quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O SILÊNCIO RURALISTA DIANTE DA CRISE DA ÁGUA

ESTAMOS, DE FATO, DIANTE DE DIAS E TEMPOS DESAFIADORES: SE O AGRONEGÓCIO CONTINUA CONVENCIDO QUE, MESMO USANDO MUITA ÁGUA E SENDO CAUSA DA CRISE HÍDRICA, ELE É NECESSÁRIO PARA O EQUILÍBRIO DA ECONOMIA, ENTÃO TEREMOS ECONOMIA SEM ÁGUA, SEM VIDA. QUANDO LEVAREMOS A SÉRIO QUE AS CONDIÇÕES PARA A VIDA FORMA CRIADOS PELA TERRA, E NÃO POR NÓS, E QUE NÓS, A DEPENDER DE NOSSAS PRÁTICAS - ESPECIALMENTE DO AGRONEGÓCIO, DA MINERAÇÃO, DA INDÚSTRIA, DOS BANCOS... - PODEMOS ESTAR DESTRUINDO ESTAS CONDIÇÕES PARA A VIDA?
O silêncio ruralista diante da crise da água.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Chama a atenção o silêncio tumular dos ruralistas diante da crise da água brasileira. Ela  está vinculada ao desmatamento, a erosão da biodiversidade e a compactação dos solos. O ciclo das águas é uma teia de relações complexas que permite sua fluência e a existência da vida.
Havia um Código Florestal que defendia as áreas de florestas necessárias para preservar o ciclo das águas. Mas, ele não era obedecido. Como a desobediência dos ruralistas – e imobiliárias – eram crimes, então mudaram o código para que suas ações não fossem mais motivo de punição.
Hoje cientistas dizem que grande parte do ciclo das águas brasileiras tem origem na evapotranspiração da floresta Amazônica (Antônio Nobre), mas que depende do Cerrado para penetrar no solo e abastecer os aquíferos que sustentam grande parte da malha hídrica brasileira que se origina no Planalto Central (José Alves da UNIVASF e Altair Salles da PUC/Goiânia).
Ora, o setor ruralista está quebrando a dinâmica da floresta Amazônica e compactando o Cerrado pela força do desmatamento. O Cerrado não tem poder de regeneração.
Kátia Abreu disse que “desmatamos por uma das agriculturas mais produtivas” (UOL, 15/12/15). Portanto, assume que desmata, portanto, que quebra o ciclo de nossas águas.
Aqui no vale do São Francisco há uma guerra surda entre os vários setores da produção – principalmente irrigação e energia – pelo que resta de água no São Francisco. Entretanto, o São Francisco é um rio dependente do Cerrado. Sem os aquíferos do Cerrado, particularmente o Urucuia, não existe São Francisco.
Então, senadora, a equação não fecha. Sem água não há agricultura, mas sem vegetação não há água. O equilíbrio entre todos esses fatores que o agronegócio desconhece ou ignora. Mas, quem no mundo ruralista está disposto a pensar a atividade agrícola na sua complexidade de fatores e não de forma simplista em favor de uma economia imediatista?
Não há agricultura sustentável sem a permanência das florestas, sem a preservação dos solos e do ciclo das águas.
O silêncio ruralista sobre a crise da água não é casual.

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