quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

PROFECIA DO NATAL PARA TODA A HUMANIDADE


FAÇO MINHAS AS PALAVRAS, OS DESEJOS, OS COMPROMISSOS DO MARCELO.
FELIZ NATAL E ANO REALMENTE NOVO!

A profecia do Natal para toda a humanidade



Marcelo Barros



Neste Brasil de Bolsonaro e em meio às notícias tristes e dolorosas com as quais convivemos cada dia, me lembro de que, nas antigas liturgias da véspera do Natal, diversas vezes, aparece um refrão, baseado no livro do Êxodo: “Hoje, todos saberão que o Senhor virá e amanhã poderão ver a sua glória”. Parece irreal cantar: “Hoje ainda poderá ser destruída a iniquidade do mundo. Amanhã reinará sobre nós o Salvador”.

Atualmente, a iniquidade do mundo se tornou mais escandalosa. A desigualdade social se multiplica. Milhões de pessoas são excluídas do trabalho digno. Fome e miséria aumentam. Diariamente, milhares de crianças morrem por não terem acesso à água potável. Além disso, a praga do armamentismo ameaça a própria segurança do planeta.

Em meio a tudo isso, o evangelho do Natal nos assegura: “A Palavra divina se faz carne em nós e em todas as criaturas” (Jo 1, 14). Essa palavra ressoa, hoje, no grito surdo da mãe Terra, agredida e ameaçada em suas condições de vida. Ecoa nos campos contaminados pelos agrotóxicos. É o grito sufocado da irmã Água transformada em mercadoria e privatizada pelas Coca-cola e Nestlé da vida. Essa Palavra de dor e de resistência se faz carne e é acolhida e respondida na luta de resistência dos índios, na caminhada dos lavradores sem-terra e dos pequenos agricultores. Ela se concretiza a cada dia na esperança teimosa e já operante de todos/as nós.  

Cantar que amanhã será destruída a iniquidade do mundo é uma profecia que nos anima. Essa esperança vai além das fronteiras da fé cristã. É algo que diz respeito a toda a humanidade. Ao ser palavra de amor para toda a humanidade, essa mensagem de Natal nos chama a sermos cada vez mais humanos e cuidadores/as do planeta. Isso significa nos abrir cada vez mais aos outros. Implica em priorizar o diálogo, a convivência; reconhecer a dignidade inviolável das pessoas e de todo ser vivo. Mas na vida da gente há sempre um outro que tem rosto concreto, nem sempre muito belo e que é aquele ou aquela através da qual Deus nos chama a viver a profecia do Natal no acolhimento gratuito e transformador. Quem não é capaz de aceitar o diferente não sabe o que é Natal.

Nesses tempos de intolerância, nesse Natal, temos de testemunhar a capacidade de vermos o rosto divino do outro nas diferenças de gênero e sexo, como na diversidade religiosa.

1 - Jesus de Nazaré se revelou como homem, mas acolhe também a dimensão divina do feminino. Revela que Deus é Pai e Mãe e permite que o chamemos de Ele ou Ela. De modo especial, no Brasil de hoje, esse Natal nos confirma que cada ser humano, homem ou mulher, homo, hetero, ou transexual, são imagens do amor divino e merecem nossa solidariedade e caminho em comum.

2 – Esse Natal precisa nos levar mais e mais à espiritualidade macro-ecumênica. Desde criança, Jesus quis ser encontrado não pelos religiosos de Jerusalém e sim pelos pastores do campo. Manifestou-se não no templo e sim na manjedoura de Belém. Assim, hoje, o Espírito, Ventania do Amor Divino,  quer que o encontremos de formas diversas, desde que seja na realidade da pobreza e da marginalização social. A Palavra feita carne no Natal nos faz reconhecer a presença divina nas manifestações de todas as culturas e religiões. Aqui no Brasil, o Natal nos compromete na defesa diária e intransigente das comunidades indígenas e afrodescendentes, tanto na sua luta sagrada pela terra e pelo direito a viver suas culturas e expressões religiosas. Mais do que isso, nos faz reconhecer e valorizar a permanente encarnação do Espírito Divino nos terreiros afro e nas ocas indígenas.

Vamos encontrá-lo nas tradições dos Orixás. Ele se revela nos Espíritos da Umbanda e nos Encantados indígenas. Vem dançar com seus filhos e filhas índios e negros para confirmá-los na sua resistência profética e dar a toda humanidade a esperança de um mundo renovado.

Hoje, o cântico dos anjos de Belém se torna o cantar discreto e misterioso que o Xamã ianomâmi David Kopenawa escuta dos Xapiris da floresta. Toma a forma do Toré dos  índios do Nordeste. São os novos cânticos do Natal da mãe Terra e da natureza ferida que renovam o universo de amor e de vida.

O mundo inteiro se transforma em um imenso presépio. Não do Menino Jesus que, hoje, já não é mais menino e sim o Cristo Ressuscitado que nos vêm pelo Espírito. Essa mesma energia materna de amor que cobriu Maria com sua sombra, hoje, fecunda o universo com seu amor e sua força libertadora. Feliz Natal para você e para todos os seus entes queridos.

                                        Com carinho de irmão, Marcelo Barros



(Penha, minha irmã,  se recupera lentamente da cirurgia. Dentro do quadro, está bem).














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