Em busca da “sustentabilidade total”: Francisco propõe mais sete anos de Laudato Si’.
Roberto Malvezzi (Gogó)
A Laudato Si’, documento do Papa Francisco para as questões
socioambientais, está celebrando cinco anos. Ao redor do mundo inteiro
há celebrações, debates, comemorações por esse documento único da Igreja
Católica. Ele trouxe a Igreja para dentro do século XXI,
para dentro das grandes questões que afligem a humanidade e a Terra na
qual habitamos.
Diante da pandemia do Coronavírus, o Vaticano já lançou um documento
dizendo que haverá mais sete anos de Laudato Si’. Quem conhece o
significado do número sete na bíblia, sabe que ele significa perfeição,
isto é, Francisco quer que a Laudato Si’ seja a luz
que ilumina a Igreja e a humanidade de boa vontade por muito tempo, até
que alcancemos a “sustentabilidade total”. Então, nosso caminho será
longo até reencontrarmos o equilíbrio entre ecologia e economia, ente a
humanidade e o ambiente no qual estamos inseridos
e do qual somos parte.
Entretanto, aqui pelo Semiárido Brasileiro, particularmente em nossa
diocese de Juazeiro da Bahia, irmanados a tantos e tantas por esse vasto
sertão, estamos em busca desse equilíbrio socioambiental há muitas
décadas. Esse luta vem desde a década de 70 pelo
menos, quando a diocese se colocou ao lado da população relocada pela
barragem de Sobradinho, quando enfrentou junto ao povo as grilagens de
suas terras, quando contribuiu de forma decisiva pelos direitos
políticos e sindicais do nosso povo, quando organizou
o povo em comunidades eclesiais de base, quando fez estudos bíblicos,
quando lutou pela preservação da caatinga em pé, quando participou da
luta pela água, particularmente na captação da água de chuva para beber e
produzir.
Mas, não foi só. Sempre esteve na luta pelas adutoras para levar água do
São Francisco para as comunidades do interior, na luta pela
agroecologia junto com seus parceiros da sociedade civil, na defesa do
rio São Francisco, na luta pelo saneamento básico nos
meios urbanos e rurais. Enfim, nenhuma necessidade básica do nosso povo
foi esquecida nessas longas décadas, sofridas é verdade, mas também que
produziram muitos frutos. Não foram apenas sementes plantadas, são
também frutos colhidos.
Sendo assim, podemos dizer que somos Laudato Si’ muito antes dela
existir. Por isso, a Laudato Si’ foi bem acolhida em nosso meio, porque
ela de alguma forma recolhe todas essas iniciativas, nossas e de tantos
espalhados por esse imenso Semiárido Brasileiro,
mas também de gente do mundo inteiro. São aqueles que amam a paz, a
justiça, que respeitam as pessoas em situação de injustiça e pobreza,
são aqueles que se orientam pelo princípio bíblico de “cultivar e
guardar a Criação” (Gênesis 2,15).
Por isso, não resta dúvida que estaremos nesse poderoso gesto de amor
por mais sete anos, na busca da sustentabilidade total, porque assim
somos há muito tempo e assim continuaremos a ser, ouvindo os apelos
Daquele que tudo criou.
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