Estive nesta semana em Lábrea, no estado do Amazonas, num
Seminário sobre Créditos de Carbono e Povos Indígenas. Estiveram presentes em
torno de 50 pessoas, representantes de diversos povos, com grande vontade de
entender o que significam os projetos de crédito de carbono. Destaco alguns
pontos que me impressionaram:
O primeiro deles foi a denúncia de todos em relação aos que
apresentam esses tipos de projeto a eles. Ficou muito claro que as pessoas,
empresas ou instituições públicas chegam com a proposta pronta e tentam de
todas as formas convencer os indígenas de que são projetos maravilhosos, que
vão melhorar a vida deles etc. Parecem mais vendedores interessados em seus
ganhos do que amigos reais dos povos indígenas.
Outro ponto denunciado foi este: as pessoas não informam
tudo sobre o projeto: qual sua origem, quais os objetivos reais, quem está
envolvido e de que maneira, os motivos que levam empresas a se interessaram
pelas conservação das florestas, sendo que muitas delas continuam derrubando
e queimando florestas para instalar seus negócios de mineração, de pecuária e
outras formas de agronegócio...
Ao informar a eles de que esse interesse das grandes empresas
mundiais capitalistas começou quando ficou claro que elas eram as principais
causadoras do aquecimento e das mudanças climáticas que desequilibram o planeta
Terra, e de que querem elas manter em pé a floresta apenas porque isso pode dar
a elas créditos de carbono, que servem para que possam continuar seus negócios
poluidores, aí cresceu o desejo de participar, de saber mais. Seu claro desejo
foi e de conhecer bem esses projetos para não serem enganados e, de modo
especial, para evitar virarem prisioneiros dentro de seus territórios.
Tive clara impressão que não há diálogo transparente com os
povos indígenas. O que há é preconceito e decisão de controlar os
territórios preservados usando outros projetos. É por isso que voltei mais
convencido do que nunca de que precisamos conquistar a possibilidade de
redefinir o estado brasileiro por meio de uma Constituinte Exclusiva,
reconhecendo-o plurinacional, para que cada povo venha a ser respeitado como
povo mesmo, e para que estas povos contribuam com seus valores na definição e
na prática de nossa democracia. Só assim eles nos ajudarão a preservar e a
conviver com as florestas em todos os biomas de nosso país.
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