Fundo Norueguês retira investimentos de empresas de mineração e energia que violam direitos humanos
Fundo
de Investidores sustentou a retirada de ações da Vale e Eletrobrás
pelos crimes em Brumadinho e Mariana e pelas violências causadas pela
construção da Belo Monte
A
decisão do maior fundo soberano do mundo de exclui a Vale e Eletrobrás
de seus investimentos devido as violações de direitos humanos e
ambientais foi anunciada na última quarta-feira (13) pelo Norges Bank,
instituição que administra o capital em Oslo, Noruega. O Fundo de Pensão
do Governo Norueguês suspendeu ações em um total de sete empresas pelo
mundo, sendo duas brasileiras.
Em comunicado, Conselho de Ética do fundo sustentou a retirada dos
investimentos após avaliação do risco que as empresas representam para o
meio ambiente e povos indígenas. Para Danilo Chammas, membro da
organização
Justiça nos Trilhos,
a decisão corrobora com as denúncias feitas por entidades há anos. “A
retirada do fundo é uma confirmação do que viemos dizendo há muito
tempo, de que a Vale viola direitos humanos e ambientais, como uma
empresa social e ambientalmente irresponsável”, comentou o advogado. “É
um sinal de que a empresa, ao contrário do que diz em seus relatórios,
não muda seu comportamento, sem tomar atitudes reais para evitar
rompimentos de barragens e outras violações continuem acontecendo”,
lamenta o ativista.
“Está
cada vez mais difícil para os investidores dizerem que não tinham
informações ou de que estavam sendo enganados. Já não se sustentam essas
posturas de desconhecimento”, pontua o advogado que ressalta a
importância dos acionistas dialogarem diretamente com as comunidades
como forma de evitar falsos relatórios.
O
Fundo de Pensão do Governo da Noruega, que possui cerca de 1 trilhão de
dólares em recursos provenientes principalmente da renda do petróleo,
excluiu de seus investimentos a mineradora Vale por conta dos
rompimentos das barragens de Fundão, em Mariana (2015) e do Córrego do
Feijão, em Brumadinho (2019). “Os investidores são os donos das
empresas, são corresponsáveis pelo o que acontece. A atuação da Vale
ocorre para atender os interesses de seus investidores, atuam para gerar
dividendo aos seus acionistas”, sustenta o advogado ao questionar a
morosidade para assumir a atitude de desinvestimento.
“É
importante que os investidores não façam essas reflexões somente após
anos que ocorreram as grandes tragédias. Hoje justificam a retirada dos
investimentos que financiam a Vale e a Eletrobrás com os casos que
ocorreram há 5 e 10 anos, respectivamente. Contudo, é importante que
essas avaliações sejam feitas antes da tomada de decisão que resultam no
investimento”, pondera Chammas ao recordar que ambos megaprojetos foram
caracterizados como controversos desde o processo de pesquisa para
instalação.
Eletrobrás e o monstro Belo Monte
O
comunicado do Fundo de Investimento destacou também o deslocamento de
20 mil indivíduos – incluindo populações tradicionais que tiveram suas
casas submersas – para a construção da hidroelétrica
Belo Monte,
próximo ao município de Altamira, no Pará. “Muitos territórios
indígenas são severamente afetados pelo projeto. O projeto tem levado ao
aumento da pressão sobre as terras indígenas, à desintegração das
estruturas sociais dos povos indígenas e à deterioração de sua
subsistência”, afirmou o Conselho de Ética da organização europeia.
Vale e a mineração em Terras Indígenas
Acionista
crítico da Vale, o que permite a participação das assembleias da
empresa com direito a sustentação oral, Danilo Chammas foi um dos
responsáveis pelo último desconforto que levou a empresa Vale a anunciar
a retirada das solicitações de pesquisa e lavra para mineração em
terras indígenas. Na última assembleia ocorrida no dia 30 de abril,
levantou-se o questionamento à Vale baseado em dados de Direitos
Minerários que possui a empresa para exploração em áreas indígenas ou
próximo delas.
“A
resposta da direção executiva foi de que a empresa pretende devolver o
direito de exploração ao Estado quando relacionado a esses locais. Dizem
não ter interesse de explorar essas áreas”, comenta ao lembrar que
solicitou comprovação escrita sobre a decisão. “Na minha experiência de
mais de 10 anos defendendo pessoas e comunidades e o meio ambiente dos
danos decorrentes da operação da Vale, tenho visto que a empresa age de
má fé. Diz coisas que não se confirmam documentalmente. Por isso,
solicitamos a comprovação documental e vamos insistir em relação a
isso”. O prazo da Vale para entregar os documentos se estende até 30 de
maio.
Mineração: um amontado de violências
“A
mineração mata todos os dias. Não é somente Brumadinho e Mariana, mas
praticamente todos os lugares onde há mineração existem mortes, e não é
somente em momento específico de grandes tragédias”. Para Danilo
Chammas, quem tem se dedicado à luta para responsabilizar empresas por
abusos de direitos humanos, a mineração representa uma cadeia de
violações de direitos que se estende desde os estudos, construção e
operação das atividades. “Os casos de rompimentos de barragens com
mortes instantâneas são gravíssimos e é importante que se tenha o clamor
público nessas ocasiões”, lembra. “Mas não é só nesses momemtos que as
mineradoras violam direitos e provocam danos ao meio ambientes. Isso
acontece desde a fase prévia da instalação do projeto”.
“Para
se instalar em um determinado local, a mineração desarticula o tecido
social, divide as pessoas, faz falsar promessas que geralmente não se
cumprem. Isso tudo num processo de conquista do território e das
pessoas, característica de uma ação colonial”, lembra Chammas ao
mencionar o processo prévio a atividade minerária, etapa onde a empresa
extrativista busca autorização para operar e tomar parte do território.
“Então vem a contaminação, o desmatamento, a remoção de pessoas, a
poluição do ar, da terra, das águas. Dependendo do caso, pode ser mais
sutil mas que afetam os modos de vida das pessoas, suas saúde física e
mental”, comenta.
Danilo
Chammas atua principalmente com os impactos gerados pelo projeto
Carajás, no norte e nordeste do Brasil, que compreende grande
empreendimento de mineração.
Chamado a desinvestir em mineração
O
Sínodo da Amazônia lançou
aos cinco continentes um chamado existente na América Latina. “Onde nos
situamos diante o desenvolvimento destrutivo e extrativista imperante?”
(cf DF 70), convida a reflexão o documento final da assembleia ocorrida
em Roma em outubro.
A
Red Iglesias y Minería,
coletivo ecumênico de organizações presentes em 10 países da América,
soma esforços para denunciar as violações de direitos humanos e através
da
Campanha de Desinvestimento em Mineração e
clama às comunidades de fé a repensarem suas práticas financeiras e
revisar as relações com financiamento de atividades extrativistas.
Atende-se o chamado do Sínodo em assumir as campanhas de
desinvestimentos de empresas extrativistas relacionadas com os danos
socioecológicos na Amazônia, que chama a iniciar pelas instituições
eclesiais.
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