Roberto Malvezzi (Gogó)
Grande
parte do povo brasileiro acha que “bandido bom é bandido morto”, diz
uma pesquisa nacional recente. Mas é só quando o bandido morto for o
bandido pobre. Se o bandido for rico é melhor que ele continue vivo.
Uma
promotora pública que conheço há muito tempo me dizia: “estou cansada
de condenar pobre. Não porque esses pobres não tenham cometido seus
crimes, cometeram. Mas, só eles vão presos. Os criminosos ricos nunca
consegui condenar nenhum”.
Então,
o problema dessa parcela do povo brasileiro não é matar bandidos, é
matar pobre. Aquele que trafica uma droga na favela, que rouba uns
relógios e carteiras pelas ruas, que rouba um carro de luxo na avenida,
assim por diante. Esses, quando pegos, são amarrados em postes,
execrados e até linchados. Outros a polícia simplesmente fuzila. São
quase 60 mil mortes por armas de fogo anualmente no Brasil, grande parte
por execuções policiais, como diz a Campanha da Fraternidade desse ano.
Claro, vez em quando há o reverso e os policiais também são mortos por
esses bandidos.
Mas,
quando se trata de helicópteros, aviões, caminhões com drogas, quando
um banqueiro dá uma quebra no sistema financeiro, quando um político diz
que “bota um aí que a gente possa matar antes de delatar”, tudo vale.
Pode ter contas na Suíça, em paraísos fiscais, ter fraudado a receita,
no máximo vai ter que repatriar alguma merreca.
Essa
bílis da burguesia nacional contra o bandido pobre vem do tempo da
escravidão, fato sobejamente conhecido nos movimentos e pastorais
sociais, agora reforçado pelo livro de Jessé Souza.
Não
há nesse entendimento, explorado por candidatos à presidência da
República, nenhum laivo de justiça, da busca de um país melhor,
realmente mais pacífico, onde todos os cidadãos possam andar na rua com
tranquilidade, como acontece em países civilizados. Pior, há uma
confusão intencional que pobre é sinônimo de bandido e rico é sinônimo
de pessoa boa. Aliás, essa é a origem do termo, “pessoas de bens”
(ricos) eram consideradas pessoas boas. E os bens que possuíam era a
terra, escravos, bois, raízes como mandioca ou engenhos de açúcar.
Tinham também seu exército particular de jagunços.
O
Brasil não é civilizado, não há respeito pelos pobres, negros e índios,
ainda não somos um povo e uma nação. Por isso nos guerreamos. Por isso,
bandido pobre deve ser morto e bandido rico pode reinar à vontade sobre
nós.
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