Enquanto na COP 21 em Paris os negociadores dos países
buscam acertos possíveis para fechar um acordo mínimo em relação ao que se deve
fazer para enfrentar a mudança climática provocada por ações humanas, recebo,
profundamente indignado, notícias sobre o que está acontecendo em meu país, o
Brasil.
Em primeiro lugar, estou indignado em relação à vergonhosa
retomada do etnocídio dos povos indígenas. No Moto Grosso do Sul, torna-se mais
agressiva a perseguição ao CIMI, tentando, como se faz desde o “encobrimento”
do século XVI, negar que os povos indígenas sejam capazes de ter consciência e
de lutar por seus direitos. Acusa-se o CIMI como se fosse autor intelectual das
iniciativas dos Guarani-Kaiowá pela recuperação de seus territórios
originários. E tenta-se desviar ainda mais o peso do crime de etnocídio de que
são vítimas estes povos ao acusar o CIMI de estar atuando em favor de
interesses internacionais.
A ação do Ministério Público do Pará em relação ao etnocídio
praticado pela empresa Norte Energia e pelo Governo Federal na área da
construção da hidrelétrica de Belo Monte, confirma a minha indignação. Afinal,
o que se pode esperar das medidas eventualmente aprovadas pelo governo
brasileiro em Paris quando se percebe que a prática política em relação aos
povos indígenas chega ao extremo de negar o direito de identidade étnica dos
povos indígenas? E mais, quando esta negação é praticada em favor de empresas
que, de diferentes modos, agravam a mudança climática e a crise social que
afetam o Planeta, já que o agronegócio é fonte de emissão de gases de efeito
estufa, de crise hídrica e de contaminação do solo e subsolo, e as
hidrelétricas igualmente emitem grande quantidade de metano e dióxido de
carbono?
Só quem é cego e surdo continua acreditando que o drama
ambiental e social do mundo em que vivemos será enfrentado positivamente pelas
empresas e governos promotores do sistema econômico dominante. Mesmo se fosse
possível reduzir os gases que têm a ver com o aquecimento que provoca mudança
climática sem transformações profundas deste sistema, a manutenção do princípio
absoluto do crescimento econômico para gerar riqueza cada vez mais concentrada
em poucos grandes grupos de capital financeiro tornará impossível a vida na
Terra. Já ultrapassamos todos os limites. Ou transformamos estruturalmente esse
sistema e mudamos de direção, procurando produzir e consumir só o que é
realmente necessário para uma vida decente e digna, ou a Terra nos dispensará
dentro de não muito tempo.
Creio que os limites já claramente anunciados do acordo de
Paris, reconhecendo, contudo, ser positivo que seja assumido, deixam claro que
deveremos continuar a luta por mudanças profundas de caráter civilizatório. Não
será possível darmos grandes saltos, mesmo se desejáveis, mas nosso compromisso
deverá ser o do aprofundamento de nossa capacidade de mobilização em favor dos
direitos de todos os povos, de todos os seres vivos e da Mãe Terra. De
imediato, nossa solidariedade militante em defesa dos direitos originários e
inalienáveis dos povos indígenas de nosso país, e em defesa das entidades que,
como o CIMI, se somam e ampliam as iniciativas destes povos pelo direito de
existir com suas identidades culturais e com seus territórios.
Ivo
Poletto, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, participante da
delegação da Caritas Internationalis na COP 21 como representante da REPAM.
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