domingo, 22 de novembro de 2015

QUEM E COMO ESTÁ LIGADO AO EXTERMÍNIO DOS POVOS INDÍGENAS

GENOCÍDIO

Frei Betto: descaso do poder público é 'método eficaz' para eliminação de indígenas

por Redação RBA publicado 16/11/2015 11:16, última modificação 16/11/2015 13:51
WILSON DIAS/ABR
Funai
Em novo episódio da onda conservadora, Câmara dos Deputados instala CPI para investigar a Funai
No momento em que a Câmara dos Deputados investiga a Fundação Nacional do Índio (Funai), em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na última quinta-feira (12), em mais um episódio da onda conservadora que ameaça direitos sociais, o escritor Frei Betto comenta hoje (16), na Rádio Brasil Atual, as diversas formas de extermínio físico e cultural a que são submetidas as populações indígenas no Brasil. Confira a íntegra do comentário:
"Há muitos modos de acabar com os índios, como querem aqueles que os consideram inúteis ou atrasados e acreditam que suas grandes extensões de terra seriam mais lucrativas em mãos do agronegócio, de mineradoras ou madeireiras.
Um modo eficaz é divulgar, como se fez no passado, que são desprovidos de alma. A Igreja utilizou com sucesso esse método ao colonizar o que hoje se conhece como continente americano.
Outro modo, sobejamente usado pelos colonizadores espanhóis, é esquartejá-los por mordidas de cães. Os cães são adestrados a temer roupas. Ao verem um corpo nu, sem movimento e cores de tecidos, atacam ferozmente e, nesse caso, devem ser recompensados com as mais saborosas porções dos corpos indígenas.
Os heroicos bandeirantes do Brasil, que dão nomes a rodovias e logradouros e merecem monumentos em nossas cidades, costumavam exterminá-los com métodos de fácil aplicação: submetê-los à escravidão, ainda que considerados inaptos para o trabalho imposto pelos caras-pálidas; cercá-los, impedindo-os de ter acesso a alimentos e às fontes de água; instigar a inimizade entre aldeias, de modo que uma guerreasse contra a outra.
Hoje em dia existem modos mais modernos e igualmente eficazes, como reduzir drasticamente os recursos da Funai, sem inclusive prejudicar a sigla, que passaria a ser conhecida como Funerária Nacional dos Índios. Boa receita é urbanizá-los, de forma que, na cidade, sintam vergonha da nudez e aprendam que, graças ao mercado, produtos necessários à sobrevivência têm valor de troca, jamais de uso.
Método atual é o descaso do poder público, também conhecido popularmente como vista grossa. Deixar que empreendedores, como fazendeiros, madeireiros e mineradores, invadam suas extensas terras, tornando-as economicamente produtivas. Enfim, um novo modo de exterminar índios, ora em debate, e que promete excelente resultado, é retirar das mãos do Executivo a demarcação de suas terras e passá-la ao Legislativo, que, com muita habilidade, tem feito retroceder os chamados direitos humanos.
Quem sabe seja oportuno preservar dois ou três casais de indígenas para, em jaulas, exibi-los ao público no ‘Playlarmento’ a ser construído como anexo do Congresso, ao custo inicial de R$ 400 milhões — valor a ser regiamente multiplicado ao longo da obra, para a boa saúde do bolso de nobres representantes do povo e de seus financiadores de campanhas."
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