FAÇO MINHAS AS PALAVRAS, OS DESEJOS, OS COMPROMISSOS DO MARCELO.
FELIZ NATAL E ANO REALMENTE NOVO!
A profecia do Natal
para toda a humanidade
Marcelo Barros
Neste Brasil
de Bolsonaro e em meio às notícias tristes e dolorosas com as quais convivemos
cada dia, me lembro de que, nas antigas liturgias da véspera do Natal, diversas
vezes, aparece um refrão, baseado no livro do Êxodo: “Hoje, todos saberão que o Senhor virá e amanhã poderão ver a sua
glória”. Parece irreal cantar: “Hoje
ainda poderá ser destruída a iniquidade do mundo. Amanhã reinará sobre nós o
Salvador”.
Atualmente, a
iniquidade do mundo se tornou mais escandalosa. A desigualdade social se
multiplica. Milhões de pessoas são excluídas do trabalho digno. Fome e miséria
aumentam. Diariamente, milhares de crianças morrem por não terem acesso à água
potável. Além disso, a praga do armamentismo ameaça a própria segurança do
planeta.
Em meio a tudo
isso, o evangelho do Natal nos assegura: “A
Palavra divina se faz carne em nós e em todas as criaturas” (Jo 1, 14).
Essa palavra ressoa, hoje, no grito surdo da mãe Terra, agredida e ameaçada em
suas condições de vida. Ecoa nos campos contaminados pelos agrotóxicos. É o
grito sufocado da irmã Água transformada em mercadoria e privatizada pelas
Coca-cola e Nestlé da vida. Essa Palavra de dor e de resistência se faz carne e
é acolhida e respondida na luta de resistência dos índios, na caminhada dos
lavradores sem-terra e dos pequenos agricultores. Ela se concretiza a cada dia
na esperança teimosa e já operante de todos/as nós.
Cantar que
amanhã será destruída a iniquidade do mundo é uma profecia que nos anima. Essa
esperança vai além das fronteiras da fé cristã. É algo que diz respeito a toda
a humanidade. Ao ser palavra de amor para toda a humanidade, essa mensagem de
Natal nos chama a sermos cada vez mais humanos e cuidadores/as do planeta. Isso
significa nos abrir cada vez mais aos outros. Implica em priorizar o diálogo, a
convivência; reconhecer a dignidade inviolável das pessoas e de todo ser vivo.
Mas na vida da gente há sempre um outro que tem rosto concreto, nem sempre
muito belo e que é aquele ou aquela através da qual Deus nos chama a viver a
profecia do Natal no acolhimento gratuito e transformador. Quem não é capaz de
aceitar o diferente não sabe o que é Natal.
Nesses tempos
de intolerância, nesse Natal, temos de testemunhar a capacidade de vermos o
rosto divino do outro nas diferenças de gênero e sexo, como na diversidade
religiosa.
1 - Jesus de
Nazaré se revelou como homem, mas acolhe também a dimensão divina do feminino.
Revela que Deus é Pai e Mãe e permite que o chamemos de Ele ou Ela. De modo
especial, no Brasil de hoje, esse Natal nos confirma que cada ser humano, homem
ou mulher, homo, hetero, ou transexual, são imagens do amor divino e merecem
nossa solidariedade e caminho em comum.
2 – Esse Natal
precisa nos levar mais e mais à espiritualidade macro-ecumênica. Desde criança,
Jesus quis ser encontrado não pelos religiosos de Jerusalém e sim pelos
pastores do campo. Manifestou-se não no templo e sim na manjedoura de Belém.
Assim, hoje, o Espírito, Ventania do Amor Divino, quer que o encontremos de formas diversas,
desde que seja na realidade da pobreza e da marginalização social. A Palavra
feita carne no Natal nos faz reconhecer a presença divina nas manifestações de
todas as culturas e religiões. Aqui no Brasil, o Natal nos compromete na defesa
diária e intransigente das comunidades indígenas e afrodescendentes, tanto na
sua luta sagrada pela terra e pelo direito a viver suas culturas e expressões
religiosas. Mais do que isso, nos faz reconhecer e valorizar a permanente
encarnação do Espírito Divino nos terreiros afro e nas ocas indígenas.
Vamos
encontrá-lo nas tradições dos Orixás. Ele se revela nos Espíritos da Umbanda e
nos Encantados indígenas. Vem dançar com seus filhos e filhas índios e negros
para confirmá-los na sua resistência profética e dar a toda humanidade a
esperança de um mundo renovado.
Hoje, o
cântico dos anjos de Belém se torna o cantar discreto e misterioso que o Xamã
ianomâmi David Kopenawa escuta dos Xapiris da floresta. Toma a forma do Toré
dos índios do Nordeste. São os novos
cânticos do Natal da mãe Terra e da natureza ferida que renovam o universo de
amor e de vida.
O mundo
inteiro se transforma em um imenso presépio. Não do Menino Jesus que, hoje, já
não é mais menino e sim o Cristo Ressuscitado que nos vêm pelo Espírito. Essa mesma
energia materna de amor que cobriu Maria com sua sombra, hoje, fecunda o
universo com seu amor e sua força libertadora. Feliz Natal para você e para
todos os seus entes queridos.
Com
carinho de irmão, Marcelo Barros
(Penha, minha
irmã, se recupera lentamente da
cirurgia. Dentro do quadro, está bem).
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