É inaceitável que se continue
governado o Brasil em 2013 com mentalidade política de antes de 1950. Até
aquela data, a dominação do desenvolvimentismo capitalista e socialista,
estatal ou não, não contava com alertas científicos seguros sobre os efeitos do
uso dos combustíveis fósseis. Por isso, a luta estava centrada no controle das
reservas e na reserva de mercado para esses produtos. Daí o sentido
nacionalista da luta pelo petróleo é nosso.
Por isso - e esse é o primeiro
desastre -, em comparação àquele tempo histórico, o atual leilão do pré-sal
para consórcios internacionais e nacionais é algo retrógrado, configurando quão
profundas são ainda as marcas do colonialismo em nossa sociedade e nas
autoridades que deveriam ser “públicas” e zelar pelos bens naturais comuns.
Segundo cálculos, a perda do Brasil pode superar dois trilhões de reais!
Mas mesmo sendo imenso o primeiro
desastre político e econômico, o segundo é incomparavelmente maior: a própria decisão
política de extrair o petróleo do pré-sal para gerar energia com sua queima,
pois isso significa aumentar irresponsavelmente a emissão de gases de efeito
estufa, apressando um aquecimento que pode impossibilitar a própria vida humana
na Terra. Qual o sentido da festa financeira gerada pelo pré-sal se, em seguida,
os sofrimentos humanos se tornarem insuportáveis?
Por isso, mais, muito mais do que
lastimar o atraso colonial do desastre da nova rodada de leilões do pré-sal, as
pessoas com sabedoria e sentimento de humanidade devem combater a decisão
política de continuar com a insanidade da extração e do uso de combustíveis
fósseis, ainda mais num país tão generosamente agraciado pela natureza com
fontes praticamente limpas de energia, como são o sol, o vento e o movimento
natural das águas do oceano, energia que pode ser gerada de forma
descentralizada e com participação das comunidades locais. Quem teima em
insistir que seria atraso não aproveitar a oportunidade do petróleo do pré-sal
para elevar o Brasil ao nível dos países ricos, ou está desinformado em relação
à situação do planeta e em relação à história, ou é cego e está a serviço dos
interesses egoístas e imediatos das corporações capitalistas multinacionais. Na
verdade, a minoria rica brasileira já faz parte do reduzido clube predador e consumista
internacional há muito tempo, e tem aumentado seu poder nos últimos tempos,
sempre com apoio de governantes e utilizando recursos públicos. O caminho para
uma vida digna e livre de toda a população do Brasil é outro, e uma de suas
condições é exatamente a redistribuição da riqueza concentrada escandalosa e
injustamente em poucas e poderosas mãos e bolsas, e outra é a geração de energia com fontes menos poluentes, de forma descentralizada e com participação da população local, evitando que a energia continue sendo explorada como mercadoria.
Ivo
Poletto – assessor do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social
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