quinta-feira, 5 de junho de 2014

MIGRAÇÕES FORÇADAS, TRABALHO ESCRAVO



Podemos começar com uma boa notícia: o Senado aprovou a Proposta de Emenda da Constituição conhecida como PEC do trabalho escravo. Isso significa que o trabalho forçado, realizado em condições de escravidão, deixa de ser apenas um crime trabalhista, resolvido por meio de indenizações; continuam os direitos à indenização, mas o castigo será bem maior do que fazer parte de uma “lista suja”: os que exploram pessoas na forma de escravidão perderão a propriedade da terra ou da empresa, e seus bens serão destinados a políticas de reforma agrária ou criação de outros tipos de trabalho cooperativo. E deveriam ser condenados por um crime contra a dignidade das pessoas, contra a humanidade.

O Papa Francisco, numa comunicação à Organização Internacional do Trabalho – OIT – reunida nesses dias em Genebra, na Suíça, diz que O “tráfico de seres humanos”, assim como o “trabalho forçado e sua redução em escravidão” são um “horror” e uma “praga, um crime contra a humanidade”. Diz mais: Trata-se de um problema gravíssimo, relacionado à “migração de massa”. “O notável número de homens e mulheres obrigados a buscar trabalho fora de sua pátria é fonte de preocupação, um crime contra toda a humanidade”. E insiste: os jovens sofrem de modo especial com o desemprego e falta de oportunidades, podendo leva-los a perder o sentido da vida pela falta da dignidade do trabalho, que liga o ser humano a Deus Criador.

O Papa afirma que precisamos juntar forças para impedir que esse crime que atinge a toda a humanidade continue existindo. No caso brasileiro, foi preciso muita firmeza das organizações e movimentos que lutaram em favor da PEC do trabalho escravo: o projeto entrou em debate em 1995, e só agora, quase 20 anos depois, foi aprovado. E a luta não acabou, já que o Congresso deverá regulamentar a aplicação do que foi acrescentado à Constituição, e não será muito fácil derrotar os que, de uma forma ou outra, não querem a condenação de quem escraviza pessoas.

Outra urgência é enfrentar o que está forçando tantas pessoas a migrarem em busca de trabalho e renda fora de seus territórios. Isso significa enfrentar a concentração da propriedade da terra, da riqueza e da renda em todo o planeta, e enfrentar tudo que está agravando as mudanças climáticas. Significa construir um mundo diferente, centrado na vida e na convivência com a Terra.
                                                       [texto de programa radiofônico]            

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