MANIFESTO
CONTRA A PEC 215 E A FAVOR DE PROPOSTAS DE SOLUÇÃO PARA CONFLITOS
A PEC 215/2000, que pretende transferir
para o Congresso Nacional a competência de definir os limites das terras
indígenas e dos quilombos, entre outras afetações aos direitos dos povos
indígenas e populações tradicionais, tem sido fortemente contestada por
juristas, especialistas, organizações civis e movimentos sociais de todo país
há vários anos, visto que pretende abolir seus direitos territoriais
constitucionais, além de inserir o “marco temporal” de 05 de
outubro de 1988 como limite aos direitos dos povos indígenas às suas terras tradicionais
e vedar a sua ampliação.
A
eventual aprovação desta PEC representaria um retrocesso sem precedentes na
nossa história recente e um obstáculo adicional para a efetividade de direitos
determinados pela Constituição. Levaria à virtual paralisação dos processos
administrativos de materialização desses direitos. Com isso, ficariam agravados
e pendentes de solução os conflitos atualmente existentes, gerando outros, tanto
no campo como nos embates jurídicos que se perpetuam no Judiciário e no
Executivo.
A
PEC 215/2000 foi também antecipadamente
rejeitada em documento assinado por 60 % dos Senadores da República, que
apontaram as suas inconsistências para solucionar esses conflitos e a
impossibilidade ética e jurídica de prejudicar direitos de minorias, mesmo que
com o respaldo de eventuais maiorias parlamentares. Após a divulgação desse
documento, o Senado aprovou, por unanimidade, outra proposta de emenda
constitucional (PEC 71/2011 no Senado e agora PEC 132/2015 na Câmara) para
viabilizar a indenização de títulos de propriedade legítimos eventualmente
incidentes em processos de demarcação, como forma objetiva de reduzir e
resolver conflitos.
No
entanto, em 27.10.2015, uma comissão especial da Câmara dos Deputados ignorou a
proposta conciliatória do Senado e aprovou um relatório apresentado pelo
deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) com uma versão da PEC 215/2000 ainda mais prejudicial
do que a versão original, retirando direitos fundamentais constitucionais indígenas
e de outras populações. Essa comissão, dominada por uma circunstancial maioria
de deputados ruralistas mais radicais, precipitou tal decisão com o objetivo de
pressionar o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a
submetê-la à aprovação do Plenário em meio ao processo de sua cassação, em
trâmite no Conselho de Ética.
Diante
de mais essa manobra sórdida, as organizações abaixo assinadas manifestam a sua
indignação e repúdio à promoção da retórica do conflito, através de proposições
legislativas radicais, em vez de priorizar a construção de soluções
institucionais apropriadas à pacificação definitiva desses conflitos, nos quais
as vítimas sempre foram os povos indígenas. Assim, as signatárias reivindicam
da presidência e do colégio de líderes da Câmara a rejeição com o consequente arquivamento definitivo da PEC
215/2000. Recomendam, ainda, a sua pronta rejeição pelos deputados
federais, caso venha a ser submetida à votação em Plenário.
Adicionalmente,
as organizações sugerem a tramitação urgente de proposições legislativas que
sejam politicamente mais convergentes, que busquem harmonizar direitos e
contribuir para soluções efetivas e perenes e que, com isso, garantam a
convivência pacífica entre os brasileiros em geral.
APIB-
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
Cimi-
Conselho Indigenista Missionário
CTI-
Centro de Trabalho Indigenista
IEB-
Instituto Internacional de Educação do Brasil
ISA-
Instituto Sócio-Ambiental
Nenhum comentário:
Postar um comentário