Roberto Malvezzi (Gogó)
Quando Bolsonaro elogiou a tortura e Brilhante Ustra como herói da
pátria, e a dita sociedade democrática ficou em silêncio, acendeu-se o
sinal vermelho.
Quando Moro disse que medidas de exceção eram necessárias porque o
Brasil vivia um momento excepcional, era o fim da Constituição, da
hierarquia jurídica e era a abertura da janela para um regime de
exceção.
Quando Guedes diz que a esquerda tem cabeça mole, coração mole e a
direita tem a cabeça e coração duros, ele define a essência diferencial
entre esses seres humanos.
Quando o presidente da Vale vai ao Congresso Nacional, todos os
presentes fazem um momento de silêncio em pé pelos mortos de Brumadinho,
e ele permanece sentado, ele declara que a Vale não tem mesmo qualquer
interesse nos seres humanos, inclusive porque já
fizera uma projeção de todos os custos do rompimento, inclusive o
cálculo das possíveis vidas a serem ceifadas.
Quando o Bope do Rio encontra 20 “jovens bandidos” num quarto e executa
15 friamente, certamente com uma bala na cabeça, ao gosto do governador
Witzel, já é a prática da execução sumária proposta pelo presidente e
referendada juridicamente por Sérgio Moro.
Enfim, a volta do Esquadrão da Morte.
Quando um deputado do PSL propõe uma lei que permita extrair os órgãos
dos “bandidos mortos”, cria uma ligação satânica entre execução sumária e
comercialização de cadáveres.
Não, essa não é uma diferença entre direita e esquerda. É a diferença entre a civilidade e a total arbitrariedade.
Não esperemos dessas pessoas qualquer sentimento humano, qualquer sinal
de respeito pelo outro, qualquer arrependimento, qualquer remorso. O ser
humano pode, sim, habituar-se ao pior de si mesmo. Efetivamente, podem
até ter cabeça dura, mas, ao gosto de Jesus,
têm o coração de pedra.
A única realidade mortal dessas pessoas é a conta bancária. Aí que está a
bala de prata. Aí está seu calcanhar de Aquiles. A possibilidade de
levar um tiro bem dado nas suas contas bancárias os deixa apavorados.
Esse é o único medo que eles têm, a única morte
que eles temem.
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