ESSE NOVO CONHECIMENTO, CIENTIFICAMENTE DEMONSTRADO, DEVERÁ MUDAR A RELAÇÃO COM AS FLORESTAS AINDA EXISTENTES. E DEVERÁ SERVIR PARA QUE SEJAM CRIADAS NOVAS FLORESTAS, E NÃO PLANTIOS INDUSTRIAIS , COM ÁRVORES CORTADAS AINDA NOVAS PARA USUFRUIR DO SEU TEMPO DE MAIOR VELOCIDADE DE CRESCIMENTO.
Árvores
crescem até a morte
01 de fevereiro de 2014
Fernando Reinach - Biólogo - O Estado de S.Paulo
Como eu estava enganado! Eu e o resto
dos cientistas. Todos acreditavam que as árvores cresciam como os seres
humanos, rapidamente no início da vida, mais lentamente na idade adulta, e
praticamente nada após atingirem a maturidade. Mas, agora, um grupo de ecologistas
mediu diretamente o crescimento das árvores em florestas nativas. Descobriram
que, quanto maior a árvore, mais ela cresce a cada ano. Essa descoberta promete
revolucionar as estratégias de manejo e preservação de florestas.
Os ecologistas tinham bons motivos
para acreditar que as árvores grandes param de crescer. Em florestas plantadas,
como as de eucaliptos, medidas cuidadosas demonstram que a produtividade
diminui ao longo do tempo. Assim, cada tonelada de floresta viva produz menos
toneladas de madeira nova a cada ano que passa. É por isso que essas florestas
são cortadas com aproximadamente 7 anos, exatamente no momento em que a queda
de produtividade começa a afetar o retorno do investimento feito na plantação e
manutenção da floresta. Outro dado bem conhecido é a diminuição da eficiência
das folhas com o aumento do tamanho das árvores. Quanto maior a árvore, a
quantidade de massa produzida por folha ao longo de um ano vai diminuindo. Com
base nessas duas medidas, os cientistas sempre acreditaram que as árvores muito
grandes não contribuem tanto para o aumento da quantidade de madeira na
floresta.
Mas, em ciência, as extrapolações a
partir de dados indiretos representam um grande perigo. Passamos a acreditar
que a extrapolação é verdade e não medimos o fenômeno diretamente. Ainda bem
que existem cientistas desconfiados, como o grupo que resolveu medir
diretamente a quantidade de madeira produzida por árvores individuais, em
diferentes estágios de seu crescimento.
O crescimento de 673.046 árvores foi
medido a cada 5 ou 10 anos em florestas localizadas em áreas preservadas, em
todos os continentes, e em todos os tipos de florestas. Trinta grupos de
pesquisadores contribuíram com dados para o estudo.
No total, foram analisadas árvores de
403 espécies. Para entrar no estudo as espécies de árvores tinham de ter no
mínimo 40 exemplares medidos ao longo de 10 anos e um diâmetro mínimo. Na
média, as árvores tinham 92 centímetros de diâmetro, mas as maiores chegaram a
2,7 metros.
Para cada árvore se mediu o peso
total em cada ano (estimado a partir da densidade da madeira e medidas de
diâmetro dos troncos e galhos) e o quanto este peso havia aumentado a cada ano,
durante o período de coleta de dados. Com esses dados foram feitos gráficos que
relacionavam a quantidade de madeira nova produzida por árvore em função de seu
tamanho. Os gráficos obtidos são extremamente claros. Quanto maior a árvore,
mais ela cresce a cada ano. Somente 3% de todas as espécies de árvores
analisadas param de crescer quando atingem um dado tamanho, as outra 97%
continuam a crescer até morrer. Os seja, nas florestas nativas as árvores nunca
param de crescer.
Na média, uma árvore com um tronco de
1 metro de diâmetro (medido a 1,4 metro do solo) "engorda" (ou
aumenta de peso) 103 quilos a cada ano. Dependendo da espécie, esse valor
poderia variar de 10 a 200 quilos. As maiores árvores analisadas nesse estudo
aumentam seu peso em 600 quilos durante um ano. O trabalho contém tabelas que
permitem estimar quanto uma árvore cresce por ano. Basta você medir o diâmetro
do tronco e saber a que espécie ela pertence.
As florestas nativas são um grande
celeiro de carbono. Quando crescem, elas transformam gás carbônico em celulose,
retirando gás carbônico da atmosfera (e, se forem queimadas, liberam grandes
quantidades deste gás causador do efeito estufa). É por este motivo que é
importante entender qual a contribuição de cada planta presente na floresta no
processo de sequestro de carbono. Esse estudo demonstra pela primeira vez que a
contribuição das árvores grandes é muito maior do que se imaginava. Em alguns
casos, uma árvore com um tronco de 1 metro fixa a mesma quantidade de gás
carbônico que uma dúzia de árvores de 30 centímetros de diâmetro.
Esta descoberta vai forçar os
cientistas a reanalisar as práticas de manejo em florestas nativas. Atualmente,
são cortadas as árvores maiores. Um dos motivos é a crença (que agora está
destruída) de que árvores grandes não crescem e, portanto, não contribuem para
a fixação de carbono.
É impressionante como uma medida tão
simples quanto essa nunca havia sido feita com cuidado. É um bom exemplo de
como crenças científicas que se baseiam em inferências indiretas podem estar
erradas. Ainda bem que existem cientistas teimosos que correm o risco de chover
no molhado medindo coisas que muitos acreditam que não precisam ser medidas.
MAIS INFORMAÇÕES: RATE O TREE CARBONO
ACCUMULATION INCREASES CONTINUOUSLY WITH TREE SIZE. NATURE
DOI:10.1038/NATURE12914 2014
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