quarta-feira, 5 de junho de 2013

CENAS DE UM DIÁLOGO IMPOSSÍVEL ENTRE GOVERNO E POVOS INDÍGENAS



Diálogo, para quem se relaciona com seriedade democrática, que exige igualmente presença de princípios éticos, só é possível quando as partes envolvidas admitem a existência de argumentos que podem ter como resultado a mudança de pontos de vista e de decisões anteriormente adotadas. Sem esta abertura, o diálogo nasce morto. Na verdade, não nasce; é morto antes de começar.

A afirmação do ministro Gilberto Carvalho à mídia de que o governo ouve tudo, mas que nada o levará a deixar de executar os “seus” planos em relação às hidrelétricas na Amazônia, podendo, quando muito, melhorar a sua execução, é declaração de que não existiam reais condições para um diálogo com os representantes dos Povos Indígenas. A afirmação foi tornada pública no final, mas podia e teria sido mais honesto apresentá-la antes da criação da cena de aparente diálogo.

Foi cena meticulosamente preparada: a) promessa de diálogo para que os indígenas desocupassem pacificamente o canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte; b) deslocamento de aviões da FAB para trazer os indígenas a Brasília; c) concentração dos indígenas em teatro, previamente preparado para parecer espaço de diálogo...

Se o governo já tinha a decisão de não ouvir os questionamentos dos indígenas em relação às hidrelétricas, por que os trouxe espalhafatosamente para Brasília?

Muito provavelmente como parte do que foi enfaticamente declarado pelo mesmo ministro Gilberto Carvalho: podemos continuar “dialogando”, mas o governo não admitirá novas ações violentas, novas “invasões”, segundo a linguagem comum do governo e da mídia. Por isso, sem a presença dos indígenas na área, o governo reforçou a presença da Força Nacional para impedir novas práticas indígenas que atrapalhem a continuidade das obras.

Foi certamente uma cena. De teatro? De comédia? De tragédia?

Para quem costuma olhar para os povos indígenas com preconceitos e prejuízos, uma cena cômica. Para quem reconhece e defende os direitos dos Povos Indígenas, uma cena de teatro de horror, uma tragédia. E para quem defende, junto com os direitos indígenas e inspirados por suas culturas, os direitos da Terra, uma tragédia ainda mais terrível: revelou claramente que o Brasil tem um governo absolutamente contrário aos direitos dos Povos Indígenas e aos direitos da Terra; como isso tem a ver com o agravamento do aquecimento da temperatura da Terra e com as mudanças climáticas, revelou um governo que ainda propaga, incentiva e financia iniciativas empresariais que foram e continuam sendo responsáveis pelo desequilíbrio do ambiente vital do planeta Terra. Por fim, revelou um governo cego e surdo em relação às propostas de mudanças que devem ser feitas para que se aposte na recuperação deste ambiente favorável à vida; um governo, por isso tudo, comprometido com o pior para todas as formas de vida.

E para quem defende as políticas sociais deste governo, mesmo reconhecendo que são frágeis e compensatórias, sem relação com as necessárias transformações estruturais, vale lembrar a advertência de Jesus de Nazaré: não se pode servir a Deus e ao dinheiro; em outras palavras e assumindo a cultura popular, não se deve acender uma vela a Deus e outra ao diabo, ou pior, acender uma vela aos pobres e noventa e nove velas aos ricos!!!

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