado ao governo no mês passado, as situações vividas pelos moradores das beiras e ilhas do Xingu removidos por Belo Monte indicam que houve descumprimento das regras do licenciamento ambiental e desconhecimento sobre o modo de vida tradicional da região amazônica.
Após a inspeção, as remoções de ribeirinhos foram paralisadas. O governo federal deve agora indicar um território, próximo a Altamira e com acesso ao rio Xingu para destinar aos ribeirinhos e pescadores. O MPF aguarda a definição desse território, que pode representar uma solução inovadora em licenciamentos desse tipo. A premissa consta do Plano Básico Ambiental: o respeito ao modo de vida dos grupos atingidos, em condições no mínimo semelhantes à que detinham antes.
A forma de ocupação desse território deve ser construída com a participação das próprias comunidades. A solução pode ser uma inovação na forma como o governo encara as populações amazônicas atingidas por empreendimentos de graveimpacto socioambiental. “É preciso requalificação do olhar para que a empresa compreenda o modo de vida do ribeirinho. E a correção de rumos do reassentamento dependerá do protagonismo desses grupos tradicionais que foram tornados invisíveis no processo de implantação da usina”, sustenta a procuradora do MPF Thais Santi, que conduz as investigações em curso na procuradoria da República em Altamira.
Para o MPF, “o processo de reassentamento dos ribeirinhos deve, por primeiro, reconhecer a peculiaridade do seu modo de vida, sendo que a construção dos caminhos para sua manutenção depende da garantia de áreas de pesca, da transparência quanto às transformações do rio Xingu e do acesso à cidade de Altamira, com a efetiva participação dos atingidos”.

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