Estamos em 2018, mas cresce a sensação de que voltamos ao
século XVI. Como naquele tempo, os povos
indígenas estão se sentindo ameaçados de ter seus territórios invadidos, de ter
seu modo de vida proibido, sendo obrigados a viver da mesma forma que a maioria
dos brasileiros: ou derrubando a floresta para criar bois e/ou para plantar
soja usando agrotóxicos, ou entregando toda sua terra para os grileiros e
grandes fazendeiros implantarem o agronegócio, e eles passarem a viver como
pobres e explorados trabalhadores do campo ou das cidades.
É isso que acontecerá se as políticas anunciadas pelo
governo atual forem colocadas em prática. Para quem está no poder político, só
há lugar para indígenas se aceitarem ser integrados na cultura dominante na
sociedade brasileira. Em outras palavras, o que foi reconhecido como direito e
está na Constituição brasileira deixará de valer. Sim, porque está muito claro
nela que todos os povos indígenas existentes no Brasil têm reconhecido e
garantido o direito originário aos territórios por eles ocupados secularmente,
e por isso, o direito de retornar a esses territórios se foram expulsos deles
pela violência; e junto com o direito ao território, eles têm garantido o
direito de viver segundo sua cultura e seu modo de vida. Ao Estado, cabe a
obrigação de reconhecer estes direitos e garantir que sejam respeitados.
Os direitos reconhecidos pela Constituição de 1988 não foram
plenamente colocados em prática, e por isso, muitos povos indígenas ainda não
têm seu território reconhecido, e grileiros e fazendeiros continuam impedindo
sua demarcação e invadindo os que foram demarcados, sempre acobertados pelas
autoridades. E agora, o governo dá sinais de que apoiará ainda mais esses
invasores.
Quem tem sentimentos de humanidade, e mais ainda quem assume
os ensinamentos e as práticas de Jesus de Nazaré, não pode aceitar que o solo
brasileiro seja banhado com mais sangue indígena. Já foram assassinados milhões
de indígenas, e muitas etnias desapareceram. É preciso impedir que isso
continue e aumente. Por isso, é preciso apoiar a campanha Nenhuma Gota a Mais!,
lançada pela Articulação dos Povos Indígenas, a APIB, no dia 10 de janeiro.
Não sejamos cúmplices da violência e do sangue derramado por
quem deseja destruir a vida para concentrar ainda mais a propriedade da terra e
da riqueza.
Ivo
Poletto, do Fórum MCJS
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