sexta-feira, 30 de agosto de 2019

A CRISE (SOCIO)AMBIENTAL VAI ÀS RUAS

A crise ambiental vai às ruas

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A gi­gan­tesca cor­tina de fu­maça que es­cu­receu a ci­dade de São Paulo em pleno dia e pre­ci­pitou uma chuva es­cura, sa­tu­rada de par­tí­culas de quei­mada, dis­parou o sinal de alerta da ur­gência de deter a dan­tesca de­vas­tação da Amazônia.

A flo­resta em chamas não pode ser dis­so­ciada da nova cor­rida por terras ins­ti­gada pelo go­verno Bol­so­naro. Os dados são ater­ra­dores. Apenas no mês de julho, a der­ru­bada na Amazônia com­pro­meteu uma área su­pe­rior ao ter­ri­tório da ci­dade de São Paulo, um au­mento quase quatro vezes su­pe­rior ao do mesmo mês do ano an­te­rior.

A res­pon­sa­bi­li­dade pes­soal do pre­si­dente, o au­toin­ti­tu­lado “ca­pitão mo­tos­serra”, pelo agra­va­mento da crise am­bi­ental é inequí­voca. O in­cen­tivo à gri­lagem de terras, o re­la­xa­mento das normas de pro­teção am­bi­ental, a apo­logia da der­ru­bada da mata, o des­manche dos ór­gãos pú­blicos de mo­ni­to­ra­mento e fis­ca­li­zação da flo­resta, a in­ti­mi­dação de fun­ci­o­ná­rios pú­blicos que tra­ba­lham da de­fesa do meio am­bi­ente, o ab­so­luto des­caso com a pro­teção das re­servas in­dí­genas e a co­ni­vência da Po­lícia Fe­deral com ma­dei­reiros e fa­zen­deiros ins­tigam a ra­pi­nagem da flo­resta. Bol­so­naro li­berou o “vale tudo”. No “dia do fogo”, 10 de agosto, data da ma­ni­fes­tação de ru­ra­listas “para mos­trar ao pre­si­dente que que­remos tra­ba­lhar”, os focos de quei­madas no mu­ni­cípio de Al­ta­mira au­men­taram quase nove vezes em re­lação ao ano an­te­rior.

A Amazônia ar­dendo po­li­tizou a crise am­bi­ental. A ir­res­pon­sa­bi­li­dade do go­verno Bol­so­naro des­pertou forte re­ação po­pular, no Brasil e no ex­te­rior. No dia 23 de agosto, os atos de rua em de­fesa da Amazônia foram ro­bustos. As cenas de ci­da­dãos ba­tendo pa­nelas du­rante a fala do pre­si­dente em rede na­ci­onal de te­le­visão lem­braram o início do de­bacle de Dilma Rous­seff. Os pro­testos contra as quei­madas na Amazônia também se es­pa­lharam por vá­rias ca­pi­tais da Eu­ropa, reu­nindo um nú­mero con­si­de­rável de ma­ni­fes­tantes.

No de­bate sobre o que fazer para en­frentar o pro­blema, a des­fa­çatez e a hi­po­crisia são a regra.
De­pois de negar a exis­tência do pro­blema, para em se­guida atribuí-lo a uma cons­pi­ração de ONGs, pres­si­o­nado pelas ame­aças de re­ta­li­ação in­ter­na­ci­onal, Bol­so­naro, hu­mi­lhado, foi for­çado a dar sa­tis­fação à opi­nião pú­blica. Em pro­nun­ci­a­mento pa­té­tico, re­co­nheceu fi­nal­mente a exis­tência das quei­madas, mas, co­e­rente com sua in­tenção de des­truir todo resquício de ci­vi­li­dade do Es­tado bra­si­leiro, não re­cuou um mi­lí­metro em sua po­lí­tica pre­da­tória. Ao fim e ao cabo, com­pro­meteu-se a con­vocar re­crutas do exér­cito a bater fogo no meio da selva. Uma pro­vi­dência ri­dí­cula e ab­so­lu­ta­mente inócua para deter o ho­lo­causto da flo­resta.

As li­de­ranças das po­tên­cias im­pe­ri­a­listas eu­ro­peias, to­madas de ardor am­bi­en­ta­lista, le­varam a questão amazô­nica à reu­nião do G7. Ace­nando com a ne­ces­si­dade de uma tu­tela in­ter­na­ci­onal, na ver­dade, estão muito mais in­te­res­sadas em tirar pro­veito elei­toral e co­mer­cial da si­tu­ação do que em deter o de­sastre am­bi­ental, cujo con­di­ci­o­nante es­tru­tural, como se sabe, é a sanha in­sa­ciável de lucro do grande ca­pital que im­pul­siona a ordem global da qual o G7 é fiel guar­dião.

A re­ação “na­ci­o­na­lista” do ex-ca­pitão e de seus as­se­clas às ame­aças de re­ta­li­ação in­ter­na­ci­onal não passa de uma pan­to­mima. A afir­mação apai­xo­nada de que “a Amazônia é nossa” é apenas re­tó­rica com­pen­sa­tória e cor­tina de fu­maça para ocultar a en­trega da ri­queza da re­gião de mão bei­jada às grandes cor­po­ra­ções, na­ci­o­nais e in­ter­na­ci­o­nais — um ex­pe­di­ente ca­nhestro que lembra o fervor in­dig­nado dos es­cra­va­gistas bra­si­leiros, que, em me­ados do sé­culo 19, vo­ci­fe­ravam rai­vo­sa­mente, em nome da so­be­rania na­ci­onal, contra as pres­sões bri­tâ­nicas pelo fim do trá­fico ne­greiro, en­quanto acei­tavam do­cil­mente as re­la­ções de ex­plo­ração e do­mi­nação de­cor­rentes da po­sição re­bai­xada do país na di­visão in­ter­na­ci­onal do tra­balho.

De olho no ca­len­dário elei­toral, a opo­sição dentro da ordem apro­veita a oca­sião para des­gastar o pre­si­dente. Sem ne­nhum pru­rido com a ló­gica, os pe­tistas fazem ma­la­ba­rismo para mos­trar que o único meio de salvar a flo­resta é “Lula Livre”. Os pa­la­dinos do eco­ca­pi­ta­lismo, Ma­rina Silva à frente, clamam pela res­tau­ração da go­ver­nança am­bi­ental como única forma de ad­mi­nis­trar o ritmo e a in­ten­si­dade da des­truição am­bi­ental.

Não há dú­vida de que a po­lí­tica cri­mi­nosa de Bol­so­naro ace­lera pe­ri­go­sa­mente a des­truição de um dos prin­ci­pais re­ser­va­tó­rios de ri­queza bi­o­ló­gica do pla­neta, mas é pre­ciso não es­quecer que a vi­o­lência contra a Amazônia não é de hoje. A ex­plo­ração pre­da­tória da flo­resta avança em ritmo cé­lere desde a aber­tura da re­gião à ex­plo­ração em­pre­sa­rial em grande es­cala pela di­ta­dura mi­litar nos anos 60.

O pro­cesso ga­nhou pro­por­ções ca­ta­clís­micas após 1995, com a ex­pansão da fron­teira agrí­cola e mi­neral vin­cu­lada aos grandes ne­gó­cios da glo­ba­li­zação. A di­mensão da ca­tás­trofe fica evi­dente quando se cons­tata que a dis­cussão entre os ci­en­tistas é para saber se a área de mata des­truída nas úl­timas duas dé­cadas, pe­ríodo dos go­vernos tu­canos e pe­tistas, equi­vale ao ter­ri­tório do Uru­guai, Pa­ra­guai ou Ale­manha.

A crise am­bi­ental é uma das formas de ma­ni­fes­tação da bar­bárie ca­pi­ta­lista no Brasil. À su­pe­rex­plo­ração do tra­balho cor­res­ponde a de­pre­dação ace­le­rada dos re­cursos na­tu­rais. Sem co­locar em questão a to­ta­li­dade do pa­drão de de­sen­vol­vi­mento, não há como en­frentar suas causas es­tru­tu­rais.

Os in­te­resses econô­micos res­pon­sá­veis pela des­truição das flo­restas têm nome e en­de­reço: o agro­ne­gócio, as mi­ne­ra­doras, as in­dús­trias de tra­tores e equi­pa­mentos me­ca­ni­zados ru­rais, as em­presas de agro­tó­xicos, fer­ti­li­zantes e se­mentes trans­gê­nicas, as grandes cons­tru­toras, as hi­dro­e­lé­tricas, as si­de­rúr­gicas e o sis­tema fi­nan­ceiro que lu­bri­fica e po­ten­ci­a­liza o fun­ci­o­na­mento de toda essa en­gre­nagem, sob a benção de uma plu­to­cracia acul­tu­rada que não abre mão de co­piar os es­tilos de vida e pa­drões de con­sumo das eco­no­mias cen­trais.

A de­fesa do meio am­bi­ente passa pela luta de classes. A bur­guesia não tem como salvar a flo­resta. Na­ci­o­na­lismo com­pen­sa­tório, im­pe­ri­a­lismo cí­nico e co­o­pe­ração ba­seada na go­ver­nança am­bi­ental não são so­lu­ções para a Amazônia. Quem cuida da flo­resta é o homem livre no ter­reno. Só uma in­ter­venção po­pular pode deter a marcha in­sen­sata da ca­tás­trofe am­bi­ental. Em úl­tima ins­tância, a pre­ser­vação da Amazônia de­pende da ca­pa­ci­dade dos tra­ba­lha­dores de re­a­li­zarem um modo de pro­dução e con­sumo que res­peite o tra­balho e o meio am­bi­ente.

Dia 20 de se­tembro, todos na Greve Global do Clima!

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