terça-feira, 6 de março de 2018

BANDIDO BOM É BANDIDO RICO

Roberto Malvezzi (Gogó)
Grande parte do povo brasileiro acha que “bandido bom é bandido morto”, diz uma pesquisa nacional recente. Mas é só quando o bandido morto for o bandido pobre. Se o bandido for rico é melhor que ele continue vivo.
Uma promotora pública que conheço há muito tempo me dizia: “estou cansada de condenar pobre. Não porque esses pobres não tenham cometido seus crimes, cometeram. Mas, só eles vão presos. Os criminosos ricos nunca consegui condenar nenhum”.
Então, o problema dessa parcela do povo brasileiro não é matar bandidos, é matar pobre. Aquele que trafica uma droga na favela, que rouba uns relógios e carteiras pelas ruas, que rouba um carro de luxo na avenida, assim por diante. Esses, quando pegos, são amarrados em postes, execrados e até linchados. Outros a polícia simplesmente fuzila. São quase 60 mil mortes por armas de fogo anualmente no Brasil, grande parte por execuções policiais, como diz a Campanha da Fraternidade desse ano. Claro, vez em quando há o reverso e os policiais também são mortos por esses bandidos.
Mas, quando se trata de helicópteros, aviões, caminhões com drogas, quando um banqueiro dá uma quebra no sistema financeiro, quando um político diz que “bota um aí que a gente possa matar antes de delatar”, tudo vale. Pode ter contas na Suíça, em paraísos fiscais, ter fraudado a receita, no máximo vai ter que repatriar alguma merreca.
Essa bílis da burguesia nacional contra o bandido pobre vem do tempo da escravidão, fato sobejamente conhecido nos movimentos e pastorais sociais, agora reforçado pelo livro de Jessé Souza.
Não há nesse entendimento, explorado por candidatos à presidência da República, nenhum laivo de justiça, da busca de um país melhor, realmente mais pacífico, onde todos os cidadãos possam andar na rua com tranquilidade, como acontece em países civilizados. Pior, há uma confusão intencional que pobre é sinônimo de bandido e rico é sinônimo de pessoa boa. Aliás, essa é a origem do termo, “pessoas de bens” (ricos) eram consideradas pessoas boas. E os bens que possuíam era a terra, escravos, bois, raízes como mandioca ou engenhos de açúcar. Tinham também seu exército particular de jagunços.
           O Brasil não é civilizado, não há respeito pelos pobres, negros e índios, ainda não somos um povo e uma nação. Por isso nos guerreamos. Por isso, bandido pobre deve ser morto e bandido rico pode reinar à vontade sobre nós.

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