NATAL TEM QUE SER TODO DIA. É PRA NOS LEMBRAR DISSO QUE É CELEBRADO O DIA 25 DE DEZEMBRO. E É PRA LEMBRAR QUEM É, O QUE FEZ E O QUE SUGERIU DE CAMINHOS PARA A HUMANIDADE.
Natal dos Covardes*
Escrito por Marcelo Freixo.
O que
diriam os pregadores da intolerância, os obreiros do justiçamento, os
apóstolos do olho por olho dente por dente sobre um homem que manifestou
seu amor por um ladrão condenado e lhe prometeu o paraíso? Brandiriam o
velho sermonário: bandido bom é bandido morto?
Hoje, quase todos
os brasileiros, inclusive os cônscios moralistas da violência que
amarram adolescentes em postes para linchá-los, se reunirão com suas
famílias para celebrar mais uma vez o nascimento desse homem.
Sujeito,
aliás, que respondeu à provocação: está com pena? Então, leva para
casa! Pois, é. Jesus Cristo prometeu levar o ladrão para casa. "Em
verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso", diz o evangelho de
Lucas.
Jesus optou pelos oprimidos e renegados, pelos miseráveis,
leprosos, prostitutas, bandidos. Solidarizou-se com o refugo da
sociedade em que viveu, contestou a ordem que os excluiu.
O
Cristo bíblico foi um dos primeiros e mais inspiradores defensores dos
direitos humanos e morreu por isso. Foi perseguido, supliciado e
executado pelo Império Romano para servir de exemplo.
Assim como
servem de exemplo os jovens que são espancados e crucificados em postes,
na ilusão de que a violência se resolve com violência. Conhecemos a
mensagem cristã, mas preferimos a prática romana. Somos os algozes.
Questiono-me
sobre o que seria dele em nossa Jerusalém de justiceiros. Não sei se
sobreviveria. É perigoso defender a tolerância, o amor ao próximo e o
perdão quando o ódio é tão banal. Como escreveu Guimarães Rosa: "quando
vier, que venha armado".
Não é difícil imaginar por onde ele
andaria. Sem dúvida, não estaria com os fariseus que conclamam a
violência e fazem negócios, inclusive políticos, em seu nome.
Caminharia
pelos presídios, centros de amnésia da nossa desumanidade, onde
entulhamos aqueles que descartamos e queremos esquecer, os leprosos do
século 21. Impediria que homossexuais fossem apedrejados, mulheres
violentadas e jovens negros linchados em praça pública. Estaria com os
favelados, sertanejos, sem tetos e sem terras.
Por ironia, no
próximo Natal, aqueles que defendem a redução da maioridade penal,
pregam o endurecimento do sistema prisional, sonham com a pena de morte e
fingem não ver os crimes praticados pelo Estado contra os pobres
receberão um condenado em suas casas.
Diante da mesa farta,
espero que as ideias e a história desse homem sirvam, pelo menos, como
uma provocação à reflexão. Paulo Freire dizia que amar é um ato de
coragem. Deixemos então o ódio para os covardes.
Feliz Natal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário