domingo, 23 de dezembro de 2018

CHICO MENDES NO EMPATE CONTRA AS FALSAS SOLUÇÕES DO CAPITALISMO VERDE


DECLARAÇÃO DE XAPURI
CHICO MENDES NO EMPATE CONTRA AS FALSAS SOLUÇÕES DO CAPITALISMO VERDE
         

Daqui de Xapuri, afirmamos ao mundo que Chico Mendes não morreu: foi assassinado. Esse foi o preço que ele pagou por dedicar sua vida à causa da reforma agrária e da proteção da floresta, já que os dominantes nunca aceitaram que os povos da floresta tivessem direito à terra, ao pão e ao sonho. Acharam que assassinando-o, enterrariam sua luta. Mas, já era tarde. Chico havia se transformado numa força que ultrapassou sua existência física.
Desde seu assassinato, sua memória cresceu em importância. Conscientes disso e com medo de seu poder libertário, os de cima se lançaram na tarefa de se apropriar dela através de um contínuo e sistemático processo de distorção.
Isso foi o que os governos da Frente Popular do Acre (FPA) fizeram ao longo dos últimos 20 anos: servindo aos interesses do capital internacional, impuseram, usando e abusando da imagem de Chico Mendes, um conjunto de políticas cujo resultado foi o aumento da privatização e da destruição da floresta.
Indo da exploração florestal madeireira, de gás e petróleo no Vale do Juruá, e da mineração, passando pela pecuária extensiva de corte e abrindo as portas para os projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal - REDD e outras formas de Pagamentos para Serviços Ambientais – PSA, essas políticas representam, em tudo, a mais absoluta negação daquilo que o líder seringueiro defendeu, pois privatizam as florestas, violam os direitos dos povos da floresta e os tratam como criminosos.
Em todo esse processo desfiguram e, num certo sentido, assassinam Chico Mendes, uma e outras vezes mais, fazendo dele um defensor do mesmo capitalismo que o assassinou, ou seja, fazendo dele o contrário do que ele foi.
Lamentavelmente, o que vemos hoje no Acre é a tentativa de transformar em mercadoria terras e territórios que são sagrados para os povos originários e que, além disso, são a base de subsistência de todos os habitantes da floresta.

Por isso é que, nos últimos anos, vimos crescer em nosso meio a criminalização tanto de práticas ancestrais das comunidades locais, como de toda forma de resistência à apropriação capitalista da natureza.
Fiéis ao legado de lutas de Chico Mendes, denunciamos esses projetos assassinos e aqueles que os defendem. Com base em nossas dolorosas experiências, afirmamos ao mundo que propostas como “desenvolvimento sustentável” e “economia verde” não passam de farsa e tragédia.
São farsa porque não protegem a natureza como dizem. São uma tragédia porque fazem exatamente o contrário disso. E nós sabemos a razão: não há saída no capitalismo, seja em qualquer uma de suas formas, ou com qualquer uma de suas cores. Não pode cuidar da vida um sistema assassino.   
Denunciamos essa farsa e exigimos a suspensão imediata de todos os projetos de exploração florestal madeireira e de todas as políticas de compensação ambiental e climáticas derivadas das falsas soluções do capitalismo verde, a demarcação de todas as terras dos povos indígenas, e uma reforma agrária com soberania popular.
Pela Amazônia, pela reforma agrária, pela demarcação das terras indígenas e contra o capitalismo verde e de todas as outras cores, seja conduzido por governos ditos de esquerda ou por governos assumidamente fascistas!


Chico Mendes vive. A luta segue.

 
Xapuri, 16 de dezembro de 2018



 Assinam esta carta as seguintes entidades:

Grupo de Pesquisa Trabalho, Território e Política na Amazônia (TRATEPAM)
Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO)
Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)
Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca do Acre e Amazonas (OPIAJBAM))
Movimento dos Pequenos Agricultores de Rondônia (MPA)
Via Campesina
Amigos da Terra - Brasil
Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Ufac (CACS)
Movimento Esquerda Socialista – PSOL
Coletivo Juntos - Acre
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (STR-Xapuri)
Federação do Povo Huni Kui do Acre (FEPAHC)
Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social - FMCJS
Equipe Itinerante
Centro Shuar Kupiamais (Equador)
Conselho Indigenista Missionário – Cimi



Nenhum comentário:

Postar um comentário