domingo, 5 de dezembro de 2010

ENCONTRO COM O FUTURO OU COM O DESASTRE?

Apresento hoje uma reflexão feita durante a viagem a Cancun. O próximo artigo já dará conta dos desafios percebidos nas atividades em que estou podendo participar.
Estou a caminho de Cancun, México. Não para as praias, mas para a Conferência do Clima, da ONU. Já é a 16ª, e ainda com dificuldades imensas de se chegar a algum acordo internacional sério. Se a pressão das grandes corporações, especialmente as mais envolvidas com as emissões de gases de efeito estufa, e os governos dos países ricos continuarem vencendo, o máximo não se passará de sugestões de mudança, algo a ser colocado em prática voluntariamente. Em outras palavras, mudanças que não acontecerão, pelo menos na medida da necessidade.
O que cabe aos povos que sofrem consequências das mudanças climáticas tendo participado quase nada das suas causas? No espaço da precária e controlada democracia reinante, cabe-lhe agir como estão fazendo os camponeses e entidades que os apóiam: defender suas propostas por meio de manifestações públicas. No México, estão em andamento diversas marchas, percorrendo estradas, criando oportunidades de debates, gerando consciência crítica, convocando a cidadania a aumentar a potência do grito popular. Ou melhor, ressoando o grito da própria Terra.
Se cresce a consciência de que a humanidade não tem outra alternativa do que mudar profundamente seu modo de ser, de produzir e consumir, evitando que os desequilíbrios causados levem a Terra a tornar impossível a vida humana, o que será necessário fazer para que o direito à vida da maioria se sobreponha aos interesses egoístas de uma minoria?
Creio que existem caminhos diferentes, construídos por quem vive nos campos ou nas cidades, por quem segue uma ou outra mensagem religiosa, por quem age por amor à vida, a da própria Terra e a de todos os seres que nela vivem. Existem iniciativas que podem ser implementadas por pessoas, por famílias, por comunidades, alterando sua relação com a água, com a energia elétrica, com o uso de transportes. Existem outras que só podem ser tomadas pelos governantes, seja em âmbito local, regional, nacional e internacional, e sem essas, as demais serão insuficientes. Por isso, o grande desafio para todas as pessoas e iniciativas organizadas é a construção da capacidade de atuar em redes, apostando na força do grito coletivo mundial, tão forte que provocará a queda das resistências, por maiores que sejam.
Uma das formas desse grito é o uso do poder dos consumidores. Numa sociedade de mercado capitalista, este é um poder decisório por que pode determinar o que se aceita que seja produzido e o que deve ser deixado de lado. Mas é um poder difuso e dificilmente organizável, porque tem a ver com o exercício de uma liberdade já educada para o consumo de bens que tem a ver com a forma dominante de bem estar. Em outras palavras, só exerce este poder quem tiver uma consciência crítica que lhe permita reapropriar-se da liberdade, definindo o que fazer sem deixar-se dominar pelo marketing.
A Via Campesina está convidando a todos e todas que podem e desejam a organizarem milhares de Canuns em todo mundo, através de manifestações no dia 7 de dezembro, reforçando a que acontecerá no local da COP 16. Quantas acontecerão no Brasil? A resposta depende também de cada um que lê esta reflexão.

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