Roberto Malvezzi (Gogó)
A escassez da água pode ser quantitativa, qualitativa e social*.
Quantitativa quando não há água para satisfazer as necessidades de todas
as ordens; qualitativa quando a água está aí diante dos olhos, mas não
pode ser utilizada para vários fins devido à sua
contaminação; social quando há água, tem qualidade, mas alguma
propriedade privada se apropriou de um bem comum.
Um levantamento feito conjuntamente feito pelo Repórter Brasil, Agência
Pública e a organização suíça Public Eye, baseado em informações do
Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo
Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes
feitos pelas empresas de abastecimento, afirmou que 25% dos municípios
brasileiros têm em suas águas um coquetel que pode chegar a 27 venenos.
A reação foi imediata. A EMBASA saiu em defesa da qualidade da água
baiana, que teria 271 municípios com água contaminada, afirmando que o
coquetel de veneno não atinge os níveis de contaminação condenados pela
Organização Mundial da Saúde.
Há tempos o Brasil pratica um verdadeiro hidrocídio contra nossas águas.
Ao derrubar a floresta amazônica mata o ciclo de nossas águas na
origem; ao compactar o Cerrado bloqueia a recarga dos aquíferos Urucuia,
Bambui e Guarani, que abastecem grande parte das
bacias brasileiras; ao contaminar as águas com resíduos de agrotóxicos,
minerários (Rio Doce e Paraopeba são exemplares) e demais dejetos
industriais, domésticos e hospitalares, de fato não sabemos mais a
qualidade da água que consumimos todos os dias.
Uma das ilusões da população é recorrer à água engarrafada. Primeiro, o
fato de ser engarrafada não significa que seja mineral. Segundo,
exatamente por não garantir a origem, não significa que tenha
potabilidade garantida.
O fato é que precisamos de um monitoramento mais sério da qualidade de
nossas águas. O monitoramento mais constante é o bacteriológico, mas o
de metais pesados e outros contaminantes é mais caro e, portanto, mais
raro, quando não abertamente inexistente.
O alerta levantado pelas organizações deveria chamar as autoridades
públicas à responsabilidade, seja pela quantidade de venenos utilizados
na agricultura, seja pelo risco que cada um oferece, seja pela
pulverização aérea sobre os mananciais, seja pelo efeito
das enxurradas, ainda mais num governo que já liberou mais de um veneno
por dia desde que tomou posse.
O governo do Ceará proibiu a pulverização aérea em seu território. Quem
sabe seja o exemplo para os demais estados do Brasil. Seria um bom
começo.
*OBS: Fiz essa conceituação tempos atrás, quando só se falava na escassez quantitativa da água.
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