Roberto Malvezzi (Gogó)
O que fazer com uma pessoa que incomoda os donos dos poderes, seja qual for a época? A primeira tentativa é a
cooptação, ainda mais se tiver popularidade.
Se não conseguir, vem a tarefa mais complexa de eliminar o incomodante.
É preciso inventar um pretexto para condená-lo. No caso de Jesus “nós
temos uma lei, ele se disse filho de Deus e quem se diz filho de Deus
deve morrer” (João. 9,7).
O terceiro passo é a delação. Sempre há um traidor no grupo,
alguém capaz de vender os amigos por trinta moedas de prata, desde que
lhe seja conveniente, podendo ser até com um beijo (Mat. 26,49).
O quarto passo é sua prisão. Jesus, uma vez delatado, foi preso
por pressão das lideranças religiosas e levado à presença da autoridade
política, Pilatos. Ele não queria condená-lo, mas, diante da pressão
popular, decidiu lavar as mãos. Um júri de aparências,
para legalizar a execução.
O quinto passo foi a tortura: chibatadas, coroa de espinho, cusparadas e ofensas (Mateus, 27,27).
O sexto passo é a execração pública. Teve que percorrer as ruas
com a cruz nas costas para ser humilhado. Algumas mulheres ficam com dó e
choram. Jesus não se faz de coitadinho e lhes diz: “não choreis sobre
mim, mas sobre vós mesmas e vossos filhos”
(Luc. 23,28).
O último passo é a execução, no caso de Jesus, na cruz. Era a
condenação dos piores facínoras, mas também de muitos inocentes. O que
distingue Jesus não é o tipo de morte, mas a pessoa diferente que Ele
era.
Jesus não replicou, não prometeu vingança, não amaldiçoou a própria
condição. Antes já tinha dito a Pedro e seus discípulos que entregava a
própria vida de livre e espontânea vontade. Portanto, mesmo preso,
sentia-se livre.
Finalmente, ressuscitou, e aí seus algozes já não tinham poder algum
sobre ele. Não voltou para se vingar de Judas, ou dos fariseus, ou de
Herodes e Pilatos. Na sua ressurreição apontou para a plenitude dos
tempos, o pleroma, o ponto de chegada de todo o Universo,
onde estarão os humanos e toda a criação redimida. Lá estarão todos os
explorados, os torturados, os executados, os dinossauros, os
rinocerontes, elefantes, todos os vegetais, todos os animais, inclusive o
Pretinho, nosso cachorro que morreu esses dias.
Em tempo tão obscuro e mesquinho como esse da humanidade,
particularmente do Brasil, que a grandeza amorosa do Ressuscitado esteja
em todos nós.
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