Vivenciamos mais uma semana da pátria, e nela sempre se
lembra do passado para tentar celebrar a independência do país. Examinando com
atenção esse passado, contudo, chega-se a uma dúvida: houve independência? De
quem? Para quem e para quê?
No mínimo, é preciso reconhecer que foi um ato político
incompleto. Primeiro porque quem assume o comando é o filho do rei colonizador.
Teria ele mudado de fato de lado, assumindo a autonomia do novo país? Ou seria
ele um sinal de continuidade? O fato é que o Brasil assumiu dívidas de Portugal
com a Inglaterra, e pode-se dizer que o nosso Império começou endividado e
devendo favores ao um novo senhor com grande poder colonizador.
Se dermos um pulo na história para examinar o que está
acontecendo em nossos dias, podemos dizer que estamos mais independentes do que
nos dias da primeira declaração de independência?
Se levarmos a sério os desejos e as propostas concretas do
governo de fato do nosso país, fruto da cassação da presidente eleita por 54
milhões de eleitores sem crime de responsabilidade, é mais realista dar-nos
conta de que estamos diminuindo nossa independência. De fato, a decisão de
abrir totalmente a possibilidade de compra de terra por estrangeiros, de
entregar empresas públicas a qualquer empresa, nacional ou multinacional por
meio de processos de privatização, não significa que estamos sendo governados
por elites que têm prazer de entregar riquezas a estrangeiros e de viver na
dependência de novos poderes colonizadores?
Como é público, um dos setores que pressiona em favor dessa
abertura do mercado de terras a estrangeiros são os senhores do agronegócio.
Qual seu objetivo? Única e exclusivamente esquentar o mercado de terras,
apostando no aumento do preço de suas propriedades. Com certeza, tendo
oportunidade, venderão suas propriedades e passarão a viver na cidade e país de
seus sonhos, Miami, especulando no mercado financeiro, inimigo da vida.
Engana-se quem imagina que os atores da ópera bufa do
impeachment tenham algum amor ao povo brasileiro. Seus olhos estão voltados para
os senhores da colonização global: o mercado financeiro e os países que
repartem o poder com eles. É por isso que desejam combater e acabar com as relações
com os países do Sul, sejam eles da América do Sul, da África e da Ásia. Seu
desejo é reestabelecer relações com os Estados Unidos e com a Europa. Estão
decididos a implantar aqui as mesmas “reformas” que geraram as crises de
endividamento destes países.
Por isso tudo, a independência dos povos do Brasil continua
um sonho e um projeto político a ser conquistado.
Ivo Poletto
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