ISSO VALE PARA ENTENDER NOSSA RELAÇÃO COM A AMAZÔNIA, MAS VALE IGUALMENTE PARA O CERRADO: SEM CERRADO, NÃO HÁ ÁGUA NOS AQUÍFEROS, E SEM ÁGUA, NÃO HÁ VIDA.
VALE TAMBÉM PARA A MATA ATLÂNTICA, QUASE UMA LEMBRANÇA. PRECISAMOS ENTENDER QUE RECRIAR FLORESTAS EM TODO TERRITÓRIO QUE FOR POSSÍVEL TEM TUDO A VER COM NOSSA VIDA, E ESPECIALMENTE COM A VIDA DOS FILHOS, NETOS... ELAS AJUDARÃO ATÉ MESMO A PRODUZIR ALIMENTOS COM AS ENERGIAS DO SOLO, AGROECOLÓGICOS, SAUDÁVEIS E FONTES DE SAÚDE.
Acossada pelo predador agro e pelo governo, a Amazônia se vinga
Mais do que nunca, a Amazônia recruta seus defensores e se inspira na memória de seus mártires para se defender da devastação
Os padroeiros
- Marechal Cândido Rondon
Morte: 1958, Rio de Janeiro
Se você reunir todos os generais que gravitam hoje em dia à sombra do Executivo em Brasília, todos eles juntos não valem a cutícula da unha do dedo mindinho do pé esquerdo de Cândido Mariano da Silva – depois Rondon, ao adotar o sobrenome do avô materno que o resgatou das turbulências da infância. Rondon foi um militar patriota e sensível às causas nacionais, varejou o interior agreste do Brasil plantando uma rede de telegrafia de 372 quilômetros, arrostando perigos como a malária e, no contato com os povos da floresta, entendeu a importância deles na preservação do ambiente e, portanto, da importância de preservar também a eles, índios. O Serviço de Proteção ao Índio, criado por Rondon em 1909, foi a tentativa pioneira de se evitar o genocídio que agora se avizinha. O Congresso concedeu-lhe, em 1955, o posto de Marechal honorário.
- Frans Krajcberg
Morte: 2017, Rio de Janeiro
No final da vida, o artista que falou polonês, russo, khasar, alemão, inglês, português e francês dizia que não falava língua alguma. “Calar é bom”, resumia. O prazer do silêncio emoldurava a imagem de homem esquivo, o ermitão que tinha uma de suas duas casas encarrapitada a 7 metros do chão, num robusto pequizeiro em Nova Viçosa, no extremo sul da Bahia (a outra ficava no ex-ateliê de Braque, em Montparnasse, Paris). Mas um idioma Krajcberg nunca deixou de entender: o canto desesperado das árvores. No Brasil desde 1948, ele conheceu a Amazônia nos anos 1980, viu a agonia das árvores retorcidas pelas queimadas e virou um ambientalista impenitente. “Minha vida é dentro da floresta. Eu vivo com ela, vibro com ela, respiro com ela e respeito muito ela.” Reagia numa linguagem que a humanidade, tão desumana, se recusa a entender. Morreu juntamente com a natureza.
- Chico Mendes
Morte: 1988, Xapuri
O mártir-símbolo da Amazônia logo entendeu, como seringueiro, que a floresta era seu ganha-pão, e o de milhares de outros, e que era fundamental preservá-la. Ingressa na vida sindical e passa a liderar os protestos contra o desmatamento apelidados de “empate” – manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com os próprios corpos. Ao aderir, em 1980, à luta político-partidária através do Partido dos Trabalhadores, incorre ainda mais na ira das autoridades da ditadura. É acusado de “subversão”, preso e torturado. Para cortar de vez pela raiz aquele impenitente caso de insubmissão, fazendeiros locais mandam matá-lo e, se não fosse pelo clamor internacional, teriam ficado impunes.
- Dorothy Stang
Morte: 2005, Anapu, Pará
A Irmã Dorothy, missionária norte-americana da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, caiu no fervilhante caldeirão de ódio e intolerância que alimentava os fazendeiros e seus capatazes no feroz combate contra índios e camponeses. A religiosa tomou partido a favor dos pobres e injustiçados, entrou na lista negra dos opressores e pagou pela coragem. No dia 12 de fevereiro de 2005, a Irmã Dorothy foi encurralada por dois pistoleiros de aluguel na estrada de terra do acampamento de Boa Esperança, na zona rural do Pará. Pressentindo o que lhe ia acontecer, a missionária sacou da Bíblia e leu um versículo para os assassinos.
- Dom Moacir Grechi
Morte: 2019, Porto Velho, Rondônia
Seu apostolado se focou na Região Amazônica, onde chegou, em 1972, para assumir o bispado de Rio Branco, no Acre. Em 1998, virou arcebispo de Porto Velho, Rondônia. Ali ficou até 2011, quando renunciou por idade. Dom Moacir viveu e militou no olho do furacão. Por oito anos, presidiu a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que assumiu a defesa dos indígenas e dos trabalhadores rurais. No Acre, apoiou a mobilização dos seringueiros de Chico Mendes.
Os resistentes
- Os índios da Amazônia
- Raoni Metuktire
- Sônia Guajajara
Mulher e nordestina, Sônia Guajajara foi a primeira indígena a participar de uma eleição presidencial, ao compor, com Guilherme Boulos, a chapa do PSOL em 2018. Sonia é do povo Guajajara/Tentehar, que habita nas matas da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. Formada em Letras e Enfermagem, é coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
- Claudia Andujar
Assim como a inglesa Maureen Bisiliat, Claudia Andujar, suíça de pais judeus perseguidos pelo nazismo, chegou ao Brasil e à fotografia por acaso e, assim também como a inglesa Maureen Bisiliat, usou suas lentes para um mergulho no fundão ainda verdejante do Brasil. Claudia acabou identificada com os Ianomâmis de Roraima, com quem passou a conviver na década de 1970. Os Ianomâmis não gozam de muito prestígio entre certos antropólogos, considerados que são violentos e incontroláveis. As fotos de Claudia os mostram delicados e indefesos.
- Dom Pedro Casaldáliga
- Ricardo Galvão
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/acossada-pelo-predador-agro-e-pelo-governo-a-amazonia-se-vinga/?utm_campaign=newsletter_rd_-_19082019&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
Nenhum comentário:
Postar um comentário